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3 ESTRUTURA ECONÔMICA E INSTITUCIONAL DA CADEIA DE RECICLAGEM

3.5 MANEJO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NO MUNICÍPIO DE SALVADOR

3.5.3 Manejo e disposição no município de Salvador

Do total de municípios brasileiros, apenas 990 municípios dispõem de serviços de triagem de Resíduos Sólidos recicláveis, o equivalente a 17,1% do total (BRASIL, 2008 - a). Entre os 14 municípios brasileiros com mais de um milhão de habitantes, este percentual sobe para, aproximadamente, 87,0%. Isso mostra que 12 dos 14 maiores municípios possuem o serviço de triagem de resíduos sólidos urbanos recicláveis.

O município de Salvador, capital do estado da Bahia, coleta pouco mais de 2,7 mil toneladas de resíduos por dia ou cerca de 830 mil toneladas por ano, que representa 19% do total coletado no estado. O município de Salvador atingiu, em 2010, um total de 2.480.790 habitantes. O município responde por aproximadamente 25% do PIB do estado da Bahia, em

segundo o IBGE (BRASIL, 2010-c). Dados de pesquisa da Empresa de Limpeza Urbana de Salvador (LIMPURB) sobre a caracterização física dos Resíduos Sólidos Urbanos de Salvador de 2010 indicam que a geração per capita de RSU no município chega a 1,10 kg por habitante / dia. Este valor está acima do divulgado pelo Ministério das Cidades de 0,92 kg/ hab./ dia (BRASIL, 2011- b). O valor da geração per capita de RSU divulgado em Salvador (2012) será o parâmetro utilizado nesta pesquisa e equivale a uma geração de aproximadamente 830 mil toneladas /ano ou cerca de 2.710 toneladas /dia de RSU no município, já que 99,9% da população são atendidas pelo Sistema de Limpeza Urbana de Salvador.

O Gráfico 9 apresenta as quantidades coletadas de RSU em Salvador entre 2004 e 2011. A tendência de quantidade coletada é crescente, com exceção do registrado no biênio 2008- 2009, que registrou pequena queda na quantidade coletada no município. Em 2008, houve crescimento de 25,9% da quantidade de resíduos gerada em comparação com 2004.

Gráfico 9 - Quantidade de RSU (RDO+RPU) coletada por ano em Salvador, em toneladas. 2004- 2011

701.480 807.595 882.820 0 100000 200000 300000 400000 500000 600000 700000 800000 900000 1000000 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Fonte: Dados da pesquisa, 2013, a partir de Brasil (2011 - b).

Com relação à separação de resíduos recicláveis pós –consumo, tem –se basicamente duas formas distintas, quais sejam: A coleta seletiva, que é a separação ou a “não mistura” dos materiais na fonte geradora, e a triagem de materiais feita pelos catadores após serem descartados pela fonte geradora, sem seleção previa e misturados a resíduos orgânicos. A coleta seletiva pode ser feita com a separação dos materiais em grupos (papel, plástico, orgânicos, etc.) ou feita pela separação de resíduos secos dos resíduos orgânicos. A literatura técnica sobre reciclagem indica a coleta seletiva na fonte como prioridade para aumentar a

taxa de reciclagem de RSU. Isto ocorre porque resíduos secos, quando não misturados com a matéria orgânica na fonte, têm a sua taxa de reciclabilidade maior do que os resíduos secos contaminados com matéria orgânica na fonte geradora.

A coleta seletiva porta-a porta exige equipamentos de transporte e logística diferenciados da coleta convencional. Esta exigência faz com os seus custos superem os custos da coleta convencional. O seu custo pode ser 10 vezes maior do que o custo da coleta convencional. Este tipo de coleta é considerada uma alternativa economicamente inviável em muitos casos. Quanto à triagem dos RSU após o descarte, feita pelos catadores, é útil na recuperação de muitos materiais recicláveis. No entanto, o seu rendimento é certamente inferior ao da coleta seletiva. Dados do SNIS para cidades do porte da cidade de Salvador, apenas 8,5% da coleta seletiva é feita por catadores com o apoio da prefeitura, sendo a maior parte coletada por empresas terceirizadas pelos governos municipais (55,5%) e outros 36% dos resíduos selecionados na fonte geradora são coletados pela prefeitura. Na Região Nordeste, apenas 11% da massa de resíduos secos recuperados é feito de forma seletiva. Este índice chega a 27% na Região Sul.

Como o poder publico não pode arcar com os custos da coleta seletiva, a PNRS incentiva a busca de arranjos que promovam a inclusão de catadores no sistema de logística de coleta seletiva. Os catadores podem chegar a um nível de organização que os permita atuar como um canal de coleta de RSU porta -a- porta. A receita para os catadores através da venda de recicláveis, podendo inclusive chegar a algum grau de industrialização dos materiais, o que também agrega valor ao material.

A possibilidade de aplicação de arranjos alternativos que transfiram a responsabilidade ou o direito de propriedade de atuação, na limpeza pública, aos catadores e pessoas físicas de baixa renda, encontra exemplos práticos. A lei 11.445 /07 prevê:

[...] na contratação da coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo, efetuados por associações ou cooperativas formadas exclusivamente por pessoas físicas de baixa renda reconhecidas pelo poder público como catadores de materiais recicláveis. Estes profissionais precisam usar equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e de saúde pública. (BRASIL, 2007 – c. Cap. X, Art. 57)

O objetivo deste ponto da lei é transferir para os catadores que terão benefícios líquidos com a exploração das vantagens econômicas que podem advir da coleta seletiva. Conseqüentemente, auxilia na otimização do aproveitamento dos materiais recicláveis que diariamente chegam aos aterros, por não terem sido selecionados na sua origem. No Brasil, do total de 5.562 municípios com manejo de resíduos sólidos em 2008, apenas 923, ou 16,5% dos municípios, possuíam algum programa de coleta seletiva. Este número representa mais do que o dobro do registrado em 2000, quando apenas 451 municípios ou 8% dos municípios tinham coleta seletiva. Desta forma, a legislação sanitária no Brasil busca sanar problemas ambientais relacionados à coleta e disposição de lixo, de forma economicamente e socialmente viável.

A coleta seletiva cresce em todas as regiões brasileiras, em termos de números de municípios. É possível observar no Gráfico 10 o crescimento da coleta seletiva nas Grandes Regiões. A Região Norte apresentou maior crescimento, cerca de 1700%, saindo de 1 para 18 municípios e, em segundo lugar, a Região Centro Oeste, com crescimento de 211%, passando de 9 para 28 municípios com coleta seletiva. A Região Nordeste teve crescimento de 170% no numero de municípios com coleta seletiva, saindo de 27 para 73. O menor aumento foi verificado na região Sul, com acréscimo de 59% no numero de municípios com coleta seletiva. A Região Sul já possuía um numero elevado de municípios participantes da coleta seletiva e é pioneira em coleta seletiva e reciclagem no Brasil.

Gráfico 10- Municípios com coleta seletiva - Comparação 2000 e 2008

1 27 140 274 9 18 73 368 436 28 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

2000 2008

Fonte: Dados da pesquisa, 2013, a partir de PNSB (2000 e 2008).

No estado da Bahia, apenas 25 dos 417 municípios tem programas de coleta seletiva, o que representa 6% dos municípios. A capital, Salvador, é um dos municípios. Apesar de baixo,

este numero representa um incremento de mais de 100% em relação a 2000, quando o numero de municípios com coleta seletiva no estado não passava de 12. O trabalho dos catadores de materiais recicláveis de triagem de RSU pós – consumo é computado explicitamente pelo Ministério das Cidades desde 2007. O montante recuperado pelos catadores de Salvador varia entre 0,3% e 0,5% do total de RSU gerado por ano. Este é um percentual pouco expressivo do ponto de vista do potencial de recicláveis, verificado nos RSU do município, que supera os 40%, segundo dados de Salvador (2012 - b).

O Plano Municipal de Saneamento Básico de Salvador22, elaborado pela Prefeitura Municipal

de Salvador, divulgado em 2012, indica que apenas 1% dos RSUs é coletado seletivamente pelas cooperativas cadastradas na prefeitura de Salvador. Este valor não contabiliza os materiais coletados pelos chamados “catadores predatórios”. Estes últimos exploram os resíduos dispostos não seletivamente nos logradouros urbanos e espalham resíduos pelas ruas, causando proliferação de vetores patogênicos. O Diagnostico de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), realizado por Brasil (2011), informa que, do total coletado anualmente, em Salvador, 2.600 toneladas (0,3%) são coletadas por cooperativas de catadores apoiadas pela. Segundo Salvador (2012 - a), o potencial de reciclagem dos resíduos secos (RSD) de Salvador é de 46,11% dos RSU, o que representaria 380 mil toneladas ano.

Cabe ressaltar que toda a coleta seletiva do município de Salvador, segundo Brasil (2011) foi realizada por catadores de materiais recicláveis com apoio da prefeitura municipal. Isto faz com que exista algum grau de discrepância entre os dados divulgados pela Prefeitura Municipal de Salvador e pelo Ministério das Cidades. No entanto, esta discrepância não compromete a credibilidade das informações de ambas as fontes citadas.

3.6 RECICLAGEM ENERGÉTICA E RECICLAGEM MECÂNICA DE ACORDO COM A