• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 – REVISÃO DA LITERATURA

1.10 EDUCAÇÃO PARA A CONVIVÊNCIA COM A DIVERSIDADE:O QUE DIZ

1.10.2 Leis: 10.639/2003 e 11.645/2008

No Brasil, alterando a LDB, no intuito de atender a necessidades próprias da realidade brasileira, o Governo Federal sancionou a Lei nº 10.639, em 9 de janeiro de 2003, que altera, portanto, a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (LDB), e também foram alteradas, por ampliação, as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática ―História e Cultura Afro-Brasileira‖, Assim, ao Art. 1 da LDB foram acrescentados os artigos 26-A, 79-A e 79-B

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna- se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro- Brasileira.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‗Dia Nacional da Consciência Negra‘.

Em 2008, esta lei foi substituída pela Lei 11.645, de 10 de março de 2008, para que pudesse ser incluída a obrigatoriedade do estudo da História e Cultura de povos indígenas. Assim, ela altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, já modificada em 2003 pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que altera as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática ―História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena‖. O Art. 1º O art. 26-A da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro- brasileira e indígena.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (NR)

Durante anos, o ensino de História do Brasil foi pautado na história dos povos europeus, brancos, como referência positiva, enquanto que os negros e indígenas foram esquecidos e/ou retratados como preguiçosos e incapazes. Os negros abordados em muitos livros didáticos como pessoas inferiores, deixando para traz aspectos positivos como a sua cultura que contribuiu à construção de um país com uma grande diversidade cultural. Infelizmente, toda esta diversidade não foi apresentada, estudada e valorizada pela escola, mas sim reduzida a sua transmissão apenas pela oralidade ou através de alguns usos e costumes, como é o caso específico do samba de roda. Assim, desde a sua saída dos seus lugares de origem, muito se perdeu sobre a história do povo negro, inclusive, a própria identidade.

Conforme o parecer CNE/CP nº 003/2004,

[…] é importante tomar conhecimento da complexidade que envolve o processo de construção da identidade negra em nosso país. Processo esse, marcado por uma sociedade que, para discriminar os negros, utiliza-se tanto da desvalorização da cultura de matriz africana como dos aspectos físicos herdados pelos descendentes de africanos. Nesse processo complexo, é possível, no Brasil, que algumas pessoas de tez clara e traços físicos europeus, em virtude de o pai ou a mãe ser negro(a), se designarem negros; que outros, com traços físicos africanos, se digam brancos. É preciso lembrar que o termo negro começou a ser usado pelos senhores para designar pejorativamente os escravizados e este sentido negativo da palavra se estende até hoje. Contudo, o Movimento Negro ressignificou esse termo dando-lhe um sentido político e positivo.

A Lei 10.639, de 2003 e posteriormente a Lei 11.645, de 2008 propiciam a construção de uma prática pedagógica que privilegie a diversidade cultural que constitui a sociedade brasileira, reconhecendo e valorizando na sala de aula as diferenças étnicas e culturais que incluem, obviamente, a comunidade escolar, exigindo mudança de comportamento quanto ao processo de estruturação e construção de novas políticas educacionais o que, obrigatoriamente, exigirá reformulação tanto na construção do Projeto Político Pedagógico, quanto no Currículo da escola, na formação e na prática pedagógica dos educadores visando o bem-estar dos educandos e o respeito à sua cultura, sua religião, sua identidade.

Ainda segundo o Parecer CNE/CP nº 003/2004, existem alguns equívocos que são necessários serem desfeitos na escola como: a afirmação de que os negros se discriminam entre si e que são racistas também; a crença de que a discussão sobre a questão racial se limita ao Movimento Negro e a estudiosos do tema e não à escola; esclarecimento de que o racismo, o mito da democracia racial e a ideologia do branqueamento só atingem os negros.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas e, hoje, também da História e Cultura de povos indígenas do Brasil, que se constituem de princípios, fundamentos e orientações para o planejamento, execução e avaliação da Educação trazendo como meta promover a educação de cidadãos atuantes e conscientes no seio da sociedade multicultural e pluriétnica do Brasil, buscando relações étnico-sociais positivas, rumo à construção da Nação Democrática desejada e, como objetivos a divulgação e produção de conhecimentos, bem como o cultivo e aprendizagem de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos quanto à pluralidade étnico-racial, tornando-os capazes de interagir e de negociar objetivos comuns

que garantam, a todos, respeito aos direitos legais e valorização de identidade, na busca da consolidação da democracia brasileira; o reconhecimento e valorização da identidade, história e cultura dos afro-brasileiros, bem como a garantia de reconhecimento e igualdade de valorização das raízes africanas da nação brasileira, ao lado das indígenas, europeias, asiáticas.

A aprovação da Lei 11.645/08 atende a uma demanda da sociedade brasileira, principalmente dos movimentos em prol da causa dos negros brasileiros e povos indígenas para que suas respectivas história e cultura fossem conhecidas por toda a população, principalmente, as crianças e os jovens em fase de formação, desmistificando o mito de que o negro e/ou os indígenas são inferiores, desmontando as barreiras do preconceito, da discriminação e do racismo, que, apesar de estarmos no século XXI, ainda estão presentes em boa parcela da sociedade. Essa lei representa verdadeiramente uma das principais ações afirmativas, no que se refere a propagação da contribuição e participação do negro e do indígena na história e cultura do povo brasileiro e, especificamente, do povo baiano que teve no seu estado, segundo Sansone (2002, p.254),

[...] um papel central na construção da África no Brasil. No passado, este estado e a região do Recôncavo, que fica em torno de sua capital, Salvador, mesmo que fosse apenas pelo grande número de sua população negra, atraiu a atenção de viajantes que a retrataram em seus relatos como a ―Roma Negra‖ — o maior conglomerado do que eram considerados traços e tradições culturais africanas fora da África [...].

1.11 LEITURA E ESCRITA: DESAFIOS NA CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM