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6 REVOGAÇÃO DO ART 125, XIII, DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO:

7.3 Lei penal mais benéfica

Como dito no capítulo 2, item 2.4, a verificação da lei penal mais benéfica para fins de aplicação da pena escapa ao tema do presente trabalho, que cuida tão somente da continuidade ou não da criminalização da conduta prevista no art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro. A verificação da lei penal mais benéfica é etapa posterior e autônoma à

93 Importante ressaltar que a punição do falsário pelo crime do art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro somente ocorreria caso ele tivesse o liame subjetivo com o autor do delito, é dizer, caso o falsário tivesse produzido e fornecido o documento falso sabendo que ele seria utilizado para garantir a prática do crime mencionado.

aplicação do princípio da continuidade normativo-típica. Convém, entretanto, tecer alguns breves comentários sobre o tema.

Como já afirmado, caberá ao juiz, diante do caso concreto, verificar qual a lei mais benéfica para o agente e aplicá-la integralmente, não se admitindo a combinação de leis94.

Como demonstrado neste trabalho, a migração do crime do art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro pode se dar para o art. 299 ou 232-A do Código Penal.

Assim, diante do caso em que o crime foi inicialmente enquadrado no art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro e, após sua revogação, migrou para o art. 299 do Código Penal, deve-se proceder à dosimetria das duas penas, no caso concreto, para verificar qual das duas será considerada mais grave para o agente. Caso a pena do art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro mostrar-se mais favorável, ela deverá ultra-agir para regular o caso concreto mesmo após sua revogação. Por outro lado, caso a pena do art. 299 do Código Penal se revelar mais benéfica, esta deverá retroagir para regular os fatos antes de sua vigência, de sorte que a lei mais favorável para o agente sempre prevalecerá. O mesmo se dará na migração do art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro para o art. 232-A do Código Penal.

No que diz respeito à pena privativa de liberdade, a pena do art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro varia de um a cinco anos; a do art. 299 do Código Penal de um a cinco anos se o documento for particular e de dois a seis anos se público; e a do art. 232-A do Código Penal de dois a cinco anos.

Nesse aspecto, não há dificuldade em se verificar qual a leis mais benéfica, já que a pena privativa de liberdade do art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro é sempre mais favorável ou, na pior da hipóteses, igual a dos delitos do Código Penal. A situação, entretanto, não é tão simples no que diz respeito às demais sanções.

Isso porque, em que pese a não haver cominação de pena de multa no delito do Estatuto do Estrangeiro, há previsão de expulsão do agente, caso ele seja estrangeiro. Os crimes do Código Penal, por outro lado, tem apenas a previsão de multa.

94 Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 600817. Relator: Ricardo Lewandowski. DJ: 07/11/2013.

Diante disso e da impossibilidade de combinação de leis, somente diante do caso concreto será possível identificar qual a lei mais benéfica, a depender, sobretudo, da relevância da pena de expulsão para o agente.

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados obtidos com o presente trabalho, pode-se concluir, com segurança, que as condutas outrora previstas no art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro continuam criminalizadas pelo ordenamento jurídico pátrio, seja através do art. 299, seja através do art. 232-A, ambos do Código Penal.

A despeito de revelar-se evidente a continuidade da criminalização da conduta prevista no art. 125, XIII, do Estatuto do Estrangeiro, demonstra-se ainda incerto, pelo menos no âmbito judicial, a sua aplicação, já que apenas um tribunal regional federal possui precedentes sobre tema, com apertada maioria a favor da continuidade normativo-típica, não tendo nenhum caso sido julgado pelos nossos tribunais superiores até o fechamento desse trabalho.

O fato de a nova política migratória brasileira, instituída pela Lei de Migração, ter ampliado sua proteção ao migrante, inclusive àquele que se encontra em situação ilegal, chegando a prever como princípio a não criminalização da migração (art. 3º, III), não quer dizer que quaisquer condutas praticadas com finalidades migratórias foram descriminalizadas.

O que se constatou foi que a nova política de migração nacional fez questão de tornar explícito que o ato de migrar, em si mesmo, não pode ser considerado crime, ainda que o migrante adentre no território nacional ou dele saia de maneira irregular. Entretanto, a prática de crimes com finalidades migratórias continua encontrando respaldo no ordenamento jurídico pátrio, sob pena de se conceder um salvo conduto desarrazoado para práticas de quaisquer condutas, inclusive gravíssimas, desde que praticadas com aquela intenção.

REFERÊNCIAS

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