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Etária 2 (FE2) – VAP

4 A TEORIA DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ALÇAMENTO VARIÁVEL DA VOGAL

6.3 Análise e Discussão dos Resultados do Alçamento das Vogais Postônicas Finais /e/ e /o/

6.3.1 Seleção das variáveis Postônica Final /o/ Amostra Crianças de Vista Alegre do Prata RS

6.3.1.2 Variáveis Linguísticas Amostra Crianças VAP: vogal /o/

Nesta seção, primeiramente, apresentam-se as variáveis linguísticas e, em segundo momento, as variáveis sociais selecionadas como estatisticamente relevantes. A descrição e discussão dessas variáveis baseia-se nos resultados estatísticos e probabilísticos fornecidos pelo programa Rbrul, como também nas hipóteses propostas acerca das variáveis.

6.3.1.2.1 Variável Contexto Precedente

O Contexto Precedente foi a primeira variável linguística considerada relevante para a elevação de /o/. Observa-se no Tabela 1 a seguir que as consoantes coronais[-ant] e labiais são as que mais favorecem o alçamento da vogal média átona final /o/, com peso relativo de 0,706 e de 0,695, respectivamente, (log odds de 0,874 e de 0,825, respectivamente).

Por outro lado, as consoantes coronais [+ant] e dorsais foram as menos favorecedoras ao alçamento dessa vogal, apresentando peso relativos de 0,313 e 0,286, respectivamente, (log odds de -0,786 e de -0,913, respectivamente). 11% 89% Aplic. -537 /4.840 ocorrências Não aplic.4303/4840 ocorrências

Tabela 1 - Alçamento da Postônica Final /o/ e a Variável Contexto Precedente Amostra Crianças VAP

Fatores Log Odds Total(N) Proporção de aplic. Peso

Coronal [- anterior] (vizinho, lixo) 0,874 896 0,282 0,706 Labial (mesmo, vivo) 0,825 571 0,184 0,695 Coronal [+anterior] (urso, bolo) -0,786 2.854 0,054 0,313 Dorsal (branco, lago) -0,913 528 0,055 0,286 Desvio: 2749.601 Graus de Liberdade: 19 Média de Aplicação:0,111 Fonte: A autora.

Por questões operacionais26, optou-se por eliminar os contextos precedentes vocálicos da rodada, por terem valor de aplicação zero ou próximo a zero. Em relação às vogais eliminadas, desconsideraram-se os seguintes dados: a) coronal: 124 dados (ex. rode[j]o, aniversár[i]o) (0,137)) labial: 3 dados (ex. ca[w]o para carro) (0,00) e c) dorsal: 3 dados (ex. c[a]o para carro) (0,00).

A nossa hipótese inicial era de que o contexto precedente labial fosse favorável à elevação da vogal /o/, o que foi parcialmente confirmado, uma vez o fator coronal [- ant] é o primeiro mais relevante e o fator labial, com peso de 0,695, o segundo.

Acredita-se que o favorecimento das consoantes adjacentes que portam o traço alto para elevação da vogal /o/ é determinado pelo mesmo traço de altura. Essa operação é confirmada por Bisol (1981) ao afirmar que as consoantes altas favorecem a elevação da média alta.

Nesse sentido a autora afirma:

as vogais altas, as mais convexas, são produzidas pelo levantamento do corpo da língua, seja em direção ao palato mole /u/ seja em direção ao palato duro /i/. Então supõe-se que as consoantes produzidas por articulação semelhante venham a favorecer o processo dissimilatório, enquanto que a alveolar, cuja articulação se faz com a língua em posição razoavelmente plana, embora a parte da frente levantada, tenha tendências contrárias, por não ter pontos de semelhança com a vogal assimilatória (BISOL, 1981, P. 32).

O papel favorecedor do contexto precedente consoante labial para o alçamento de /o/ é confirmado nos estudos de Roveda (1998) e Vieira (2002).Considerando o resultado das pesquisas referidas neste trabalho (ver seção 4.3, Capítulo 4) convém observar que o comportamento dessa variável para os dados das crianças deste estudo difere do encontrado por Mileski (2013) para os dados dos adultos da mesma localidade. Nesse estudo, o alçamento de /o/ foi favorecido pelas vogais coronais anteriores.

6.3.1.2.2 Variável Contexto Seguinte

Os resultados expostos na Tabela 2 a seguir apontam que as consoantes coronais [+ ant], apresentando peso relativo de 0,588 (log odd de 0,356) é o contexto favorecedor do alçamento da vogal /o/. As consoantes coronais [-ant] apresentam-se também como relevantes, embora o grau de favorecimento seja menor do que o anterior, visto que seu peso relativo é de 0,507 (log odd de 0,026).

Por outro lado, as consoantes labiais com peso de 0,48 (log odd -0,080) e o fator vazio com peso de 0,425 (log odd de -0.303) mostram um menor favorecimento.

Tabela 2 - Alçamento da Postônica Final /o/ e a Variável Contexto Seguinte - Amostra Crianças VAP

Fatores Log Odds Total(N) Proporção de aplic. Peso

Coronal [+anterior] (bolo de) 0,356 759 0,155 0,588 Coronal [-anterior] (jogo chato) 0,026 181 0,094 0,507 Labial (dedo pequeno) -0,080 271 0,103 0,48 Vazio (castelo) -0,303 3.638 0,104 0,425 Desvio: 2749.601 Graus de Liberdade: 19 Média de Aplicação:0,111 Fonte: A autora.

Na análise desta variável foram desconsiderados os itens (vogais) que, por questões operacionais27, foram extraídos da rodada porque apresentaram valores de aplicação zero ou próximo

de zero. Os segmentos vocálicos eliminados da operação foram: a) vogal labial: 63 dados (ex. tenho um) (0,143); b) vogal coronal: 154 dados (ex. quando ela) (0,130); c) dorsal:121 dados (ex. ajudo a) (0,050).

Salienta-se, ainda, que as crianças em fase inicial de aquisição da linguagem (entre 1:0 e 3:0) tendem a produzir estruturas mais simples como, por exemplo, palavras sem coda consonantal. Os dados dessa amostra confirmam tais considerações, pois a quantidade de palavras isoladas para o fator Vazio (total=3.638) é superior aos demais fatores.

A hipótese inicial era de que as consoantes com traço [+alto] favoreceriam o alçamento de /o/, o que foi parcialmente confirmado neste estudo, já que o fator coronal [-anterior], que abriga as consoantes [+alto], foi o segundo mais relevante do ponto de vista estatístico. Os dados mostraram o fator coronal [mais anterior] como o mais favorecedor do alçamento em falantes crianças, com peso relativo de 0,588.

6.3.1.2.3 Contexto Vocálico

Outra variável que se destaca para o alçamento da vogal átono final /o/ é o Contexto Vocálico. Tal favorecimento é influenciado pela presença de uma vogal alta na sílaba precedente como indica o peso relativo de 0,607 (Log Odd 0,436). Por outro lado, palavras sem vogal alta não se mostram favoráveis à elevação (peso relativo de 0,392 e Log Odd -0,436), conforme mostra o Tabela 3 a seguir. Tabela 3 - Alçamento da Postônica Final /o/ e a Variável Contexto Vocálico - Amostra Crianças

VAP

Fatores Log Odds Total(N) Proporção de aplic. Peso

Com vogal alta (tudo, livro)

0,436 1.283 0,212 0,607

Sem vogal alta (cavalo, dedo) -0,436 3.566 0,075 0,393 Desvio: 2749.601 Graus de Liberdade: 19 Média de Aplicação: 0,111 Fonte: A autora.

Os resultados confirmam a hipótese inicial de que a presença de vogal alta na sílaba tônica é contexto favorável para o alçamento de /o/ átono final, em conformidade com os resultados de Vieira (1994, 2002, 2010), Machry da Silva (2009) e Mileski (2013). De acordo com as pesquisadoras, a presença de uma vogal alta na sílaba tônica tem papel fundamental para o alçamento da vogal média /o/ em pauta postônica final.

Vieira (2002, 2010) sugere que a elevação das vogais médias átonas /e/ e /o/ têm mais facilidade de ocorrer em vocábulos como livrinho e vivido do que em palavras que não contêm vogal alta, como gato e lago. De acordo com autora, casos como esses podem ser vistos como um “resultado de um processo assimilatório progressivo de traços das vogais altas por parte das vogais médias”. A autora argumenta, com base na Teoria Autossegmental, que esse tipo de assimilação é visto nesse modelo como um processo espraiamento de traços de abertura das vogais /i/, e /u/, conforme já ressaltado no Capítulo 2.