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2. DELIMITAÇÃO DO CONCEITO DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA NO

2.3 LEI N.º 12.694/12

72 GOMES, Luiz Flávio. Crime organizado: que se entende por isso depois da Lei 10.217, de

11.04.2001? Apontamentos sobre a perda de eficácia de grande parte da Lei 9.034/95. São Paulo:

Revista dos Tribunais. v. 795, ano 91, jan. 2002. p. 488.

Foi publicada no dia 25/07/2012 a Lei n.º 12.694/2012 que, em linhas gerais,

permitiu ao magistrado criminal, no primeiro grau de jurisdição, na premência de risco

à sua intregridade física, determinar a instauração de um órgão julgador coletivo,

composto pelo respectivo juiz e mais dois juízes

7475

.

Pretendia-se conferir mecanismos de segurança aos magistrados e aos

membros do Ministério Público que atuavam em processos criminais envolvendo

organizações criminosas

76

.

Entre seus artigos, finalmente surge a primeira conceituação legislativa de

organizações criminosas:

(...) para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional77.

Infere-se do retro citado artigo os requisitos da estruturação das organizações

criminosas

78

: a) associação; b) pluralidade de integrantes (pelo menos três)

79

; c)

74 O conteúdo tanto do projeto original quanto do texto aprovado da nova lei está destinado à aplicação dos procedimentos em relação aos atos cometidos por organizações criminosas, sendo facultada a formação do colegiado em primeiro grau de jurisdição. GONÇALVES, Jorge Cesar Silveira Baldassare.

Organização Criminosa: a definição da lei 12.694/2012 e a convenção de Palermo. Revista Jurídica

Consulex. Ano XVI- nº 375. 1 set de 2012. p. 64.

75 A Lei n. 12.694, sancionada em 24 de julho de 2012, criou uma nova figura na estrutura jurisdicional, o chamado órgão colegiado de primeiro grau. Segundo a nova lei, nos processos de conhecimento (e respectivo procedimento) ou de execução, que tenha por objeto crimes praticados por organizações criminosas, o juiz natural do caso penal poderá decidir pela formação de um órgão colegiado, composto por mais dois juízes, para a prática de qualquer ato processual. LOPES JUNIOR, Aury. Direito

Processual Penal. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 1218,0/3662 Epub.

76 “(...) tais medidas protetivas visam evitar que se repitam casos como o só Juiz José Antonio Machado Dias, juiz corregedor de Presidente Prudente/SP, morto em 2003, e da Juíza Patrícia Acioli, da 4ª Vara Criminal, de São Gonçalo, assassinada em agosto de 2011, com mais de 10 tiros quando chegava em casa, em Piratininga Niterói”. AQUINO, José Carlos Xavier de. Manual de processo penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 318

77 BRASIL. Diário oficial da União. Lei nº 12694 de 24 de julho de 2012. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br /c civil _03/_ato2011-2014/2012/lei/l12694.htm>. Acesso em : 09 de jun. 2015.

78 SILVA, Amaury. Anotações à lei de proteção aos juízes criminais. Lei 12.694/2012: Lei do Juiz sem

rosto. São Paulo: J.H MIZUNO, 2013. p. 91.

79 Com relação ao número de integrantes, que foi modificado pela lei 12.850/13 como se verá a seguir, Nucci assim se posiciona: “trata-se de discricionariedade legislativa a fixação do número mínimo de componentes de uma organização criminosa. Embora possa soar estranho, em princípio, uma organização com apenas duas pessoas pode perfeitamente existir; aliás, como início de algo muito mais amplo. Respeita-se, no entanto, o critério legal estampado neste artigo (modificado pela Lei 12.850/2013, (...)), ressaltando ter sido mais adequado o número de três do que algo superior a tal

ordenação estruturada no funcionamento do grupo

80

; d) divisão de tarefas; e) objetivos

específicos

81

; f) espécie determinada de crimes, sob perspectiva do quantitativo da

pena

82

e g) caráter transnacional.

Apesar disso, não faltaram críticas ao conceito legal de organização criminosa,

que foi considerado como total ou parcialmente ineficaz. Nesse sentido, Luciano

Anderson de Souza alega que a existência de um mínimo de 3 (três) pessoas não faz

sentido a partir do momento que um crime mais singelo como a quadrilha exige 4

(quatro) pessoas. Além disso, não se exige estabilidade e permanência do grupo, o

que se aproxima muito do concurso de pessoas ou da quadrilha. Como se não

bastasse, o autor vocifera contra a expressão “ainda que informalmente” ao tratar

da indicação de necessidade de estrutura ordenada e caracterizada pela divisão de

tarefas, por considerá-la “absolutamente vaga e, portanto, insegura”. E prossegue

tecendo críticas ácidas ao texto ao afirmar que “o objetivo direto de se obter vantagem

de qualquer natureza desvela absoluto descompromisso com uma delimitação

séria, fazendo incidir um gravoso tratamento processual penal sobre um participe

distanciado do núcleo da ação ilícita”. Arrematando da seguinte forma:

O único critério claro, mas não infenso de críticas, é o de pena máxima igual ou superior a quatro anos. Diante da realidade das normas penais editadas nas ultimas penas, cominando-se sanções prisionais bastante elevadas do modo pouco criterioso a quantidade exigida de pena privativa de liberdade é

base. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. Vol. 2. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense Jurídica. 2014, p. 191,1/2605 (Epub).

80 Demanda-se uma estrutura ordenada, ou seja, devidamente estabelecida em bases próprias, com recursos definidos e responsabilidades bem distribuídas, havendo líder e liderados, com divisão da tarefas, destinando-se a cada membro a sua atividade particular. Nada impede, ao contrário, recomenda, possa cuidar-se de estrutura informal. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e

Processuais Penais Comentadas. Vol. 2. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense Jurídica. 2014, p. 191,6/2605

(Epub).

81 O objetivo da organização criminosa é alcançar qualquer vantagem ilícita, de cunho econômico ou não, de forma direta ou indireta. Porém, tal fim somente pode ser atingido mediante a prática de crimes, com pena máxima igual ou superior a 4 anos, ou de fundo transnacional. NUCCI, Guilherme de Souza.

Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. Vol. 2. 8 ed. Rio de Janeiro: Forense Jurídica. 2014,

p. 192,1/2605 (Epub).

82 Estabelece-se, como atividade da organização, o cometimento de crimes – excluídas, pois, as contravenções penais – cuja pena máxima seja igual ou superior a quatro anos. Ou delitos de cunho transnacional, vale dizer, que ultrapassem as fronteiras brasileiras. Parece-nos indevida essa restrição. Há contravenções relevantes – como o jogo do bicho –, que geram inúmeras organizações criminosas, há décadas, e não poderiam ter sido ignoradas pela nova Lei. Além disso, nada impede a formação do crime organizado em torno de delitos cuja pena máxima seja inferior a quatro anos, como os crimes contra a organização do trabalho. Perde-se a oportunidade de estabelecer a organização criminosa em qualquer nível de delinquência. NUCCI, Guilherme de Souza. Leis Penais e Processuais Penais

baixa. Assim, no caso concreto pode-se chegar ao exagero de considera-se que uma pequena empresa em que três sócios resolvam, desde sua constituição, sonegar impostos, seja uma organização criminosa, algo bastante distanciado da dimensão cientifica do fenômeno83.

Como se não bastasse, o conceito de organização criminosa não veio

acompanhado do preceito secundário da norma penal, que fixaria à sanção

correspondente, assim sendo, não produz efeitos penais relevantes

84

por não haver

criado um tipo penal.

85

Essa definição não chegou a consolidar-se no âmbito do nosso direito interno

86

,

pois, o legislador pátrio editou nova lei, redefinindo organização criminosa, com

contornos e abrangência diferentes da Lei n.º 12.694/12. Referimo-nos à Lei

12.850/13

87

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