• Nenhum resultado encontrado

Etária 2 (FE2) – VAP

4 A TEORIA DA VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E O ALÇAMENTO VARIÁVEL DA VOGAL

6.3 Análise e Discussão dos Resultados do Alçamento das Vogais Postônicas Finais /e/ e /o/

6.3.1 Seleção das variáveis Postônica Final /o/ Amostra Crianças de Vista Alegre do Prata RS

6.3.1.3 Variáveis Sociais

6.3.1.3.1 Variável idade

Os resultados estatísticos apresentados apontam que a os informantes da FE4 (peso relativo de 0,79 e log odd de 1,327) e a da FE2 (peso de 0, 766 e log odd de 1,187) são os que mais aplicam o alçamento de /o/. Na sequência, têm-se as faixas etárias 5, 7 e 8 (pesos de 0,622; 0,617 e 0,601 e log odds de 0,499; 0,476 e 0,408, respectivamente), que também mostram papel relevante quanto à aplicação do fenômeno.

Por outro lado, as faixas etárias 11, 10, 6, (pesos de 0, 487; 0, 472 e 0, 414 - log odds de - 0,053; -0,112; -0,348, respectivamente) mostram-se pouco favorecedoras ao alçamento. As faixas etárias 3, 9 e 12 (pesos de 0,354; 0, 299 e log odds de - 0,601; -0,854 e -1,929, respectivamente) são as que mais preservam a vogal postônica final /o/. A Tabela 4 a seguir apresenta os resultados estatísticos para essa variável.

Tabela 4 - Alçamento da Postônica Final /o/ e a Variável Idade – Amostra Crianças VAP

FE Fatores Log Odds Total(N) Proporção de aplic. Peso

2 1:7 - 2:0 1,187 248 0,153 0,766 3 2:1 - 2:6 -0,601 255 0,067 0,354 4 2:7 - 3:0 1,327 632 0,234 0,79 5 3:1 - 3:6 0,499 427 0,138 0,622 6 3:7 - 4:0 -0,348 431 0,056 0,414 7 4:1 - 4:6 0,476 514 0,111 0,617 8 4:7 - 5:0 0,408 1031 0,117 0,601 9 6 – 7 -0,854 279 0,036 0,299 10 8 – 9 -0,112 470 0,072 0,472 11 10 - 11 -0,053 330 0,088 0,487 12 12 -1,929 232 0,013 0,127 Desvio: 2749.601 Graus de Liberdade: 19 Média de Aplicação:0,111 Fonte: A autora.

A investigação da variável permitiu verificar que, a partir da FE9 (6 -7 anos), as taxas de alçamento reduzem-se consideravelmente, expressando log odds negativos em sequências, indicativos de desfavorecimento. Da FE5 à FE8, as taxas tendem a valores intermediários, embora haja oscilação.

Os resultados obtidos apontam que as crianças de VAP produzem as vogais médias postônicas desde idade muito precoce (já com 1:3, conforme dados reportados em 7.1.2), e, conforme fica evidenciado na Tabela 4, o alçamento da vogal diminui no decorrer do avanço da idade. Os resultados da Tabela 4 estão expressos no Gráfico 24 a seguir para melhor visualização. No eixo x estão dispostas as faixas etárias e no eixo y, os valores em peso relativo.

Gráfico 24 - Alçamento da Vogal Postônica Final /o/ e a Variável Idade - Amostra Crianças VAP

Fonte: A autora.

No Gráfico 24, nota-se que o alçamento do /o/ átona final começa com valores mais altos (entre 0,8 e 23%) nas FE menores (entre 1:7 e 5:0 anos) e vai diminuindo gradativamente nas faixas maiores. Tais resultados indicam que a emergência da variação é um processo gradual que se desenvolve ao longo da aquisição da linguagem, ou seja, as crianças tomam caminhos diversos até aprender a lidar com as formas alternantes de sua língua. Assim, a criança percebe e organiza tal processo, em parte, influenciada pelo input, pelo ambiente e pelas suas experiências com o uso da língua.

Em uma análise mais detalhada, portanto, observa-se que, com relação ao desempenho dos sujeitos na produção do alçamento da vogal média átona final /o/, as crianças menores, com idade entre 1:7 e 3:0, são as que apresentam índices mais altos de aplicação do alçamento. Esse fato pode estar relacionado aos padrões fonológicos criados pela criança por meio dos itens lexicais armazenados, os quais responderão pela emergência de uma sistematicidade. Observa-se, no entanto, uma ausência de linearidade na redução do índice de aplicação do alçamento. Tal padrão é chamado na literatura de curva em U (ilustrado no gráfico 24), isto é, na fase desenvolvimental da aquisição fonológica, a criança passa por um período em que suas produções apresentam oscilações: ora correspondem à forma alvo, ora regridem para produções diferentes do alvo. De acordo com Vihman (1996) e Munson et al (2005), para que haja acuracidade nas produções, é necessária expansão do léxico, como também o avanço nos domínios articulatórios. O aprendizado de novas palavras (itens lexicais) permite que abstrações de novos padrões emerjam e modelos já existentes se renovem. À

proporção que a criança aumenta seu vocabulário, ativa novas rotinas articulatórias e percebe o input do adulto.

Em se tratando das faixas etárias maiores, observa-se que há uma diminuição do emprego do alçamento, corroborando com a afirmação de Pierrehumbert (2003) de que as experiências linguísticas às quais as crianças são expostas influenciam no processo de aquisição da variação. Como o alçamento da vogal postônica final /o/ é uma variação encontrada com menor frequência na fala dos adultos de Vista Alegre do Prata, é natural que as crianças também apliquem o alçamento de forma moderada.

6.3.1.3.2 Variável Sexo

Os resultados estatísticos apontados na Tabela 5 mostram que há diferença no comportamento da vogal /o/ postônica final em relação ao fator feminino e masculino para as crianças de Vista Alegre do Prata. Os meninos tendem a preservar a vogal, apresentando peso relativo de 0,447 (log odd de - 0,212) e as meninas tendem a elevar a vogal /o/, apresentando peso relativo de 0,553 e (log odd de 0,212).

Tabela 5 - Alçamento da Postônica Final /o/ e a Variável Sexo - Amostra Crianças VAP

Fatores

Log Odds Total(N) Proporção de aplic. Peso Feminino 0,212 2.491 0,127 0,553 Masculino -0,212 2.358 0,095 0,447 Desvio: 2749.601 Graus de Liberdade: 19 Média de Aplicação:0,111 Fonte: A autora.

A hipótese que norteia esta variável foi confirmada, pois as meninas elevam mais a vogal /o/ do que os meninos, embora os valores de pesos relativos obtidos sejam aproximados. Mileski (2013), no entanto, em seu estudo sobre o alçamento na fala adulta de VAP, não indica a variável Sexo como estatisticamente relevante para a vogal /o/. A pequena diferença numérica entre os pesos relativos obtidos para os fatores da variável apresentada na Tabela 5 induzem a exame mais minucioso dos resultados.

Ao analisar separadamente os dados de meninos e meninas de VAP com base na amostra longitudinal, verifica-se que o sexo masculino, em relação ao alçamento da vogal /o/, é o que apresenta valor de aplicação mais baixo. No Quadro 44, indicam-se os p-valores28 de aplicação do

alçamento da vogal átona final /o/ de cada informante (meninos) por faixa etária de acordo com a etapa de coleta. Ressalte-se que cada etapa (acompanhamento longitudinal) compreende um período de 30 dias (ver seção, 6.3, Capítulo 6), durante o período de seis meses (180 dias).

Assim, na linha horizontal, encontram-se os valores (proporção) referentes às ocorrências de vogal /o/ postônica final para cada sujeito, dentro de suas respectivas faixas etárias.

Quadro 44 - Alçamento da Átona Final /o/ -Cruzamento Informantes e Etapas – Amostra Meninos/VAP ETAPAS FE 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 160 dias 180 dias Prop. N Prop. N Prop. N Prop. N Prop. N Prop. N 1:7 – 2:0 S1- P 0,33 3 0,067 30 0,000 12 0,145 55 0,088 34 0,236 89 2:1-2:6 S2-E 0,062 32 0,096 83 0,158 38 0,263 38 0,164 55 0,107 84 2:7:3:0 S3-J 0,095 21 0,070 57 0,015 68 0,026 39 0,148 27 0,045 44 3:1-3:6 S4-S 0,136 44 0,647 17 0,391 23 0,182 28 0,214 28 ᴓ ᴓ 3:7-4:0 S5-Q 0,078 51 0,123 65 0,036 56 0,000 37 0,107 75 0,000 56 4:7-5:0 S6-V 0,109 92 0,010 98 0,186 43 0,160 81 0,159 88 0,128 47

ᴓ = Não houve possibilidade de recolha

Fonte: A autora.

Pelo Gráfico 25 a seguir, visualizam-se os índices29 de produção do alçamento da vogal

postônica final /o/. Nota-se que a linha apresenta várias oscilações em relação ao desenvolvimento do alçamento pelas crianças no decorrer das seis etapas de recolha.

28 Valor da proporção (p-valor) foi extraído da melhor rodada (Rbrul).

Gráfico 25 - Alçamento da vogal átona final /o/: Etapas e Informantes – Amostra Meninos – VAP

Fonte: A autora.

O Gráfico 25 mostras, no geral, que nos dados dos meninos de VAP há o predomínio de oscilações na produção do alçamento da vogal átona fina /o/. Mostra também os baixos índices de aplicação desse processo.

Com relação ao sujeito S1 (1:7- 2:0), observa-se que não houve produção de alçamento dentre as 12 ocorrências coletadas na terceira etapa. Observa-se que os índices baixos de produção do alçamento dominam todas as etapas, sendo que, na última, o valor é mais alto (0, 236) se comparado aos demais. Em relação ao S2 (2:1- 2:6), verifica-se que houve produção de alçamento em todas as etapas, mas sempre predominando valores baixos. O índice mais alto nos dados desse sujeito foi de apenas 0, 263. Nota-se também que houve oscilações em todas as etapas no que se refere à produção do alçamento. Com relação à S3 (2:7 – 3:0), observa-se que a realização do alçamento esteve presente em todas as etapas, mesmo com índices baixos. Das seis etapas de coleta o índice mais alto foi de apenas 0,148. Para S4 (3:1 e 3:7), notam-se os índices (0,136; 0,64,7; 0,391; 0,182; 0,214) mais altos se levarmos em conta os valores gerais obtidos para todos os informantes em todas as etapas de recolha. Observa-se também que há oscilações nos valores desde a primeira etapa, sendo que na segunda etapa, com índice de 0, 647 (o mais alto) e, na terceira etapa, com 0, 391, essa oscilação fica mais evidente.

No que se refere a S5 (3:7 e 4:0), observa-se inicialmente que não houve produção de alçamento em duas etapas (4 e 6). Observa-se também que nos dados desse sujeito a produção do alçamento foi baixa no restante das etapas. O valor mais alto de realização do alçamento ocorre na

segunda etapa, com índice de 0, 123.Com relação ao sujeito S6, nota-se que houve produção do alçamento da vogal /o/ em todas as etapas, embora tenham predominado valores muito baixos. Das seis etapas de recolha, o valor mais alto foi de apenas 0,186 na terceira etapa.

A partir desses resultados conclui-se que os sujeitos (meninos) de VAP mostram tendência à preservação da vogal /o/ O delineamento estabelecido por esses números sinaliza que o alçamento em sílaba postônica final, apesar de mostrar índices baixos, está sendo realizado pelas crianças (meninos) VAP.

Apresenta-se no Quadro 45 o resultado geral das taxas de aplicação do alçamento nos dados de fala das sete meninas de Vista Alegre do Prata, de acordo com suas faixas etárias.

Quadro 45 - Alçamento da Átona Final /o/ e o Cruzamento Informantes e Etapas - Amostra Meninas/VAP ETAPAS FE 30 dias 60 dias 90 dias 120 dias 160 dias 180 dias Prop N Prop N Prop N Prop N Prop N Prop N 1:7 – 2:0 S1- f ᴓ ᴓ 0,750 4 0,045 22 0,125 24 0,104 48 ᴓ ᴓ 2:1-2:6 S2- e 0,127 55 0,000 34 0,021 47 0,051 39 0,054 37 0,116 43 2:7:3:0 S3- m 0,488 123 0,255 47 0,350 40 0,203 59 0,100 30 ᴓ 3:1-3:6 S4- Z 0,171 35 0,102 59 0,236 110 ᴓ ᴓ ᴓ 3:7-4:0 S5- a 0,016 63 0,038 53 0,122 74 0,179 50 0,052 58 ᴓ ᴓ 4:1-4:6 S6- b 0,234 77 0,143 28 0,204 49 0,137 51 0,075 53 ᴓ 0,234 4:7-5:0 S7-A 0,276 76 0,081 124 0,101 89 0,138 87 0,053 94 0,107 112 ᴓ= Não houve possibilidade de recolha

Fonte: A autora.

O Gráfico 26 a seguir, com base nos resultados do quadro anterior, mostra os valores30 de

aplicação do alçamento da vogal átona final /o/ por meio do cruzamento das variáveis Informante (meninas) e Etapas (faixas etárias).

Gráfico 26 - Alçamento da vogal Postônica Final /o/ e Cruzamento Informantes Meninas e Etapas – VAP

Fonte: A autora.

No gráfico anterior, podemos observar uma linha decrescente da produção do alçamento da vogal átona final /o/ por parte das meninas de VAP, mostrando índices poucos expressivos, com exceção da informante S1-f (1:7 e 2:0) que apresentou índice de 0,750 na segunda etapa de recolha. Observa-se que há uma redução das taxas de alçamento conforme a faixa etária vai avançando. De acordo com Tomasello (2000, 2003), uma das características da aquisição é a não linearidade. A aquisição é gradual e dinâmica, isto é, a criança começa a produzir, no caso deste estudo, a vogal /o/ postônica final e domina-a em várias palavras. Aos poucos, ela começa a se dar conta de que há outra maneira de dizer a mesma coisa com a forma [i] e passa a usá-la, só que de forma moderada. Embora a aquisição seja gradual, ela não ocorre linearmente, assim como também o alçamento, pois, no percurso da emergência da variação, há fortes influências do input do cuidador. Pode-se dizer que o input é que direciona, nessas faixas etárias, o que a criança vai usar. No caso de Vista Alegre do Prata, há fortes indícios para a manutenção da média átona.

As informações apresentadas no Gráfico26 deixam claro a preferência das crianças (meninas) em relação ao uso de [o], como também deixam claro que o alçamento também milita em suas produções, porém com menos ocorrências.

Conclui-se que a emergência do alçamento da vogal /o/ se dá de maneira distinta para falantes diferentes. Essas diferenças podem ser explicadas a partir dos padrões linguísticos do ambiente no qual se encontram (VIHMAN, 1996; TOMASELLO, 2003). Na verdade, as crianças são expostas a

experiências linguísticas diferentes (input), cuja incidência de alçamento da vogal átona final /o/ é baixa. Dessa forma os resultados não poderiam ser diferentes, pois se o adulto, conforme Mileski (2013), tende à preservação da média alta, a criança também o fará.

Vários autores, como discutido no Capítulo 3, seção 3.2: (SNOW; PERMANN; NATHAN, 1987; HOFF, 2003,2006; TOMASELLO, 1999, 2000, 2003), têm sugerido que o input tende a ser o modelo seguido pela criança em fase de aquisição da linguagem. É através do input que a criança constrói o seu exemplar protótipo, conforme postulado por Pierrehumbert (2001, 2003) e Tomasello (2003). Para os autores, as habilidades sociocognitivas, as experiências e o ambiente social são os principais responsáveis pelo desenvolvimento linguístico da criança, conforme será discutido mais adiante, neste capítulo.

Conclui-se que o comportamento oscilatório do alçamento na fala das crianças (meninos e meninas) acompanhadas longitudinalmente faz parte do processo natural da aquisição da linguagem. Assim como o sistema fonético-fonológico da criança, o alçamento, parte que o integra, apresenta flutuações e diferenças individuais no decorrer das etapas da aquisição. No entanto, ao comparar as taxas de produção entre meninas e meninos, nota-se que as meninas apresentam mais oscilação do que os meninos e taxas individuais mais altas, fato que parece justificar a indicação de relevância estatística da variável. Adicionalmente, observa-se que as taxas obtidas na primeira etapa de coleta foram, no geral, mais altas para as meninas do que para os meninos.

O Gráfico 27 apresenta-se o resultado global do processo de alçamento dos informantes de todas as faixas etárias da Amostra Crianças de Vista Alegre. No eixo y computam-se as taxas em peso relativo e, no eixo x, as faixas etárias.

Gráfico 27 - Alçamento da vogal postônica final /o/- Amostra Crianças VAP

Fonte: A autora.

Os resultados da análise estatística confirmam nossa suposição inicial de que o processo de alçamento se inicia muito cedo por influência do input. Confirma ainda que a variação socialmente condicionada acompanha o desenvolvimento fonético-fonológico da criança. Nota-se que o percurso da variação dos informantes de Vista Alegre do Prata apresenta uma curva senoidal, ou seja, o alçamento começa com índice alto na faixa etária entre 1:7 e 2:0; diminui consideravelmente na FE entre 2:1 e 2:6; aumenta consideravelmente na FE de 2:7 e 3:0; diminui um pouco na FE entre 3:1 e 3:6; diminui razoavelmente na FE entre 3:7 e 4:0; sobe nas Fés entre 4:1 e 5:0 e mantêm-se estável nas FEs entre 8 e 11. Nessas últimas faixas etárias, a curva atinge seu maior pico, demonstrando que nessas idades tal processo aparece com maior intensidade e, na FE de 12 anos, a aplicação do fenômeno diminui.

Refletindo sobre esses dados é possível tecer algumas considerações. Primeiramente, de acordo com os valores de aplicação apresentados no gráfico anterior, há indícios claros de que a variação estruturada está emergindo gradualmente na fala das crianças de Vista Alegre, apesar da média de aplicação da vogal /o/ ficar abaixo de 50%. Em segundo lugar, o comportamento variável da vogal /o/ surge nas primeiras etapas de aquisição (1:7 e 5:0) e, por último, há oscilações nos índices de realização da elevação de /o/.

0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1 Faixas Etárias

Com relação às faixas etárias iniciais, nota-se que há diferença acentuada na realização do alçamento entre as crianças de 1:7 e 2:1. A primeira explicação possível diz respeito à influência do ambiente linguístico para a aquisição da variação, já que é o ambiente que, no início da vida, propicia o ingrediente indispensável para o estabelecimento da capacidade para a experiência e desenvolvimento da criança. Conforme Nino (1992), a criança tem o modelo da fala materna (cuidador) como sua maior referência e tende a segui-la como um todo. A densidade da fala da mãe ou a frequência da exposição à palavra nova são evidências bastante claras para o desenvolvimento precoce da linguagem infantil. Tomasello (2000), conforme abordado no Capítulo 3, relatou que as primeiras palavras utilizadas pela mãe durante o seu processo de interação com a criança são as que têm maior probabilidade de serem adquiridas precocemente. Neste estudo sugere-se que a emergência da variação é parte integrante da aquisição das primeiras palavras. Sugere-se também que as mães (cuidadoras) são as grandes responsáveis pelo seu aprendizado precoce e o aumento rápido do vocabulário infantil.

Nos dados coletados para esta pesquisa, através da interação entre os cuidadores e suas crianças, há evidências sobre o efeito do input dos cuidadores para realização do fenômeno. No caso das FE2, observa-se que o comportamento da criança em relação à preservação da vogal /o/ (índice de aplicação de 0,05) pode estar relacionado à fala do cuidador que também tende à preservação dessa vogal31. Outra explicação possível para esse fato seria decorrente das diferenças individuais, ou seja,

cada criança tem a sua própria experiência com a língua, já que umas recebem mais estímulos do que outras. Com relação aos valores mais altos para FE1, deve-se levar em conta que nessa fase a criança ainda está aprendendo a lidar com os sons de sua língua e, por isso, tende a imitar ou reproduzir as palavras que ela ouve com mais frequência.

Observa-se ainda que as faixas etárias de 6 a 12 anos são as que apresentam índices mais altos de elevação da vogal /o/. Uma explicação possível para esse fato pode estar relacionada com o ingresso da criança na escola e com a sua inserção em grupos sociais. De acordo com Eckert (1993, 2008), é na fase do ingresso da criança na escola, entre 6 e 12 anos, considerado pela autora como o período da 3ª infância, que começa a emergir a construção social do indivíduo. A pesquisadora afirma que é através da linguagem e das transformações do funcionamento psicológico constituídas pelas interações face-a-face e pelos ambientes sociais (escola, clube, entre outros) que se dá tal construção. A criança/adolescente começa a prestar mais atenção para questões de estilo, de identidade e de papel

social do gênero, com a formação de grupo das meninas e de grupo dos meninos separadamente. Nas escolas de VAP, por exemplo, as meninas participam de grupo de danças, enquanto os meninos participam do futebol. Também é hábito na escola, as meninas ficarem separadas dos meninos na hora do recreio, para que nenhum grupo interfira na brincadeira do outro. Há relatos das próprias crianças (meninos e meninas) de que as meninas se comportam melhor, por isso elas tendem a ter as melhores notas. Dessa forma, pode se dizer que até os 4 anos a criança segue o modelo do input e, gradativamente, com seu ingresso na escola, ela vai sendo influenciada por outros inputs (grupos sociais).

Na próxima seção, apresentam-se considerações acerca dos resultados do alçamento da vogal átona final /o/ na fala do adulto cuidador de VAP, apresenta-se também a comparação entre os resultados dos dados infantis e adultos.

6.3.2 Descrição e análise do comportamento da vogal /o/ átona final: Amostra Adultos de VAP