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2 Mídias Pós-Vanguardistas e Ciência da

4.4 Linguagens em primeiro plano

Eu estou curioso para saber o que aconteceria se a arte fosse de repente vista pelo que ela é; informação exata de como rearranjar a psique para antecipar os próximos sopros de nossas faculdades estendidas...

Marshall McLuhan McLuhan adverte que os meios de criação e difusão da informação são extensões do ser humano como um martelo é extensão de seus braços e como a roda estende seus pernas e pés -extensões que os possibilitam ir além de suas capacidades corporais natas. As linguagens permitem que os pensamentos e sentimentos sejam comunicados a outrem e os discursos são a sua externalização; ao contrário do movimento de introspecção em direção ao universo íntimo dos indivíduos, o discurso é o meio que comunica as mentes ao mundo.

Assim, McLuhan considera, em muitos momentos do contexto geral de sua obra, que o sexto sentido seja a linguagem, ou as linguagens, como ambiências. Mas se não forem percebidas as linguagens que as medias fazem circular até sua obsolescência, quando uma nova tecnologia assume o papel condutor, o homem estará sempre sendo conduzido pela linguagem, seu objeto e não seu sujeito. A sociedade tende a se conscientizar das linguagens e de seus meios produtores depois, e não durante a sua vigência ambiental. Um exemplo desta situação é o sem número de livros (desde que Umberto Eco editou O Nome da Rosa) que está sendo publicado em inícios do século XXI sobre o assunto Livro, reconhecendo-o e valorizando-o como estrutura informacional: um suporte e uma tecnologia que já encontra intensa concorrência nos multimeios. Não se abordarão ou discutirão aqui os fundamentos conteudísticos da TV como mídia (mass media) de linguagem de via única. Grandes complexidades envolvem a organização do trabalho dos inúmeros profissionais que produzem a informação e a fazem circular nestes meios, que muito criticados, pois voltados a um consumo mais imediato e para a publicidade, mudaram radicalmente para o bem ou para o mal as configurações do mundo moderno. Tais questões sempre merecem estudos profundos, mas no presente contexto podem ser apenas tangenciadas.

O fato da produção televisiva ser mediada, no entanto, por tecnologias maquínicas produtoras de imagens, a aproxima do escopo abordado nestas margens, bem como terem sido produzidas, transmitidas e captadas por estes dispositivos mecânicos, elétricos e eletrônicos que fizeram a história da Televisão nos séculos XIX e XX, são de interesse pelas características físicas impressas pelos processos nas configurações destas imagens; outro ponto de interesse é a escala de produção direcionada a milhares, milhões. O ponto importante

a ser destacado é justamente o conflito que envolve a participação e a interação no processo informativo.

A TV é, segundo McLuhan (1974, p.38), um meio frio e as imagens nela ou para ela produzidas deixam aberturas de significação; embora para aqueles que consideram a TV um meio passivo, as categorizações de McLuhan em relação à abertura e fechamento tornem-se problemáticas:

Há um princípio básico pelo qual se pode distinguir um meio quente, como o rádio de um meio frio, como o telefone, ou um meio quente como o cinema, de um meio frio, como a televisão. Um meio quente é aquele que prolonga um único de nossos sentidos em alta definição. De outro lado, os meios quentes não deixam muita coisa a ser preenchida ou completada pela audiência. Segue-se naturalmente que um meio quente, como o rádio, e um meio frio, como o telefone, têm efeitos bem diferentes sobre seus usuários. (MCLUHAN, 1974 p.38)

Esta tese assume que se criaram hábitos de ver advindos da baixa definição do código televisivo e que a aparente passividade do espectador não impede sua participação na construção da linguagem, pois os seus sentidos são invocados como um todo a participar da aldeia global, ainda que seja pelos impulsos elétricos emitidos.

O uso da HDTV implica em novas mudanças na produção dos programas, na captação, na pós-produção e na exibição. São mudanças de enorme impacto, pois inúmeros sistemas estão interligados. As emissoras começam por transmitir por sinal híbrido que serve aos possuidores da HDTV e aos que têm um televisor comum. Isto se dará mundialmente até que todos os antigos aparelhos sejam substituídos, em um processo que só será descontinuado quando a maioria dos televisores comuns tiver entrado em obsolescência. Nesta opção está implícito o uso de decodificadores de sinais de HDTV para NTSC para permitir ao telespectador que possui um aparelho de televisão comum poder acessar as transmissões em HDTV. Mesmo que as imagens passem a ser muito mais nítidas, tendendo a um aquecimento no sentido de sua completude, a tradição, os hábitos de olhar estabelecidos pela linguagem televisiva anteriormente já estabilizaram uma estética determinada por sua baixa definição.

O modo da imagem de TV nada tem em comum com filme ou foto, exceto pelo fato de que oferece também um gestalt não-verbal ou postura de formas. No caso da TV, o espectador é a tela. É submetido a impulsos luminosos que James Joyce comparou a “bombardeio de luzes” [...] A imagem de TV não é um instantâneo estático. Não é uma foto em nenhum sentido, mas um delineamento ininterrupto de formações desenhadas ponto a ponto pela varredura. O contorno plástico resultante aparece pela luz através da imagem, não pela luz sobre ela, e a imagem assim formada tem a qualidade de esculturas e ícone, e não de uma foto. A imagem de TV oferece ao receptor cerca de três milhões de pontos por segundo. Desses, o receptor

aceita apenas algumas dúzias a cada instante para com eles formar uma imagem (MCLUHAN, 1974, p. 346).

O mesmo acontece em relação aos sons na HDTV. Com padrões em muito melhorados pelos quatro canais de som disponíveis, a TV é no inicio do século XXI, uma experiência sensorial sonora também muito diversa de um século atrás. No contexto do Os Meios de

Comunicação como Extensões do Homem, McLuhan esforça-se por fazer entender que o

futuro é imperceptível, porém presente nas tessituras dos meios e das novas linguagens, como condensações metafóricas. Os artistas que se sentem confortáveis com o não familiar e, por seu espírito experimentador, privilegiam o perceptual anterior ao conceitual, podem trabalhar com a linguagem de uma forma desorientadora e não explanatória, pois ao contrário de obstruir a percepção, como faz o que é familiar, a linguagem que desorienta, liberta:

À medida que tecnologias proliferam e criam séries inteiras de ambientes novos, os homens começam a considerar as artes como “antiambientes” ou “contra-ambientes” que nos formecem os meios para perceber o próprio ambiente. Como Edward T. Hall explicou em The Silent Language, os homens nunca tem consciência das normas básicas de seus sistemas ambientais ou de suas culturas. Hoje, as tecnologias e seus ambientes conseqüentes se sucedem com tal rapidez que um ambiente já nos prepara para o próximo. As tecnologias começam a desempenhar a função da arte, tornando-nos conscientes das conseqüências psíquicas e sociais da tecnologia.

A arte como ambiente se torna, mais do que nunca, um meio de treinar a percepção e o julgamento (MCLUHAN, 1974, p.12).

O hipermídia nas novas tecnologias imagéticas, como os computadores e progressivamente a HDTV, são uma espécie de mapa do ambiente informacional que reconceitua informação e conhecimento no âmbito do design gráfico suportado eletronicamente.