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O diagnóstico dos alunos e preconceitos enfrentados

5.1 Analisando a formação continuada

5.2.2 O diagnóstico dos alunos e preconceitos enfrentados

As escolas que buscam incluir todos os alunos têm como princípio a busca de um ensino de qualidade, transpondo barreiras para a aprendizagem. A inclusão, conforme Mantoan (2006), procura responder às necessidades de aprendizagem de todas as crianças. Não apenas os alunos com NEE são afetados pela exclusão, mas todos aqueles que apresentam alguma dificuldade em sua escolarização e passam por um diagnóstico para avaliar sua situação.

Os procedimentos em relação ao diagnóstico dos alunos podem apresentar aspectos positivos, quando trazem contribuições no processo ensino/aprendizagem, mas em sua maioria acabam por reforçar a própria deficiência, sendo determinantes para selecionar o aluno que frequentará as classes especiais. Adriana Machado (1994) alerta para o fato de que o efeito de um laudo é, em muitos casos, “cronificante”, pois é idealizado por alguns professores, que passam a desconsiderar seu próprio saber sobre a criança. Para a autora, muitos psicólogos que encaminham crianças para as classes especiais desconhecem que tais classes “têm servido como um depósito onde se perde a história da criança, impossibilitando-a de pensar sua própria situação” (MACHADO, 1994, p. 84).

Os docentes confirmam a fala de Machado quando identificam o aluno com NEE por meio do laudo médico, pois ele “já é encaminhado para a classe [regular],

às vezes com um laudo, às vezes a própria coordenadora avisa que o aluno tem necessidades especiais” (Profª 3-A); “normalmente, ele já vem da sala especial com laudo e é incluso; caso a gente perceba algumas dificuldades, ele é colocado para avaliação com o professor do Sape e em contato com os pais” (Profª 8-A). Tais alunos já vêm rotulados e acabam sendo estigmatizados por meio do laudo médico.

Quando os alunos com NEE não apresentam laudo e frequentam a sala regular, os professores fazem seu próprio diagnóstico quando percebem “significativa diferença física, sensorial e intelectual, decorrente de fatores inatos ou adquiridos, de caráter pemanente ou temporário, que acarretam dificuldades em sua interação com o meio” (Profª 7-A); quando são alunos “que apresentam comprometimento no desenvolvimento cognitivo, atrapalhando a sua aprendizagem convencional (Profª 5-A); ou, ainda, “quando suas habilidades e competências são fragmentadas e surgem dificuldades de aprendizagem, socialização ou até mesmo por uma saúde indefinida” (Profª 4-B). Após o “diagnóstico” dos professores, os alunos são encaminhados “para o especialista em educação especial fazer uma avaliação” (Profª 10-A) ou “para um especialista da área da saúde” (Profª 3-B).

Independentemente das circunstâncias nas quais o aluno é diagnosticado com necessidades educacionais especiais – seja com um laudo feito por um professor especialista ou um profissional da área da saúde –, o aluno com NEE acaba por sofrer rótulos e estigmas que irão determinar a conduta do meio social em que vive. De acordo com Goffman (1988), a sociedade delimita a capacidade de ação de um sujeito estigmatizado, marca-o como desacreditado e determina os efeitos maléficos que pode representar. Quanto mais visível for a marca, menos possibilidade tem o sujeito de reverter, nas suas inter-relações, a imagem formada anteriormente pelo padrão social. O autor preconiza que o estigma interfere na aceitação social e explica que

[...] aqueles que têm relações com os estigmatizados não conseguem lhe dar o respeito e a consideração que os aspectos não contaminados de sua identidade social os haviam levado a prever e que ele havia previsto receber; ele faz eco a essa negativa descobrindo que alguns de seus atributos a garantem. (GOFFMAN, 1988, p. 11)

Amaral (1995) complementa o autor acima mencionado ao indicar que a aceitação da pessoa com necessidades especiais traz ainda, como grau de integração, o tipo de deficiência, além do comprometimento ou a gravidade do quadro, o qual implicará “maiores ou menores dificuldades na execução de tarefas ou na vivência de papéis sociais em diferentes níveis de dependência e autonomia” (AMARAL, 1995, p. 94). Isto significa que, quanto maior a severidade do quadro da pessoa com deficiência, menor a aceitação da sociedade e, no caso, dos docentes.

O grau de rejeição segundo a gravidade da deficiência transparece na fala de alguns professores, quando observam que a “inclusão do aluno com necessidades especiais é necessária, desde que este aluno apresente condições para estar com os outros” (Profª 3-A), sendo possível a inclusão de alguns alunos, mas não de todos: “penso que para alguns alunos isso é viável e dá bons resultados. Mas, para alunos com comprometimento severo é muito complicado, pois nem a escola e muito menos o professor estão preparados para dar o melhor atendimento a esse aluno.” (Profª 2-B); “concordo com a inclusão desde que o aluno esteja preparado para ser incluído; algumas deficiências não permitem um bom trabalho em sala de aula com mais de 30 alunos” (Profª 3-B).

A escola acaba por reproduzir as desigualdades encontradas em nossa sociedade e torna-se um lugar onde os preconceitos são acentuados. Segundo as docentes, a maioria dos alunos não demonstra preconceito com relação aos alunos com NEE, mas algumas relatam que “o preconceito ou exclusão é nítido” (Profª 4-B), o que muitas vezes as faz sentirem-se impotentes: “presenciei preconceito e fiquei muito decepcionada e ao mesmo tempo me senti com as mãos atadas, sem poder fazer muita coisa ou quase nada; ainda existe preconceito e discriminação por parte de certos alunos” (Profª 4-A).

Alguns pais ainda não aceitam que os filhos estudem com crianças “diferentes”, pois, de acordo com as professoras, “às vezes os pais ficam meio receosos, com medo de que estes alunos sejam agressivos” (Profª 3-A); e acrescentam que “boa parte da comunidade escolar tem bastante receio em lidar com essas crianças; normalmente as tratam infantilizando e superprotegendo ou então ignorando a sua presença” (Profª 8-B). Mas, para a maioria, “a comunidade aceita normalmente” (Profª 12-B) e há aceitação dos pais, “pois é explicado na primeira reunião quando há alguma inclusão” (Profª 11-A).

Uma escola inclusiva não coloca em evidência as deficiências dos alunos com necessidades especiais para promover a integração entre eles. Isso apenas contribui para que o tratamento a eles destinado seja sempre diferente, muitas vezes marcado pelo estigma e pelo preconceito. É necessário valorizar a convivência entre todos e buscar formas de promover relações baseadas no respeito à diversidade e no valor ao próximo.

5.2.3 Subsídios oferecidos pela Secretaria da Educação, HTPC e especialistas em