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REFLEXÕES SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

No documento NEIGHBOURHOOD & CITY (páginas 144-146)

As funções sociais dos espaços públicos estão intrinsecamente ligadas ao uso e apropriação destes pelos seres humanos. Incluindo funções relacionadas à possibilidade de lazer (ativo ou contemplativo) e aos benefícios psicológicos, educativos e culturais que eles proporcionam ao indivíduo e à sociedade. Essas funções podem ser vistas de diversas maneiras e variam conforme o ângulo de observação. Com o atributo da sociabilidade os espaços públicos oferecem lugares para o convívio e lazer. Alguns autores denominam essa função como recreativo-social, já que relacionada com a possibilidade de lazer e função estética, nomeadamente no que respeita à diversificação do ambiente construído e ao embelezamento da cidade. Qualificamos o lazer em ativo ou passivo (contemplativo), enquanto a prática de desportos, como jogging ou andar de bicicleta, são exemplos clássicos de atividades de lazer ativo, já o passear, sentar-se ao sol, observar a natureza ou outras pessoas são exercícios de lazer passivo. Essas atividades têm uma função psicológica importante, que ocorre quando as pessoas relaxam, principalmente ao contato com elementos naturais. A psicologia nos ensina que para a saúde psíquica do homem é necessário um contato suficiente com a natureza (Barton & Pretty, 2010). A utilização frequente de espaços verdes melhora não só a nossa saúde física, mas também a mental. Estudos demonstram que pessoas que têm na jardinagem ou no passeio uma atividade cotidiana sofrem menos de estresse, o que auxilia na redução da pressão arterial, a manter a frequência normal dos batimentos cardíacos e a relaxar os músculos. O simples fato de olhar uma planta sinaliza ao cérebro uma situação relaxante e de aconchego. Um jardim, segundo médicos e psicólogos, evoca uma experiência positiva de paz e ordem. Barton & Pretty (2010) demonstram que apenas cinco minutos por dia de atividade “verde”, como a jardinagem, caminhar, ou andar de bicicleta, melhora o humor e aumenta a autoestima. Atividades ao ar livre e o contato com a natureza pode levar a um melhor estado emocional, ajudam a reduzir os problemas associados à inatividade, obesidade e doenças crônicas e, a longo prazo, prevenir doenças. Berman et al. (2008) em um 142

estudo sobre os efeitos cognitivos das interações entre ambientes naturais versus construídos, afirmam que o contato com o primeiro é essencial. A natureza é repleta de estímulos incitadores que moderadamente captam a atenção, permitindo o reabastecimento e promoção da renovação espiritual. Ao contrário desses, os ambientes construídos estão cheios de estímulos que requerem a atenção de forma dramática e dirigida (por exemplo, para evitar ser atropelado por um carro), o que torna esses espaços menos restauradores.

As grandes massas edificadas causam desconforto psicológico que pode amenizado pela presença de vegetação, pois estas quebram a monotonia, e com cores relaxantes estabelecem uma escala intermediária entre a humana e a construída, atenuando imagens urbanas agressivas. Louv (2005) cunhou o termo Nature Deficit Disorder (Transtorno da falta de contato com a natureza), usado para descrever possíveis consequências negativas do ambiente construído para a saúde individual e coletiva. Legado principalmente às crianças a quem falta de contato físico frequente com a natureza e tendo as suas áreas de ação restritas a ambientes construídos (moradias e centros comerciais) são mais suscetíveis a este transtorno. Louv (2006) aponta como resultados, entre outros os distúrbios de concentração, problemas de comportamento, obesidade, limitação da criatividade. Bird (2004) faz uma relação direta entre a existência de espaços verdes e a expectativa de vida e a redução de problemas de saúde. Em um ambiente urbano favorável as pessoas tendem a levar um estilo de vida mais ativo, o que pode resultar em longevidade.

A função educativa está relacionada com a possibilidade única que essas áreas oferecem para apreciar os processos naturais (por exemplo árvores decíduas lembra-nos das mudanças de estação) e de contemplar a natureza (contraste de textura, cores, cheiros, etc.). Com o incremento de programas de educação ambiental e o desenvolvimento de atividades ambientais, cada vez mais, é frequente o uso desses espaços como salas de aula, para visitas guiadas, passeios temáticos, e atividades de grupo ao ar livre. Aprender mais sobre a natureza, especialmente sobre os processos naturais, sobre a dependência do homem face a ela e como viver em maior harmonia com o meio ambiente talvez apoie a criação de espaços edificados mais sustentáveis. Com essas qualidades os espaços públicos propiciam a plataforma de interação entre as atividades humanas e o meio ambiente, bem como da interação social.

Ao analisarmos as relações entre utentes e espaços públicos, termos como acessi- bilidade, conectividade e clareza, convivialidade e agradabilidade, assim como estado de conservação aparecem como relevantes para estimular a sua utilização. Esses aspetos são importantes para tornar espaços públicos sociable place, como Whyte (1980) chama aqueles espaços que são recetivos e instigam a sua apropriação. Segundo Whyte, o que atrai as pessoas aos espaços públicos são outras pessoas e, para evidenciar a sociabilidade de um espaço, ele propõe indicadores, como a presença de casais, e se for o caso de crianças, o que sinaliza um lugar convidativo,

agradável e seguro. Em lugares seguros, ele constata a tendência de se encontrar uma proporção maior de mulheres.

Em um sentido político, os espaços públicos oferecem um fórum para a representação política, de exibição e de ação (Habermas, 1990). A terem a qualidade de ser espaços para todos (open to all, Thompson, 2002) são territórios neutros, inclusivos e pluralistas, já que aceitam e acolhem a diversidade das sociedades urbanas. Isso traduz-se em um caráter simbólico em que os espaços públicos podem agregar, funcionando como representante do coletivo e da sociabilidade, em vez da promo- ção da individualidade e privacidade (Thompson, 2002; Smaniotto & Schmitz, 2013). Se por um lado, os espaços públicos trazem vários benefícios ao ambiente urbano onde estão inseridos, por outro, o próprio ambiente urbano é causa de problemas. A poluição atmosférica e sonora, gerada principalmente pelo tráfego, são problemas comuns em muitas cidades (veja Figura 3). Outros problemas são efeitos do clima urbano já descritos acima. Esses efeitos criam um paradoxo pois justamente os grandes centros urbanos e aquelas áreas mais densamente habitadas, pelo caráter preponderantemente artificializado de sua paisagem, são as que mais se beneficiam com os espaços verdes, mas são também aquelas que oferecem condições menos propícias. O significado cultural dos espaços públicos está ligado à capacidade destes em oferecer espaços para criar e exibir rituais e símbolos sociais e culturais que têm significado para os habitantes, produzindo um senso distintivo do lugar e vizinhança. Neste contexto, os espaços públicos têm um relevante papel na qualidade urbana. Na acirrada concorrência entre as cidades europeias, qualidade de vida pode ser um fator determinante: as cidades “verdes” podem atrair mais empresas e mão-de-obra especializada.

O ACESSO AOS ESPAÇOS PÚBLICOS - UM POSSÍVEL CAMINHO PARA A

No documento NEIGHBOURHOOD & CITY (páginas 144-146)