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Etária 2 (FE2) – VAP

4 A TEORIA DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ALÇAMENTO VARIÁVEL DA VOGAL

5.1 LOCALIDADES

Detalham-se, nesta seção, aspectos sobre as localidades que constituem as amostras deste estudo: Pelotas, Porto Alegre e Vista Alegre do Prata. A motivação para a escolha dessas localidades deu-se pelo fato de que, nas referidas comunidades, a aplicação de alçamento das vogais médias átonas finais apresenta comportamentos diferenciados. Nota-se que, nas comunidades de Pelotas/Porto Alegre, os falantes adultos aplicam o alçamento dessas vogais de forma quase categórica, enquanto que os falantes adultos de Vista Alegre do Prata tendem ao não alçamento. Nosso interesse é, portanto, verificar se há também diferença nos valores de aplicação do alçamento na fala infantil.

Primeiramente, exibe-se o mapa do Rio Grande do Sul referente às cidades em estudo. Na sequência, trazem-se informações relacionadas à localização, à população, à formação étnica e ao desenvolvimento econômico e social.

5.1.1 Mapa do Rio Grande do Sul: localidades de Pelotas, de Porto Alegre e de Vista Alegre do Prata

Observam-se no mapa do Rio Grande do Sul a seguir as localidades selecionadas para o estudo do alçamento das vogais medias átonas finais, conforme o código: (A) Porto Alegre, (B) Pelotas e (C) Vista Alegre do Prata.

Figura 17 - Localização de Porto Alegre (A), Pelotas (B) e Vista Alegre do Prata (C) – RS

Fonte: Acessado em: http://mapas.guiamais.com.br/mapa+do+rio+grande+do+sul+com+todos+os+municipios -rs. Jan. 2015.

5.1.2 Porto Alegre

A cidade de Porto Alegre (POA), fundada em 26 de março de 1772, é a capital mais meridional do Brasil. Com uma área estimada em quase 496,682km², localiza-se na região nordeste do Rio Grande do Sul. Sua população, de acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2014, é de aproximadamente 1.472.482 habitantes residentes, sendo a

população feminina de 755.564 e a masculina de 658.787. A cidade tem um elevado Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com um valor de 0,865, o segundo entre as capitais brasileiras. Seu clima é considerado como subtropical úmido, com invernos entre amenos e frios.

A cidade nasceu de uma pequena colônia de imigrantes açorianos, cerca de 60 casais, que se estabeleceram na Ponta de Pedra em 1752, dentro da Sesmaria de Santana, sob o comando de Jerônimo de Ornellas e Vasconcellos. Esses portugueses viviam, praticamente, da agricultura e, aos poucos, desenvolveram a localidade que, mais tarde, passou a ser chamada de Porto dos Casais.

Segundo Vellinho (1970), a história de formação da cidade é marcada por invasões, guerras e conquistas. Em 1763, o território rio-grandense foi invadido pelos castelhanos, a mando de Don Pedro Cevallos, governador de Buenos Aires. Esse ato fez com que as populações portuguesas do norte do estado migrassem para as regiões de Viamão e Porto dos Casais.

Em 1772, um edital eclesiástico dividiu a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Viamão em duas, e o antigo Porto dos Casais transformou-se na Freguesia de São Francisco. Após um ano, mais precisamente em 18 de janeiro de 1773, por intermédio de outro edital, o nome do povoado foi alterado para Madre de Deus de Porto Alegre. O povoado foi demarcado, os portugueses receberam seus pedaços de terras e, pouco tempo depois, o local passou a tomar forma de cidade.

De acordo com Vellinho (1970), nesse mesmo período, o governador da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, José Marcelino de Figueiredo, emite uma ordem de transferência da Câmara Municipal de Viamão para Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, a qual passa a ser a capital da província. Depois de algumas décadas, o sucessor de José Marcelino, Paulo José da Silva Gama, divide a capitania em quatro municípios: Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha. Em 23 de agosto de 1808, através de um alvará expedido por D. João, Príncipe Regente, Porto Alegre é elevada à categoria de vila e, após duas décadas, em 14 de novembro de 1822, é reconhecida como cidade (VELLINHO, 1970).

A formação étnico riograndense teve a participação dos portugueses, espanhóis, africanos e indígenas. Essa formação só foi possível através do cruzamento destes povos, sendo que as levas de colonizadores foram pouco numerosas, reforçadas, contudo, pelos frutos do cruzamento com as nativas, conforme postula Vellinho, procriando num surto sem medida “(...) como só se terá visto na infância do mundo” (VELLINHO, op. cit., p.22). Posteriormente, vieram os imigrantes alemães (1824) e os italianos (1875) que ingressaram na região metropolitana por incentivo do governo

brasileiro. Esses imigrantes trouxeram suas tradições e costumes e enriqueceram o comércio local com seus artesanatos e culinárias.

Com relação às atividades econômicas, Porto Alegre, a capital, é considerada uma das maiores metrópoles brasileiras, atingindo os índices mais altos no quesito qualidade de vida e no educacional do Brasil. Destaca-se também na indústria, comércio, serviços e construção civil. No que se refere ao desenvolvimento cultural, a cidade é conhecida como um dos grandes palcos de acontecimentos culturais, políticos e sociais do país. É conhecida mundialmente através de seus escritores, artistas, intelectuais e políticos que marcaram e ainda marcam a história do Brasil.

5.1.3 Pelotas

A cidade de Pelotas (PEL), fundada em 07 de julho de 1812, está localizada às margens do Canal São Gonçalo que liga as Lagoas dos Patos e Mirim, no estado do Rio Grande do Sul, no extremo sul do Brasil e ocupa uma área estimada de 1.609 Km². Sua população soma, de acordo com o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2013, 328.275 mil habitantes residentes, divididos entre 174.077 mulheres e 154.198 homens.

De acordo com Magalhães (1993), o surgimento do município deu-se a partir de junho de 1758, através da doação de terras que Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, fez ao Coronel Thomáz Luiz Osório. Foi nessa região que se desenvolveu a primeira Charqueada trazida pelo português José Pinto Martins, natural de Portugal, mas que há alguns morava no Ceará. Foi através desse estrangeiro que Pelotas transformou-se em uma das maiores cidades do século XIX, considerada a mais rica e desenvolvida da Província, ao lado de Porto Alegre. Conforme aponta o autor, a história de Pelotas, assim como a das demais cidades que compõem o estado do Rio Grande do Sul, foi marcada por um grande período de invasões, guerras e conquistas. A Freguesia de São Francisco de Paula foi elevada à categoria de Vila em 7 de abril de 1832 e, após três anos, em 1835, a Vila é elevada à condição de cidade e recebe o nome de Pelotas.

Em relação à formação étnica do município, Magalhães (1993) coloca como primeiros responsáveis pelo desenvolvimento de Pelotas os imigrantes portugueses, vindos principalmente do arquipélago de Açores. Outros imigrantes também considerados importantes para o desenvolvimento local foram os alemães (pomeranos) que se fixaram mais na zona rural. Além desses, outras etnias, em números menos expressivos, fixaram residência em Pelotas, como negros africanos, italianos, poloneses, franceses, judeus e árabes libaneses. A herança dos portugueses pode ser encontrada na arquitetura local, nas ruas, culinária e cultura.

Segundo Magalhães (1993), após o período do charque, Pelotas entrou em decadência, abrindo espaço para outras fontes de renda como a produção de pêssego para a indústria de conservas do País, além de outros produtos como feijão, milho, soja, batata inglesa, cebola e fumo. Atualmente, a principal fonte econômica da cidade é o comércio, com mais de 4.400 estabelecimentos comerciais (varejista e atacadista), serviços bancários com 38 agências dos principais bancos, além de seguradoras, casas de câmbio e cerca de 26 empresas de transportes.

Com relação ao sistema educacional, o município conta com cinco instituições de ensino superior, quatro escolas técnicas, além de um número significativo de escolas de ensino fundamental e médio. No que se refere à cultura local, Pelotas possui dois teatros, uma biblioteca pública, vinte e três museus, dois jornais de circulação diária, três emissoras de televisão, salas de cinemae espaços de leitura. Além disso, a cidade conta com inúmeros artistas locais, grupos de teatro e escritores. Em Pelotas, é realizada, anualmente, a tradicional Feira Nacional do Doce - Fenadoce, que atrai turistas de várias localidades do país.

5.1.4 Vista Alegre do Prata

Vista Alegre do Prata (VAP) está localizada na encosta superior da região nordeste do estado, a uma distância de 120 Km de Caxias do Sul. Sua população é de apenas 1.569 habitantes, de acordo com o IBGE de 201221, divididos entre crianças, jovens, adultos e idosos. A população feminina é de 750 e a masculina de 819.

De acordo com Galeazzi (2004), a história de VAP começa quando, em 1882, um grupo de famílias de colonos italianos foram enviados à Protásio Alves pelo governo Provincial, através dos chefes de colonização com sede em Antônio Prado e Alfredo Chaves, para ocuparem as terras da região e cultivarem o solo. A maior parte dessas famílias eram originárias da Itália, como os Feltre, Udine e Buleno; outras eram imigrantes das colônias próximas. Além desses imigrantes, a cidade também recebeu colonos poloneses vindos da Europa, no ano de 1891, os quais foram obrigados a aceitar os lotes rurais ainda disponíveis na Colônia de Alfredo Chaves, instalando-se nas Linhas 4, 6, 7 (lotes de terras).

O nome da localidade, Vista Alegre do Prata, para diferenciar-se da localidade já existente de Nova Prata, deveu-se à tradição cultural italiana, marcada pela expansividade, e pela ligação ao município de Nova Prata.

Com o passar do tempo foram fundadas a primeira escola, a igreja e um cemitério. Os primeiros imigrantes italianos que ocuparam estas terras foram Angelo Raffo, Antônio Bidese, Pietro Maschio, Claudio Calleffi, Miguel Dalla Costa, Tiago Caprini, Gregório Lorini, Angelo Tonus, Maria Ubertti, Angelo Treviso e outros. Alguns anos mais tarde, após a chegada massiça dos italianos, aos poucos iniciou-se a corrente imigratória polonesa. Como pioneiros da colonização polonesa citam-se Grzebielukas, Modelski, Koakoski, Petrykoski, Rapkiewcz, Koprowski, Kajawa, Kazmierki, Karpinski, Gayeski, entre outros. Os imigrantes poloneses instalaram-se principalmente nas linhas 6ª, General Osório, e 7ª, Senador Otaviano (GALEAZZI, 2004).

É importante destacar que, embora VAP seja um município em desenvolvimento, a educação fundamental nessa localidade tem uma ótima qualidade. Há um investimento significativo na área da educação municipal, o que já foi motivo de destaque estadual e nacional. A escola, além de cumprir a base curricular nacional, oferece outras oportunidades de aprendizado (aulas de música, línguas estrangeiras, reforço em turno inverso, saídas de campo, jogos). A qualificação dos professores é outro diferencial: os profissionais recebem auxílio financeiro (70% dos custos pagos) para a realização de cursos de especialização, atualização e aperfeiçoamento. Ressalta-se que todo esse investimento é dado apenas para o ensino fundamental.

Com relação aos aspectos culturais, nota-se, portanto, que as culturas italiana e polonesa são muito presentes na região, fato manifesto na religião, nas festas de família e na culinária, sobretudo. Como na cidade não há opções de lazer (cinema, bares, praças, parques), as habitantes costumam reunir-se em suas próprias casas para confraternizar com vizinhos, parentes e amigos. Devido à escassa oportunidade de emprego e de aperfeiçoamento profissional, os jovens geralmente deixam a cidade muito cedo.

Na próxima seção, serão apresentadas as variáveis operacionais consideradas pelo presente estudo para descrição e análise das vogais médias átonas finais.