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Fonte: CIGRES, 2013

Sobre o processo de surgimento do Consórcio,

[...] o presidente do Conselho dos Prefeitos do CIGRES lembra que a demanda pelo consórcio surgiu pela necessidade de um local adequado para o recebimento e destinação dos resíduos dos municípios, para que pudessem atender às exigências legais [...] (CALDERAN, 2013, p. 180).

Quanto a essas exigências legais relatadas pelo Presidente do Conselho, estas não foram detalhadas em qual nível federativo se enquadravam. Com relação à efetivação do consórcio, Calderan (2013) ainda destaca que o responsável técnico do CIGRES mencionou que só foi possível devido a um incentivo financeiro do Governo Federal por meio do programa denominado “Brasil joga limpo”, o qual a Caixa Econômica Federal era o órgão gerenciador do recurso.

A região consorciada possui uma população total de 172.696 habitantes (IBGE, 2010), sendo que boa parte de sua economia está voltada para a produção agrícola, pecuária leiteira, criação de suínos e aves e a maior concentração de pessoas é essencialmente voltada para a agricultura familiar. A região ainda apresenta pequenas indústrias e alguns segmentos de prestação de serviços (CALDERAN, 2013). Do ponto de vista do início de sua operacionalização,

____________________________________________________________________________________________________ [...] o Consórcio iniciou seu funcionamento com três municípios, hoje o CIGRES atende trinta municípios da região do Alto Médio Uruguai, formada pela Zona de Produção e Região Celeiro [...], atendendo uma população de 88.045 habitantes (CALDERAN, 2013, p. 176-7). Esse quantitativo populacional superior à metade do total de habitantes corresponde às pessoas que residem nas áreas urbanas, com isso, as populações rurais ficam descobertas pelo serviço de coleta do Consórcio. Já a geração de resíduos, a média mensal é de 1.380 toneladas, o que corresponde a 0,450 Kg/dia.

Quando verificamos o motivo pelo qual os municípios decidiram formar um consórcio de resíduos, foi identificada a falta de alternativas para os mesmos prestarem os serviços públicos de coleta e destinação final de resíduos sólidos, decorrentes custo crescente desse tipo de serviço e o surgimento de um cartel das empresas que vendiam seus serviços para as municipalidades (CALDERAN, 2013).

Devido à deficiência de dados que demonstre um cenário mais detalhado, podemos inferir que a principal problemática do consórcio é a falta de destinação adequada aos resíduos gerados nas áreas rurais, principalmente no que se refere ao quantitativo populacional que é expressivo. No que concerne à operacionalização do consórcio, o CIGRES presta serviço na área do recebimento e tratamento dos resíduos, os quais são gerados e recolhidos nas cidades, sendo realizadas a pesagem e o registro no aterro sanitário, além da triagem para a separação dos materiais.

Alguns dados são bastante inquietantes, pois as despesas são mantidas pelo próprio consórcio através da participação dos municípios, contudo, não há um detalhamento de como ocorre essa cobrança no estudo de Calderan (2013). Portanto, restam-nos alguns questionamentos: a aquisição de recursos para a sustentação do consórcio pode estar sendo realizada com base na total da população ou na geração de resíduos sólidos per-capta? Estão levando em consideração a dinâmica econômica de cada município? Nessa via, outras fontes de sustentação financeira seriam os

[...] recursos de programas do governo estadual e federal, bem como recursos oriundos das atividades dos consórcios [...]. [Com base] no ano de 2010, o consórcio custeava 60% dos seus gastos com a venda dos materiais reciclados e adubo produzido pela compostagem (CALDERAN, 2013, p. 188).

____________________________________________________________________________________________________ De acordo com o autor em tela, o CIGRES obtém uma fatia considerável de recursos financeiros a partir da comercialização de subprodutos, como o adubo. Em uma rápida leitura feita a partir do perfil socioeconômico da região na qual o consórcio está inserido, nota-se uma importante atividade agropecuária que gera uma quantidade significativa de matéria orgânica que é reaproveitada na forma de adubo de compostagem. Ou seja, há uma ciclagem de resíduos sólidos orgânicos na própria região.

A contabilidade de materiais recicláveis perfaz 18,91% do total de resíduos, e a matéria orgânica constitui a maior parte dos resíduos, totalizando cerca de 60% do montante, servindo para a compostagem. Já os materiais que não podem ser aproveitados, aqui denominados de rejeitos, somatizam 21,57% (CALDERAN, 2013).

Com relação às ações de Educação Ambiental e Coleta Seletiva, o CIGRES conta com “seis municípios que possuem um sistema implantado com apoio do Consórcio. Quanto ao recolhimento e transporte, estes são de responsabilidade dos municípios, quer seja operados por eles mesmos ou terceirizados” (CALDERAN, 2013, p. 184). Existem também visitas de alunos ao aterro sanitário para atividades de sensibilização por meio de apresentações teatrais e distribuição de materiais educativos.

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5 A POLÍTICA NACIONAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA GESTÃO DOS RESÍDUOS NO RIO GRANDE DO NORTE

Este capítulo tem a finalidade de verificar como a implementação da PNRS se materializa no Rio Grande do Norte, sobretudo a partir da criação do PEGIRS-RN. Dessa maneira, iniciamos com um resgaste histórico acerca da problemática dos resíduos sólidos no plano estadual, tendo por recorte temporal o início do século XXI até os dias atuais e, findando, no Consórcio do Seridó, que é o objeto de estudo deste trabalho.

5.1 A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO RIO GRANDE DO NORTE

No âmbito federal, as pesquisas realizadas sobre resíduos sólidos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo SNIS ainda não conseguiram traduzir a realidade da problemática estadual do Rio Grande do Norte em sua totalidade, uma vez que os dados são mascarados ou omitidos pelos gestores municipais, pois estas informações são repassadas a esses órgãos sem que haja um devido tratamento.

No entanto, alguns estudos começam a demonstrar a fidelidade da problemática instaurada, ainda sendo percebidas carências substanciais de dados em nível municipal, principalmente no que se refere aos valores gastos com os serviços de coleta, a reciclagem e a coleta seletiva, bem como a destinação em lixões oficiais e clandestinos espalhados pelos recônditos do estado do Rio Grande do Norte.

Iniciaremos a nossa análise com o Diagnóstico da situação dos resíduos sólidos do estado do Rio Grande do Norte, publicado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (IDEMA) no ano de 2002, até chegarmos ao PEGIRS-RN, publicado em 2009, o qual foi realizado pela SEMARH-RN.

O primeiro estudo sistemático sobre a gestão dos resíduos sólidos no Rio Grande do Norte só teve seu início no final do Século XX e publicado alguns anos depois. Esse estudo trouxe à tona questões macro que ajudaram no entendimento da problemática no estado do Rio Grande do Norte. Em questão, o assim

____________________________________________________________________________________________________ denominado “Diagnóstico da Situação dos Resíduos Sólidos do estado do Rio Grande do Norte” foi um estudo realizado pelo IDEMA, o qual integrou o Programa Nacional do Meio Ambiente (PNMA II), do MMA, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso.

O trabalho teve dois objetivos, o primeiro deles remetia-se a criação de uma base de dados sobre resíduos sólidos para o Estado, ainda inexistente em nível local/regional. Já o segundo objetivo visava contribuir para a definição de programas e ações relacionadas com o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos no Rio Grande do Norte, levando em consideração a participação do governo estadual, da sociedade civil organizada e dos setores econômicos industriais, comerciais e de serviços (IDEMA, 2002).

Neste diagnóstico, foram visitados 34 municípios do Estado, agrupados nas quatro mesorregiões geográficas, correspondendo a aproximadamente 70% da população do Estado, conforme o Mapa 9.