O trabalho com o texto

Enquanto no ensino fundamental o trabalho com o texto é realizado por meio do livro, no ensino médio, o trabalho com o texto é fragmentado. Há no ensino fundamental a prática de empréstimo de livro semanal, conforme conta o aluno F trocamos na biblioteca toda semana o livro, quando terminamos de ler, trocamos. Nós trabalhamos com o livro na sala, às vezes a professora coloca alguma coisa do livro. Nós temos que fazer a contação da história, levamos um livro para casa e lemos, ao invés de fazermos ficha de leitura vamos contar o livro para os colegas. (GF/EF 1/ALUNO F). Mas a aluna A fala que, também fazem ficha de leitura ou desenho (GF/EF 1/ALUNO A), outro aluno fala que após a leitura eles apresentam o livro em forma de teatro, você faz os personagens ou em forma de maquete para contar. (GF/EF 1/ALUNO E/86). No outro grupo focal do ensino fundamental os alunos salientam a fala dos colegas citadas anteriormente. Quando perguntados quem trabalhava com o texto em sala de aula o aluno G respondeu que é a professora W, de português, ela nos leva na biblioteca pegar um livro e depois ela pede para fazer um resumo com as nossas palavras e trabalha meia semana, uma semana sobre o livro que lemos. E um trabalho para responder, ela faz perguntas sobre o livro – o que contava, quem eram os personagens principais, qual

era o lugar em que se passava a história. (GF/EF 2/ALUNO G). Já o aluno H conta que depois da leitura a professora solicita que façam um trabalho para apresentar para os colegas verem, em maquetes e nas cartolinas fazer desenhos (GF/EF 2/ALUNO H), além disso, ele revela que na escola temos aqueles quinze minutos para leitura, todo mundo pegava, como exemplo, o livro “Poeplano” lia as poesias para todo mundo e contava um pouco das histórias. (GF/EF 2/ALUNO H). O aluno F expõe que eles fazem bastantes desenhos, e com uma classe na frente da turma, eles explicam e contam o livro e as histórias, e a sua fala afirmando que eles leem bastante para as provas. (GF/EF 2/ALUNO F).

A professora W que atua no ensino fundamental ao ser questionada sobre como é realizado o trabalho com texto em sala de aula descreve que sempre procura trabalhar os textos, ler com eles em aula, eles fazem a leitura individual, depois lemos em conjunto, discutimos, tiramos as ideias principais, o que eu digo para eles é cada texto é um texto, um gênero, um tipo, procurando ver o que ele está nos trazendo, desde um simples texto, uma receita, qual é a intenção, qual é o objetivo, o que ele traz pra nós, tudo que eles podem tirar do texto, e encima do texto e após a leitura, o trabalho com a oralidade, trabalhamos com a interpretação, sempre procuro trabalhar em conjunto com eles, que cada um expresse a sua ideia. (ENT/PROF W).

Quando perguntados sobre o trabalho com o texto, com o livro o aluno A revelou que trabalhamos com o livro do mês, inteiro, e só, não de pegar esse período e ir à biblioteca escolher um livro e debater o livro. Não é só com textos mesmo. Fragmentos. (GF/EM 1/ALUNO A). Outro aluno diz que o trabalho é ler e interpretar (GF/EM 1/ALUNO D), o que outro complementa que geralmente temos que apresentar para a turma. (GF/EM 1/ALUNO C). E sem definir detalhes, o aluno H fala que a professora pega o texto e desenvolve períodos - orações coordenadas e subordinadas - encima daquilo ali. A professora de literatura, também, passa contos para nós. (GF/EM 1/ALUNO H).

As respectivas professoras do ensino médio descrevem como trabalham com o texto. Primeiramente, a professora X relata que trabalha com o texto para trabalhar a questão de interpretação, questão de compreensão, mas também, para trabalhar a questão da gramática. Eu acho que temos que trabalhar de certa forma a gramática, não tem como trabalhar isolado. Mas, puxa-se do texto. Se o texto é um pouco longo, vamos supor duas ou três páginas. Vamos ser bem realistas, em questão de leitura com os alunos, primeiro faço os alunos lerem, porque eles têm muita vergonha de ler. Dependendo do texto eu faço a leitura porque às vezes precisa da questão da entonação para eles entenderem. Gosto muito de,

depois que eles leram, quais são as partes mais importantes, vamos tentar identificar o que esse parágrafo está tentando dizer. A questão de pontuação, se a gente tirasse essa pontuação ele ia ser dessa forma, primeiro faço todo este trabalho. Se é questão de interpretação foco mais nessa questão, se é questão de gramática vou puxar de um parágrafo o conteúdo em si, se é sobre verbo então trabalho a partir daquele fragmento e vou puxando o verbo. Então, é dessa forma que eu tento, mas não é fácil. Os alunos ainda se prendem muito naquela questão da gramática ser separada isoladamente, até eles entenderem no contexto do texto, isso é um processo bem demorado. Vou desmembrando o texto, mas não é fácil eu sinto assim que os alunos, a princípio eles não gostam, quando é um texto muito longo principalmente, eles ainda têm essa aversão, mas isso está mudando, está bem diferente. Esse ano senti facilidade, os alunos já estão se familiarizando com essa questão de texto em sala de aula. E isso foi devido ao Livro do Mês, porque a gente trouxe o livro em si mesmo. (ENT/PROF X).

A outra professora revela que procura trabalhar fazendo a leitura para os alunos prestarem atenção na questão da entonação, na questão da dicção, depois eu peço que eles façam uma leitura silenciosa para fazerem uma leitura atenta do texto, depois fazemos a leitura coletiva. Depois disso, sempre procuro trabalhar o gênero textual ou o gênero literário no caso, trabalhar as características, trabalhar a biografia do autor, e depois disso fazer um trabalho de análise, de interpretação, de compreensão, ou de estrutura da língua a partir daquilo que aparece no texto. (ENT/PROF Y).

Pode-se identificar que o trabalho com o texto, em especial, na escola B, ocorre por intermédio de fragmentos. O livro literário foi trabalhado porque a escola começou no Projeto Livro do Mês. Essa questão apareceu também na primeira categoria de análise, quando os sujeitos falaram sobre cada etapa do projeto. Os estudos de Petit (2008) apontam que a mediação da leitura, em muitos casos, fica sob a responsabilidade do professor. Por isso, a aproximação da criança e dos jovens com os livros, normalmente, ocorre na escola. Dessa forma, o professor precisa desenvolver um processo de aprendizagem da leitura desenvolvendo uma concepção de leitura e uma prática de leitura que mais do que ensiná-los, incentive-os e promova a leitura, em especial, a leitura literária. Porque a leitura, principalmente de livros, pode auxiliar os jovens “a serem autônomos e não apenas objetos de discursos repressivos ou paternalistas. E ela pode representar uma espécie de atalho que leva de uma intimidade um tanto rebelde à cidadania.” (PETIT, 2008, p. 19).

dedicar mais atenção à leitura de obras integrais (reduzindo o tempo dedicado a trabalhar as habilidades leitoras desintegradas), a aumentar a conexão entre leitura e escrita (invertendo os termos inclusive) e a deixar de considerar o material da leitura como uma substância neutra denominada “textos” para aceitar que o tipo de livros lidos determina o leitor que se forma. (p. 108)