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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.3 JOGOS DIDÁTICOS DE ALFABETIZAÇÃO: ASPECTOS DA

4.3.4 A título de síntese: uma visão geral das unidades e habilidades

4.3.4.2 Leitura de palavras e textos curtos e produção/escrita de palavras e de texto 156

Na segunda categoria em número e recorrência nos jogos (25,8%), agrupamos as habilidades/unidades que propõem leitura de palavras e textos curtos e a produção/escrita de palavras e texto. São elas: a) associar palavras às figuras correspondentes, relacionada a três (3) jogos; b) ordenar letras para formar palavras, relacionada a dois (2) jogos; c) ordenar sílabas para formar palavras, relacionada a um (1) jogo; d) escrever palavras com fluência e com rapidez, relacionada a um (1) jogo e e) ordenar palavras e formar textos, relacionada a um (1) jogo.

Com relação aos jogos que propõem associar palavras às figuras correspondentes, identificamos, por exemplo, o jogo “Compara palavra”, do conjunto de Jogos do Programa Criança Alfabetizada (ano 2).

Morais (2012, p. 154) apresenta algumas possibilidades de jogos que envolvem a leitura de palavras, como, por exemplo, “jogos de trilha em que, após o lance dos dados e a contagem de “casas” para onde deve ir, só avança se conseguir ler a palavra que está na casa almejada”. O autor sugere a utilização desse tipo de atividade por constituir uma interessante proposta para jogar com as palavras ao mesmo tempo em que refletem sobre as diferentes correspondências entre pauta sonora e a grafia das palavras apresentadas no jogo. Ainda segundo o autor, é possível aproveitar o mesmo comando do jogo para enfocar outras correspondências grafofônicas, apenas mudando as palavras.

Entre os jogos que propõem ordenar letras para formar palavras, identificamos, por exemplo, o jogo “Cada letra em seu lugar”, do conjunto de Jogos do Programa Criança Alfabetizada (ano 1).

Para Morais (2012), montar palavras com letras móveis têm se mostrado alternativa interessante para ajudar os alfabetizandos a se apropriarem do sistema de escrita alfabética, pois, segundo o autor, a criança será poupada do trabalho cognitivo e motor exigido para grafar as palavras quando é preciso escrever de próprio punho, ou seja, o aprendiz fica mais livre para direcionar a atenção para as correspondências grafofônicas e a ordem na qual as letras precisam ser encadeadas para formar as palavras. Várias são as vantagens apontadas pelo autor sobre o trabalho com alfabeto móvel, como perceber as letras como unidades, poder contar quantas vezes cada letra aparece na palavra, observar que as letras podem se repetir no interior da mesma palavra e em palavras diferentes, deparar-se com sequências de letras que não formam palavra, transformar palavras em outras a partir de pequenas variações, entre outros desdobramentos que podem ser feitos.

O jogo “De sílaba em sílaba”, do conjunto de Jogos do Programa Criança Alfabetizada (ano 1), consiste em ordenar sílabas para formar palavras. Propostas de atividades como essa estimulam a compreensão de que as palavras são formadas por segmentos menores (as sílabas), faz com que a criança se depare com diferentes estruturas silábicas e chamam atenção para o fato de todas as sílabas conterem ao menos uma vogal. Sobre jogos de formação de palavras a partir de sílabas, Leal, Albuquerque e Leite (2005, p. 125-126) apontam que “compor as palavras, usando sílabas, no entanto, é tarefa que apenas os alunos que já têm algum domínio do sistema são capazes de fazer (a não ser aqueles que fazem isso de memória, sem saber de fato o que estão fazendo)”. No entanto, segundo as autoras, se for jogado em grupos com crianças de diferentes níveis de compreensão da escrita, aquelas em estágios iniciais podem participar e se beneficiar das estratégias utilizadas pelos colegas.

Esses dois jogos anteriormente mencionados envolvem a produção de palavras a partir de segmentos menores. Há também um jogo no qual se demanda do aprendiz que escreva palavras com fluência e com rapidez, o jogo “Quem escreve sou eu”, do conjunto de Jogos do Ceel.

Para Batista (2011), grande parte das dificuldades enfrentadas no país para alfabetizar as crianças está relacionada ao pouco investimento didático e pedagógico para a consolidação das competências de leitura e escrita. Para esse autor, a alfabetização frequentemente limita-se ao primeiro estágio, ou seja, à aprendizagem e ao domínio do princípio alfabético, enquanto o segundo momento do processo de alfabetização, sua consolidação, não se constituiria preocupação nem dos professores, nem das escolas e das redes de ensino. Porém, o autor afirma que essa segunda etapa (consolidação) também merece atenção, de modo que, por um lado, seja promovida a familiarização da criança com a cultura escrita e, por outro lado, gere a interiorização das correspondências entre grafemas e fonemas “para que o processo de codificação e de decodificação se faça sem esforço, liberando assim o aluno para o desenvolvimento de outros processos cognitivos, relacionados à compreensão e à produção de textos” (BATISTA, 2011, p. 18).

O jogo “Quem escreve sou eu” (Ceel) propõe a escrita de palavras a partir das figuras que as representam. É um tipo de proposta que pode ser sugerida para crianças que já se apropriaram de algumas correspondências grafofônicas. Como o processo de alfabetização ainda precisa ser consolidado, é importante vivenciar atividades nas quais é preciso ler e escrever palavras variadas para que consigam ler e escrever com autonomia.

Já a habilidade de ordenar palavras e formar textos é enfocada no jogo “Quebra-cabeça de parlendas”, do conjunto de Jogos do Programa Criança Alfabetizada. Nesse jogo, tem-se o

desafio de ordenar palavras e formar parlendas conhecidas. Nesse jogo, além de ler as palavras, os alfabetizandos irão se deparar com a construção de textos curtos – textos que as crianças já precisam saber de cor, conforme é indicado no manual de jogos –, por meio da ordenação das palavras, mas não precisarão escrever as palavras de próprio punho. Logo, poderão direcionar maior atenção às correspondências grafofônicas para construir o texto, além de manipular a unidade palavra e consolidar o seu conceito. Nesse sentido, acreditamos ser necessário reafirmar o lugar da leitura de textos curtos como as parlendas no processo de alfabetização. De acordo com Souza (2005), a reflexão sobre os textos orais que se sabe de cor em sua forma escrita induz a criança a ajustar o conhecimento oral sobre o texto ao que está escrito, levando-a levando-a perceber que o que é flevando-allevando-ado deve ser escrito nlevando-a ordem flevando-allevando-adlevando-a, “flevando-avorecendo, nesse processo, a descoberta de novos padrões silábicos e a sistematização das devidas relações som-grafia” (SOUZA, 2005, p. 96). Além disso, Griffo e Val (2014) esclarecem que esse ordenar palavras para formar frases e/ou textos ajuda a sistematizar o conceito de palavra e progressivamente diminuir os erros de hipossegmentação, relacionados à união de palavras distintas, e também os erros de hiperssegmentação, quando ocorre a separação de partes de uma única palavra.

Morais (2012), já há algum tempo, defende a contribuição da leitura e escrita de palavras, frases e textos curtos para os alfabetizandos que precisam estabelecer e/ou consolidar correspondência grafofonêmicas. Ainda segundo Morais (2012), é comum que as crianças que ainda não desenvolveram agilidade na escrita enfrentem dificuldade no momento da produção por não conseguirem acompanhar na hora de grafar as palavras a agilidade do raciocínio, pois precisam agregar habilidades de relação letra-som, atentar para a escrita correta das palavras, ao mesmo tempo que pensam sobre o texto a ser escrito. Com o jogo “Quebra-cabeça de parlendas” a criança poderá se ater à construção do texto.

4.3.4.3 Reflexão sobre correspondências grafema/fonema

Em terceiro lugar, aparece a categoria que contempla a reflexão sobre as correspondências grafema/fonema (16,1%). As habilidades/unidades contempladas nessa categoria são: a) completar palavras, identificando a letra que está faltando, relacionada a um (1) jogo e b) transformar uma palavra em outra, por troca, retirada, acréscimo ou permuta de uma letra, relacionada a quatro (4) jogos.

A habilidade de completar palavras, identificando a letra que está faltando, é enfocada no jogo “Tem letra faltando”, do conjunto de Jogos do Programa Criança Alfabetizada (ano 2).

Com relação à habilidade de transformar uma palavra em outra, por troca, retirada, acréscimo ou permuta de uma letra, temos o exemplo do jogo “Troca letra”, do conjunto de Jogos do Ceel. De acordo com Morais (2019, p. 211), para realizar o desafio do jogo “Troca letras”, “o aluno analisa os “todos” das duas palavras”, mas precisa focalizar o som que muda para refletir “sobre a correspondência específica sobre a qual vai operar a transformação (gráfica e sonora)”. Em momento anterior, Morais (2012) chama atenção para as contribuições de atividades nas quais os aprendizes possam vivenciar as mudanças nas relações entre letras e sons para ajudá-los a refletir sobre os segmentos sonoros mínimos das palavras, assim como é proposto no jogo “Troca letras” e em outras formas de chamar atenção para essas relações, como:

• fazer transformações radicais nas palavras, a partir da substituição de uma única letra (bola, mola, gola, sola);

• fazer transformações a partir da “entrada” de uma letra (pato -> prato; gato -> grato ou pato -> parto; moto -> morto; ou bode -> bonde; pote -> ponte); • fazer transformações a partir da mudança na posição de uma letra na sílaba (esta -> seta; escava-> secava);

• fazer classificações de palavras que compartilham grafemas semelhantes, mas com sons diferentes, em função da posição que ocupam nas sílabas (a criança separa, digamos, palavras que contêm AR, ER, IR, OR e UR numa coluna e aquelas que contêm RA, RE, RI, RO e RU em outra; ou separa palavras escritas com S entre vogais e palavras com SS, para concluir e registrar a mudança de sons);

• descobrir uma palavra “intrusa”, que não combina com outras num quarteto, porque não compartilha uma correspondência letra-som (por exemplo, pote, na lista lebre, lábio, rabo e pote), o que é outra modalidade de categorização; • descobrir palavras a partir da reorganização de um conjunto de letras (T O N P E -> PONTE; B O P O M -> POMBO) (MORAIS, 2012, p. 152).

No jogo anteriormente mencionado, identificamos proposta para construção da consciência fonêmica sem precisar pronunciar fonemas isoladamente, mas por meio da percepção da diferença que um único fonema pode causar nas palavras, transformando-as em outras palavras.