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3.2 Pesquisa

3.2.2 Locais de Insegurança

Como foi abordado na fundamentação teórica presente neste trabalho, os estudantes se sentem inseguros dentro da própria instituição de ensino. Devido a essa insegurança, de acordo com a Pesquisa Nacional dentro do Ambiente Educacional, esses estudantes tendem a evitar certos locais ou atividades em que são rejeitados, repudiados e afetados pelo preconceito e em certas ocasiões esses alunos podem até deixar de comparecer a escola, por períodos indefinidos e até para sempre (ABGLT, 2016).

Foi constatado nesta pesquisa que os locais evitados pelos estudantes que se sentem inseguros são:

Figura 37 - Gráfico dos Lugares que os Alunos se sentem Inseguros

Fonte: ABGLT (2016, p.29) Banheiros

Aula de Educação Física Vestuários Quadras ou Instalações Esportivas Lanchonete ou Refeitorio Corredores/Escadas 0% 10% 20% 30% 40% 14,2% 14,5% 22,1% 30,6% 36,1% 38,4%

De acordo com o gráfico acima (figura 38), pode-se notar que os locais que esses alunos se sentem mais inseguros são no banheiro, nas quadras e instalações esportivas, especialmente durante as aulas de educação física e em vestuários, seguidos pelo refeitório e pelos corredores e escadas da instituição. Os dados evidenciados serão utilizados para garantir que os cenários do roteiro sejam precisos quanto aos acontecimentos da realidade.

3.2.3 Coleta e Análise de Depoimentos

Foram selecionados 15 depoimentos dentre os encontrados nas respectivas pesquisas e reportagem listadas no início do tópico de pesquisa. A partir desta seleção (ANEXO I) eles foram analisados e aglomerados por meio de associação em 3 grandes grupos: Orientação Sexual, Expressão de Gênero, e Soluções.

a) O indivíduo foi afetado pelo preconceito devido à sua orientação sexual. b) O indivíduo foi afetado pelo preconceito devido à sua expressão de gênero.

c) O indivíduo, mesmo tendo sido afetado pelo preconceito, buscou alguma solução para desconstruir o mesmo.

Esses depoimentos serão apresentados em seguida sob forma de Discursos do Sujeito Coletivo (DSC), que é um processo metodológico que agrupa opiniões ou informações semelhantes em categorias e em seguida são formados depoimentos síntese, que são redigidos em primeira pessoa de maneira a demonstrar o pensamento de um coletivo (LEFEVRE, 2014).

1) DSC A - O indivíduo foi afetado pelo preconceito devido à sua orientação sexual É meio estressante ir a escola quando se tem 15 ou 16 anos sendo lésbica. Ao invés de se sentir acolhida e feliz, como muitos se sentem nessa idade, você tem que matar um leão por dia e se você reagir às opressões e assédios ainda farão o possível e o impossível para te silenciar.

Certa vez ao sair da escola com a minha amiga (lésbica), dois garotos da nossa sala nos perseguiram até quase chegarmos à minha casa. Enquanto corríamos com medo, os dois gritavam coisas como: aberrações, filhos do capeta, abominação e coisas do tipo.

Lembro também que um pouco antes do recesso, um menino correu e me segurou, perguntando se eu estava a fim da namorada dele, se eu sou sapatão, pois ficava olhando pra

ela. Eu não respondi nada, estava assustada. E ele me segurando pelos ombros, me sacudia e gritava — no grupo estavam ele, duas garotas e mais três meninos, e eu estava sozinha. Foi então que o rapaz que estava me segurando me jogou no chão e me chutou no estômago. Os outros rapazes também me deram vários chutes, até que um deles pegou um saco de lixo que tinha na rua e rasgou em cima de mim com restos de comida. Ninguém na rua veio me ajudar, estavam todos parados me olhando. Eu só pude me encolher e chorar.

Me fizeram sentir uma aberração. Diziam que ser lésbica não é normal, me chamavam no masculino, não deixavam eu usar o banheiro feminino e diziam que eu devia ser transexual. Desejaram em redes sociais que eu tivesse AIDS e que eu morresse. Me senti isolada, mal, insegura e excluída de todas as possibilidades afetivas, uma pária no ambiente educacional. Me sinto como se ninguém ligasse pra mim, me sinto sozinha, afundando em uma piscina de areia movediça.

2) DSC B - O indivíduo foi afetado pelo preconceito devido à sua expressão de gênero No colégio há preconceito se a pessoa parece ser homossexual, usam palavras como viadinho e malham (brincam de maneira ofensiva) suas roupas. Eles tem preconceito quando um menino é meio afeminado ou uma menina se “veste como homem", jogam ovos e ficam tirando sarro. A homofobia é uma coisa que pega bastante. As pessoas me julgam homossexual pelo modo de eu me vestir e nem sabem se eu sou ou não. Muitos não chegam perto de mim porque pensam que tenho alguma doença contagiosa, me julgam pela aparência e nem tentam me conhecer para saber como me sinto.

Na minha sala, tem gente que eu sinto que não está gostando da minha presença lá. Eu falo a verdade quando perguntam, eu sou gay, eu não tenho vontade de me esconder, gosto de me arrumar e as vezes até passo maquiagem e uso roupas mais femininas quando tenho vontade. Alguns alunos já me falaram que acham isso inadequado, imoral e desrespeitoso, e que deixo as pessoas constrangidas mas eu só estou sendo eu mesmo, isso é uma coisa que deveria ser conversada bastante na escola pois deveria ser vista como normal.

Sempre que eu coloco o pé na escola, todo mundo olha diferente. Eu sinto todo mundo me olhando, eles dão risadas, sentam longe, me excluem das conversas e dos grupos, fazem piada com tudo que existe em mim, mas até aí o bullying é psicológico, o físico veio depois… Um dia estava andando no intervalo entre as aulas, e alguns alunos mais velhos se

aproximaram, eu olhei pra baixo (como sempre) e eles jogaram os restos de seus lanches em mim e continuaram andando tranquilamente dando risada. Uma outra vez, estava conversando com uma amiga (que por ter cabelo curto e usar roupas mais largas era vista como a "lésbica masculinizada") quando, de repente, um rapaz cuspiu nela e saiu correndo. O pior dessas situações é que as pessoas ao redor ou estão rindo de você ou estão com pena, e as duas hipóteses são horríveis.

3) DSC C - O indivíduo, mesmo tendo sido afetado pelo preconceito, buscou alguma solução para desconstruir o mesmo

Eu tive muita palestra na escola sobre a questão da orientação sexual, do desenvolvimento social. Isso fez com que a escola ficasse mais pacífica e mais tolerante. Antes eu me sentia ameaçado, humilhado, separado e desamparado mas continuei firme e forte para completar os anos que perdi por medo e insegurança.

Depois dessas novas estratégias na escola, não vemos mais tanto aquela situação nos corredores de “ah olha lá aquele veado! Olha o boiola!”. Na minha sala, meus colegas me respeitam agora. Tenho a esperança de que um dia todas as escolas sejam como uma segunda casa, onde além de se aprender sobre apenas fazer expressões matemáticas ou poemas arcaicos, se aprenda também sobre esses temas, sobre igualdade, sobre respeito, sobre amar o próximo, porque é isso o que deveria ser ensinado nas escolas: respeito.

3.3 ROTEIRO

De acordo com o que foi explicado nos procedimentos metodológicos, esta etapa consiste na elaboração do roteiro. Para isso, foram utilizados como base os dados adquiridos na fase de pesquisa: os discursos do sujeito coletivo, o perfil dos alunos analisados e os locais de insegurança. A partir dos fatos coletados, iniciou-se o processo criativo para a criação dessa história. Foi utilizado o processo de storyboarding para auxiliar no desenvolvimento desta etapa pois a ação visual será o aspecto principal desta animação, uma vez que a mesma não terá diálogo.

Ao idealizar essa história, foi primeiramente pensado em sua estrutura, já que ela possui um tempo delimitado de 1 minuto e algumas estruturas de roteiro não se enquadrariam.

Por isso optou-se por utilizar uma estrutura mais direta contendo um início, meio e fim e que se encaixasse melhor no tempo especificado, para isso foi definido a seguinte estrutura:

1) Estabelecer o Personagem: Introduzir o personagem ao público no primeiro momento para o espectador saber quem ele está seguindo ao longo da história.

2) Estabelecer o Problema: Comunicar visualmente qual o problema que este personagem está enfrentando.

3) Agir no Problema/Resultado: Mostrar que há uma solução e que algo precisa ser feito para a resolução desse problema.

Por questões de formatação, o roteiro elaborado nesta etapa pode ser encontrado no Apêndice A deste documento.

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