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Outras Fontes Convencionais de Direito Comunitário

AS FONTES DO DIREITO COMUNITÁRIO UNIÃO EUROPÉIA E MERCOSUL

4. As Fontes do Direito Comunitário – Considerações Iniciais

4.2 Outras Fontes Convencionais de Direito Comunitário

Estas fontes convencionais de Direito Comunitário são fontes secundárias e também dão origem a normas jurídicas vinculadas à Comunidade, sejam estas concluídas pelos Estados-membros entre si, sejam concluídas pela Comunidade com terceiros Estados.

4.2.1 Convenções concluídas por Estados-membros entre si

No que diz respeito à União Européia, os Tratados de Paris, de Roma e de Maastricht são instrumentos jurídicos sujeitos às regras de Direito Internacional Geral e, não obstante o seu objetivo específico consistir na criação de uma Comunidade de Estados, não é possível, dadas as matérias que integram o seu domínio de aplicação, isolá-los completamente de outros compromissos internacionais, concluídos pelos Estados-membros20.

No exercício da competência internacional, que lhe é reconhecida, a Comunidade tem uma participação muito ativa nas relações internacionais, o que freqüentemente implica a conclusão de convenções de natureza diversa, quer com terceiros Estados, quer com outras organizações internacionais.

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Nas convenções concluídas por Estados-membros entre si, há aquelas anteriores a conclusão dos Tratados Comunitários e aquelas posteriores a conclusão destes Tratados21.

No caso das primeiras, a solução é clara: os Tratados que os Estados-membros hajam celebrado entre si, anteriormente à conclusão dos Tratados de Roma, Paris e Maastricht, subsistem-se na estrita medida em que sejam compatíveis com os tratados comunitários.

Diversamente, as convenções que sejam contrárias às disposições dos Tratados Comunitários, deixam de ser aplicáveis: a conclusão destes últimos implicou a ab-rogação implícita dos acordos anteriores que se lhe opunham.

Em seu acórdão, de 14 de Fevereiro de 1984, (proc. 278/92, Col. P. 721) o Tribunal de Justiça das Comunidades Européias teve ocasião de julgar que “as matérias que regulam - tal como o Tratado CE - sobre as convenções anteriormente concluídas entre os Estados-membros.

Tratando-se de convenções posteriores à celebração dos Tratados, as questões respeitantes à sua compatibilidade com as regras que dos Tratados constam, sendo diversas suas disposições, cumpre a sua resolução ao TJCE, na conformidade dos arts. 8º da CECA e 5º da CE, segundo os quais “esses Estados se obrigam a absterem-se de quaisquer medidas suscetíveis de pôr em perigo a realização dos objetivos dos Tratados, sujeitando-se, caso assim não procederem, a que contra eles seja instaurada uma ação por descumprimento das obrigações que lhes incumbirem por força dos Tratados, prevista nos arts. 88º da CECA e 169 da CE.

4.2.2 Convenções concluídas pelos Estados-membros com terceiros países

No caso das Convenções concluídas anteriormente a conclusão dos Tratados Comunitários, de acordo com o que dispõe o art. 234 da CE, os Estados-membros não ficam, em virtude da conclusão dos Tratados Comunitários, libertos dos compromissos assumidos em convenções internacionais anteriormente concluídas com terceiros países, ainda que estes sejam incompatíveis com as obrigações contraídas no quadro da Comunidade. Mas, se os Estados não ficaram libertos da sua participação na União Européia, a respeito das obrigações anteriormente assumidas perante terceiros, é indispensável que a sujeição a tais obrigações seja oponível à Comunidade.

Em contrapartida, e ainda segundo o Direito Internacional Público, os Estados-membros não podem se opor à comunidade, para subtraírem-se às suas obrigações comunitárias, os direitos que para eles resultarem dos tratados anteriormente celebrados: ao concluir os tratados comunitários, os Estados-membros renunciaram ipso facto aos direitos incompatíveis com os novos compromissos assumidos22.

Desse modo, os Estados-membros estão, por um lado, impedidos de furtar-se ao cumprimento das obrigações que assumiram em convenções anteriores, e não podem, em contrapartida, prevalecer-se em face da Comunidade, dos direitos que porventura tais convenções lhes hajam conferido.

O art. 234 da CE apresenta a resolução do problema jurídico da incompatibilidade entre os Tratados Comunitários e outras convenções anteriormente concluídas pelos Estados-membros com terceiros países:

- Se a incompatibilidade respeita a um direito que para um Estado-membro resulta de uma convenção anterior, o “meio apropriado” de que se trata na alínea 2, do art. 234, é pura e simplesmente a renúncia pelo Estado em causa ao exercício desse direito;

- Se a incompatibilidade resulta de compromissos em face de terceiros Estados, incompatíveis com as obrigações assumidas no seio da Comunidade, impõe-se

ao Estado-membro implicado usar dos procedimentos adequados para por termo a essa incompatibilidade.

Não é de prever-se que, em convenções celebradas com terceiros países posteriormente a conclusão dos Tratados Comunitários, os Estados da Comunidade assumam compromissos incompatíveis com as obrigações decorrentes dos Tratados Comunitários. Mas, a verificar-se tal situação, tais compromissos seriam, por força das regras do Direito Internacional Público, inoponíveis à Comunidade.

De qualquer modo, conforme assinala João Mota de Campos23, para prevenir uma ocorrência que seria certamente causa de atritos e dificuldades, os autores dos Tratados adotam algumas precauções:

a) Primeiramente, foi instituído um processo de informações da Autoridade Comunitária, que permitirá a esta tomar, eventualmente, as medidas necessárias para conjugar o risco da conclusão de um acordo antagônico com as regras do Tratado EURATOM ("Tratado da Comunidade Européia de Energia Atômica - CEEA"). A esse respeito dispõe o art. 103 do Tratado da CEEA.

b) A par disso, foi reservada para a Comunidade a competência exclusiva para concluir, em domínios específicos, acordos com terceiros países ou com organizações internacionais, como acontece nos casos previstos nos arts. 113 e 114 do Tratado da CE, pelo que respeita aos acordos tarifados e no art. 238, relativo a acordos de associação. Por força do art. 113, “a partir de termo do período transitório, os Estados-membros perderam toda a competência para concluir com terceiros países acordos comerciais bilaterais.

c) Mas o Tratado não impedia completamente os Estados-membros de, durante este período transitório, celebrarem acordos comerciais - acordos que, na hipótese de a sua duração se prolongar além desse período, poderiam resultar

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João Mota de Campos, op. Cit., p. 55.

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sérios inconvenientes para a comunidade. O Conselho tomou então, duas significativas decisões:

1 - Decisão de 20 de junho de 1960 - Os Estados-membros ficaram obrigados a inserir nos acordos comerciais bilaterais que ainda lhes são facultados negociarem até o termo do período transitório, uma disposição dita “Cláusula da CEE” assim formulada: “Logo que as obrigações decorrentes do

Tratado da CEE relativas à instauração progressiva de uma política comum o tornem necessário, serão abertas negociações, no mais breve prazo, com o fim de introduzir no presente acordo as modificações úteis”.

Acontecia, no entanto, que nem todos os países com os quais os Estados da CE se disputam a negociar acordos comerciais, se mostravam dispostos a aceitar a cláusula referida - e designadamente os países do leste da Europa que, no seguimento da posição soviética, persistiam em não reconhecer a personalidade jurídico-internacional da Comunidade. O Conselho foi, por isso, forçado a rever sua posição e assim formulou a seguinte decisão:

2 - Decisão de 09 de outubro de 1961 - Foi determinado aos Estados-membros que quando não conseguissem, nos acordos comerciais que celebrassem, a concordância da outra parte quanto à inserção da “Cláusula da CEE”, lhes era vedado concluir acordos com duração superior a um ano - o que permitiria rever, a curto prazo, os compromissos assumidos.

Com a expiração do período transitório de 1970, foi-se deste modo, operando a progressiva substituição dos acordos comerciais bilaterais celebrados pelos Estados-membros por acordos concluídos pela própria Comunidade, nos termos estabelecidos no art. 228 do Tratado da CE.