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CAPÍTULO I: A DISCIPLINA LEGAL BÁSICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS: LEI Nº 9.099/

3. A Lei nº 12.153/2009

Publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 23.12.2009, com vacatio legis de 06 (seis) meses, a Lei nº 12.153/2009 dispõe sobre os “Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios”. Cuidou o legislador, desta vez, de se aproveitar da experiência da fazenda pública como ré nos juizados especiais federais para criar juizados em que também as fazendas públicas estaduais, distritais e municipais possam ser demandadas. Relembre-se que na Lei nº 9.099/95 há proibição de serem partes no processo as pessoas jurídicas de direito público (art. 8º, caput, da Lei nº 9.099/95).

A Lei 12.153/2009 é a primeira a se utilizar da expressão “sistema dos juizados”, demonstrando o reconhecimento ao conjunto dos corpos normativos e dos órgãos judiciais deles integrantes como dotados de especificidades em relação aos demais corpos e órgãos.

Os juizados pela lei criados têm competência para processar, conciliar e julgar causas cíveis de interesse dos estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos municípios, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos, salvo: (I) – as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos; (II) – as causas sobre bens imóveis dos estados, Distrito Federal, territórios e municípios e autarquias e fundações públicas a eles vinculadas; e, (III) – as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.

Tal como nos JEF, no foro onde estiver instalado juizado especial da fazenda pública, a sua competência é absoluta.

Corrigindo a imperfeição técnica da redação do art. 5º da Lei nº 10.259/2001, o art. 3º da Lei nº 12.153/2009 dispõe que “o juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de difícil ou de incerta reparação”. Apenas nestes casos

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será cabível recurso em separado da decisão interlocutória tomada no curso do procedimento, deixando-se todas as demais para serem impugnadas no bojo do recurso contra sentença.

Das lições de MANUEL GALDINO DA PAIXÃO JÚNIOR, se colhe que a irrecorribilidade autônoma e imediata das decisões interlocutórias é subprincípio da oralidade, estabelecido, este, como critério orientador dos juizados (art. 2º da Lei nº 9.099/95). Cuida-se o subprincípio de “(...) meio de se evitarem crises lamentáveis no procedimento, pela interposição de recursos sabidamente protelatórios, impossível de ser evitada, no juízo de primeiro grau, sem risco de exitosas alegações futuras de cerceio de defesa (...)44”, tendo lamentado o professor MANUEL GALDINO DA PAIXÃO

JÚNIOR a sua não acolhida na legislação do processo comum.

Pois bem. No âmbito dos juizados especiais da fazenda pública, no entanto, a observação do professor não deixou de ser ouvida, resultando em disposição de todo louvável, inclusive pela prudência em se possibilitar – excepcionalmente – a recorribilidade das interlocutórias relativas às antecipações dos efeitos da tutela pretendida ou de cunho cautelar (espécies do gênero tutelas de urgência, de fungibilidade expressa no art. 273, § 7º, do CPC).

Podem ocupar o polo ativo nos juizados especiais da fazenda pública as pessoas físicas, as microempresas e empresas de pequeno porte; já o polo passivo pode ser ocupado pelos estados, pelo Distrito Federal, pelos territórios e pelos municípios, bem como pelas autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas.

No mais, exceto quanto às citações e intimações, as quais se aplicam as disposições contidas no Código de Processo Civil, o restante regramento processual segue os mesmos preceitos da Lei nº 10.259/2001.

Como inovação, merece destaque que a Lei nº 12.153/2009 tenha ocupado os seus artigos 15 e 16 para estabelecer a designação, na forma da legislação dos estados e do Distrito Federal, de conciliadores e juízes leigos para os referidos juizados, ambos

auxiliares da justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de 2 (dois) anos de experiência (cf. art. 15 da Lei nº 12.153/2009).

Já nos termos expressos do art. 16 da mesma lei, “cabe ao conciliador, sob a supervisão do juiz, conduzir a audiência de conciliação”, podendo aquele, “para fins de encaminhamento da composição amigável, ouvir as partes e testemunhas sobre os contornos fáticos da controvérsia” (art. 16, § 1º). Malsucedida a conciliação, “caberá ao juiz presidir a instrução do processo, podendo dispensar novos depoimentos, se entender suficientes para o julgamento da causa os esclarecimentos já constantes dos autos, e não houver impugnação das partes” (art. 16, § 2º).

Já no campo da deliberada cópia adaptada, a Lei nº 12.153/2009 também previu incidentes de uniformização de jurisprudência (artigos 18 e 19), nos seguintes termos, transcritos no que interessa:

Art. 18. Caberá pedido de uniformização de interpretação de lei quando houver divergência entre decisões proferidas por Turmas Recursais sobre questões de direito material.

§ 1º. O pedido fundado em divergência entre Turmas do mesmo Estado será julgado em reunião conjunta das Turmas em conflito, sob a presidência de desembargador indicado pelo Tribunal de Justiça.

(omissis)

§ 3º. Quando as Turmas de diferentes Estados derem a lei federal interpretações divergentes, ou quando a decisão proferida estiver em contrariedade com súmula do Superior Tribunal de Justiça, o pedido será por este julgado.

Art. 19. Quando a orientação acolhida pelas Turmas de Uniformização de que trata o § 1odo art. 18 contrariar súmula do Superior Tribunal de Justiça,

a parte interessada poderá provocar a manifestação deste, que dirimirá a divergência.

(omissis)

Os procedimentos a serem adotados para o processamento e o julgamento do pedido de uniformização devem ser regulamentados em normas expedidas pelos Tribunais de Justiça e pelo Superior Tribunal de Justiça, no âmbito de suas competências. Por fim, e da maior relevância, determina o legislador que o disposto no art. 16 da Lei nº 12.153/2009 se aplica aos JEF (art. 26 da Lei nº 12.153/2009), em mais um indicativo da necessária deformalização e reforço do papel dos meios de autocomposição que devem norteá-los.

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