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AS FONTES DO DIREITO COMUNITÁRIO UNIÃO EUROPÉIA E MERCOSUL

6. Fontes não Escritas

6.3 Princípios Gerais do Direito Comunitário

Os Princípios Gerais do Direito Comunitário surgem da natureza da ordem jurídica da integração, os quais se referem aos objetivos da comunidade e seus organismos.

Em suma, são princípios de direito geral e internacional, vistos sob o ângulo do Direito Comunitário, afastando-se os que forem incompatíveis com a natureza jurídica, bem como à estrutura institucional e aos objetivos da comunidade.

Ao criarem as comunidades, os Estados consentiram em transferir, a seu favor, parte de sua soberania. O primado do Direito Comunitário surge dos Tratados constitutivos, e posteriormente, ratificados pelos entendimentos jurisprudenciais. A jurisprudência tem sido reafirmada ao longo do tempo, fundamento que: “O juiz nacional encarregado de aplicar, no quadro de

sua competência, as disposições de direito comunitário, tem obrigação de assegurar o pleito efeito destas normas, não aplicando a disposição nacional contrária, mesmo posterior, sem que tenha de aguardar ou suscitar a eliminação desta, por via legislativa ou por outro processo constitucional”.

Esta supremacia do Direito Comunitário sob o direito interno dos Estados-membros é incondicional e absoluto, pois caso contrário colocaria em risco a própria existência da comunidade.

Nesta seara do ordenamento jurídico comunitário, podemos perceber que a supremacia do Direito Comunitário sobre as Leis dos seus Estados-membros implica na Supranacionalidade da Norma Comunitária, pressuposto básico para a concretização de estágios de integração, afim de alcançar o seu objetivo, ou seja, uma comunidade supranacional.

6.3.2 Operatividade

Este princípio trata da aplicabilidade imediata e direta das normas ditadas pela comunidade.

As normas de Direito Comunitário, além de serem normas supranacionais e obrigatórias a todos os Estados-membros, a sua aplicação no âmbito da comunidade é imediata, vez que respeitado o prazo para entrar em vigor, incorpora-se automaticamente à ordem jurídica interna de cada Estado- membro, ou seja, rege-se pela teoria monista, dispensando o dualismo.

Nesta complexa temática do Direito Comunitário, alguns autores referem-se a sua aplicabilidade e operatividade em quatro tipos de situações, como bem assinala Maria Tereza Carcomo Lobo: “... o problema da

integração das duas ordens jurídicas é extremamente rico e complexo, podendo- se observar quatro tipos de situações: a substituição, a harmonização, a coordenação e a coexistência. A substituição significa que o direito comunitário, originário ou derivado, tomou completamente o lugar do direito interno no seio da respectiva ordem jurídica. Exemplo de substituição é o caso do direito aduaneiro, hoje constituído por regras comunitárias. A harmonização supõe que o direito interno subsiste enquanto tal, devendo, entretanto, modificar-se e adaptar-se em função de certas normas comunitárias, no contexto do processo de aproximação das legislações, a que se refere o art. 100 do Tratado CE. A coordenação supõe que o direito comunitário influencia o direito interno e contribui para o fazer evoluir. A coexistência indica que o direito comunitário e o direito interno regulam conjuntamente o mesmo objeto cada um no exercício de sua função legislativa, como acontece com o direito de concorrência”26.

A aplicação do Direto Comunitário na UE deverá ser efetuada pelos próprios magistrados nacionais, quando a lide versar sobre este tema, conforme o comando dos arts. 177 e 183, do TCE. No que tange ao Mercosul, não existe aplicação imediata do Direito Comunitário, vez que somente o Paraguai e a Argentina, adaptaram a sua legislação em prol da integração em harmonia ao Tratado de Assunção e ao Protocolo de Ouro Preto, reconhecendo a supranacionalidade (art. 145 - Paraguai - 1992 e arts. 27, 31 e 75 da Constituição de La Nación Argentina - 1994), motivo pelo qual reitera-se o já amplamente comentado, no presente estágio, o Mercosul não atingiu ainda os pressupostos básicos norteadores do Direito Comunitário.

6.3.3 Subsidiaridade

26

A União Européia prestigia o princípio da subsidiaridade, no seu art. 3º B do Tratado Constitutivo da Comunidade Européia, referindo-se aos âmbitos que não sejam da sua competência exclusiva.

Este princípio normatizado no citado artigo divide-se em três elementos principais:

a) o limite preciso da ação da comunidade, marcado pelo Tratado da União (1992) e seus objetivos;

b) uma norma que estipule como a comunidade deverá atuar nos âmbitos da sua competência exclusiva, e o outro que não são da sua exclusiva competência, devendo raciocinar sobre a melhor opção;

c) uma norma aplicável dentro dos limites do estritamente necessário, para alcançar os objetivos da comunidade.

No que tange ao Mercosul, não encontramos este princípio.

6.3.4 Razoabilidade

O princípio da razoabilidade é aquele que impõe os limites necessários para alcançar os objetivos da comunidade, optando pelo menos oneroso para os particulares. Conforme esclarece Rubio Llorente Francisco: “Es

decir, que las medidas imperativas que reducen la soberanía de Estados y las libertades de los individuos han de adoptarse en lo que sean imprescindibles para conseguir el objetivo que pretenden. Si se puede lograr un objetivo mediante la cooperación, mejor que mediante directiva; mejor si ha de tratarse de directivas, mejor que sean de mínimos que de una directiva detallada; mediante reglamentos”27.

27

Esse princípio incorpora-se a seguridade jurídica comunitária, princípio protetor dos valores tutelados delimitando à prudência a proporcionalidade e a causalidade.

6.3.5 Igualdade

O princípio de igualdade e da não discriminação é um suporte básico da realização da comunidade, tendo como escopo dirimir situações que possam se desenvolver em cada Estado-Membro.

A Comunidade Européia consagrou este princípio no art. 8º e seguintes do Tratado da Comunidade Européia, alterado pelo Tratado de Maastricht, que proíbe toda a discriminação que se origine na nacionalidade das pessoas físicas e jurídicas dos Estados-membros, além de também impedirem as restrições à livre circulação de pessoas, trabalhadores, mercadorias e de capitais de origem comunitária.

6.3.6 Liberdade

O princípio da liberdade encontra-se na origem e adesão à comunidade, vez que os citados membros associam-se livremente, sem nenhum tipo de coação, o que diferencia substancialmente, de alguns Estados, que por imposição da força ou pressão econômica, submetem e integram para si um outro Estado.

O citado princípio de liberdade encontra-se também como característica essencial no respeito às pessoas que integram à comunidade, limitando apenas a casos excepcionais de seguridade, saúde pública, etc.

Portanto, podemos entrever que a livre vontade das nações e a democracia que as regem, são pressupostos essenciais para integrar a comunidade.

6.3.7 Eficácia

A eficácia é requisito vital no desenvolvimento comunitário; a comunidade aspira à rápida solução a seus problemas, evitando excesso de burocracia, prestigiando as normas claras e de logros rápidos para melhor e efetiva aplicação do Direito Comunitário no seio dos seus Estados-membros.

6.3.8 Equivalência

Devido às divergências dos ordenamentos jurídicos internos por ocasião da criação ou adesão à comunidade, o princípio da equivalência surge como elemento essencial de harmonização das legislações em prol da supranacionalidade da norma comunitária.

Para estabelecer as condições da equivalência, os organismos das comunidades podem adotar medidas que conduzam a coordenação e harmonização das disposições normativas dos Estados-membros, devendo, por outro lado, os Estados-membros, acondicionar sua legislação da melhor forma possível, conforme seu ordenamento interno, para efetiva eficácia da norma comunitária.

6.3.9 Proporcionalidade

Este princípio protege os excessos que por ventura pudessem ser cometidos. A jurisprudência do Tribunal de Justiça Européia tem decidido que as medidas adotadas pelas instituições comunitárias, não devem exceder o necessário para alcançar o objetivo perseguido.

Este princípio é de suma importância na aplicação de sanções, respeitando-se a proporcionalidade, ou seja, uma sanção acessória não pode ser maior que a principal.