Nesta seção, ao investigar como os(as) educandos(as) percebem o formato dos filmes exibidos no Cineclube, dialogo com os(as) educandos(as) que participaram da atividade como público. Para Luiz, os três filmes exibidos tiveram formatos distintos e eles conseguiram cumprir seus objetivos, passando cada um sua mensagem. O “que me segura mais é o formato de documentário, dá tempo de ouvir as pessoas e ver o que está acontecendo. Mas eu adorei todos os filmes, das estrelas do tempo, das meninas da Nasa.” Sobre o filme Estrelas Além do Tempo, “eu gostei bastante, porque era um filme de ficção, e eu sempre tive vontade de ver, mas nunca tive espaço para ver.” Luiz também gostou bastante de Notícias de uma guerra particular, o “filme das favelas”. Na avaliação de cada sessão, ele observa que Notícias de uma guerra particular foi um filme com mais tempo para debater. “Teve um tempo excelente para debater, [...] e teve os próprios produtores do filme, [...], ou também o ator [...]. Não sei se era líder comunitário, estava lá dando o próprio depoimento dele, de como foi fazer o filme, como foi viver naquela época.” Sobre o documentário Arpilleras, Luiz não conseguiu assistir ao filme inteiro. “Parei na metade, mas eu acho que o formato de documentário, para mim, foi sensacional. Mas, não minimizando o formato de filme, ficção, foi feito lá antes, acho que o documentário tem mais a pegada da entrada do debate.” Para Dandara, as linguagens dos filmes exibidos já eram conhecidas. “Mas, na minha percepção, [...] é bem tranquilo de entender, sempre entendo bem. Claro que sempre tem uma cena ou outra que você fica: ‘O que tá acontecendo?’, mas aí já pega o embalo do filme e dá tudo certo”. Dandara expressa que gostou muito “da narração, linguagem, de Estrelas Além do Tempo.” Como o filme é baseado em fatos reais, Dandara aproveitou para pesquisar sobre a história das personagens. Entretanto, apesar de ter gostado da linguagem do filme Estrelas além do tempo, prefere a linguagem dos documentários. “Disso de alguém contando por trás, alguém mostrando alguma coisa, acho que eu prefiro até a linguagem de documentário do que de alguns [...] filme.” Dandara gostaria de assistir mais a documentários no Cineclube. “Na aula de Sociologia, geralmente, a gente assiste. [...] A gente assistiu dois esse ano, assim, na íntegra, porque às vezes não dá tempo de assistir tudo. Muito importante, [...] dá muito para debater, super para discutir.” A respeito da linguagem dos filmes exibidos, Miguel assistiu a dois filmes e achou muito impactante o Estrelas Além do Tempo. “Só que não sei se é bom, gera muito incômodo para você quem está assistindo... é bom até para te tirar da tua realidade, para você ver que aquilo realmente acontece e não é tão romantizado como as pessoas acham que é.” Na opinião dele, o filme incomoda porque trata de condições básicas. “Que todo mundo, no senso comum, traz como se não fosse algo tão pesado assim, e é. Quando você expõe algo assim num filme, as pessoas, normalmente, ficam chocadas. Eu, principalmente, fiquei... algumas cenas... acho que isso é bom, muito bom.” Sobre a linguagem do filme hollywoodiano, Miguel acha que “os filmes mais hollywoodianos têm uma necessidade menor de atrair um grau de debate posterior. Então, eles não demandam, necessariamente, uma linguagem mais incisiva, que choque mais a população.” Para Miguel, os filmes hollywoodianos parecem ser mais amenos, mais tranquilos, pois não demonstram ter um viés ideológico por trás das histórias. “Enquanto os documentários são voltados para isso, voltados para esse debate, para esse senso crítico. Eu acho que essa é a principal diferença que eu enxergo.” De acordo com Marília, bolsista do projeto, o filme Estrelas Além do Tempo tem um formato mais fácil de compreensão. “É um filme que é mais tranquilo, você vai assistir, você vai entender tudo e tal.” A forma de compreensão é mais fácil porque é uma superprodução. “Então, assim, nessa produção muito grande, a gente tem efeitos, a gente tem, tipo assim, eles moldam o enredo para identificação, mas também aquele enredo tradicional”. Nesta descrição, Marília identifica um formato de superprodução hollywoodiana. “Por exemplo, [...] a gente tem a engenheira, mas também ela tem um romance ali. Coloca essa coisa mais bonita, mostra toda a dificuldade, mas mostra também esse romance, essas histórias mais tranquilas, mais leves, para compensar”. Ao analisar o formato do documentário, Marília o observa como mais pesado, pois não possui uma superprodução como a de Hollywood. “Acredito que o documentário, ele não é para mostrar essas questões, ele não faz essa alusão a romances, etc., é a realidade e puramente a realidade. Vai estar ali dificuldade atrás de dificuldade.” Segundo Marília, o documentário não utiliza mecanismos para suavizar o enredo do filme. “Não necessariamente vai ter [...] um break, uma parada daquela coisa ruim pra equilibrar com uma coisa tranquila, para você ficar assim: legal, bonito. [...] Vai coisa ruim, é violência, é tiro, é não sei o quê... porque aquela é a realidade, é a realidade.” Para a educanda, a realidade não necessariamente tem um romance que acaba com um Para Marília, os filmes hollywoodianos têm uma “puxada para o romantismo [...] linguagens leves [...]”. Estrelas Além do Tempo se discute muito a física, é um filme sobre a Nasa [...]. Só que é um filme, assim, que não aborda a Física de forma pesada, você vai entender o que as pessoas estão falando ali. Então é um filme que, assim, muitas vezes não tem foco puramente com a realidade. Eles não vão pegar realmente a matéria de física [...]. Foi esse o cálculo que ela fez ou vai botar ela falando de uma forma científica, Física da forma como ela realmente é. A gente vê isso por série também, [...] Doctor House, que a gente tem muitas coisas da Biologia, mas tem muito professor de Biologia que fala que tem muita coisa que tem ali [...] que é invenção para poder fazer a história. Então, tem muito essa coisa, tipo, invenção para fazer uma história. Marília destaca a liberdade poética dos produtores para a construção de uma obra audiovisual. Os produtores de Estrelas Além do Tempo contam as histórias de mulheres negras na NASA por um viés mais romântico do que propriamente aprofundando a carreira profissional de cada personagem. Nesse sentido, o conteúdo da Física aparece como pano de fundo e não como objeto principal do filme. Para Helena, se o filme é brasileiro, documentário, ele se aproxima mais da nossa realidade. “Acho que isso faz meio que a gente refletir sobre o nosso cotidiano mesmo. Todos fazem, eu acho, pela proximidade, você fica: ‘Caraca, verdade, não percebi isso’.” Entretanto, a educanda considera que o público prefere ficção a documentário. “Acho que o documentário, ele é uma coisa que às vezes não aproxima tanto o público, o público não tem tanto interesse de ver. Mas eu acho bastante interessante, mas eu acho que o público prefere filme”. Para ela, a preferência por ficção está relacionada à cultura audiovisual do brasileiro, uma vez que “desde pequenininho, a gente sempre viu filme, mas a gente não tem essa cultura de ver documentário. Até porque, é criança, não sei.” Sobre os filmes hollywoodianos, Helena destaca que foi uma “cultura que sempre foi aplicada na nossa. Sempre passaram para gente, desde pequenininho, é o Walt Disney, hollywoodiano, americano também. E, acho que é isso, desde pequeno você vem.” Na avaliação sobre a linguagem dos filmes exibidos, Maria gostou das películas nacionais, pois são faladas em português. “Acho que dá um maior interesse para as pessoas. Mas todos os assuntos que a gente abordou, eu gostei bastante”. Sobre a linguagem hollywoodiana, “acho que sendo de Hollywood, o maior foco é vender, você conseguiram falar sobre uma questão mais crítica, teve uma dualidade”. Para Maria, a dualidade consiste em realizar uma superprodução e, ao mesmo tempo, tocar de maneira crítica questões importantes para a sociedade, como, por exemplo, o racismo, mesmo se tratando do contexto norte-americano.“A superprodução, mas ao mesmo tempo, eu acho que foi um filme muito bom [Estrelas Além do Tempo].” Conforme as narrativas das(os) educandas(os), o Cineclube contribuiu tanto para a formação cinematográfica quanto para a “competência para ver” dos sujeitos participantes, possibilitando encontros audiovisuais para além da indústria hollywoodiana. “Percebe-se, com isto, a importância da prática cineclubista na formação e socialização das pessoas que encontraram nestes espaços a possibilidade de ampliar e transformar sua relação com o cinema.” (DALETHESE, 2013, p. 22). Ao ampliar a visão de mundo das educandas(os), o cineclube possibilita a construção de uma sociedade mais justa e democrática, que dialoga com a realidade de cada pessoa. Ao se identificarem na tela, através dos documentários, conforme destacaram as(os) educandas(os), abriu-se a possibilidade para o rompimento com a hegemonia do audiovisual hollywoodiano que, desde sua institucionalização, vem dominando, alienando e homogeneizando o cinema mundial (MACEDO, 2010). A partir desses encontros dialógicos que caracterizam cada sessão do cineclube, expande-se as linguagens audiovisuais apreendidas, formando-se um repertório imagético mais qualificado para a formação crítica, imaginativa e política dos(as) participantes. No documento COLÉGIO PEDRO II. Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Cultura Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais e Educação Básica (páginas 53-56)