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CAPÍTULO 1 – REVISÃO DA LITERATURA

2.6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

2.6.2 Um Outro Ângulo: Resultados após a Intervenção Pedagógica

De acordo com Ausubel (1968), aprendizagem significativa ocorre quando há uma associação, por parte do aprendiz, da nova informação com o que o indivíduo já conhecia, surgindo um novo conhecimento que transforma a sua estrutura cognitiva.

No último dia de trabalho, nós coletamos também, alguns depoimentos dos alunos e obtivemos os seguintes dados, conforme apresentados a seguir, sobre o método de trabalho do professor e, neles, pudemos verificar diversos aspectos que possibilitaram maiores constatações sobre a prática pedagógica do professor.

Depoimento 01

Com o método do professor Mazé, eu comecei a entender este tipo de coisa, consegui entender mais sobre samba de roda, candomblé, religiões de matriz africana. A forma como ele fala, como ele estimula a curiosidade da gente, para entender e aprender mais. Quando ele começou a falar sobre a questão de identidade étnica, eu comecei a lembrar de quando eu era pequena, comecei a lembrar da minha tia, na casa da minha avó, eu achava engraçado, era algo conhecido, e eu aprendia mais, porque eu tinha parado ali aos nove anos. E muita coisa que ele falou eu aprendia mais e me lembrava de quando eu era pequena, ele foi falando o que eu já conhecia e fui aprendendo ainda mais o que não conhecia. Nunca um professor de História estabeleceu relação entre o que eu conhecia e o

conteúdo de sala de aula.31 (D).

Ao falar que tinha parado aos nove anos, é porque esta foi a idade quando saiu da casa da mãe para morar com o pai. A avó materna é líder de um terreiro de candomblé. O pai é espírita. O depoimento revela a associação que Ausubel define como necessária para que de fato, ocorra a aprendizagem significativa, conferir significado às novas informações que nos chegam tendo por base uma aprendizagem num registro anterior.

31

Depoimento 02

Um ponto interessante nas aulas do prof. Mazé é que ele valoriza a opinião do aluno, e nem todos os professores são assim. Quando o aluno dá sua opinião, ele trabalha em cima da opinião, do ponto de vista do aluno, isso é muito importante.

As aulas do professor Mazé ajudaram-me a mudar algumas atitudes. Eu era preconceituoso com relação às religiões de matriz africana ou questões ligadas à África. Minha mãe é Testemunha de Jeová, a família toda. Eu tinha preconceito e não participava de conversas, nem discutia as questões relacionadas a isso (temática africana) e o professor Mazé, ele me fez entender que as diferenças das crenças fazem parte da própria essência da vida que sempre vai haver diferenças em tudo: em gosto, em crenças, comidas, roupas, de tudo, sempre vai haver diferenças. (P)

Este aluno que se declarou como Testemunha de Jeová revelou que o trabalho o ajudou a mudar de atitude, principalmente, quando se trata de questões de matriz africana que é abolida por aqueles que professam esta religião. Fica claro, neste depoimento, a importância da negociação e do respeito, pois, como afirma Meirieu (1998), a negociação é necessária não só como respeito aos alunos, mas também como um desvio necessário para implicar o maior número possível de alunos no processo. Esta postura exige do professor uma capacidade de partilhar e de escutar as sugestões e as críticas dos alunos, lidando corretamente com as situações para que não haja interferência no desenvolvimento do trabalho.

Depoimento 03

Sempre tive uma participação ativa nas aulas que têm assuntos que me chamam a atenção. As aulas de prof. Mazé significam algo novo, que nenhum professor jamais ousou fazer, são aulas únicas, não existe uma aula igual ao do professor Mazé, as aulas são diferentes, dinâmicas; a maioria das pessoas participa e o professor não tem aquela pressão de prova, de teste. Ele quer trabalhar com assuntos do dia a dia, da vida. (P)

Um professor que se propõe a uma prática inovadora, conforme Perrenoud (2005, p.65) deve proporcionar ao escolar a liberdade de expressar suas dúvidas, seus raciocínios, expondo-se sem medo do erro, da crítica ajudando a conscientizá-lo de como aprende e, ―[...]

em seu oficio de aluno, torne-se um prático reflexivo” (ARGYIS (1995); SCHÖN (1994,1996) apud PERRENOUD, 1999, p.65). Além disso, Perrenoud (2005) afirma também que é preciso ter a capacidade de ―[...] abrir mão radicalmente do uso da avaliação como meio de pressão e de barganha.‖.

Depoimento 04

Eu gosto das aulas do prof. Mazé porque ele fez a turma descobrir uma coisa que pelo menos eu não tinha conhecido. Meu pai sempre, mesmo sem eu querer ir pra igreja, ele me levava e aí, quando via um samba de roda na praça e eu chamava ele pra ver, ele dizia que isto é coisa de macumbeiro. Depois das aulas, eu dizia pra meu pai que a vida não é assim, a gente tem de curtir algo de bom. A pessoa tem que ser sempre humilde e nunca desfazer da religião do outro, nunca ter preconceito. Eu aprendi, porque meu pai colocou uma coisa na minha cabeça, que samba de roda é macumba e, hoje sei que isto é preconceito. O professor ensinou pra gente que a gente nunca pode ter preconceito na vida. (A)

Existe a necessidade de ―[...] aprender a não demonizar as diferenças, a conviver com elas, a não transformá-las em conflitos ou em relações de dominação‖ (PERRENOUD, 2005, p.84).

Depoimento 05

Eu aprendi que samba de roda tem seu significado, tem seu conteúdo, que a letra demonstra que tem um significado certo. Eu não pratiquei, não dancei; eu bati palma e vi que podia escutar, aprender e facilitou muito meu conhecimento; vi coisas importantes. Mesmo sendo da Assembleia de Deus, não me senti incomodado com as aulas que falavam sobre a cultura afro-brasileira porque eu vi que estava aprendendo. (C)

Numa prática pedagógica (inovadora) segundo Meirieu (1998), existe a necessidade de uma maior implicação na tarefa por parte dos alunos e, esta implicação só acontece se existir por parte do professor uma capacidade de estabelecer um diálogo compreensivo diante da proposta a ser desenvolvida em sala de aula.

Depoimento 06

Durante a vida não tinha estudado sobre a cultura africana, só sobre a história dos índios e o que ouvi pouco sobre a história do negro. A história do negro que ouvi agora foi de uma forma muito diferente, de uma forma muito melhor. Antes, eu ouvia falar de que o negro era escravo, mas não sabia o porquê, qual era a cultura deles na escravidão, o que é que eles passavam e hoje nós acabamos sabendo. O samba de roda nos ajudou a construir a nossa identidade […] (J)

Podemos associar este depoimento a afirmação de Perrenoud (1999, p. 64) quando ele diz que o professor deve ter uma

[...] liberdade para com os conteúdos, a capacidade de lê-los com espírito crítico, sem ser ingênuo em relação a todos os compromissos de que resultam voltando, sempre que possível, às fontes de transposição, ousando

extrair o essencial, para não se perder o labirinto de conhecimentos.

Depoimento 07

As aulas dele são totalmente diferentes das outras. Com ele são mais aulas práticas, não é só escrever, nós participamos mais, as coisas que ele falava em sala tinham sentido pra mim porque são coisas verdadeiras, são coisas que mexem com cada um de nós, dava até para aprender, porque eu não sou muito de prestar atenção às aulas. As aulas dele eu prestei atenção. Só uma vez que vacilei, ele ficou chateado e me chamou a atenção, mas eu entendi e aprendi que devo prestar mais atenção nas aulas. (A)

A aluna ao falar que vacilou refere-se ao fato de estar na sala de aula, com o texto em discussão no classificador e, no entanto, não retirou para acompanhar a aula. Ela reconheceu que a presença dela na sala de aula com o texto dentro do classificador e sem participar da discussão não contribuiria em nada para a sua aprendizagem.

2.6.3 DADOS DA INTERVENÇÃO DE UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA