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Entende-se por letramento informacional o processo de aprendizagem capaz de integrar várias ações: localizar, selecionar, acessar, organizar, usar informação e gerar conhecimento, assim como a tomada de decisão e resolução de problemas (GASQUE, 2010). De acordo com Campello (2009), o termo surge nos EUA na década de 70 com a expressão information literacy, com a finalidade de caracterizar competências necessárias ao uso de fontes eletrônicas de informação que estavam sendo produzidas nos Estados Unidos na época.

Originariamente de várias noções15, destaca-se a sociedade da informação e

o fomento de novas habilidades para lidar com o ambiente informacional, mutável e cada vez mais complexo. Também a tecnologia da informação, com ampla diversidade de informações, tornou-se um instrumento que facilita o acesso e o uso desse universo informacional (CAMPELLO, 2009).

A contemporaneidade é fortemente marcada pela produção de informação científica e tecnológica, com elevado uso das redes de comunicação e a permanente necessidade de aprendizagem na sociedade em constante mutação (GASQUE, 2012). Segundo a pesquisadora, embora existam no espaço acadêmico várias

15 A abordagem sobre as diferentes noções de letramento informacional não é uma questão

denominações sobre sociedade, principalmente nas últimas décadas, a sociedade atual caracteriza-se, essencialmente, como “sociedade da aprendizagem”. Por isso o letramento informacional é imprescindível ao contexto educacional, dada a visível e complexa amplitude de informações no espaço real e virtual.

Apesar de o cotidiano da vida caracterizar-se entre as pessoas pelo aparato tecnológico, de acordo com Joint (2005), essa explosão tecnológica, com vários canais favoráveis à busca de informações diversas, não ocasionou significativas melhorias na qualidade da informação entre os usuários, voltados ao modo mais fácil de buscá-las, sem preocupar-se com as fontes. Por isso concluiu que a oferta de instrumentos avançados de busca não garante a utilização das informações de forma efetiva, pois não considera a orientação necessária no processo de busca.

De modo a reconhecer a orientação no processo de busca e uso da informação, Gasque (2012, p. 91-92) aponta uma sequência relevante e atual de objetivos próprios do letramento informacional na educação básica:

 Propiciar iniciação básica à filosofia da ciência – o que é e como se faz ciência, as limitações e os aspectos éticos.

 Introduzir o conceito de pesquisa e a importância do planejamento e método para resolução dos problemas.

 Conhecer a organização/arranjo das várias fontes de informação impressas e on-line. Por exemplo: material de referência (atlas, dicionários, enciclopédias), livros de leitura, de ficção, didáticos e paradidáticos, artigos de jornais e revistas.

 Utilizar as novas tecnologias como recursos de busca e disseminação do conhecimento.

 Buscar informações na internet de maneira eficaz e eficiente.

 Utilizar critérios adequados para avaliar os canais e fontes de informação.

 Selecionar, organizar, relacionar dados e informações de vários autores com diferentes pontos de vista e sintetizá-los em um documento (resumo).

 Ler, compreender e retirar informações de diversos tipos de textos.  Produzir textos científicos, resumos, esquemas e sínteses.

 Conhecer as principais normas da ABNT de apresentação de trabalhos (referência bibliográfica, citação, sumário, resumos etc.).

 Compreender o conceito de autoria e plágio.

 Compreender a organização das bibliotecas e usar os recursos e produtos disponíveis.

 Conhecer como ocorre a produção das obras – do planejamento à distribuição no mercado.

A sociedade da aprendizagem experimenta o paradigma do livre acesso ao conhecimento, bem como o surgimento das bibliotecas digitais e outros sites que disponibilizam pesquisas de cunho científico (GASQUE, 2008). A gama de produções voltadas ao conhecimento e disponíveis pelas novas tecnologias, especificamente a internet, ocasiona um elevado número de informações científicas. Tais constatações colocam a juventude como objeto de investigação, devido à

rapidez e ao tempo dedicado aos múltiplos aparelhos tecnológicos, algo perceptível no cenário escolar, especificamente em sala de aula.

O ensino básico no Brasil, de modo geral, carece de reflexões no âmbito da pesquisa, do ensino e da aprendizagem. Urge em escolas públicas e particulares uma reflexão crítica e possíveis propostas de efetivar o letramento informacional entre o corpo docente e discente. Dada a complexidade da informação, compreender a importância do letramento informacional pode fomentar implementá- -lo no ensino médio, com perspectivas que visem à melhoria no respectivo segmento de formação.

A pesquisa sobre o comportamento informacional, inicialmente, coloca o pesquisador diante de duas questões importantíssimas no processo de compreensão do sujeito e de suas necessidades informacionais. Primeiramente, a percepção de como a pessoa busca e usa a informação. Em segundo, como é orientada a buscar e usar a informação. São perguntas que certamente norteiam os estudos de usuários, com foco no indivíduo, levando o pesquisador à percepção da defasagem no letramento informacional16.

Vários fatores influenciam o comportamento informacional: formação básica do usuário; treinamento para o uso de serviços e produtos; acessibilidade das unidades da informação; condições de trabalho; status hierárquico do indivíduo; posição profissional; sociabilidade; grau de competição do indivíduo; imagem da informação que cada um tem; experiências anteriores; quantidade de empréstimos; livros que mais saem das bibliotecas; tempo de empréstimo; conhecimento dos sistemas online; necessidades do usuário; serviços prestados pela biblioteca, entre outros (GASQUE, 2008).

A compreensão da aprendizagem perpassa os caminhos de busca e uso da informação. Implica entender a ponte entre a informação (objeto da CI) e o conhecimento. No meio encontra-se a aprendizagem, relacionada à cognição e à comunicação humana. Embora estejam próximos, informação e conhecimento não são sinônimos, e um é o desmembramento do outro. Por isso Le Coadic (1996) compreende o conhecimento como resultante de informações que corrigem certa anomalia.

16 Ao observar o comportamento do usuário da informação, o pesquisador pode, caso domine a

literatura, perceber se o usuário é ou não um sujeito possuidor das competências exigidas pelo letramento informacional.

Assim, o conhecimento resulta do tipo, da busca e da utilidade de informação, conforme a conclusão de Le Coadic (1996) ao apresentar três processos interligados, denominados como construção, comunicação e uso. Em um modelo intitulado como social, o autor afirma ultrapassar o modelo habitual e simplista presente nos meios de comunicação de massa a partir do ciclo social da informação.

Fonte: LE COADIC, 1996, p. 11. Para Le Coadic (1996), no modelo teórico apresentado acima, o processo de aquisição da informação é mais dinâmico, diferentemente do modelo apresentado sobre os meios de comunicação de massa, caracterizado de forma linear: informador e informado, ou ainda, o modelo teórico baseado na física: emissor, mensagem e receptor.

Gasque (2008) desenvolveu um modelo com ênfase no aspecto cognitivo ao considerar a complexidade da informação e o modo como o usuário a busca e a usa. Denominou-o como “O pensamento reflexivo na busca e no uso da informação na comunicação científica”, conforme o desenho a seguir, de importância fundamental aos estudos acadêmicos, a começar pela formação desenvolvida durante toda a etapa de ensino básico.

Comunicação

Uso

Construção

Figura 2 - Modelo teórico: “o pensamento reflexivo”

Fonte: GASQUE, 2008, p. 206.

O modelo aponta o refletir sobre a informação e o aprender a lidar com múltiplas questões. Alguns pressupostos básicos são essenciais à utilização da informação científica no espaço escolar atual: a cultura acadêmica; a atitude do professor; a concepção do ensino e da aprendizagem; a infraestrutura e os custos relacionados à informação; e principalmente a consciência do grau de competência informacional.

De forte influência em Dewey (1979a), o pensamento reflexivo pressupõe a vida e o contexto na qual se encontra. Desde a Antiguidade, filósofos abordam a reflexão como essencial à evolução do conhecimento ao tratar temas relacionados à educação do homem (TEIXEIRA, 2006).