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Lembranças da infância e juventude

4- FRAGMENTOS DE NARRATIVAS: TRAJETÓRIAS DE

4.2 MEMÓRIAS DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

4.2.2 Lembranças da infância e juventude

Os pais de Bertolino também vieram do Araribá. Ele e sua irmã nasceram no Laranjinha (ele por volta de 1935137), mas sua mãe faleceu

logo depois. Na fala de muitas pessoas é marcante a lembrança de que até meados do século XX, mais ou menos, a situação dos índios era precária no que diz respeito às condições de saúde: “Naquele tempo

quase não tinha assistência. Hoje [...] melhorou muito para os índios. Mas naqueles tempos nós sofríamos bem. Não tinha médico, não tinha nada para socorrer quando nós ficávamos doentes. Talvez [...] se tivesse assim uma assistência como tem hoje, podia até ter alguma pessoa mais velha que eu. [...] Meu pai, como os outros, [...] que morreram, a bem dizer, à míngua, [...] sem assistência, sem tratamento. Era assim que era a vida”.

Bertolino e sua irmã passaram a infância com o pai, morando no Laranjinha, e, em alguns períodos, no Posto Velho. “Naquele tempo [...] a vida nossa era ficar pescando, caçando, no rio, no mato... Era isso aí que era nossa vida. A vida antiga”. As lembranças de sua infância, então, estão entremeadas de episódios que se desenrolaram num cenário bem diferente do que vemos hoje na região. O espaço que atualmente é a TI Laranjinha ainda tinha muita mata – vegetação que, aliás, se estendia até as margens do rio Laranjinha, no Posto Velho e recobria 137 A data de nascimento de algumas pessoas está precedida da expressão “por volta de” porque

muitas vezes, as próprias pessoas dão datas diferentes quando questionadas a respeito de sua data de nascimento. Isso se reflete também nos diferentes censos de que disponho (arquivos FUNAI E FUNASA), onde as datas também não coincidem no caso de algumas pessoas.

mesmo as propriedades particulares do entorno, que, naquela época, não tinham ainda explorado totalmente seus recursos florestais. “Quando eu era pequeno, aqui era um mato só. Mato fechado mesmo. Tinha só o lugarzinho da casa e o resto era mato”. Então, Bertolino se recorda de sua infância como uma época de fartura. Seu pai era um grande caçador (justamente era conhecido como “Joaquim Caçador”), e também pescador. “Meu pai era muito corajoso. Ele saía daqui para a outra

reserva [o Posto Velho] sozinho. Ele ia daqui para a beira do rio [Laranjinha], era mato, ele quase andava no meio do deserto. Então ele [...] pousava lá sozinho, só levava com ele uma foice [...] e vara de anzol. Chegava lá... decerto fazia o foguinho lá e ele pescava de vara. No outro dia ele chegava lá pelas dez horas [...] com os peixes que ele pegava”. Ele se lembra também de passar dias com seu pai e sua irmã

acampando na beira dos rios da região, especialmente em épocas propícias para a pesca. Nessas ocasiões, o excedente de peixes conseguidos era vendido por Joaquim na cidade, para os brancos, de forma que então ele podia comprar mantimentos e mercadorias que complementavam a subsistência da família.

Nas falas de muitas pessoas/famílias, é marcante a liberdade que o grupo tinha para se deslocar pela região nas primeiras décadas do século XX. Além da mobilidade ligada ao fato de que as pessoas mudavam constantemente sua moradias, deslocando-se, por exemplo, entre Laranjinha, o Posto Velho e o Pinhalzinho – sem contar os deslocamentos de uma cidade a outra (onde muitos moraram em alguns períodos) ou das aldeias para fazendas da região, onde vendiam sua força de trabalho por alguns períodos (muitos faziam roça de “ameia”138

com proprietários brancos) – havia também os deslocamentos ligados à atividades de coleta, caça e pesca (praticada anteriormente em todos os rios da região). Isso não seria mais possível de meados do século em diante, quando as tensões envolvendo a propriedade das terras se intensificam, e os índios se vêem restritos à área demarcada da TI, pois que muitos proprietários proibiam a circulação deles por suas propriedades, bem como que eles pescassem ou caçassem nelas.

Várias pessoas mais velhas falam de incursões na mata com os pais quando eram crianças. Além de caçar, os adultos coletavam matérias-primas para a construção/reparo dos ranchos ou de algum objeto, remédios, mel e palmito – estes dois últimos itens eram muito apreciados e consumidos, pelo menos em parte, na própria mata. As 138 O que se chama de roça de “ameia” é uma situação onde alguém entra com a terra e a outra

crianças organizavam pequenas incursões para ir em busca de mel e frutas na mata. Se as caminhadas na mata com os pais eram ocasiões de transmissão de conhecimentos sobre o ambiente e suas possibilidades, as incursões das crianças eram uma forma de testar ou colocar em prática o que aprenderam.

Em várias ocasiões Bertolino me contou histórias de episódios de caça ouvidos de seu pai ou sobre caçadas junto com ele. Esses episódios envolviam tanto o uso de armadilhas quanto de armas de fogo. As histórias ouvidas, ou os episódios concretos vivenciados acompanhando o pai nas caçadas, eram também possibilidades e ocasiões de se transmitir idéias importantes, que forneciam modelos de como agir em determinadas situações, além de ser uma forma dos adultos transmitirem aos mais jovens conhecimentos sobre as espécies animais, suas características, comportamentos, etc. E toda essa vivência, justamente, era importante na socialização das crianças. “A autoridade do pai era educar os filhos. Hoje o negócio de estudo é diferente. Mas naquele tempo [...] a própria escola que o pai dava para a gente era isso: ensinar alguma coisa para trabalhar e ensinar [...] falar na linguagem”.

Justamente, essa forma tradicional de transmissão de conhecimentos no interior da cultura foi rompida – ou parcialmente rompida – pois, além da impossibilidade de explorar um ambiente já degradado em termos de caça e coleta, a língua guarani deixou de ser transmitida de uma geração a outra. O próprio processo de socialização das crianças se modificou. Etapas de iniciação/reclusão (primeira menstruação das meninas), o ritual de nominação, etc., não são mais realizados atualmente no interior dos grupos. Assim, a respeito dos costumes antigos, muitos jovens só sabem dar indicações vagas – “ouvi dizer que era assim” – pois que não vivenciaram pessoalmente determinadas experiências ligadas ao processo tradicional de socialização/educação, bem como experiências ligadas à vida na floresta – ou no “mato”.

Segundo Bertolino, seu pai contava muitas histórias para ele e sua irmã (episódios de caça, “histórias dos bichos”, etc.), mas falava pouco sobre o passado, “sobre o que tinha acontecido antes de eu nascer”. Essa situação na verdade é recorrente em várias narrativas de pessoas hoje adultas a respeito de seus pais: “Minha mãe não era de falar sobre o passado, de explicar nada...”. Ou então: “Prá gente ela não falava [do passado]. Não sei se alguma coisa doía muito dentro dela... então ela não tocava no assunto”. Em uma das narrativas coletadas por Dooley (1991: 46), uma informante, já velhinha, afirma: “Quando me

lembro assim [do passado] fica ruim. Quando me fazem falar sobre aquilo para as crianças, é ruim”. Se por um lado tais atitudes fazem sentido quando se tem em mente, por exemplo, o panorama descrito por Nimuendaju a respeito das experiências por que tinham passado os grupos instalados no Araribá (de onde vieram os pais dessas pessoas): embates com a população branca, redução drástica dos grupos familiares por conta de epidemias, etc. – situações extremamente difíceis de serem elaboradas/administradas do ponto de vista pessoal e coletivo139 – , por

outro pode ser pensada também como uma pista sobre a forma desse grupo pensar a história: o que se guarda e se transmite, e o que é apagado da memória do grupo?

Nas primeiras décadas do século XX, os Guarani, apesar de falarem entre si “só na linguagem”, já eram bilíngües. Nenhum adulto dessa época (segundos seus filhos, hoje a geração mais velha do grupo) falava exclusivamente o guarani, pois que já tinham um contato extenso com a sociedade envolvente. E essa é uma situação bem distinta, por exemplo, daquela encontrada no caso dos Kaingang nessa mesma época (cf. Tommasino, 1995). Estes, falavam quase que exclusivamente a língua kaingang, e os “capitães”/caciques geralmente eram as únicas pessoas bilíngües dentro do grupo – eram, portanto, “indivíduos-chave”, capazes de fazer uma interface entre dois sistemas distintos. No entanto, tal como será tratado mais adiante, defendo a idéia de que as lideranças guarani que despontam no final da década de 1970, também eram, justamente, sujeitos que “dominavam” as duas lógicas – indígena e branca – e isso não tinha a ver simplesmente com entender a língua do “outro” (pois que já dominavam o português há longa data), mas sim com entender a lógica de seu sistema cultural, num sentido mais amplo.

A irmã de Bertolino se casou, mas faleceu logo depois, ao dar à luz seu primeiro filho. Ficando só com seu pai, as “andanças” se intensificaram. “Nós andávamos bastante. Ficávamos um pouco aqui

nessa área [no Laranjinha], um pouco lá [no Posto Velho]. Aí nós

139 Uma pequena fala coletada por Dooley em 1990 é um dos poucos registros que se tem

dessas experiências vividas pelos ascendentes dos Guarani que vivem hoje na bacia do Paranapanema. A narradora é Ei, mãe de Lica, que veio do Araribá: “quando eu era mais jovem [...] nosso povo acabou completamente. Todos morreram. Como podemos viver? Existimos apenas. Nós que restamos somos cinco [provavelmente refere-se à sua família extensa]. Quando eu era jovem, fomos todos tirados de onde estávamos. Não sou mais assim. Agora sou velha, sou avó e moro aqui outra vez. E o que eu sei é que o nosso povo acabou. Todos morreram. Entrou uma doença, aquele tipo. E todos acabaram, morreram todos. Depois disso saímos e fomos embora. Fui indo, fui, fui. E agora estamos aqui outra vez” (idem, 1991: 48). Na época da entrevista, ela morava no Pinhalzinho e estava com cerca de 95 anos, tendo nascido então no final do século XIX.

moramos um pouco fora da aldeia também, num sítio em Ibiporã. Ficamos uns três, quatro anos por lá. Trabalhando na roça, na lavoura. Aí eu resolvi voltar, porque fiquei com saudade [...] da reserva, da gente, do lugar”. Ou seja, a TI como um lugar de referência para as

pessoas. Como veremos nas narrativas abaixo, a maioria dos Guarani já viveu algum tempo fora de terras indígenas, mas eles sempre retornam para esse espaço em algum momento de sua trajetória.

Lurdes nasceu no Pinhalzinho, em 1932, mas passou a infância entre o Laranjinha e o Posto Velho, para onde veio com sua família ainda bebê. Sua mãe era Guarani, nascera perto de Santos, no Bananal, e seu pai, Pedro Coroado, era Kaingang – trabalhava “amansando” índios, e conheceu a esposa no estado de São Paulo, enquanto trabalhava nisso. Foi chamado ao Posto Velho pelo “gerente” de lá justamente para ajudar com os últimos grupos kaingang que se mantinham “arredios” na região. “Aí nós viemos. De lá nós viemos a pé. Não tinha estrada, era um

picadão. A gente dormiu duas noites na estrada. Porque não tinha caminho. A gente vinha devagar. E daí meu pai tinha um cavalinho e ali a gente punha os trapos em cima e ele me trazia em cima do cavalo”.

Segundo ela sabe por relatos de seu pai, quando chegaram ao Posto Velho realmente tinha um grupo grande de índios kaingang vivendo por lá. Mas ocorreu um primeiro surto de “maleita”, muitos morreram – “porque não tinham médico, nem remédio, e eles insistiam em tomar banho no rio todos os dias” – e outros deixaram o local. Mas os que ficaram mantinham relações amigáveis com os Guarani que ali viviam.

Segundo Lurdes, por volta de seus oito anos, apenas cinco Kaingang ainda moravam no Posto Velho: um homem e quatro mulheres, que ela sempre ia visitar com seu pai. “As mulheres eram

muito alegres, muito amáveis. Elas queriam bem mesmo a gente. E tinha uma velhinha, Raifi, que ela gostava muito de mim. [...] Ela me punha num cesto, [...] e punha aquele cesto na cabeça e me levava para a mata. Isso a gente saía cedo. Ela me levava para a mata para procurar coquinho. Ela usava tanga por baixo ainda. Ela tinha os vestidos, mas a tanga sempre ela não largava. Aí quando ela chegava no pé de coqueiro, [...] ela não cortava o pé de coqueiro. Ela subia, cortava o cacho, derrubava e [...] punha dentro daquele cesto. Aí ela pegava uns caeté, uma rama que tem na mata, e aquelas folhas bem largas, ela cobria e me colocava por cima de novo [...] e a gente ia embora. Chegava lá tinha um pilão desse tamanho assim [indicando que era grande]. As quatro índias socavam naquele pilão. Elas lavavam bem lavadinho os cocos, punham naquele pilão e as quatro mulheres

índias socavam [...] tiravam bem aquele caldo do coquinho e colocavam numa talha, um jarro que eles faziam de barro, aí colocava água, quando era no outro dia que eles iam tomar aquela água. Mas você precisava ver, que coisa mais gostosa”.

Bertolino também se lembra de várias visitas aos Kaingang no Posto Velho, quando era criança. Segundo ele, os Kaingang sempre ofereciam comida a quem chegava – “pipoca, milho, mel, batata assada...”.

Num segundo surto de “maleita” esses últimos Kaingang que ali viviam teriam morrido140.

Albane nasceu no Posto Velho e seu pai conta que, na época de seu nascimento, não havia muitos índios morando lá, apenas cinco ou seis famílias que, por conta das constantes ameaças dos proprietários brancos, foram para o Laranjinha. “Diz que meu pai [que era não-

índio], a minha mãe, os mais antigos, no caso, que eles foram ameaçados. E o índio puro ele não é de briga. Principalmente o Guarani. O Guarani ele não é de briga. Eles são mais pacíficos. Então para não fazer aquele tipo de contenda e não brigar com os brancos, que já pensavam logo nas armas, armas de fogo no caso, e eles [os Guarani] na época não tinham nada disso, apenas uma flechinha lá... às vezes nem flecha tinha também [...] aí o que aconteceu? Aí eles vieram para cá. Meu pai ainda resistiu com a minha mãe uns meses lá. E nesse intervalo de tempo eu nasci. No ano de 50. Nasci naquela aldeia. E com um mês, um mês e pouco de vida, aí meu pai deixou lá também. Porque ele estava sozinho, os caras ameaçando. Ele falou: ‘Bom, eles já foram [os Guarani], que são os donos da terra, agora eu vou arriscar minha vida aqui sozinho?’ Aí ele veio para cá”.

Segundo Lica, mãe de Albane, a família se deslocou do Posto Velho para o Laranjinha a pé. Ela tinha acabado de ter o bebê, mas veio carregando ele e mais um grande cesto com roupas e pertences variados. O marido carregou o resto das coisas e o outro filho do casal. “A gente estava acostumado. Naquela época a gente era muito forte. Andava muito, e a pé”. E a fala de Albane indica que, então, no início da década de 1950 os índios já eram pressionados pelos proprietários da região do entorno da área do Posto Velho para deixarem o local.

Teresa, esposa de Bertolino, teria passado parte da infância no Posto Velho. Nasceu por volta de 1945, era a caçula de quatro irmãos. 140 Conforme menciono no capítulo dois, as informações nos depoimentos recolhidos são

desencontradas quanto ao número de Kaingangs que de fato residiam no Posto Velho nessa época, bem como quanto à(s) doença(s) que efetivamente teria(m) ocasionado a morte de muitos deles.

Mas ainda pequena ficou órfã e foi criada pelos tios, que moravam no Laranjinha. Por conta de algum desentendimento ocorrido no interior da TI, seu tio teria sido obrigado a deixar o local. Vários depoimentos mencionam que, na época, o SPI adotava uma política de transferência compulsória de pessoas/famílias em caso de “problemas” (geralmente, tais problemas se referiam a brigas no interior do grupo – como disputas políticas entre as famílias –, mas principalmente estavam ligados a atitudes vistas como problemáticas e/ ou rebeldes frente ao que era decidido pelos administradores). Em alguns casos as pessoas eram efetivamente levadas para outra TI (o Pinhalzinho aparece em várias falas como um local para onde eram mandados os “rebeldes” – fossem índios ou mesmo administradores), ou então eram obrigadas a deixar o posto (bem como sua casa e roça). Foi o que aconteceu com o tio de Teresa, que “mandado embora do Laranjinha”, inicialmente foi para um lugar “para lá de Santa Amélia, numa beira de rio”, trabalhar para um branco. Teresa tinha por volta de sete anos. Passado cerca de um ano, seu tio se desentendeu com o patrão e foram então para o Posto Velho. “Quando chegamos lá, era na beira da mata... tinha uma mata antes de

chegar lá, no Posto Velho, Era só mata [...] Chegamos num sábado. Daí o pai dessa Julia, o Firmino (que hoje a Julia mora lá no Araribá) [...] falou: ‘olha, vocês vão ficar aqui num paiolzinho até fazerem um rancho’ [...] Aí ficamos lá uns dois, três meses”. Mas José Inácio, um

guarani já de idade que morava na sede do posto, resolveu voltar para o Laranjinha, e teria dito ao tio de Teresa para que eles se instalassem na sede, “tomando conta de tudo no lugar dele”. A sede era uma casa grande, com doze cômodos, e “bem alta”, pois que ficava na beira do Laranjinha e, quando chovia muito, a água subia. Nessa época, segundo conta Teresa, não havia mais índios Kaingang vivendo lá, e os poucos Guarani que estavam lá foram aos poucos indo para o Laranjinha, de forma que, segundo ela, acabaram ficando só os três por lá: ela e seus tios. E no entorno do posto já havia muitos brancos morando.

O tio de Tereza, durante a semana, trabalhava para um branco, num local próximo ao posto, para onde só voltava então nos fins de semana. “Na época que a gente estava lá ele [...] só comprava sal e

querosene, que não tinha luz. Aí ele plantava muito, e a minha tia era muito interessada, gostava muito de plantar as coisas. Aí tinha o cemitério [guarani e kaingang] lá, e eles plantavam o arrozal em roda do cemitério. E eu como era criança ele falava: você vai vigiar para os passarinhos não arrancarem. [...] Aí eu ia lá vigiar para os passarinhos não arrancarem o arroz. Mas era gostoso. Todo ano nós colhíamos 40,

50 sacas de arroz. Não comprava arroz, não comprava feijão, não comprava gordura... que a minha tia criava porcos [...], criava muitas galinhas”.

Posteriormente, os tios de Teresa separaram-se, e seu irmão levou ela e a tia para o Laranjinha, ficando a sede abandonada. Isso foi por volta de 1952. Já casada com Bertolino, ela teria ido várias vezes até lá, com o marido e o sogro, para pescar no rio Laranjinha. Mas depois a área foi ocupada/loteada/cercada e ela só retornou novamente lá quando acompanhou, novamente com o marido, a equipe do GT que realizou o laudo para revisão dos limites da TI em 2003. Segundo ela, foi difícil reconhecer o local, que estaria bastante diferente hoje. Apenas localizando o cemitério (onde, além dos Kaingang, estariam enterrados sua sogra, Kunhãtsu, e seu tio, Mbokajú) foi possível, por sua referência, ir reconhecendo o lugar em sua nova configuração.

4.2.3 Conseqüências da restrição do espaço, movimentos de evasão e