O contínuo desenvolvimento de sistemas cerâmicos para aplicações odontológicas, asso- ciado ao crescente interesse de profissionais e pacientes por restaurações totalmente ce- râmicas, levou à popularização e à utilização em larga escala desses materiais na prática clínica. Assim, a longevidade dessas restaurações livres de infraestruturas metálicas tem sido continuamente verificada em várias avaliações clínicas retrospectivas e prospectivas ao longo dos últimos anos. Esses dados são importantes para se avaliar a efetividade de diferentes estratégias de tratamento envolvendo esses materiais.
Um ponto de consenso entre os estudos clínicos disponíveis na literatura é que o sucesso na aplicação das restaurações em cerâmica pura é totalmente dependente da habilidade do clínico na seleção do material e nas formas de processamento e procedimentos de cimentação/fixação adesiva, adequados para cada condição
clínica e necessidades estéticas.10
A complicação clínica mais comumente relatada resultando na falha de restaura- ções totalmente cerâmicas está relacionada à fratura da porcelana de cobertura
e/ou da infraestrutura.20-37 Assim, o sucesso dessas restaurações é intimamente
dependente da prevenção de falhas por meio da retardação da propagação de trin- cas.38-41 O emprego de sistemas totalmente cerâmicos para confecção de próteses
parciais fixas tem limitações e, por isso, o diagnóstico correto e a adequada seleção de pacientes são fatores críticos para o sucesso dessas restaurações.
Um parâmetro que deve ser levado em consideração para a maioria dos sistemas cerâmicos baseia-se na necessidade de uma altura mínima dos conectores de uma prótese parcial fixa.
Estes devem apresentar de 3 a 4mm da papila interproximal até a crista marginal.21,31,37,42-45
Dessa forma, a maximização da altura e largura dos conectores está na base para a concep- ção adequada das próteses fixas em cerâmica pura.
Essas próteses podem ser contraindicadas quando se tem espaço interoclusal reduzido,
como nos casos de: 21,43,46
§ coroas clínicas curtas; § trespasse vertical profundo; § dente antagonista extruído; § cantilevers;
§ pilares periodontalmente comprometidos;
As causas das falhas dessas restaurações podem ser diversas, como:
§ fratura do conector em próteses com infraestruturas à base de alumina,31,35,36 ou
dissilicato de lítio;21,27
§ fratura coesiva da porcelana de cobertura nas próteses com infraestruturas reforça-
das por zircônia.47,48
Em paralelo, as falhas mais comumente relacionadas com próteses parciais fixas metalocerâ-
micas estão relacionadas com fraturas ou cáries nos dentes pilares.49,50
Um fato comum verificado nos estudos que avaliam a longevidade de restaurações totalmente cerâmicas é que a fratura da porcelana de cobertura e/ou da infraestru- tura cerâmica apresenta-se como a complicação maior e mais comumente relatada
como motivo para substituição das restaurações.21-23,25-31,33-37,51
Entre os fatores descritos como motivos para substituição dessas restaurações cons- tam:24,25,27,30,32,52
§ cáries;
§ necessidade de tratamento endodôntico; § fraturas radiculares.
As complicações menores, que não requerem substituição da prótese, mais comumente
descritas foram:29,30,32,34,53,54 lascamentos/fissuras limitados à porcelana de cobertura, seguido
por necessidade de tratamento endodôntico e posteriormente pelo deslocamento da próte- se (relacionado à cimentação) e cáries.
A literatura mostra que, nos casos em que pequenas fraturas coesivas da cerâmica de co- bertura não impuseram substituição completa das próteses em cerâmica pura, foi realizado
apenas o polimento da superfície dessas restaurações,22,23,30 ou o devido reparo utilizando-se
resinas compostas.32,37 Os acessos para realização de tratamentos endodônticos também
foram restaurados de maneira direta empregando resinas compostas.23,32,37,47
Além disso, esses estudos demonstram que as cáries identificadas nas áreas marginais são
normalmente escavadas e também restauradas com resinas compostas.36,53,54
De maneira geral, as taxas de sobrevivência global das restaurações totalmente
cerâmicas variam entre 88 a 100% após 2 anos em serviço,21-23,28,34,35,37,47,48,51,52,54 e
Em resumo, observou-se que as restaurações em cerâmica pura apresentam longevidade clínica aceitável, associada à manutenção de características estéticas adequadas por longos períodos de tempo. A evidência sugere que, para restaurações intracoronárias, laminados, facetas e coroas unitárias, o clínico pode escolher entre qualquer um dos sistemas cerâmi- cos disponíveis para restaurações totalmente cerâmicas, baseando-se apenas nas questões estéticas, pois muitos sistemas apresentam taxa de sobrevivência superior a 90% após seis
anos em função.55
Evidência razoável demonstrou a eficácia de próteses parciais fixas de até três elementos, na região anterior, confeccionadas com cerâmicas reforçadas por dissilicato de lítio, alumina ou zircônia. Porém, para próteses parciais de três elementos ou mais, que envolvem mola- res como pilares, a literatura sugere que apenas os sistemas reforçados por zircônia Y-TZP sejam empregados para essas regiões. Apesar dos vários avanços obtidos com as cerâmicas de cobertura para restaurações com infraestruturas em zircônia atualmente, o lascamento
do recobrimento dessas restaurações ainda figura como importante processo de falha.55-57
Tabela 2
TAXA DE SOBREVIVÊNCIA DAS RESTAURAÇÕES DE ACORDO COM O SISTEMA CERÂMICO
Cerâmica reforçada Exemplo comercial Sobrevivência
(%) Tempo médio
em função (anos)
Referências
Leucita IPS Empress
Esthetic
90,9 3,6 24,25,34
Dissilicato de lítio IPS e.max 90,7 2,5 21,27,37
Al2O3 infiltrado por vidro In-Ceram Alumina 93,5 3,9 28,31,35,36,54 MgAl2O4 infiltrado por vidro In-Ceram Spinell 98,7 3,7 22,51 Al2O3 + ZrO2
infiltrado por vidro In-Ceram Zirconia 94,5 3 52
Alumina densamente sinterizada
Procera AllCeram 95,7 4 23,29,30