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O leitor e o diálogo com o autor

No documento 2016Maria Augusta DArienzo (páginas 110-112)

5.2 O leitor diante/com o Projeto Livro do Mês

5.2.2 O leitor e o diálogo com o autor

O contato com o autor é fator que amplia a vontade de ler, a confiança na compreensão da leitura da obra e a oportunidade de expressão dessa interpretação por meio de diferentes manifestações artístico-culturais. No primeiro aspecto, o aluno A diz que começou a gostar dos livros depois do Projeto Livro do Mês, porque quando vamos lá com a autora, sabendo os livros, já lemos, sabemos a história, conseguimos entender o que a autora está falando, senão vamos lá tipo o “Feérica” que não terminamos de ler, tinha partes que não entendíamos então, por isso prefiro continuar lendo, ler até o final, se esforçar para conseguir terminar de ler aquele livro para conseguirmos entender o projeto e entender o que a autora fala. (GF/EF 1/ALUNO A).

Nesse sentido, a professora W reafirma a importância do projeto no processo de leitura relatando que pelo fato deles saírem da escola, aquele dia que eles têm que ir lá para o seminário, bater papo com o autor ou com a autora, que eles vão conhecer, que eles vão perguntar, eu nunca dei pergunta pronta para ninguém, todos que participaram dos nossos alunos, formularam na hora, às vezes eu dizia - levem, cansei de dizer - pessoal vamos elaborar. Não prô lá na hora a gente vê, conforme nós escutamos e ouvimos no seminário – então, tudo o que saiu lá na hora, de questionamento da parte deles, foi bem deles. (ENT/PROF W).

A pesquisadora na observação do seminário também aponta no diário de campo essa aproximação com o autor. O registro descreve: a turma da escola A entregou trabalho escrito com desenhos para a escritora, realizou perguntas relacionadas com as curiosidades que

apareceram no dia da prática, como por exemplo: se ela tinha um gato, porque ela utilizava a rede para transportar Pilar e os amigos. (DC09).

O seminário proporciona o diálogo com o autor, o que possibilita o questionamento por parte dos participantes. Essa troca faz com que o leitor descubra que sua interpretação é pertinente, motivando a vontade de ler como relatam os alunos nas falas a seguir. Eu tinha vergonha de ler na frente de todo mundo, quando veio o projeto e fomos conversar com a autora, fiquei em dúvida - será que eu falo, vou falar, mas vai que esteja errado, você vai lá e pergunta daí ela diz está certo, tipo, então, eu prestei atenção no que eu li no livro dela, legal. (GF/EF 1/ALUNO E). Outro aluno diz que, quando é proposta a leitura de uma obra, hoje, ele lê porque tenho a oportunidade de questionar o escritor, isso faz eu ter vontade de ler. (GF/EM 1/ALUNO D).

Sobre esse fato, a professora W primeiramente destaca a fala inicial do autor quando apresenta a vida dele ou dela, traz experiências e o porquê da escolha de escrever obras. Mas, principalmente àquela hora do bate papo que eles têm a oportunidade de perguntar. [...] Quem leu sabe do que está tratando o livro e o que vai perguntar. Então, esse momento eu acho bem importante. Porque parece que eles chegam próximo ao autor, eles têm a oportunidade de ficar “mais íntimos” por meio do bate-papo. (ENT/PROF W).

Esse momento também é registrado no diário de campo da pesquisadora com a seguinte descrição: [...] passados trinta minutos de fala abrimos espaço para o diálogo com a escritora. A turma da escola A fez duas perguntas – Você considera o livro suspense, mistério ou drama? e a outra acerca da personagem Fênix - A Fênix ela existiu ou era um espírito? Acho que era um espírito. (DC03).

Nesse encontro com o escritor, as escolas participantes, por iniciativa própria, podem realizar apresentações artístico-culturais para os participantes e para o autor. Esse momento também é lembrado pelos alunos e professora, como por exemplo, na fala do aluno F que sempre teve vergonha, mas depois que entrou no projeto saiu lendo em tudo que é lugar. (GF/EF 1/ALUNO F). A professora W diz ser este um momento significativo para os alunos, pois valoriza o trabalho deles, e pelo fato deles saírem da escola e irem mostrar o trabalho deles. Eu penso que isso para eles é muito importante. Nós sentimos. Eu que trabalho com eles, tanto é que a cada livro durante a leitura prévia - prô tu já está pensando alguma coisa? O que nós vamos apresentar para a autora? E eu sempre jogo a responsabilidade para eles também – não, eu vou pensar, mas vocês vão pensar junto comigo, o que vocês acham? Como a história da paródia. (ENT/PROF W).

Essa oportunidade de expressar o livro por meio de uma manifestação artístico- cultural foi apontada pela pesquisadora no diário de campo, o qual relata que a turma da escola A preparou uma paródia a partir da obra com a música “Tempo de Alegria” de Ivete Sangalo, as meninas e a professora subiram ao palco e apresentaram para cerca de trezentas e quarenta pessoas que participavam do seminário. (DC03).

Esse leitor em formação é levado a ampliar sua vontade de ler por conhecer o autor, sua cultura, revelar suas curiosidades, mostrar sua interpretação, expressar essa compreensão através de manifestações artístico-culturais. Esse movimento é identificado por Rösing (2011) quando descreve as consequências do diálogo do leitor com o autor e consequentemente, com a sua obra; nele pode-se constatar a construção de deduções, de inferências do leitor sobre o texto lido, não apenas no momento em que a leitura avança, mas pela elaboração de questionamentos acerca do discurso do autor os quais vão sendo respondidos, e o leitor vai se envolvendo com o texto lido à medida que compreende, interpreta e se apropria dele.

No documento 2016Maria Augusta DArienzo (páginas 110-112)