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LITERATURA SOBRE APLICAÇÃO DE INSUMO-PRODUTO A RECICLAGEM E DADOS AMBIENTAIS

4 ECONOMIA AMBIENTAL E RECICLAGEM

4.7 LITERATURA SOBRE APLICAÇÃO DE INSUMO-PRODUTO A RECICLAGEM E DADOS AMBIENTAIS

As externalidades ambientais relacionadas ao processo de exploração e transformação do meio ambiente e recursos naturais pelo homem vêm sendo alvo de investigações desde meados do século XX. Segundo Freitas (2007), a utilização de matrizes Insumo-Produto para analise de efeitos ambientais é inaugurada em 1966, por John Cumberland, em uma pesquisa sobre custo beneficio ambiental das atividades produtivas. Em seguida, Herman Daly, em 1968, apresenta um modelo, que apesar de extremamente agregado, avança na classificação dos processos ecológicos em vitais e não vitais.

Quanto ao modelo de Isard (1960), a sua principal característica é não apenas indicar as “entradas” e “saídas” como conseqüência de escolhas no processo produtivo e localização do empreendimento, mas classificar os fenômenos dentro da lógica do próprio sistema ecológico. Desse modo, surgem três conceitos básicos nas relações de Insumo-Produto: produtos ecológicos, insumos ecológicos e processos ecológicos. Em conseqüência, definem-se as mercadorias ecológicas como aquelas que não são adequadamente transacionadas em mercados com respectivos preços (ar, água, algas, fósforo, aves, carbono, etc.).

Leontief (1970), o precursor da analise de Insumo-Produto convencional desenvolveu também um modelo em que a poluição é inserida em uma tabela de insumo-produto, como parte integrante do sistema econômico. Neste modelo, a poluição é um subproduto das atividades econômicas regulares. Para todo produto desejável e com valor de mercado positivo, foi estabelecido um respectivo co-produto indesejável, cujo valor de mercado é negativo. O método consiste em acrescentar uma linha, que representa a produção física de poluentes e uma coluna, que representa a estrutura da indústria de redução da poluição. Um dos problemas apontados no modelo de Leontief é que este se concentra apenas nos fluxos de

poluentes sem apresentar os bens livres.

Em 1993 órgão estatístico holandês (CBS) lançou a primeira matriz National Accounting Matrix With Environmental Accounts (NAMEA). Esta seria uma Matriz de Contas Nacionais incluindo Contas Ambientais (PIMENTEIRA, 2010). Seguindo a lógica da modelo ambiental de Leontief (1970; 1973), esta matriz relaciona as emissões e efluentes em unidades físicas ao produtos, dados em unidades monetárias. Pimenteira (2002; 2010) faz aplicação da analise de Insumo-Produto à reciclagem. O autor introduz um “setor de lixo domiciliar” que tem a peculiaridade de gerar apenas “produto” (PIMENTEIRA, 2002, p. 78). Este setor fornece insumo para os setores transformadores. Estes, por sua vez, também geram resíduos, o que segundo o autor, pode gerar coeficientes técnicos negativos, no modelo de Insumo-Produto tradicional.

O foco comum da aplicação da analise de Insumo-Produto às contas ambientais é a relação entre os diversos processos de produção e consumo e as suas “externalidades ambientais negativas”. Os dados ambientais aparecem na forma de coeficientes técnicos, que relacionam a produção de um dado setor à utilização de insumos e à emissão de poluentes decorrentes das suas atividades produtivas. A razão entre o peso total de um poluente, por exemplo, o CO2, emitido por um dado setor, e o produto total deste mesmo setor é o coeficiente de poluição setorial. A matriz inversa de Leontief é usada para calcular os impactos diretos e indiretos da produção e consumo sobre o montante de poluentes emitidos nos diversos processos produtivos.

A aplicação da analise de relações intersetoriais à cadeia produtiva da atividade de reciclagem de resíduos pós-consumo e os seus impactos econômicos é encontrada em poucos trabalhos na literatura (RIBEIRO, 2010). O Grupo de Estudos de Relações Intersetoriais da Universidade Federal da Bahia (GERI – UFBA) reúne um grupo de estudos dedicado à pesquisa da economia da reciclagem de RSU, com aplicações da analise de Insumo-Produto. Dentre os trabalhos, destacam-se o de Freitas (2007), Delmont (2007), Freitas e Oliveira Filho (2009) e Ribeiro (2010), os quais são utilizados como referencial teórico nesta dissertação.

Os trabalhos citados acima utilizam metodologia muito semelhante para o calculo dos impactos na redução dos custos de produção, dada à hipótese de tecnologia do setor. Nesta dissertação, não será utilizada o modelo de analise encontrado na literatura de referencia.

Optou-se por uma analise que mostre a mudança tecnológica na estrutura de insumos decorrente da redução da oferta de matéria prima reciclável em substituída pela matéria-prima secundária.

Não há na literatura uma aplicação direta da analise de Insumo-Produto à estimação dos efeitos econômicos oriundos da reciclagem energética especificamente. Neste processo, o produto é energia elétrica, e neste caso será utilizada a mesma lógica da reciclagem mecânica. Isto é, os efeitos da reciclagem energética serão mostrados nos setores que ofertam e demandam energia gerada por fontes tradicionais. Estes setores serão alvo do aumento da geração de energia de fonte termoelétrica movida a RSU.

Freitas (2007) aponta o trabalho de Nakamura (1999) como um dos pioneiros na proposição de um modelo de Insumo-Produto adaptado à atividade de reciclagem de resíduos do tipo pós- consumo, desvinculando sua geração do nível de atividade observado. Este modelo reconhece o caráter peculiar da produção de resíduos, indicando como solução a explicitação de um setor de catação e triagem de materiais. O modelo de Nakamura inclui ainda a contabilização do CO2 gerado pela atividade de coleta, cuja aplicação empírica é limitada pela ausência de dados para completar a modelagem. O autor então propõe uma simplificação do modelo, focando a analise na redução dos custos proporcionada pela introdução, na cadeia produtiva, de matéria prima secundaria (reciclada) decorrente da reciclagem de RSU pós – consumo.

A abordagem Insumo-Produto aplicada à reciclagem é encontrada também na literatura internacional. Choi, Jackson, Leigh, et al (2011) propõem um modelo de Insumo-Produto para Contabilidade Ambiental (Input - Output Enviromental Accounts - IOEA), com delimitação regional para incorporar a reciclagem de resíduos eletrônicos na matriz de Insumo-Produto. Segundo os autores, o modelo IOEA pode ser aplicado à reciclagem de outros materiais para os quais se pretende evitar a eliminação. A motivação do estudo é a necessidade de uma modificação substancial do quadro convencional IO.

O presente capitulo apresenta o referencial teorico e a revisão de trabalhos empiricos. Diante da presente base empirica, o objetivo do trabalho é verificar as implicações economicas, do ponto de vista da cadeia produtiva, da adoção de duas diferentes rotas de reciclagem. Para atingir este objetivo, será apresentado no proximo capitulo a metodologia de empirica e base de dados necessaria.

5 CONSTRUÇÃO DE MATRIZES E MÉTODOLOGIA DE AFERIÇÃO DOS