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A Literatura infantil nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica

2.4 A Literatura em diferentes documentos oficiais que regem a Educação Infantil

2.4.2 A Literatura infantil nas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica

Infantil (DCNEI – BRASIL, 2010)

A Constituição de 1988 aponta que a Educação Infantil é um dever do Estado, processo este que teve a participação dos movimentos comunitários, dos movimentos de mulheres, dos movimentos de redemocratização do país, e das lutas dos próprios profissionais da educação. A partir disso, creches e pré-escolas passaram a construir nova identidade para

superar posições fragmentadas, sejam elas assistencialistas ou pautadas em uma perspectiva preparatória a etapas posteriores de escolarização.

A Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), regulamentando esse ordenamento, introduziu uma série de inovações em relação à Educação Básica, dentre as quais, a integração das creches nos sistemas de ensino compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da Educação Básica. Essa lei evidencia o estímulo à autonomia das unidades educacionais na organização flexível de seu currículo e a pluralidade de métodos pedagógicos, desde que assegurem aprendizagem, e reafirmou os artigos da Constituição Federal acerca do atendimento gratuito em creches e pré-escolas.

Neste mesmo sentido deve-se fazer referência ao Plano Nacional de Educação (PNE), Lei nº 10.172/2001, que estabeleceu metas decenais para que no final do período de sua vigência, 2011, a oferta da Educação Infantil alcance a 50% das crianças de 0 a 3 anos e 80% das de 4 e 5 anos, metas que ainda persistem como um grande desafio a ser enfrentado pelo país.

Frente a todas essas transformações, a Educação Infantil vive um intenso processo de revisão de concepções sobre a educação de crianças em espaços coletivos, e de seleção e fortalecimento de práticas pedagógicas mediadoras de aprendizagens e do desenvolvimento das crianças. Em especial, têm se mostrado prioritárias as discussões sobre como orientar o trabalho junto às crianças de até três anos em creches e como garantir práticas junto às crianças de quatro e cinco anos que se articulem, mas não antecipem processos do Ensino Fundamental. (BRASIL, 2013, p. 81-82).

Cabe destacar que, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010, p. 11),

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil articulam-se às Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica e reúnem princípios, fundamentos e procedimentos definidos pela Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, para orientar as políticas públicas e a elaboração, planejamento, execução e avaliação de propostas pedagógicas e curriculares de Educação Infantil.

De acordo com o documento, a criança é a protagonista do planejamento curricular, é um sujeito histórico que possui direitos e seu desenvolvimento é feito a partir das interações e práticas do cotidiano, com adultos e crianças nos contextos culturais que estão inseridas. A criança brinca, aprende, observa e está constantemente experimentando para descobrir e questionar suas experiências.

As Diretrizes buscam promover a equidade de aprendizagem; dessa forma, é possível que conteúdos básicos sejam ensinados para todas as crianças, sem que haja a exclusão de qualquer uma, levando em consideração os diversos contextos em que estiverem inseridas. Esses princípios, fundamentos e procedimentos na Educação Básica são fundamentais para

orientar as escolas em sua organização, articulação, desenvolvimento e avaliação das propostas pedagógicas.

Por isso, na Educação Infantil, o incentivo é necessário para fomentar a autoestima e a busca do conhecimento. Ter acesso às diferentes linguagens é algo que precisa ser incentivado. O currículo e os momentos de interação precisam de planejamento para favorecer as práticas educativas voltadas para a aprendizagem da cultura e do convívio da criança em grupo. Nesse sentido, as DCNEB (BRASIL, 2013, p. 93) ressaltam:

Na explicitação do ambiente de aprendizagem, é necessário pensar “um currículo sustentado nas relações, nas interações e em práticas educativas intencionalmente voltadas para as experiências concretas da vida cotidiana, para a aprendizagem da cultura, pelo convívio no espaço da vida coletiva e para a produção de narrativas, individuais e coletivas, através de diferentes linguagens”.

A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras tentativas de escrita.

É necessário que o(a) professor(a) crie oportunidades de aprendizado onde a criança tenha contato com atividades dinâmicas e significativas, porque assim será possível aprender de forma ativa. As propostas curriculares da Educação Infantil devem garantir que as crianças tenham contato com experiências e linguagens variadas, como os sons, imagens, falas e escritas, sempre valorizando o lúdico, as brincadeiras e as culturas infantis.

Elas necessitam também ter acesso a espaços culturais diversificados: inserção em práticas culturais da comunidade, participação em apresentações musicais, teatrais, fotográficas e plásticas, visitas a bibliotecas, brinquedotecas, monumentos, equipamentos públicos, parques, jardins. (BRASIL, 2013, p. 94).

A linguagem verbal inclui a linguagem oral e a linguagem escrita, que potencializam a expressão de ideias, sentimentos e imaginação. Assim, a aquisição da linguagem oral

[...] depende das possibilidades de as crianças observarem e participarem cotidianamente de situações comunicativas diversas onde podem comunicar- se, conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com palavras, refletir e expressar seus próprios pontos de vista, diferenciar conceitos, ver interconexões e descobrir novos caminhos de entender o mundo. É um processo que precisa ser planejado e continuamente trabalhado. (BRASIL, 2013, p. 94).

As situações comunicativas são importantes por serem formas de descobrir novos caminhos de compreender o mundo. O trabalho com a linguagem escrita não pode ser uma

prática mecânica e sem sentido; é preciso a mediação do educador, tornando frequente atividades com gêneros escritos diferentes. A leitura diária de livros pelo(a) professor(a), o manuseio de livros e revistas, a produção de narrativas e textos, mesmo sem saber ler, são incentivos positivos.

Sua apropriação pela criança se faz no reconhecimento, compreensão e fruição da linguagem que se usa para escrever, mediada pela professora e pelo professor, fazendo-se presente em atividades prazerosas de contato com diferentes gêneros escritos [...]. (BRASIL, 2013, p. 94).

Assim, torna-se fundamental a imersão das crianças nas diferentes linguagens e formas de expressão, possibilitando experiências de narrativas, a interação com a linguagem oral e a linguagem escrita, através de gêneros textuais orais e escritos. A linguagem oral e a linguagem escrita são duas manifestações da linguagem verbal, que são feitas através de palavras e visam a estabelecer comunicação.

Segundo o documento, as crianças que participam de situações comunicativas terão melhores oportunidades de observar, participar, comunicar-se, conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com as palavras, expressar pontos de vista, refletir etc. (BRASIL, 2013).

A organização curricular da Educação Infantil pode ser feita com atividades orientadas de acordo com as características de cada instituição e, igualmente orientada, mediante as características das crianças. Sendo assim, é possível fazer a sua estruturação por eixos, centros, campos ou módulos de experiências que estejam articulados de acordo com os princípios e objetivos propostos na diretriz, planejando suas atividades de forma a fugir das rotinas mecanizadas.

As DCNEI (BRASIL, 2010) estabelecem que as práticas pedagógicas da Educação Infantil devam estar pautadas em dois eixos, a saber: as interações e a brincadeira; e devem garantir várias experiências, entre elas:

Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança;

Favoreçam a imersão das crianças nas diferentes linguagens e o progressivo domínio por elas de vários gêneros e formas de expressão: gestual, verbal, plástica, dramática e musical;

Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita, e convívio com diferentes suportes e gêneros textuais orais e escritos; [...]

Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas; [...]

Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura; [...]

Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras. (BRASIL, 2010, p. 25-27).

Além das experiências, o documento também trata sobre a questão da avaliação, e alerta que as instituições de Educação Infantil precisam acompanhar o trabalho pedagógico e criar procedimentos para a avaliação do desenvolvimento das crianças, onde não exista como objetivo específico uma seleção, promoção ou classificação. É importante garantir uma observação crítica e criativa das atividades das crianças, das brincadeiras e interações, registros de tudo aquilo que as crianças produziram, ter documentação das atividades para o desenvolvimento e aprendizado para que as famílias possam conhecer as estratégias oferecidas pela instituição de Educação Infantil e a não retenção das crianças na Educação Infantil.

Trata-se, portanto, de um documento atual que balizou a atual Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e que coloca a criança no centro do processo de aprendizagem, como veremos no tópico 2.4.4.

2.4.3 A Literatura infantil no documento Brinquedos e brincadeiras de creches: manual de