A lei nº 6.938/81, no art. 9º, IV
88, trata o licenciamento ambiental como instrumento da
Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA). Logo, ele deve ser considerado um ponto de
equilíbrio entre o desenvolvimento/crescimento econômico com a conservação/tutela do meio
ambiente.
As conceituações doutrinárias sobre licenciamento ambiental possuem algumas
variações, mas boa parte baseia-se no disposto na PNMA como sendo seu instrumento, além
do conceito legal tratado no art. 1º, I da Resolução CONAMA 237/97
89como sendo o
“procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização,
instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos
ambientais.”
87 “A coerência de normas (consideradas como um conjunto de algum tipo), depende de que elas ‘façam sentido’ em virtude de serem racionalmente relacionadas como um conjunto instrumental ou intrinsicamente voltado para a realização de alguns valores comuns. Pode-se, também, expressar isso como uma questão de satisfação de alguns princípios mais ou menos claramente articulados. Para que princípios e valores sejam coerentes em si mesmo, exige-se que, na sua totalidade, eles possam expressar uma forma de vida satisfatória. (...) A coerência, de um conjunto de normas é função de sua justificabilidade sob princípios e valores de ordem superior, desde que os princípios e valores de ordem superior ou suprema pareçam aceitáveis, quando tomados em conjunto, no delineamento de uma forma de vida satisfatória” [MACCORMICK, Neil . op. cit., p. 247-253].
88 “Art 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II - o zoneamento ambiental;
III - a avaliação de impactos ambientais;
IV - o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras”; (...)
89 “Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:
I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso”.
O licenciamento ambiental integra a tutela administrativa de cunho preventivo do
meio ambiente, pois pretende resguardar os recursos naturais, por meio da prevenção e
mitigação dos possíveis danos ambientais advindos das atividades.
Édis Milaré apresenta o conceito de licenciamento ambiental como sendo uma ação
típica e delegável do Poder Executivo, na gestão do meio ambiente, por meio do qual a
Administração Pública procura exercer o devido controle sobre as atividades humanas que
causem danos ao meio ambiente
90.
Já para Talden Farias, o licenciamento ambiental é caracterizado como o processo
administrativo de grande complexidade que tramita em instância administrativa que seja
responsável pela gestão do meio ambiente, em quaisquer das esferas, seja ela, municipal,
estadual ou federal, cujo objetivo é assegurar a qualidade de vida das pessoas por meio do
controle prévio e concomitante das possíveis atividades causadoras de impactos ambientais
91.
O conceito normativo tratado pela Resolução CONAMA nº 237/97, em seu art. 1º, I,
é o seguinte: “procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a
localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras
dos recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras”. E finaliza
dizendo que cabe também àquelas “que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicadas
ao caso.”
Também dispõe sobre esse conceito o art. 2º, I, da LC 140/2011, como sendo o
“procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob
qualquer forma, de causar degradação ambiental”.
Portanto, o licenciamento ambiental consiste no procedimento de cunho
administrativo cujo objetivo principal é o de licenciar atividade ou empreendimento
utilizadores dos recursos naturais, que seja efetiva ou potencialmente poluidores, e que, de
qualquer modo, possam causar o mínimo de degradação ao meio ambiente.
O procedimento administrativo que consiste no licenciamento ambiental é necessário
para a localização (LP), instalação (LI), operação e ampliação (LO) de determinado
empreendimento. O Anexo I da Resolução nº 237/97 do CONAMA traz uma lista de
atividades que se impõe o licenciamento ambiental, tal lista é meramente exemplificativa.
90 MILARÉ, Edis. Direito do ambiente. 3. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 82.91 FARIAS, Talden. Licenciamento ambiental: aspectos teóricos e práticos. 5ª ed. Belo Horizonte: Fórum, 2015, p. 26.
O licenciamento ambiental é dividido em etapas com a apresentação dos estudos
ambientais pertinentes, quais sejam: EIA/RIMA (para empreendimentos de significativo
impacto ambiental), Plano de Controle Ambiental (PCA), Relatório de Controle Ambiental
(RCA), Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD).
Todo esse procedimento administrativo é um instrumento funcional da Política
Nacional do Meio Ambiente, pois busca não só a prevenção dos impactos ambientais
negativos, como também, mitigá-los, através de condições impostas aos seus agentes ativos.
Cabe o licenciamento em qualquer atividade tanto pública quanto privada, que seja
efetiva ou potencialmente poluidora. A necessidade e importância do licenciamento ambiental
relacionam-se com o grau de impacto que a atividade ou empreendimento possa causar ao
ambiente.
O licenciamento ambiental está previsto na Lei nº 6.938/81 como instrumento da
Política Nacional do Meio Ambiente. Tal diploma é o mais importante em matéria ambiental
no Brasil, e foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. Logo, o objetivo de efetivar
o direito de um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras
gerações. Há uma dimensão ecológica na dignidade humana, que não está adstrita aos
aspectos biológicos ou físicos, pois contempla a qualidade de vida humana e não humana.
92O que se pretende com o licenciamento ambiental é o desenvolvimento econômico
aliado com o social e o ambiental ao fazer uso dos recursos naturais com meios adequados à
vida e sua qualidade.
A previsão do licenciamento ambiental na Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente (lei nº 6.938/81) encontra-se no art. 9º, IV; disposto como um dos instrumentos para
alcançar o objetivo da PNMA.
No entendimento de Andreas Joachin Krell, o licenciamento ambiental tem como
incumbência analisar e conciliar as atividades que sejam potencialmente ou efetivamente
causadoras de degradação ambiental
93. Já para Annelise Monteiro Steigleder o licenciamento
ambiental é plurifuncional, pois controla as atividades possivelmente poluidoras, impõe
medidas mitigadoras de degradação e limita a tolerância dos impactos ao meio ambiente
94.
92 SARLET, Ingo Wolfgang; FENSTERSEIFER, Tiago. Algumas notas sobre a dimensão ecológica da dignidade da pessoa humana e sobre a dignidade da vida em geral. In TRENNEPOHL, T.; TRENNEPOHL, C. Direito ambiental atual. 1a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 83-100, p. 86
93 KRELL, Andreas Joachim. Discricionariedade administrativa e proteção ambiental: o controle dos conceitos jurídicos indeterminados e as competências dos órgãos ambientais: um estudo comparativo. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p.58.
94 STEIGLEDER, Annelise Monteiro. Aspectos controvertidos do licenciamento ambiental. Associação Brasileira do Ministério Público do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.ambrampa.org.br>. Acesso em: 14 out. 2018.
Portanto, o licenciamento ambiental tem como finalidade controlar as atividades que
sejam potencialmente e efetivamente poluidoras, por meio de normas e padrões de qualidade
ambiental trazidos pelos órgãos ambientais responsáveis para o alcance de um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, não se esquecendo da qualidade de vida de toda a coletividade.
Ao relacionar o licenciamento ambiental aos princípios da publicidade e da
participação, Talden Farias afirma que “o licenciamento é um mecanismo que promove a
interface entre o empreendedor, cuja atividade pode interferir na estrutura do meio ambiente,
e o Estado, que garante a conformidade com os objetivos dispostos na Política Nacional do
Meio Ambiente.”
95Em síntese, o licenciamento ambiental possui o papel (estatal) de equilibrar os
valores divergentes e complexos com impactos ambientais (positivos e negativos) do mero
crescimento econômico, em relação ao desenvolvimento socioambiental. Enfim, ele é o
principal meio (instrumento) da Política Nacional do Meio Ambiente habitualmente aplicado,
mesmo sem que um diálogo mútuo dos atores envolvidos ocorra.
Trennepohl, por sua vez, com base na Resolução CONAMA nº 237/97, entende o
licenciamento como sendo o “procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental
competente licencia a localização, instalação, ampliação e operação de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais.”
96Romeu Thomé conceitua o licenciamento mais tecnicamente ao adotar o disposto no
art. 2º, I da Lei Complementar 140/2011 juntamente com o art. 1º, I da Resolução CONAMA
nº 237/97
97. Para ele, tal instrumento “detém natureza jurídica de procedimento
administrativo, o que denota inequívoca existência de um conjunto de formalidades e
etapas.”
98Com o advento da Lei Complementar nº 140/2011, o conceito de licenciamento
ambiental, proposto no art. 2º, I é compreendido como um procedimento administrativo cujo
95 FARIAS, Talden. op. cit., p. 29.96 “Consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso’. Continua o seu raciocínio ‘em verdade, o que a Resolução n. 237/97 tentou fazer, foi estabelecer um sistema nacional das atribuições das atividades de licenciamento entre as esferas federativas, buscando evitar a duplicidade de procedimentos”. TRENNEPOHL, Terence Dornelles, op. cit., p. 94.
97 “Licenciamento ambiental pode ser definido como um ‘procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental’”. [SILVA, Romeu Faria Thomé da. op. cit., p. 250].
98 “Um resultado final e conclusivo da Administração Pública sobre o consentimento da utilização de recursos naturais. Essas fases, ou etapas, do procedimento de licenciamento ambiental estão previstas no art. 10 da Resolução CONAMA 237/97, diploma que dispõe sobre procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental”. Ibidem, p. 251.
atributo é “licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais,
efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental”.
99Isto é, conforme o art. 10, caput da LC nº 140/2011, sujeita-se ao licenciamento
ambiental toda e qualquer atividade que seja potencialmente causadora de impacto ao meio
ambiente.
O licenciamento ambiental é realizado por meio de diversos atos administrativos
concatenados (licença prévia, licença de instalação e licença de operação), onde cada etapa
desse conjunto consiste em licenças ambientais. Para a concessão de cada licença, deve-se
seguir rigorosamente o que é solicitado e exigido pela legislação ambiental pertinente para
cada fase.
José Afonso da Silva entende que essas licenças ambientais são compreendidas como
formas de “atos administrativos de controle preventivo de atividades de particulares no
exercício de seus direitos.”
100Para tanto, completa o seu pensamento que para a existência do
usufruto e o direito a cada licença, deverá o sujeito cumprir o que está apresentado nos
dispositivos legais adequados.
101Portanto, compreende-se como sendo a licença ambiental o resultado do cumprimento
de determinadas formalidades por aquele que a almeja. Esta decorre do licenciamento
ambiental, que pode ser considerado como sendo o poder de polícia praticado pelo Estado, ou
seja, é processo administrativo que visa a análise prévia de atividades potencialmente nocivas
ao meio ambiente, analisando assim a sua viabilidade por meio dos critérios econômicos,
sociais e ambientais.
O enfoque do licenciamento ambiental é pautado no art. 225, da Constituição Federal,
mesmo sendo tal instrumento previsto em legislação pretérita – lei nº 6.938/81, denominada
Política Nacional do Meio Ambiente.
99 “Art. 2º Para os fins desta Lei Complementar, consideram-se:
I - licenciamento ambiental: o procedimento administrativo destinado a licenciar atividades ou empreendimentos utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental;
II - atuação supletiva: ação do ente da Federação que se substitui ao ente federativo originariamente detentor das atribuições, nas hipóteses definidas nesta Lei Complementar;
III - atuação subsidiária: ação do ente da Federação que visa a auxiliar no desempenho das atribuições decorrentes das competências comuns, quando solicitado pelo ente federativo originariamente detentor das atribuições definidas nesta Lei Complementar.”
100 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. 4ª ed. São Paulo: Malheiros, 2003, p. 281.
101 Há situações em que o particular é titular de um direito relativamente à exploração ou uso de bem ambiental de sua propriedade. Mas o exercício desse direito depende do cumprimento de requisitos legalmente estabelecidos tendo em vista a proteção ambiental, de tal sorte que fica ele condicionado à obtenção da competente licença da autoridade competente. Ibidem, p. 282.