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LIÇÕES APRENDIDAS

No documento NEIGHBOURHOOD & CITY (páginas 162-165)

De uma forma geral, os fóruns da Intervenção sócio-territorial na CM cumpriram a sua missão assegurando a circulação atempada de informação/conhecimento

bottom up e top down e estabelecendo a ligação com políticas/políticos e a assunção

pública dos compromissos. Permitiram também a partilha de experiências, conheci- mentos e práticas entre equipas, especialistas e atores sociais, enriquecendo o projeto. Descreve-se aqui algumas das reflexões e lições aprendidas ao longo do percurso, esperando que possam constituir contributos úteis para outros que se envolvam em projetos semelhantes.

Lição 1 – Partilha de experiências, metodologias e conhecimentos

No fórum dos especialistas, a aprendizagem entre as equipas foi importante para ajustar alguns aspetos, nomeadamente metodológicos, tendo estas contribuído com ideias e estratégias para o funcionamento das outras, nomeadamente: (1) os TPC (Trabalhos de Casa que eram dados ao GPL no Lagarteiro) e que inspiraram idênticas práticas nas outras duas equipas no terreno (os GAT da CM e do Vale da Amoreira); (2) a formação dada à equipa do Lagarteiro, em metodologias colaborativas, pela equipa da CM. Há ainda a considerar a partilha entre as equipas de outros aspetos, nomeadamente, referentes à forma como as agendas eram construídas e a práticas desenvolvidas nos vários bairros. Esta partilha das agendas permitiu a compatibilização do andamento do processo de desenvolvimento da intervenção nos três bairros assegurando um ritmo para que progredissem articuladamente.

Lição 2 – Comunicação deficiente cria novas exigências

As equipas começaram o trabalho no terreno após diligências preliminares do INH que tinha já pré-estabelecido os representantes a figurar no GPL e esclarecido o

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8 “Como sugestão de TPC (tarefa para casa), Y reforçou a solicitação de informações e solicitou que os presentes formulassem uma

definição das áreas de trabalho, enumerassem suas perspetivas e apontassem ideias para agilizar os trabalhos” (1ª reunião GPL 8 de fevereiro de 2006).

mesmo sobre o Programa IBC. Quando o GAT iniciou os trabalhos na CM assumiu que os parceiros locais estavam perfeitamente dentro do assunto, não se preocu- pando em detalhar mais especificamente o plano de trabalhos. Foi com surpresa que, pouco tempo após o início do processo, se apercebeu de uma insurgência da parte de uma das associações de bairro. De facto, a equipa do GAT, numa reunião que tinha solicitado a uma das organizações locais, deparou-se com um grupo impaciente e reativo, questionando sobre quando é que os membros do GAT tencionavam trabalhar com as equipas deles no terreno. Isto constituiu uma surpresa, pois essa não ia ser a sua função. Após alguns momentos de incompreensão, seguidos de um diálogo acalorado entre todos os presentes, ficou claro que esta associação tinha entendido que os membros do GAT iriam integrar as equipas deles no terreno e apoiá-las tecnicamente.

As incompreensões comunicacionais verificadas resultaram frequentemente do uso de uma linguagem técnico-científica utilizada pelos integrantes do GAT. De fato, os especialistas tendem a falar com o cidadão comum recorrendo a expressões próprias das esferas técnicas, dificultando assim a compreensão por parte do cidadão comum, o que resulta em barreiras à comunicação. Por exemplo, numa das reuniões do GPL, um dos nossos especialistas solicitou aos presentes, incluindo residentes, um contributo para a definição das áreas de trabalho partindo do princípio que isso seria totalmente claro para quem o ouvia8. A linguagem técnica usada para o pedido dificultou o entendimento do que o GAT pretendia. Embora bem-intencionado, o facto é que o envolvimento expandido com atores diversificado implica atenção redobrada à forma como se trabalha e se transmitem as questões. Para a resolução de tais dificuldades foi, então, fundamental melhorar as formas de comunicação de forma a torná-la contínua, mais direta e pessoal, para evitar repetição de mal-entendidos que só contribuíam para atrasar o processo e dificultava o trabalho em desenvolvimento. Em suma, melhoraram-se e intensificaram-se os canais de fluxos de informação e comunicação entre a equipa do GAT e os vários grupos representados no GPL. Um outro aspeto referente à questão da dificuldade de comunicação levou-a a mal-entendidos agora por parte dos residentes do bairro, criando um clima de desconfiança. De facto, uma vez passada a fase inicial, o GAT apercebeu-se que havia alguma reatividade da parte dos residentes do bairro não pertencentes ao GPL, dado que muitos deles não percebiam para que era o plano e/ou achavam que estando em jogo o futuro das habitações do bairro, os que faziam parte do GPL conseguiriam manter as suas, enquanto que os outros se arriscavam a ficar sem elas. Dado isto, o GAT estabeleceu duas estratégias de comunicação que provaram ser profícuas ao longo do processo: uma foi criar um espaço de ligação à comunidade com um elemento da equipa no terreno, uma vez por semana, na escola local, para prestar esclarecimentos a quem os quisesse, e para informar sobre

o andamento dos trabalhos, assegurando idêntico acesso e circulação da informação para um grupo mais alargado; a segunda foi abrir as reuniões do GPL a todos os que quisessem nelas participar, mas com uma condição acordada com as associações locais de que todos podiam debater todos os assuntos de acordo com a metodologia estabelecida para as reuniões embora quando chegasse a altura de tomar decisões, estas caberiam ao GPL que estava investido de poder de decisão. Isto permitiu simultaneamente abrir o processo e assegurar a sua transparência, trazendo para o debate (e tornando-o mais rico) um número alargado de atores sociais potencial- mente afetados pelo processo de decisão em curso. Além destas duas estratégias terem melhorado a comunicação e o fluxo de informação em tempo útil, contribuíram também para tornar o processo mais transparente e compreendido para uma comunidade mais alargada. Esta compreensão foi muito importante para a partici- pação efetiva dos participantes posteriormente nos fóruns alargados a todos os residentes do bairro. As estratégias delineadas na componente de comunicação contribuíram para a transparência, clarificação dos papéis e, acima de tudo, para a construção alargada a uma rede mais abrangente de atores sociais, e de credibilidade.

Lição 3 – Focalizar a intervenção

Os atores chave a atuarem num bairro detêm conhecimentos de ordem vária que vão desde conhecimento técnico e especializado até a conhecimento histórico e sobre a vivência local. Estes conhecimentos são extremamente ricos uma vez que, quando trazidos para o desenvolvimento e consensualização do plano de ação, permitem a consideração de uma variedade maior de perspetivas, contribuindo para o enriquecimento das sugestões ou propostas. No entanto, há também uma abertura do leque de assuntos a considerar e alguma dispersão, pelo que é imprescindível a focagem dos vários contributos numa unidade de intervenção para assegurar processos mais eficientes e concretização mais rápida das etapas do projeto. No caso da CM, a unidade de intervenção estava claramente explicitada - o bairro, seja enquanto espaço físico, delimitação geográfica ou dimensão humana - entendido como o espaço privilegiado onde tudo teria de acontecer. Ao se identificar esta escala de intervenção, focalizou-se a ação nessa unidade, de modo a fazer com que as várias dinâmicas convergissem para uma mesma unidade de intervenção. Centrar a reflexão das várias componentes e dos vários atores no bairro permitiu uma focalização mais concreta e de maior concretização.

Lição 4 – Articulação formal versus informal

Além de ser representativo dos atores locais e ter legitimidade para decidir, o fórum local funcionava como a plataforma de articulação do processo formal e informal. Era de facto o espaço de interação onde se articulavam as políticas mais formais (de cima para baixo) com os interesses e processos mais informais (de baixo para cima). O fórum de especialistas constituía também uma forma de articulação, entre diversos atores, pois além dos representantes das equipas, tinha representantes do 162

INH e da própria SEOTC. Esta última, assegurava um bom fluxo de informação às esferas mais elevadas como seja ao GTIM, devolvendo também informação aos especialistas. Este funcionamento foi imprescindível para assegurar a consolidação de uma influência política do processo e que permitiu estabelecer uma ligação pacífica para a fase do compromisso, no final do trabalho coletivo do GPL.

Lição 5 – Equilibrar poderes

A equipa poderá avaliar a situação de um envolvimento no trabalho coletivo genuíno quando todas estas partes funcionam em colaboração, sem resistências e passivida- des prejudiciais ao próprio processo. Durante o trabalho no GPL alguns dos atores com maior poder, assumiram formas de resistência passiva. Outros líderes, durante exposições mais públicas, como da altura dos workshops alargados, sentiram neces- sidade de colocarem em causa o trabalho e o papel da equipa do GAT. Em qualquer destes casos o GAT definiu e arranjou estratégias que permitiram ultrapassar as dinâmicas negativas e potenciar as positivas. Embora à partida estes processos transversalizantes procurem assegurar o mesmo poder de intervenção (poder de influência)9a todos os participantes do processo, o facto é que nos contextos em que trabalhamos há atores com mais ou menos poder formal (investido). Estes poderes tendem a se expressar no início do processo e é importante que a equipa esteja consciente disso. Na verdade, têm a ver com as lideranças locais que resistem a abrir mão da sua influência na decisão. Estas lideranças tanto podem ser as da estrutura formal que foi investida de poder por eleição, como podem ser as construídas de baixo para cima no âmbito das comunidades. Ambas as lideranças se sentem desafiadas pelos elementos externos e procuram formas de se imporem que, se não forem ajustadas e trabalhadas, poderão colocar o processo em dificuldades. Qualquer delas é reativa na aceitação dos elementos externos no processo, embora tenham de ser trabalhadas de formas diferentes. As eleitas terão de ser enquadradas no contexto dos poderes locais e as equipas poderão melhorar a relação com elas fomentando reuniões para clarificação dos vários papéis, onde estejam presentes os promotores e coordenadores centrais do projeto. Quanto às comunidades, deverá ser dada atenção especial à construção de redes de confiança mútua construídas ao longo de um trabalho sério, transparente e frontal. Mesmo depois de todo o processo, os poderes da estrutura formal continuam a ter a sua expressão própria e é importante que os coordenadores governamentais aos vários níveis assegurem o adequado estrutura e espaços de funcionamento que permita a evolução com sucesso do processo de intervenção.

No documento NEIGHBOURHOOD & CITY (páginas 162-165)