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Logística territorial das empresas

No documento PR Michele Serpe Fernandes (páginas 98-101)

CAPÍTULO 2 ESPAÇO: PRODUÇÃO E CIRCULAÇÃO

3.4 Logística territorial das empresas

Partindo do princípio de que a logística se caracteriza, na contemporaneidade, como forma de circulação hegemônica, e que ela coordena os fluxos de informações de mercadorias, pelos meios de transportes e comunicações de maneira integrada, procurando obter maior eficiência e velocidade nas entregas de mercadorias. E também, que, o Estado prove as infraestruturas de transportes e comunicações, e as normatizações sobre a circulação de mercadorias, propiciando um amplo uso da logística pelos agentes hegemônicos. É que queremos mostrar neste item como as empresas usam a logística em determinadas porções território.

A logística territorial das empresas é um marcante aspecto da circulação do período técnico-científico-informacional, as empresas usam de lógicas territoriais para coordenar seus fluxos de mercadorias, na qual a velocidade e perfeição ganham ênfase. A logística territorial consiste "em uma ação no território, a partir de agentes corporativos, que detém uma inteligência sobre o território, utilizando sistemas de engenharia públicos e privados, bem como todos os demais componentes da circulação, técnicos e normativos" (SILVA JUNIOR, 2009, p. 263). Segundo o autor:

A logística territorial se inscreve de modo bastante complexo em uma ampla gama de relações aparentemente estáticas, porém dinâmicas se entendido em sua totalidade, modelo composto por produção – distribuição – troca – consumo. [...] Para compreender a logística territorial devemos considerar o seu aspecto central, que é a “lógica territorial das empresas”, considerando, assim como Santos e Silveira

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(2006: 292-3), que “cada empresa, cada ramo da produção produz, paralelamente, uma lógica territorial”, formando topologias específicas de acordo com a estratégia de cada firma, de modo que, “para cada uma delas, o território do seu interesse imediato é formado pelo conjunto dos pontos essenciais ao exercício de sua atividade, nos seus aspectos mais fortes” (SILVA JUNIOR, 2009, p. 263).

Então, as empresas selecionam porções do território dotadas de infraestrutura que deêm suporte à produção e à circulação de mercadorias e impõe, assim, através das relações de poder, sua territorialidade, tanto na cidade como no campo. Para Fajardo (2008) as relações de poder sobre a ótica produtiva assumem-se como processo gerador do território. O autor também nos mostra que a produção coletiva tem, na base física territorial, o ponto inicial para a efetização das territorialidades concretizadas em distintas formas e estruturas, "ou seja, a exploraçaõ da natureza continuaria sendo um dos sustentáculos da construção econômica do território" (FAJARDO, 2008, p. 28).

Poderiamos trazer as empresas que, exclusivamente sobre o viés econômico, e através de diferentes lógicas, extraem do território os recursos para sua reprodução. A agricultura moderna, principalmente aquela de commodities, que são produtos agricolas de grande demanda no mercado internacional, se constitui como fonte de riqueza a empresas que se apropriam deste segmento. Essas empresas, no aspecto econômico, seguem lógicas espaciais globais que acabam impondo territorialidades tanto no espaço urbano como no espaço rural, porém cada um com suas especificidades. Conforme Fajardo (2008, p. 29):

O espaço, como definição ampla, encontra-se multifacetado. Nesse sentido, a dinâmica geral condiciona específicas como a territorialidade do rural. Ao analisar o território no âmbito dos processos econômicos no meio rural, do ponto de vista geográfico, têm se então de considerar multiplos fatores que concorrem para caracterizar essa territorialidade. O resultado espacial é, então, geral ou seja, não distingue apenas as especifidades do espaço rural, mas a construção do território como um todo.

Segundo Santos (2008a), em termos de dominação do capital e imposição de lógicas externas, o campo é mais vulneravel que a cidade, pois é o que mais sente a influência dessas empresas. Isso se dá pela imposição de uma nova organização social do trabalho, através dos novos mecanismos de modernização, como maquinários, sementes modificadas, intensa aplicação de tecnologia no território, ultilização de pouca mão de obra, acaba por expulsar um grande contingente de moradores do campo para a cidade, abrindo cada vez mais espaço para a modernização excludente no campo.

86 Assim, também o campo é organizado segundo lógicas territoriais do capital do agronegócio. Cada empresa do agronegócio estabelece sua logística territorial, define qual município vai se instalar, de que produtor vai comprar, os tipos de contratos, que sistemas de engenharia (armazéns, ferrovias, rodovias) e sistemas de movimento (caminhão, trem,) vão se utilizar, qual porto vai exportar, a quem direciona a atuação da logística em determinado território e que garanta seu sucesso econômico, traduzindo-se, assim, no uso corporativo do território.

Nesse contexto, este capítulo nos possibilitou observar como o governo cria infraestrutura de comunicação e de transportes, normas que possibilitam maior fluidez às mercadorias e como estas favorecem a consolidação da logística empresarial e do uso mais corporativo do território. Estes são grandes objetos técnicos que são criados no território formando redes extravertidas, de fora para dentro, que ali se instalam puramente pelo viés econômico, muitas vezes se apresentam como indiferentes aos moradores locais.

Entende-se, no entanto, que o problema não está nos investimentos de natureza apenas econômica, e sim que, na maioria das vezes, estes planos e projetos beneficiam regiões mais dinâmicas no intuito de torná-las mais competitivas, em detrimento das regiões (macro, meso, e micro) estagnadas ou de pouca expressividade econômica, que recebem pouco ou nenhum investimento. Como afirmam Araújo (1999) e Castillo (2011), os maiores investimentos de infraestrutura se direcionam para áreas já competitivas, como grandes regiões produtoras de commodities agrícolas do Centro-Oeste (CASTILLO, 2011) ou como regiões com significativa participação da indústria, como as regiões Sudeste e Sul do país (ARAÚJO, 1999).

Assim, grandes corporações, como empresas do agronegócio se beneficiam desse aparato infraestrutural e normativo, já que possuem maior capacidade de seleção quanto ao uso do território, quanto a escolher os melhores lugares dotados de infraestrutura de circulação e, assim, podem definir suas logísticas territoriais nos lugares mais fluídos.

Neste sentido, o de uma agricultura de commodities, onde as grandes empresas do agronegócio se utilizam dos sistemas de engenharia e sistemas de movimento para circular suas mercadorias, estabelecendo um uso corporativo do território. É que nos capítulos que se seguem 4 e 5, apresentamos nossa área de estudo, a mesorregião Sudeste Paranaense e municípios selecionados, sua inserção numa agricultura globalizada de commodities, e as empresas do agronegócio da soja, e como fazem a circulação desta mercadoria.

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CAPÍTLO 4 - PARTICIPAÇÃO DA MESORREGIÃO SUDESTE PARANAENSE

No documento PR Michele Serpe Fernandes (páginas 98-101)