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A técnica de produção de dados selecionada foi o questionário aberto pelo qual o/a estudante poderia responder a perguntas com maior liberdade de representação. O questionário é uma técnica que possibilita abranger um maior número de pessoas. Apesar de ser importante para a produção de dados de natureza quantitativa, quando aberto, cria meios para proceder também uma análise qualitativa. Segundo Richardson (2012), essa modalidade se caracteriza por perguntas ou afirmações que levam os/as participantes a responder com palavras, frases ou orações, haja vista o/a pesquisador/a desejar uma maior elaboração das opiniões dos/as entrevistados/as.

Especificamente, adoto o modelo proposto por Ioannis Tsoukalas (2006) para estudar representações sociais. Escolhi esta técnica de pesquisa, chamada de Levantamento Representacional, por trabalhar de forma sistemática o entendimento e estudo de representações sociais.

O Levantamento Representacional utiliza elicitação e elaboração de associações livres sobre um tema, possibilitando conhecer, além da incidência, as características de uma representação: seu campo semântico e organização. Ao aplicar esta técnica, é possível perceber o produto como também o processo de construção das representações sociais.

Trabalhar com livres associações exige um instrumento menos estruturado e mais aberto que a maioria dos questionários. Aqui não se pretende fazer uso de perguntas norteadoras pré-fixadas com opções de respostas pré-codificadas. Ao mesmo tempo, a técnica foi vantajosa, pois mantém a característica formal de um

questionário e a habilidade de reunir grande quantidade de dados quantificáveis (TSOUKALAS, 2006).

Este método possui algumas semelhanças com o bem conhecido brainstorming (tempestade de ideias) quanto à produção de dados brutos baseada na geração de palavras e sentenças. No entanto, as diferenças são substantivas, pois, enquanto que a espontaneidade, a abundância e a velocidade da produção de associações são pré- requisito de uma boa brainstorming, esse requisito só se verifica na Parte I da referida técnica, uma vez que nas demais partes se requer maior consciência e razões sofisticadas. É preciso que fique claro que o Levantamento Representacional objetiva produzir cadeias associativas significativas, capazes de capturar o conteúdo semântico da representação social, como também a organização de seus conteúdos e dos seus núcleos centrais (TSOUKALAS, 2006).

A construção do instrumento demandou usar recursos que facilitassem o entendimento do que eu iria pedir aos/às participantes. Em um trabalho colaborativo com membros do projeto financiado pelo CNPq, criamos um documento digital do Levantamento Representacional que inicia com o questionário de identificação e com as instruções sobre o passo-a-passo do instrumento. O documento tem uma estrutura com espaços que indicam onde as pessoas devem escrever as palavras de maneira que, visualmente, fosse possível facilitar o entendimento, conforme se verifica no apêndice 1.

A primeira parte do Levantamento Representacional consiste em mapear os conteúdos semânticos da representação social. O procedimento é simples: de um termo-estímulo que ofereci aos/às participantes pedi que associem a ele 15 novas palavras ou frases curtas (TSOUKALAS, 2006). O termo-estímulo (o objeto) foi “profissional da Pedagogia” viabilizando associações com a identidade profissional do/a participante.

Logo após, Tsoukalas (2006) orienta que se peça que, das 15 palavras, sejam escolhidas três, a partir da seguinte solicitação: associem mais três palavras ou frases curtas à palavra originária, no caso Profissional da Pedagogia, com cada uma das três gerando mais três constructos semânticos de cada par de palavras, totalizando mais nove construções léxicas de sentido. Assim foi feito. Estes constructos conectados se assemelham a uma grande árvore conceitual, a qual nomeei de árvore representacional.

Foi pedido, em seguida, que os participantes repetissem o mesmo movimento, associando a cada trio de palavras mais três constructos semânticos, fazendo as nove palavras ou frases curtas se tornarem 27 ao fim. Esse é o movimento que constituiu a primeira parte desse questionário, resultando numa grande árvore conceitual. O objetivo epistemológico do que o autor indica como Parte I é tentar capturar a distribuição de significados no campo semântico da representação social. Isso ajuda também a identificar temas frequentes de constructos semânticos comuns (TSOUKALAS, 2006).

A segunda parte do Levantamento Representacional investiga as ligações entre as construções semânticas da representação social. Tenta vislumbrar como os/as participantes montam as partes constitutivas da representação social em “pacotes” significativos. Pretende-se descobrir nessa etapa princípios constitutivos que são inerentes ao campo semântico da representação social, supostamente condicionados por grupos da vida social dos sujeitos. Usam-se as associações produzidas no primeiro estágio como input (TSOUKALAS, 2006).

Pedi então que os/as participantes eliminassem sete palavras ou frases curtas que julgassem menos importantes. Este é um passo que foi adaptado por mim para diminuir o universo dos constructos e facilitar o andamento da produção dos dados.

Com as 32 construções de sentido restantes, solicitei que as relacionassem dentro de “pacotes” ou “núcleos de sentidos”. Ao separem em grupos (pacotes), não sendo necessário usar todas as 32, pedi que escrevessem porque as separaram daquela maneira e que dessem um título a cada um dos grupos. Essa parte objetiva é explorar mais a subjetividade de cada participante, pois eles/as vão justificar como reuniram e nomearam seus núcleos de sentido dando significação àquele grupo de constructos.

Finalmente, a terceira e última parte estabelece as características básicas e o núcleo central da representação. Essa última fase, segundo Tsoukalas (2006), baseia- se na técnica de Sucessivas Escolhas Hierárquicas de Abric. Ela consiste em pedir que dividam as 32 palavras selecionadas na fase anterior e, em seguida, solicitar que as dividam em dois grupos: uma das mais características e outro das menos características da representação social pretendida que, no caso, é a de profissional da Pedagogia.

Divididas em 16 constructos de sentido, pedi que mais uma vez dividissem as 16 palavras ou frases curtas em mais características (um grupo de oito) e menos

características (outro grupo de oito). E assim o processo se repete até que se chegue a um núcleo de sentido. A primeira fase dessa parte permite visualizar um ranking das partes componentes da representação social no mundo das significações, enquanto a segunda fase isola o núcleo de sentido. Toda a terceira parte do instrumento é inspirada na prática fenomenológica da redução eidética, que é um experimento mental, uma espécie de variação imaginativa, que visa atingir as principais características de uma categoria de objetos (TSOUKALAS, 2006).

O Levantamento Representacional pretende obter um vislumbre do significado de uma representação social, especificando seu campo e componentes semânticos, e reduzir eventuais ambiguidades na sua interpretação (ideias descontextualizadas poderiam significar qualquer coisa) (TSOUKALAS, 2006). Para mim, essa é a maior vantagem deste instrumento, pois, comparado ao que comumente está presente nas pesquisas em RS em que se pede que as pessoas façam um certo número de evocações ordenadas em sequência de importância sobre certo termo-estímulo, com a grande construção representacional interconectada numa espécie de “árvore semântica” aqui adotada, pode-se compreender melhor os significados de cada evocação presentes nos resultados.