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2.2 Medidas socioeducativas aplicáveis aos adolescentes infratores

2.2.4 Liberdade Assistida

A medida socioeducativa da liberdade assistida se encontra disposta através dos Arts. 118 e 119 do ECA:

Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.

§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.

§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.

Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:

I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social;

II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula;

III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho;

Para Bandeira (2006), esta pode ser considerada a principal medida de cunho eminentemente pedagógico, pois, in verbis:

[...] sem que o adolescente em conflito com a lei perca a sua liberdade, submete-o à construção de um verdadeiro projeto de vida permeado pela liberdade, voluntariedade, senso de responsabilidade e controle do poder público. A medida se reveste, normalmente, de caráter compulsório, pois o juiz, no âmbito do processo de conhecimento aplica a medida que lhe parecer mais adequada, para aquele caso concreto, de conformidade com as provas e demais dados constantes dos autos – relatório de equipe interdisciplinar, depoimentos, documentos etc.-, levando em consideração a gravidade do fato, as circunstâncias, as aptidões ou as condições pessoais do adolescente, bem como a condição de cumpri-la, podendo, todavia, este, através de seu representante legal, recorrer da decisão. É de se ver, entretanto, que a medida pode ser aplicada no âmbito da justiça consensualizada, quando vier acompanhada de uma remissão clausulada. Na verdade, seja compulsoriamente, seja consensualmente, a liberdade assistida, na sua executoriedade, exige a voluntariedade do adolescente e de seus familiares, no sentido de que se estabeleça um vínculo de responsabilidade com o orientador pedagógico da medida.

(BANDEIRA, 2006, p.152)

Bandeira (2006) explica ainda que a liberdade assistida, neste formato no qual foi concebida pelo ECA, foi inspirada nas regras de Beijing (Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores), que teve a sua resolução aprovada na cidade de Beijing, China, na data de 18 de maio de 1984 e que previa a liberdade assistida como uma medida alternativa à institucionalização do adolescente em conflito com a lei.

Bandeira (2006, p.157) explica que:

A aplicação da medida socioeducativa da liberdade assistida passa, necessariamente, pela existência de uma entidade responsável pela sua execução que possua uma estrutura física e humana capaz de promover, socialmente, o adolescente e sua família, fortalecendo os laços de afetividade, orientando-o e inserindo-o em programas de auxílio, como bolsa-escola, dentre outros, bem como auxiliando a família do jovem, incluindo-a em programa de auxílio, como programa de emprego e renda, casas populares etc., supervisionando a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, inclusive matriculando-o na rede pública de ensino.

Por fim, Oliveira (2005, p.144) explica que:

A liberdade assistida aplicada conjuntamente com a remissão, não pode ser substituída pela semiliberdade ou internação, salvo instaurando-se o devido processo legal (art.127, ECA). O raciocínio alcança todas as demais medidas socioeducativas em meio aberto, convidas por força de remissão e reside no respeito aos princípios do decido processo legal e da ampla defesa, sem os quais, ou seja, o esgotamento da fase instrutória da ação sócio-educativa, encerrada por sentença de mérito, não caberá a aplicação de qualquer medida que implique em restrição de liberdade.

Jesus (2006) destaca que um dos pontos positivos que encontramos na medida da liberdade assistida é o acompanhamento personalizado do adolescente, a partir do conhecimento de sua realidade. O grau de abstração da medida será regulado quando da sua

aplicação, pelas próprias pessoas que estarão acompanhando o caso. O juízo garante informações quanto o andamento da freqüência e desempenho escolares, da relação com a família, da inserção na comunidade, entre demais aspectos sociais que fazem parte do cotidiano do adolescente.

Ressalta Jesus (2006), que a eficácia da execução desta medida resulta da estruturação do poder executivo municipal, pois, assim como a medida de prestação de serviços à comunidade, se obtém mais êxito quando aplicadas na comunidade de origem do adolescente.

Jesus (2006, p.93) diz ainda que:

É fundamental que a pessoa designada para acompanhar o caso, nos termos do §1º do artigo 118, tenha uma formação que propicie a identificação das necessidade do adolescente e da correta aplicação da medida. Não se pode pretender o destacamento de um profissional de cada área para acompanhar o adolescente, mas é imperioso que exista um corpo interdisciplinar reunindo diversas áreas do conhecimento ao qual a pessoa responsável por acompanhar o adolescente submeta relatórios constantes. Isso possibilita não apenas o acompanhamento adequado, mas também vai ao encontro do princípio da brevidade consagrado no §2º do mesmo artigo, segundo o qual a medida não pode ultrapassar o prazo de seis meses, cabendo a sua revogação ou substituição, ouvindo-se o orientador que acompanha o caso, o representante do Ministério Público e o advogado do adolescente. Porém, assim como o acompanhamento da medida pode determinar sua revogação ou substituição, pode também indicar a necessidade de prorrogação para que surta melhor efeito.

Assim, o programa da medida de liberdade assistida exige uma equipe composta por orientadores sociais, que podem ou não ser remunerados, que terão como referência a perspectiva do acompanhamento personalizado, visando inserir o adolescente na sua comunidade de origem. Seu papel é importante, pois tanto o programa como seus membros se tornam referências permanentes para o adolescente e sua família.

3 A MUNICIPALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E O PAPEL DO MUNICÍPIO NA EXECUÇÃO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

Como já foi visto nos capítulos antecedentes, o artigo 227 da Constituição Federal, por sua vez, trás como responsáveis pela criança e pelo adolescente a família, a sociedade e o Estado, de forma solidária, tendo o dever de assegurá-los o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda e qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Já o artigo 112 do ECA, por sua vez, estabelece as medidas socioeducativas aplicáveis aos adolescente infratores.

Tendo entendido toda evolução histórica da legislação da criança e do adolescente, a doutrina da proteção legal, o sistema de garantias, o ato infracional e as medidas socioeducativas impostas aos adolescentes que praticam tal ato, cabe agora entender a execução das medidas e o papel do município de Ijuí nesta execução.

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