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O leitor e as diferentes linguagens e suportes

No documento 2016Maria Augusta DArienzo (páginas 116-120)

5.2 O leitor diante/com o Projeto Livro do Mês

5.2.4 O leitor e as diferentes linguagens e suportes

Aparecem nos grupos focais opiniões distintas acerca da preferência do livro ou do filme; alguns preferem o livro, mas querem conhecer o filme; outros ponderam que os dois são relevantes e ainda há os que optam pelo livro apenas. O aluno E diz que é legal ler e

assistir ao filme, por exemplo, “Crônicas de Nárnia”, tipo é um livro enorme da onde é que eu vou ler tudo isso, e eu li e no livro você vê aquelas partes que não aparecem no filme, como é que pude perder tudo isso. (GF/EF 1/ALUNO E). Assim como o aluno E, o aluno G, do outro grupo focal do ensino fundamental, diz: eu procuro sempre olhar os dois, vê se tem mesmo a ver a história, porque lê um livro e às vezes parece que não tem nada a ver, é bem mais legal ler o livro. (GF/EF 2/ALUNO G). Mas, anteriormente, na conversa ponderou que os vídeos, também, porque como o da fênix, o Harry Potter, por causa do filme começamos a nos interessar mais para conhecer a história deles. (GF/EF 2/ALUNO G). Já o aluno H revela preferir o livro sem desenhos, assim podemos imaginar e depois conhecer o filme. (GF/EF 2/ALUNO H). E o aluno F acha melhor os livros que não têm muitos desenhos, porque podemos imaginar com a nossa criatividade, e isso é bom para o nosso desenvolvimento. (GF/EF 2/ALUNO F).

As professoras afirmam que o visual é importante para o aluno compreender melhor o livro e fazer as associações possíveis entre obras, entre livro e vídeo, livro e filme, livro e game. Uma coisa que eu notei é a questão do vídeo, aquilo que eles estão enxergando, o visual, eu achei muito importante. Esse trabalho, eu comentei com as colegas, é muito rico. A prática leitora da minha parte e acredito que da parte da maioria do pessoal, porque eles realmente se interessaram, eles amaram. (ENT/PROF W). A professora X relata que os alunos começaram a perceber que de uma leitura abre-se outros caminhos para outras leituras e da maneira que vocês colocaram, trazendo vídeos, trazendo os próprios livros, mostrando para eles, perguntando, recapitulando com eles a história. Os alunos precisam visualizar essas coisas porque às vezes ficamos somente na fala, e alguns alunos não conseguem assimilar as informações. Vocês trazendo em slides, trazendo os vídeos, acho que ficou bem interessante. Essa dinâmica eu acho que tem que prosseguir e nós temos que dar continuidade. (ENT/PROF X). Exibir o trailer do filme “As Crônicas de Nárnia - A viagem do peregrino da alvorada”, em que as crianças viajam via quadro na parede, assim como Pilar e os amigos viajam pela rede de descanso (PL/OUTUBRO). Esse é um exemplo das atividades trabalhadas na prática leitora citadas pelas professoras.

Além da busca pelo material de leitura impresso, livro literário, os alunos, especificamente, do ensino médio procuraram outras informações no meio digital. No grupo focal no decorrer da conversa sobre a prática de buscar saber quem é o autor, ação padrão realizada na prática leitora do projeto, os alunos disseram que antes do projeto não olhavam quem era o autor, mas que agora o fazem. O aluno G declara que pesquisa na internet.

(GF/EM 1/ALUNO G). E o aluno B conta que, no caso da autora Carolina Munhóz, do livro “Feérica” eu entrei no site para pesquisar, mas não ficou parecida, é diferente. (GF/EM 1/ALUNO B). Outra prática dos alunos no meio digital, não revelada por eles, mas pela professora é o uso da rede social para comentar o livro com o escritor e, também, a produção de vídeo e o envio para o escritor. Ela conta que eles tendem a buscar mais o visual e principalmente aquilo que eles conseguem pesquisar no próprio celular, por exemplo, o livro “Dias perfeitos”, eles buscaram primeiramente o autor na rede social, muitos deles enviaram, inclusive, comentários do livro depois para o autor, para o Raphael, pedindo, como eles não tinham lido previamente, pedindo do livro, outro que deu um trabalho bem interessante foi o livro “Perdida”, principalmente as meninas gostaram bastante, por se tratar de um romance e que depois elas inclusive propuseram desenvolver trabalhos na escola. Pegaram o livro, trabalharam e recriaram o livro, porque gostaram da história, por exemplo, o terceiro ano fez um vídeo sobre a história da “Perdida” e depois enviaram para a Carina Rissi que conversou com eles, deu um retorno. (ENT/PROF Y).

A autonomia descrita por alunos e professores, anteriormente, ocorre não apenas no meio digital; ela acontece, também, na conversa e na escolha de livros, como conta o aluno A que, após participar das diferentes etapas do Projeto Livro do Mês – leitura prévia, prática leitora, seminário –, comenta: entre nós, tipo agora nós estávamos descendo as escadas e falando do “Feérica”, que tínhamos gostado, ou não, que tinha que mudar tal coisa, mesmo que os professores não perguntam nós acabamos conversando sobre o livro. (GF/EM 1/ALUNO A/110). As professoras também observaram essa independência dos alunos frente à leitura no suporte impresso, reafirmando, do mesmo modo, a busca no meio digital. Na hora do recreio vejo alunos com livro sentados, na hora do recreio eles podiam estar mexendo no celular, claro, foram poucos, mas no momento que atingimos um aluno, para o professor é. Para quem não tinha antes acesso a biblioteca, a nossa biblioteca ela tem um acervo muito grande, e nós não víamos os alunos irem até a biblioteca, hoje estamos vendo. São passos de formiguinha. O nosso trabalho é de formiguinha, passo de tartaruga na verdade, mas que estão sendo mudados. (ENT/PROF X). A professora Y dá exemplos do interesse dos alunos por materiais de leitura: da Carina Rissi quando eles fizeram a leitura do “Perdida”, eles logo foram buscar o “Procura-se um marido” que foi feita a leitura, o “Encontrada”, então eles acabaram lendo todos os livros que trabalhavam com aquela narrativa daqueles personagens e depois eles vinham dizer – ah, prô, a gente já está esperando o próximo livro da Carina Rissi - que vai dar continuidade a história daqueles personagens, porque

realmente entraram na história. Gostaram bastante do romance. E, principalmente, os meninos foram, porque pouco foi trabalhado, inclusive na prática, que a história do Sherlock Holmes aparece em outros formatos, só que eles não sabiam. Então, eles a história do Sherlock Holmes para depois conseguir fazer essas ligações com outras artes que estavam circulando que partiu da história dele. E o que eles gostaram também, é que eles acharam na internet uma HQ que trabalhava com a história do Sherlock. Um ou dois vieram comentar que tinham procurado e que tinham trabalhado. (ENT/PROF Y).

Os leitores em formação, ou seja, os alunos revelam nos grupos focais o seu interesse e preferência por certa linguagem ou por diferentes linguagens e seus respectivos suportes. Esse posicionamento dos alunos mostra a multiplicidade de leitores que Santaella (2004) estuda a partir do surgimento de novos suportes e novas estruturas do texto, as quais demandam exigências cognitivas e perceptivas por parte do leitor.

Os alunos apresentam características do leitor contemplativo quando preferem o livro como suporte de leitura, pois, como diz Santaella (2004), esse leitor tem uma relação íntima com o texto, ou seja, o livro como mensageiro das palavras. Esse leitor ao mesmo tempo em que contempla, medita, usa a visão e a imaginação, e como os alunos afirmaram o leitor que aprecia o livro usa sua criatividade para imaginar os eventos que ocorrem ao longo da história.

Por outro lado, há alunos que se identificam com o leitor movente, que é o leitor de imagens, dos recursos visuais, luzes, cores, e que, portanto, preferem o cinema ao livro. Esse leitor, como afirma Santaella (2004), tem características cognitivas que preparam a chegada do leitor imersivo. O leitor movente, fragmentado, “aprende a transitar entre linguagens, passando dos objetos aos signos, da imagem ao verbo, do som para a imagem com familiaridade imperceptível.” (SANTAELLA, 2004, p. 31).

O perfil cognitivo do leitor ubíquo também aparece entre os alunos pesquisados, pois contam sobre as pesquisas realizadas na rede, do compartilhamento e das conversas em redes sociais com os escritores e entre eles. O leitor ubíquo é aquele que está presente em qualquer tempo e lugar, transita simultaneamente entre a presença física e virtual nos ambientes de hipermobilidade.

Mas, como afirma Bamberger (2000), não é comum um tipo de leitor puro, o leitor misto é o que é habitual, aquele que possui características e preferências de mais de um tipo de leitor. Santaella (2004) também defende que um perfil de leitor não elimina o outro, ao contrário, eles coexistem e se completam.

No documento 2016Maria Augusta DArienzo (páginas 116-120)