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O leitor e o gosto pela leitura

No documento 2016Maria Augusta DArienzo (páginas 107-110)

5.2 O leitor diante/com o Projeto Livro do Mês

5.2.1 O leitor e o gosto pela leitura

Várias foram as manifestações dos alunos sobre a participação no Projeto Livro do Mês e sua relação com o gosto pela leitura. Os motivos para o interesse são distintos, por exemplo: o desafio de uma nova prática de leitura na escola, o encontro com o autor, o trabalho com o livro literário, as interações realizadas com o livro, o diálogo com o texto. Essas revelações estão explicitadas na fala de Rösing (2014) ao apresentar o propósito da prática leitora multimidial. Para a autora, é fundamental que crianças, jovens e adultos, leitores em formação, entrem em contato com obras contemporâneas, em que a linguagem utilizada pelo autor os represente, desenvolvendo a habilidade de apreciar a singularidade com que o autor trabalha com o tema escolhido. Ela diz, ainda, que é necessário aprender “a reconhecer a ficcionalidade em que essa obra se constitui, de forma que cada um desses leitores em formação seja estimulado a se envolver, cada vez mais, com textos de natureza literária.” (RÖSING, 2014, p. 8).

Nos grupos focais, os alunos tanto do ensino fundamental como do médio revelam que começaram a gostar de ler a partir da participação no Projeto Livro do Mês. O aluno E conta o episódio em que a professora W anuncia a participação da escola no Projeto Livro do Mês explicando como aconteceria. Ele narra que não gostava de ler nem um pouco, quando a professora W me disse - ah vai ter esse negócio – eu disse - fala sério! - ela disse - mas vocês vão ter que ler os livros - eu concordei, eu vou ler. O primeiro foi Dilan Camargo e eu adorei as poesias dele, depois foram os outros e eu também gostei, eu acho que foi assim que eu comecei a gostar de ler, porque tipo, cada livro tem uma coisa diferente, eu lia uma parte e não conseguia parar de ler, porque eu queria saber o final da história e foi assim que eu comecei a gostar bastante de ler. (GF/EF 1/ALUNO E). Antes de participar do Projeto Livro do Mês, o aluno G, diz que não se interessava muito pelos livros, mas depois fomos conhecendo melhor como os autores criaram o livro, de onde eles tiravam as ideias, e assim procuramos ler os outros livros da biblioteca. (GF/EF 2/ALUNO G).

No grupo focal do ensino médio, o aluno A manifesta que os primeiros livros inteiros que leu foram o Perdida e o Feérica, que não lia e preferia assistir a filmes, mas surgiu o “Perdida”, eu disse, eu preciso ler, eu sinto que ele fala comigo e eu preciso falar com ele também, comecei a ler, e agora, prefiro ler que assistir filme. E justifica o porquê, afirma que no livro você imagina a sua personagem, o jeito que acontece, já no filme não, é um jeito que eles fazem. (GF/EM 1/ALUNO A). E relatou que agora eles leem animados, mas se em anos anteriores fosse sugerida a leitura de um livro, até diria que iria ler, porém, quando chegasse

em casa pesquisaria na internet a existência de filme sobre o livro ou um resumo. (GF/EM 1/ALUNO A).

Os fatos narrados pelos alunos são relatados pela professora em suas observações sobre os desdobramentos do projeto nos alunos e também nela própria. A professora W diz que o Projeto Livro do Mês é muito bom, porque ele despertou tanto para mim, quanto para os alunos uma vontade maior, não uma vontade, mas uma vontade de trabalhar com os livros, tanto é que eles pediam - prô qual vai ser o próximo Livro do Mês. Ela afirma que o projeto provocou a curiosidade e a vontade de ler e que consequentemente enriqueceu o trabalho de leitura da escola. (ENT/PROF W).

Essa revelação foi feita à pesquisadora em dia de desenvolvimento da prática leitora na escola. O registro descreve que terminada a prática leitora a professora W me relatou que a participação dos alunos no Projeto Livro do Mês estava levando as crianças a se interessarem mais pela leitura, fato que se comprovava pela solicitação de retirar livros na biblioteca, que na escola há a prática de levar os livros literários até a sala de aula para o empréstimo. (DC07).

O gosto pela leitura surge pelo trabalho realizado com o livro, pela aproximação, contato e interações possíveis com o livro. O aluno F diz que antes eu não conseguiria ler um livro grosso, tipo o “Feérica”, agora depois que você trouxe esses livros eu consigo ler qualquer livro que você me der. (GF/EF 1/ALUNO F). No mesmo diálogo, o aluno E manifesta que ao pegar um livro para ler achava chato e logo pensava que não terminaria de ler, mas os livros do Projeto Livro do Mês sendo chatos ou não sempre conclui a leitura; então concluiu que consegue ler outros livros. O aluno conta como retirava livros na biblioteca: eu ia à biblioteca e começava ver a grossura, via o mais fininho e era o que eu pegava, não importava o nome do livro mas era o mais fininho que eu pegava. Peguei semana passada esse, a professora vai brigar comigo se eu pegar ele novamente, mas quando você veio com esse livro que tipo tem uns grossos e uns finos. Quando eu vi - nossa olha o tamanho desse “Feérica”, olha isso. Eu comecei a me interessar, livro grosso é legal, eu gostei do “Perdida”, que era grosso, também, e eu gostei do “Dias perfeitos”, que também era grosso. E eu consegui ler, nossa é muito legal. Então, vi que os livros pequenos falam umas historinhas bem pequenas e bem curtinhas e são quase contos de fadas, e os livros grossos dão mais emoção. (GF/EF 1/ALUNO E).

A professora X revela que trabalhava apenas com fragmentos, textos soltos e que o trabalho com o livro se deu a partir da experiência com o Projeto Livro do Mês. Esse ano eu

estou me policiando mais para trabalhar com os textos, eu acho que a questão do Livro do Mês acabou nos norteando, porque antes eu selecionava um texto, hoje eu vou trabalhar e procuro, vou direto no livro e tiro daquele livro, aquele fragmento mas eu confesso, tudo foi devido ao Livro do Mês que eu me aproximei mais dos livros. (ENT/PROF X).

Quanto a essas questões, a pesquisadora observou, ainda, em diário de campo, o interesse dos alunos pelos livros e suas interações. As crianças perceberam que a ilustração era “real” (mistura de fotografia do Peru com desenhos dos personagens). A linguagem cinematográfica utilizada na prática era conhecida dos alunos – As crônicas de Nárnia. Quando realizei as indicações de leitura uma aluna estava lendo um dos livros. Ao final da prática as crianças foram manusear os livros indicados. (DC07).

No documento 2016Maria Augusta DArienzo (páginas 107-110)