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A HARMONIZAÇÃO TRIBUTÁRIA DO MERCOSUL E A ESTRUTURA INSTITUCIONAL DOS MERCADOS DE INTEGRAÇÃO MERCOSUL E CAN

7.3.4 A Liberdade de Circulação de Capitais

Por fim, temos a liberdade de circulação de capitais, como o último item a ter seus obstáculos removidos para a consecução de um mercado interno (comum) entre os Estados-membros como assim dispõe a alínea "C" do Art. 3.º do Tratado da CEE.

Sem desmerecer a importância das outras liberdades supracitadas, a liberdade de circulação de capitais é peça fundamental para dinamizar o desenvolvimento de um mercado comum.

Qualquer operação relativa à importação / exportação, qualquer investimento destinado a permitir o estabelecimento de uma empresa na indústria, no comércio, nos serviços, qualquer prestação de serviços, implicam necessariamente, a disponibilidade de meios de pagamento que se impõe deixar circular livremente de país para país ao serviço das operações que o exercício dessa liberdade comporta.

Destarte, entendemos que a liberdade de estabelecimento tem amparo nas quatro liberdades fundamentais existentes no Mercado comum, e as pessoas para se beneficiarem desse direito, devem ser reconhecidas como

pessoas físicas ou jurídicas de qualquer um dos países dos Estados-partes, podendo exercer atividade econômica através de seu estabelecimento principal ou através de outras formas de estabelecimento secundário, como, por exemplo, através de filiais, sucursais, agencias, ou estabelecimentos permanentes.

No mesmo sentido, a tarefa de se colocar em prática a liberdade de estabelecimento no Mercosul passa pela liberdade de movimentações de pessoas, vez que, somente com o Direito assegurado na entrada de qualquer pessoa e sua família nos territórios dos Estados-partes do Mercosul, podemos garantir às pessoas físicas como beneficiários diretos e indiretos da liberdade de estabelecimento.

Em suma, a liberdade de estabelecimento no Mercosul é medida sine qua non para a concretização do terceiro estágio de implementação do Mercado Comum do Sul.

7.4 A Concessão de Benefícios Fiscais no Direito Brasileiro

A concessão de benefícios fiscais no direito pátrio passa inexoravelmente pelo tema das competências legislativas, in casu o da competência tributária que é eminentemente constitucional. Com efeito, a Carta Magna promulgada em 05 de outubro de 1988, limita o poder legiferante, pelo seu legítimo agente, o constituinte de 1988.

Assim sendo, a Lei maior no seu artigo 151, veda à União a instituir concessões de benefícios fiscais em jurisdições tributárias fora da sua competência, a saber, dos Estados-membros da União Federativa, do Distrito Federal e dos Municípios.

No mesmo sentido, afim de não deixar margens a dúvidas ou interpretações da norma, o legislador constituinte determinou expressamente a competência Tributária, determinando os impostos a serem instituídos pela União, elencados nos artigos 153 e 154 da citada Carta Magna. No mesmo sentido

elenca os impostos de competência dos Estados e do Distrito Federal no seu artigo 155, e dos municípios no artigo 156, do já citado diploma legal.

Todo esse complexo panorama de competência tributária tem como intuito determinar as limitações de arrecadação, evitar a bitributação, bem como gerar autonomia financeira às suas unidades administrativas, pelo menos em princípio.

Em vista disso, certo que o processo de integração mercosulino está inserido em tratado internacional, o mesmo depende da ratificação pelo congresso, inclusive no que diz respeito à concessão de qualquer benefício fiscal, obedecido os princípios Constitucionais da competência tributária.

Portanto, podemos tão somente falar de concessão de benefícios fiscais no Direito Brasileiro no âmbito do Mercosul, limitados aos elencados no Artigo 153 da Lei maior, ou seja, aos impostos de competência da União ressalvado o disposto no artigo 151, I, II, do mesmo diploma legal.

De sorte, o artigo 151, I, da CF admite a concessão de incentivos fiscais destinados a promover o equilíbrio do desenvolvimento socio- econômico entre as diversas regiões do País, que por analogia podemos dizer do Mercado Comum.

Deve se destacar também, que os princípios norteadores do Tratado Mercosulino, prima pela integração de seus Estados-partes com fito de acelerar seus processos de desenvolvimento econômico, coordenando políticas macroeconômicas, complementando os diferentes setores da economia em prol do bem comum da região.

No mesmo sentido, o artigo 7º do citado Tratado fundacional, determina que todos os Estados-partes gozem do mesmo tratamento tributário, obviamente o legislador Mercosulino está se reportando a macroeconomia, que ora transcrevemos:

Artículo 7: "En materia de impuestos, tasas y otros

gravámenes internos, los productos originarios del territorio de un Estado Parte gozarán, en los otros Estados Partes, del mismo tratamiento que se aplique al producto nacional."

Por outro lado o artigo 98 do Código Tributário Nacional, prevê que os tratados e as convenções internacionais revoguem ou modifiquem a legislação tributária interna, sobrepondo-se, por corolário a lei ordinária, entretanto, pelo próprio princípio constitucional do artigo 151 que trata sobre a competência tributária, entendemos que prevalecem estes limites, tanto quanto a instituição do tributo ou a sua isenção.

Entretanto não podemos olvidar que as trocas comerciais internacionais encontram-se normatizadas pelo GATT, sendo que a referida organização dita normas impositivas, que estabelecem princípios que devem orientar o comércio internacional para todos os países signatários, entre eles o Brasil, em vista disso, a jurisprudência unificou os constantes entendimentos quanto à matéria abordada. Neste sentido o Superior Tribunal de Justiça: "Súmula

20. A mercadoria importada de país signatário do GATT é isenta do ICM, quando contemplado com esse favor o similar nacional".

"Súmula 71. O bacalhau importado de país signatário do GATT é isento do ICM"

Portanto, como se nota, a concessão dos benefícios fiscais no direito brasileiro, mesmo com todos os entraves de competência tributária, típicos da autonomia financeira do federalismo fiscal pátrio, encontra respaldo na norma interna e sua aplicação a cada caso em concreto, restando buscar a melhor solução jurídica para sua implantação, desde que atenda os requisitos jurídicos normativos em vigor.

Concluindo, a integração depende da harmonização dos Estado-partes das suas legislações, com um tributo comunitário único, ou seja, comum e integrativo, que lhes porporcione o mínimo de condições para

fortalecimento do livre comércio de bens e serviços, sendo que cada Estado legislaria internamente o regime jurídico da renda, contribuições e taxas, além da incidência, se desejar, sobre o patrimônio, mas em seu comércio comunitário adotaria o um sistema impositivo simples, comum e integrativo.