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CAPÍTULO I: A DISCIPLINA LEGAL BÁSICA DOS JUIZADOS ESPECIAIS: LEI Nº 9.099/

2. A Lei nº 10.259/2001

Publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 13.07.2001, com vacatio legis de 06 (seis) meses, a Lei nº 10.259/2001 instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais da Justiça Federal (JEF), “aos quais se aplica, no que não conflitar com esta Lei, o disposto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995” (art. 1º).

No âmbito cível, a Lei nº 10.259/2001 atribuiu competência ao juizado especial federal para processar, conciliar e julgar causas de competência da justiça federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.

Diferentemente, porém, dos juizados estaduais, os juizados especiais federais são absolutamente competentes41 para as ações de pequeno valor (até 60 salários

mínimos), excetuadas apenas aquelas listadas no seu art. 3º, § 1º, a saber: (I) as referidas no art. 109, inc. II (causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País), art. 109, inc. III (as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional e art. 109, inc. XI (a disputa sobre direitos indígenas), todos da CRFB/88; as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, ações populares, execuções fiscais e por ações de improbidade administrativa, bem como as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos; (II) – ações sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais; (III) – ações para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal; e, (IV) – ações que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.

41 Na lição de LUIZ EDUARDO SILVEIRA NETTO, “enquanto na jurisprudência firmada no âmbito estadual

(quanto à Lei n. 9.099/95) havia alguma tolerância para a escolha do foro, o § 3º, do art. 3º, da Lei nº 10.259/01, não abre ao Autor qualquer possibilidade em relação à Vara Federal comum, se no lugar houver aqueles juizados especiais. Ao tempo da Lei n. 7.244/84 (as chamadas pequenas causas) a opção por juizados especiais era expressa, mas a Lei n. 9.099/95 não manteve o texto, apenas constando de seu artigo 3º que “a opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação”. Isso acendeu grande polêmica em torno da sobrevivência, ou não, da opção do Autor pelos referidos juizados. Já o artigo 3º, §3º, da Lei n. 10.259/2001, estabelece que onde estiver instalada Vara dos juizados especiais federais a sua competência é absoluta. (...) Incontroverso é, contudo, que, existindo no local juizados especiais federais cíveis, a competência desse é absoluta na hipótese de a parte autora intentar ação em tal local”. SILVEIRA NETTO. Juizados Especiais Federais Cíveis, p. 95-96.

A natureza absoluta da competência dos JEF vem expressa no art. 3º, § 3º, da Lei nº 10.259/2001, nos termos do qual “no foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta”. Para a definição do valor da causa, versando a pretensão sobre obrigações vincendas, a soma de doze parcelas não poderá exceder a 60 (sessenta) salários mínimos.

Nos termos do art. 4º da Lei, “o Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação”, sendo que, nos termos do art. 5º da mesma Lei, “exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de sentença definitiva”. As aparentes singelezas

dos dispositivos, entretanto, escondem duas armadilhas que não passaram despercebidas por GLÁUCIO MACIEL GONÇALVES:

A Lei 10.259/01 dispôs sobre o cabimento das tutelas de urgência, mas restringiu seu alcance ao prever apenas a possibilidade de se requerer cautelares. A intenção não foi permitir todas as medidas de urgência, mas, efetivamente, limitá-las, tendo em vista que, ao tempo da discussão do projeto de lei no Parlamento, o instituto da antecipação de tutela estava em pleno funcionamento.

Não obstante o artigo 4º da Lei 10.259/01 referir-se a “medidas cautelares”, deve-se entender por “medidas cautelares” todas as medidas de urgência que a parte requer, de forma que a tutela antecipada também pode ser concedida nas demandas que correm perante os Juizados Especiais Federais. A limitação da regra significaria tratar desigualmente a parte que vem ao Juizado em relação à parte que busca a Justiça ordinária. Enquanto na Justiça ordinária seria possível, conforme disposto no artigo 273 do Código de Processo Civil, conceder antecipação da tutela, no Juizado dita concessão seria impossível. Ora, esse tratamento desigual, pelo simples fato de uma causa ter o valor econômico menor do que outra, fere, inegavelmente, a garantia constitucional da igualdade, sob pena de a parte que busca o Juizado ser apenada tão-só porque sua causa não é significante do ponto de vista do proveito econômico pretendido. Assim, a fim de evitar a violação da isonomia, interpretou-se a locução medidas cautelares do artigo 4º da Lei 10.259/01 como “medidas de urgência”, incluindo aí as antecipações das tutelas42.

(...)

A questão da autorização da interposição de recurso apenas pela Fazenda Pública também foi bem interpretada pelos Tribunais. Pela leitura simples da lei, conquanto possível a antecipação de tutela no âmbito do Juizado Especial Federal, sendo ela indeferida, a decisão seria irrecorrível (Lei 10.259/01, artigo 5º). O ato judicial decisório não poderia ser levado ao conhecimento do segundo grau de jurisdição, em princípio, porque o legislador instituiu o recurso somente para os casos em que houvesse o deferimento da tutela de urgência, não naqueles em que as pretensões fossem indeferidas.

Tal interpretação restritiva, no entanto, cede diante da Constituição, que garante a isonomia e o amplo acesso à Justiça. Seria irrazoável permitir o

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recurso somente para o órgão público, que é parte passiva nas demandas que correm no Juizado, e não admiti-lo para o particular que figura como autor. Por outro lado, sendo o sistema dos Juizados um sistema congênere do comum, qual seja, demanda de conhecimento de procedimento comum, no qual cabe agravo de todas as decisões, não se pode entender que a via dos Juizados seria pior do que a ordinária43.

Podem ser partes no juizado especial federal cível, como autores, as pessoas físicas, as microempresas e as empresas de pequeno porte; como rés, a União, autarquias, fundações e empresas públicas federais.

No mais, não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de trinta dias.

Além disso, as partes poderão designar, por escrito, representantes para a causa, advogado ou não, inexistindo nos JEF a limitação ao exercício do jus postulandi diretamente pela parte autora ao teto de 20 salários mínimos, previsto no art. 9º da Lei nº 9.099/95.

Com o fim de facilitar a produção probatória, a entidade pública ré deverá fornecer ao juizado a documentação de que disponha para o esclarecimento da causa, apresentando-a até a instalação da audiência de conciliação. Para efetuar o exame técnico necessário à conciliação ou ao julgamento da causa, o juiz nomeará pessoa habilitada, que apresentará o laudo até cinco dias antes da audiência, independentemente de intimação das partes; os honorários do técnico serão antecipados à conta de verba orçamentária do respectivo Tribunal e, quando vencida na causa a entidade pública, seu valor será incluído na ordem de pagamento a ser feita em favor do Tribunal. Nas ações previdenciárias e relativas à assistência social, havendo designação de exame, serão as partes intimadas para, em dez dias, apresentar quesitos e indicar assistentes.

Por fim, a lei dispensou expressamente o reexame necessário (art. 13).

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