5.2 O leitor diante/com o Projeto Livro do Mês
5.2.1 O leitor e o gosto pela leitura
Várias foram as manifestações dos alunos sobre a participação no Projeto Livro do Mês e sua relação com o gosto pela leitura. Os motivos para o interesse são distintos, por exemplo: o desafio de uma nova prática de leitura na escola, o encontro com o autor, o trabalho com o livro literário, as interações realizadas com o livro, o diálogo com o texto. Essas revelações estão explicitadas na fala de Rösing (2014) ao apresentar o propósito da prática leitora multimidial. Para a autora, é fundamental que crianças, jovens e adultos, leitores em formação, entrem em contato com obras contemporâneas, em que a linguagem utilizada pelo autor os represente, desenvolvendo a habilidade de apreciar a singularidade com que o autor trabalha com o tema escolhido. Ela diz, ainda, que é necessário aprender “a reconhecer a ficcionalidade em que essa obra se constitui, de forma que cada um desses leitores em formação seja estimulado a se envolver, cada vez mais, com textos de natureza literária.” (RÖSING, 2014, p. 8).
Nos grupos focais, os alunos tanto do ensino fundamental como do médio revelam que começaram a gostar de ler a partir da participação no Projeto Livro do Mês. O aluno E conta o episódio em que a professora W anuncia a participação da escola no Projeto Livro do Mês explicando como aconteceria. Ele narra que não gostava de ler nem um pouco, quando a professora W me disse - ah vai ter esse negócio – eu disse - fala sério! - ela disse - mas vocês vão ter que ler os livros - eu concordei, eu vou ler. O primeiro foi Dilan Camargo e eu adorei as poesias dele, depois foram os outros e eu também gostei, eu acho que foi assim que eu comecei a gostar de ler, porque tipo, cada livro tem uma coisa diferente, eu lia uma parte e não conseguia parar de ler, porque eu queria saber o final da história e foi assim que eu comecei a gostar bastante de ler. (GF/EF 1/ALUNO E). Antes de participar do Projeto Livro do Mês, o aluno G, diz que não se interessava muito pelos livros, mas depois fomos conhecendo melhor como os autores criaram o livro, de onde eles tiravam as ideias, e assim procuramos ler os outros livros da biblioteca. (GF/EF 2/ALUNO G).
No grupo focal do ensino médio, o aluno A manifesta que os primeiros livros inteiros que leu foram o Perdida e o Feérica, que não lia e preferia assistir a filmes, mas surgiu o “Perdida”, eu disse, eu preciso ler, eu sinto que ele fala comigo e eu preciso falar com ele também, comecei a ler, e agora, prefiro ler que assistir filme. E justifica o porquê, afirma que no livro você imagina a sua personagem, o jeito que acontece, já no filme não, é um jeito que eles fazem. (GF/EM 1/ALUNO A). E relatou que agora eles leem animados, mas se em anos anteriores fosse sugerida a leitura de um livro, até diria que iria ler, porém, quando chegasse
em casa pesquisaria na internet a existência de filme sobre o livro ou um resumo. (GF/EM 1/ALUNO A).
Os fatos narrados pelos alunos são relatados pela professora em suas observações sobre os desdobramentos do projeto nos alunos e também nela própria. A professora W diz que o Projeto Livro do Mês é muito bom, porque ele despertou tanto para mim, quanto para os alunos uma vontade maior, não uma vontade, mas uma vontade de trabalhar com os livros, tanto é que eles pediam - prô qual vai ser o próximo Livro do Mês. Ela afirma que o projeto provocou a curiosidade e a vontade de ler e que consequentemente enriqueceu o trabalho de leitura da escola. (ENT/PROF W).
Essa revelação foi feita à pesquisadora em dia de desenvolvimento da prática leitora na escola. O registro descreve que terminada a prática leitora a professora W me relatou que a participação dos alunos no Projeto Livro do Mês estava levando as crianças a se interessarem mais pela leitura, fato que se comprovava pela solicitação de retirar livros na biblioteca, que na escola há a prática de levar os livros literários até a sala de aula para o empréstimo. (DC07).
O gosto pela leitura surge pelo trabalho realizado com o livro, pela aproximação, contato e interações possíveis com o livro. O aluno F diz que antes eu não conseguiria ler um livro grosso, tipo o “Feérica”, agora depois que você trouxe esses livros eu consigo ler qualquer livro que você me der. (GF/EF 1/ALUNO F). No mesmo diálogo, o aluno E manifesta que ao pegar um livro para ler achava chato e logo pensava que não terminaria de ler, mas os livros do Projeto Livro do Mês sendo chatos ou não sempre conclui a leitura; então concluiu que consegue ler outros livros. O aluno conta como retirava livros na biblioteca: eu ia à biblioteca e começava ver a grossura, via o mais fininho e era o que eu pegava, não importava o nome do livro mas era o mais fininho que eu pegava. Peguei semana passada esse, a professora vai brigar comigo se eu pegar ele novamente, mas quando você veio com esse livro que tipo tem uns grossos e uns finos. Quando eu vi - nossa olha o tamanho desse “Feérica”, olha isso. Eu comecei a me interessar, livro grosso é legal, eu gostei do “Perdida”, que era grosso, também, e eu gostei do “Dias perfeitos”, que também era grosso. E eu consegui ler, nossa é muito legal. Então, vi que os livros pequenos falam umas historinhas bem pequenas e bem curtinhas e são quase contos de fadas, e os livros grossos dão mais emoção. (GF/EF 1/ALUNO E).
A professora X revela que trabalhava apenas com fragmentos, textos soltos e que o trabalho com o livro se deu a partir da experiência com o Projeto Livro do Mês. Esse ano eu
estou me policiando mais para trabalhar com os textos, eu acho que a questão do Livro do Mês acabou nos norteando, porque antes eu selecionava um texto, hoje eu vou trabalhar e procuro, vou direto no livro e tiro daquele livro, aquele fragmento mas eu confesso, tudo foi devido ao Livro do Mês que eu me aproximei mais dos livros. (ENT/PROF X).
Quanto a essas questões, a pesquisadora observou, ainda, em diário de campo, o interesse dos alunos pelos livros e suas interações. As crianças perceberam que a ilustração era “real” (mistura de fotografia do Peru com desenhos dos personagens). A linguagem cinematográfica utilizada na prática era conhecida dos alunos – As crônicas de Nárnia. Quando realizei as indicações de leitura uma aluna estava lendo um dos livros. Ao final da prática as crianças foram manusear os livros indicados. (DC07).