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ão há questão mais instigante na espiritualidade do que o problema suscitado pela existência do bem e do mal. Religiões surgiram, se mantém e são mantidas em virtude da questão levantada pelo bem e pelo mal.

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Perseguições, torturas, difamações, calúnias, delações, traições e vários atos vis paradoxalmente ocorreram na intenção de se combater o mal. Ou seja, a humanidade praticou toda sorte de maldade para, contraditoriamente, combatê-lo.

Mas, existe um mal absoluto? Existe uma entidade promotora do mal, oposta ao bem disseminado por um Deus bondoso?

Quantos de nós refletimos profundamente sobre esta questão? Como surgiu a noção do bem e do mal? Por que as religiões ainda mantêm conceitos tão absurdos envolvendo este assunto?

A alguém já disse que o medo é a maior doença da

humanidade. De fato, ele já provocou e, infelizmente,

A humanidade só vai atingir a maturidade espiritual quando se libertar do medo. E, a humanidade só se libertará do medo através do conhecimento, quando finalmente livrar-se de toda ignorância que tem provocado todo tipo aberração.

A ignorância humana não será eliminada através de informações, mas da elevação da consciência. Quando ela (a humanidade) se conhecer profundamente verá que o único mal que existe é a sua própria ignorância.

O medo é a maior doença espiritual. Até hoje a humanidade ainda não conseguiu curar-se deste mal e ele é mantido tão-somente pela ignorância. Foi esta ignorância que provocou todo tipo de absurdos e as maiores maldades humanas.

A ignorância alimenta o medo e o medo produz todo tipo de equívocos. Ora, é evidente que a grande lei universal que rege toda ação do mundo manifesto é a lei de CAUSA E EFEITO.

O homem, por desconhecer, ou melhor, não compreender de imediato a ação causativa das coisas, dos fenômenos (físicos e psíquicos), tende a atribuir causas sobrenaturais. Esta tendência equivocada de raciocinar é a base de todo pensamento supersticioso.

Foi a superstição que deu corpo e vida reais a uma suposta entidade suprema do mal, o diabo. O diabo

passou, assim, a aterrorizar a humanidade, desde o surgimento das primeiras tentativas de compreender as causas dos fenômenos.

Esta crença absurda (embora bem real para a maioria

dos homens e mulheres) foi (e continua sendo) a

responsável pelas maiores atrocidades que a humanidade vivenciou.

Todos conhecem o período obscuro de caças às bruxas no final da Idade Média até o início da Idade Moderna. Injustiças foram cometidas contra homens e mulheres verdadeiramente sábios e dignos e que, sequer, acreditavam na existência do diabo e, assim, tivessem algum pacto com este.

Todas as religiões conhecidas se desenvolveram a partir das práticas primitivas animistas. O animismo dava vida a todas as coisas. Os primitivos imaginavam que até mesmo a queda de uma pedra, que atingia alguém mortalmente, ocorreu intencionalmente, portanto, uma pedra tinha uma consciência (neste caso,

conseqüentemente, maléfica), daí surgiu a primeira

concepção de elementares, ou seja, de que talvez forças sobrenaturais habitavam todas as coisas da natureza. A visão animista, além de ser extremamente politeísta, sempre incorporou uma legião de seres do bem e do mal em permanente oposição. Ou seja, esta visão

de todas as práticas religiosas, foi herdada pelas religiões modernas ocidentais.

De certa forma, as religiões ocidentais ainda mantêm a idéia politeísta de deuses ao incorporar a dualidade de um Deus bondoso, protetor em oposição a um deus do mal, causador de todos os infortúnios humanos.

Nenhuma religião surgiu sem ter sofrido algum tipo de influência. As religiões, de uma forma geral, sempre retrataram um momento histórico específico e todas foram influenciadas por muitas idéias que as antecederam no campo espiritual.

O Zoroastrismo, religião criada por Zoroastro, tinha no deus Ahura Mazda o princípio supremo da luz e do bem e no deus Ahriman o agente das trevas e do mal.

As emanações cabalísticas, ou seja, as etapas da criação divina, representadas pelas sefirotes, representam planos de consciência. Porém, a Cabala, inspirada na magnífica cosmogonia egípcia, sempre foi muito mal interpretada popularmente, ou melhor, exotericamente.

Se as sefirotes representam níveis de criação, então precisamos compreender melhor os sete coros angélicos. Os maiores equívocos em relação à questão dos anjos surgiram porque visões supersticiosas

Precisamos entender melhor o simbolismo do anjo caído.

Sob à luz da psicologia, da constituição psíquica humana, é que podemos compreender melhor as alegorias sabiamente descritas em alguns livros religiosos. Sem uma introverção dos símbolos colocados em alguns livros chamados de sagrados, como a Bíblia e o Alcorão, não podemos compreender de fato o significado espiritual de algumas leis ali expostas.

A mitologia grega deixou de ser um conhecimento a partir do momento em que foi retirado o seu aspecto simbólico e passou para o campo da crença. Quando a mitologia grega passou a se tornar um fato real, então, virou ridícula, sem nexo. Na verdade, sob a luz do simbolismo, a mitologia grega é excepcional, pois, revelar-nos verdades ocultas da alma. A mitologia grega retrata, de fato, a história da alma. Cada deus grego simboliza leis e princípios mentais. Aí ela ganha força e sentido.

Na Bíblia Sagrada, no livro atribuído a Moisés, Gênese, a alegoria cabalística da criação divina é facilmente distorcida e interpretada literalmente e, então, perde todo sentido. O anjo caído ganha vida real e torna-se uma espécie de elemental, ou seja, um ser

animista que vive nas profundezas da terra, no inferno abissal.

Toda tradição religiosa ocidental e do Oriente - médio (o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo) manteve esta interpretação e, assim, empobreceu o real significado esotérico cabalístico dos anjos.

No Ocidente a perpetuação extremada do dualismo do bem e do mal se deve ao judaísmo. Todos nós conhecemos o mito de Adão e Eva e a tentação da serpente no paraíso que provocou a desgraça humana. Segundo este mito, fomos condenados a viver nesta Terra, trabalhar, envelhecer e morrer. Tudo isso foi obra de um anjo caído, o diabo. O diabo foi um anjo

que traiu Deus e, com o poder lhe conferido, afrontou o

próprio criador. O diabo, portanto, segunda esta visão simplista é o guardião deste mundo material e promotor de todas as desgraças humanas. Todos os desejos e prazeres ligados à matéria têm origem diabólica. Ele usa vários disfarces (assim como se apresentou como

uma serpente para tentar Eva) para enganar ao homem.

É evidente que o esoterismo da Cabala fora distorcido. As etapas da criação divina, tão magnificamente representadas pelas sefirotes perderam todos os seus significados simbólicos ao serem transportadas com um significado literal.

Muitas das tradições judaicas são perpetuadas pelos cristãos, não por um acaso, pois, afinal, o Cristianismo surgiu no seio judaico. Não podemos esquecer que Jesus era um judeu praticante. Assim, a visão maniqueísta do dualismo do bem e do mal é mantida pelos adeptos do cristianismo. Bom lembrarmos que o cristianismo, por exemplo, foi fixado a mais de 1500 anos, onde a superstição reinava absoluta. Em alguns casos o diabo é tão temido e combatido que dá a impressão de ser mais forte do que Deus. Assim, a humanidade rendida a esta entidade do mal vive amedrontada, apelando constantemente pela proteção e misericórdia divinas. O homem, por ter pecado (ao

desobedecer às ordens divinas) vive um eterno

sentimento de culpa. Portanto, faz tudo para resgatar o perdão de Deus e alcançar a salvação.

É evidente que se levarmos todo este mito para dentro de nós mesmos e usarmos a analogia, ou seja, se tivermos uma compreensão esotérica deste mito, vamos interpretar que tudo isto é apenas simbólico. Ou seja, que estas imagens são apenas alegóricas e não correspondem a uma realidade factual, mas correspondem a verdades interiores. Descrevem a formação psicológica do ser humano e as leis concernentes a esta. Este mito, sob à luz da formação da alma humana é magnífico. Precisamos compreender o real significado do simbolismo representado pela “queda do homem” (não será nossa alma que desce

ficando, assim, limitada?), “o fruto da árvore do

conhecimento” (não é a conscientização?), “o bem e o mal” (não é o livre-arbítrio?), etc.

É lógico que a tentação vivida por Jesus foi produzida por seu próprio ego. Está ali, em suas tentações, a ambição, o orgulho, a vaidade, etc. O diabo apenas simbolizou o seu ego. No final, Jesus, o Cristo, consegue vencer o diabo, ou melhor, a si mesmo. Enfim, Jesus superou o seu ego e, assim, se divinizou. O resultado disto foi a expressão de sua bondade e compaixão extremas.

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