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(2) Workshops com a população do bairro

No documento NEIGHBOURHOOD & CITY (páginas 160-162)

Estes workshops alargados, não são necessariamente um requisito efetivo do programa, resultaram da equipa no terreno ter compreendido que muitos dos residentes não se reviam no GPL. Estes workshops funcionaram como forma de expandir a participação e o envolvimento dos cidadãos residentes no bairro, trazendo para o processo outras vozes locais e um leque mais alargado de conheci- mento local, além de servirem como auscultação, validação e aferição à própria construção da intervenção, reforçando a intervenção da dimensão humana do bairro.

(3) Desenvolvimento de contactos e entrevistas

Durante todo o processo foram conduzidas entrevistas com entidades e indivíduos a atuar sobre o bairro, em diversas vertentes, tais como educativa, saúde, apoio social, etc. Isto permitiu apoiar o desenvolvimento do projeto de intervenção como construir um diagnóstico e uma estratégia mais coerente para a resolução dos problemas identificados pelos agentes entrevistados, quer residentes do bairro quer fora dele, mas com um conhecimento aprofundado do mesmo e da sua comunidade. Dificilmente se consegue compreender a qualidade dos resultados do processo participativo da ISTP no Bairro da CM sem conhecer mais de perto o seu historial, em especial no que se refere aos movimentos sociais que ao longo dos anos contribuíram para a mobilização dos atores locais criando processos de cidadania ativa e interventiva, de cariz distinto do processo participativo, mas que contribuiu de forma complementar reforçando a capacidade social e política local.

A CM é um bairro multiétnico onde “os discursos sobre espaço, ideologia e ação coletiva são forças atuantes na construção da realidade social” onde “a noção de espaço implica uma visão dialética entre as estruturas sociais e as estruturas espaciais” (Horta, 2006). De facto, a construção social de espaço envolve ideologias e discursos que influenciam a forma com as pessoas pensam, imaginam, identificam, atuam e organizam o espaço (Horta, 2006). Nesta linha e para compreender os resultados do processo participativo conduzido no âmbito da Intervenção Territorial Participada na CM, é importante não esquecer o carácter específico e diferenciado do bairro, descrito numa sondagem oficial de 1983 como “um exemplo

sui generis de ocupação de solo ilegal” (…) “estabelecido através de um processo de

‘invasão’ de propriedade pública e privada”, ocupado por um património construído igualmente ilegal, portanto com uma situação de dupla ilegalidade que se arrastou pelos cerca de trinta anos seguintes devido à falta da capacidade administrativa e de uma legislação fragmentada que impediu a intervenção pública e local no bairro. Nos anos 90, as representações do bairro nos média expressam sobretudo uma

imagem de gueto com sérios problemas sociais a partir de uma associação entre raça, crime, pobreza e espaço (Horta, 2006). Contudo, para os residentes da CM o seu bairro não é um “gueto de marginais aprisionados”, mas antes um “espaço aberto atravessado por muitas narrativas e subjetividades” (Horta, 2006)

O estigma publicitado pelos meios de comunicação social é ativamente combatido pelas duas principais associações de bairro, designadamente: a Comissão de Moradores do Bairro do Alto da CM e a Associação Cultural Moinho da Juventude. Estas associações com carácter, ideologia e atuações distintas, emergiram no final dos anos 70 e início dos anos 80 respetivamente, contribuindo para o reforço da identidade e sentido de comunidade local. Estes aspetos tiveram um importante papel para a garantia do sucesso dos resultados obtidos no decorrer do processo de consolidação da ICB. A primeira associação apresenta fortes ligações à compo- nente mais formal da política local, com uma compreensão clara sobre o funciona- mento da administração local, desenvolve estratégias e táticas visando capitalizar janelas de oportunidade locais que se apoiam no estabelecimento de redes mais locais. Já a Associação Cultural Moinho da Juventude detém um carácter mais informal e cosmopolita, projetando-se para o exterior a partir do recurso a redes internacionais, embora tenha também estabelecido redes locais e nacionais. Em suma, enquanto a primeira associação aposta num funcionamento assente em regras do

status quo local, a segunda funciona como uma alternativa ao poder político formal

local procurando manter a distância às políticas locais como forma de manter a autonomia (Horta, 2006).

Ambas as associações assumem um papel dominante para a consensualização da intervenção sócio-territorial participada envolvendo-se ativa e continuamente, contribuindo no desenvolvimento das várias ações para o diagnóstico, para o SWOT, e para a definição e consolidação dos pilares e eixos estruturantes de ação. O trabalho de envolvimento destas associações foi feito em articulação e negociação com os outros parceiros locais. O apoio destas associações foi imprescindível na divulgação das ações desenvolvidas pelo GAT, na identificação de atores chave para o sucesso do processo, na disponibilização de logística e espaços de reunião. Destaca-se sobretudo que os participantes do GPL se apropriaram da dinâmica encetada, contribuindo para a dinamização das suas próprias sessões, mobilizando e oferecendo sugestões para diversificar o leque de opções a serem consideradas na definição de propostas de resolução dos problemas do bairro. A tradição de cidadania ativa e o conhecimento acumulado durante anos pelos residentes sobre os espaços vivenciais permitiu mais facilmente a identificação e a construção de soluções conjuntas para a resolução de problemas.

A título de exemplo, na Fig. 2 apresenta-se os pilares de ação que resultaram da síntese elaborada pelos participantes do GPL após a primeira fase dos trabalhos (Malheiros et al., 2006a). Estes pilares traduzem uma visão projetada do bairro no futuro, constituiu um dos produtos desenvolvidos coletivamente tendo posteriormente servido de base à estruturação das ações a implementar.

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Fig 2: Síntese dos Pilares de Acão.

No documento NEIGHBOURHOOD & CITY (páginas 160-162)