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6 DA TEORIA À PRÁTICA: O QUE NOS DIZ A OLIMPÍADA SOBRE A

6.6 AO LONGO DOS CADERNOS VIRTUAIS, PROMOVE-SE O USO DAS GRADES

Conforme apresentamos no capítulo anterior, Mori (2016), ao lembrar que a avaliação é uma questão importante mas “espinhosa”, resgata, em vídeo publicado na seção Especial Avaliação de Textos, a contribuição da grade de avaliação no trabalho dos professores com a Olimpíada de Língua Portuguesa. De acordo com a colaboradora da OLPEF (2016), usar as grades dos Cadernos Virtuais proporciona maior clareza quanto aos critérios de avaliação. Mori (2016) ainda destaca que a grade não deve ser usada apenas como um instrumento de “correção” do produto final, mas que pode ser usada para orientar a escrita, a reescrita e a revisão das produções dos alunos.

No capítulo 3, vimos que “é através da avaliação que tornamos público e que podemos sinalizar ao estudante o que valorizamos como objeto de aprendizagem” (DILLI, SCHOFFEN e SCHLATTER, 2012). De acordo com os Referenciais Curriculares (RIO GRADE DO SUL,

2009), os alunos devem tomar conhecimento dos critérios de avaliação, pois é fundamental que compreendam de que modo sua produção será julgada. Desse modo, os estudantes podem afinar seu texto de acordo com os parâmetros que são esperados de sua produção.

Schlatter e Garcez (2014, p. 43), em texto publicado na revista da Olimpíada sobre as grades de avaliação dos Cadernos Virtuais, reforçam “a necessidade de todos conhecerem os critérios de avaliação para, assim, avançarem como leitores cada vez mais conscientes e capazes de relatar os conhecimentos apreendidos, nomear os recursos que usaram para a escrita e atentar para o que ainda podem melhorar”. Nesse sentido, o uso da grade proporcionaria maior autonomia a esses estudantes, os quais poderiam refletir mais sobre os usos que fazem da língua, sendo capazes de nomear as estratégias que escolheram para seus textos.

Cabe ainda destacar, como vimos no capítulo 3, que as grades “devem ser produzidas de modo afinado aos objetivos da unidade didática em questão” (RIO GRANDE DO SUL, 2009, p. 117). Em outras palavras, uma grade de avaliação não pode prever que os alunos atendam a critérios que não foram trabalhados em aula.

A grade de avaliação é uma ferramenta indicada pelos próprios autores da proposta de sequência didática. Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), a grade é importante porque facilita que haja um diálogo em comum entre docente e discentes, tornando claro para todos os participantes o que é esperado das produções textuais. Ademais, pode auxiliar o professor com a avaliação diagnóstica ao estabelecer um panorama da situação de aprendizagem da turma: em que critérios os alunos encontram mais dificuldades, em quais eles já estão bem.

Isto posto, entendemos que a grade de avaliação pode ser uma ferramenta importante no trabalho do professor com os gêneros discursivos. Tendo em vista os aspectos aqui retomados e outras questões discutidas sobre esse instrumento avaliativo no capítulo 3 deste trabalho, analisaremos, neste subcapítulo, as grades de avaliação dispostas nos Cadernos Virtuais.

A Olimpíada disponibiliza uma grade de avaliação para cada um dos quatro gêneros discursivos que participam do concurso. Essas grades podem ser acessadas na barra superior dos Cadernos Virtuais, no item Critérios de Avaliação. O que chama a atenção é o fato de que não há, nesse item, nenhuma explicação, nenhum texto, além da própria grade. Ademais, ao longo de todas as oficinas de todas as sequências didáticas, não há nenhum comentário indicando o uso da grade de avaliação; o termo “grade de avaliação” não é mencionado em nenhum momento nas oficinas dos quatro Cadernos Virtuais.

Conforme Mori (2016), quanto mais os professores e alunos usarem a grade de avaliação, melhor serão os resultados da sequência didática. Porém, a sequência didática não

indica aos professores quem, quando e como usar essa ferramenta. Se a grade é tão importante para orientar a escrita e reescrita dos alunos (MORI, 2016), mostrando a todos os participantes quais são os critérios esperados em seus textos, o que proporcionaria maior autonomia a esses autores-aprendizes (SCHLATTER e GARCEZ, 2014), por que não valorizar o uso dessa ferramenta nos Cadernos Virtuais? Levando em conta o objetivo a que se propõe a Olimpíada – a formação continuada dos professores de Língua Portuguesa – dispor a grade de avaliação, isolada, como se pudesse se autoexplicar, não garante que a ferramenta seja apreendida e usada em todo seu potencial.

Para reforçar nosso ponto de vista, recordamos a fala de Scaramucci (2005), sobre a divulgação das grades de avaliação em exames de larga escala: embora a divulgação da grade promova que todos tomem conhecimento dos critérios de avaliação, e isso é algo importante, apenas divulgar a grade, sem nenhum suporte que fundamente seu uso, seus princípios, pode causar um efeito retroativo negativo. Para a autora, a divulgação do instrumento

sem as necessárias condições, considerando nossa cultura de ensinar e avaliar, corre o risco de transformar-se em um instrumento pernicioso, que incentiva práticas avaliativas em detrimento de práticas saudáveis de ensino, podendo levar à transposição de uma situação de avaliação para uma situação de ensino sem a necessária adaptação metodológica que essa transposição pressupõe e sem levar em conta as características dos contextos individuais (SCARAMUCCI, 2005, p. 52).

É necessária a ressalva de que a situação da Olimpíada de Língua Portuguesa não é a mesma que a de um vestibular – caso analisado por Scaramucci. Ao mesmo tempo, a OLPEF oferece um concurso, do qual participam milhares de professores de todo o Brasil, cuja finalidade é formar professores, difundindo o ensino de gêneros do discurso na rede pública, e, assim, melhorar a qualidade de leitura e escrita dos alunos. Dessa maneira, em todo o material preparado pela Olimpíada, há um efeito retroativo intencionalmente pensado, isto é, o objetivo de fornecer os Cadernos Virtuais não é necessariamente selecionar os melhores textos dos melhores alunos das escolas públicas brasileiras, mas promover uma metodologia de ensino para que os professores de Língua Portuguesa passem a introduzir em suas aulas.

Portanto, acreditamos que seria interessante que se elaborasse um texto introdutório, mesmo que breve, sobre a importância dessa ferramenta e seus usos possíveis a ser publicado junto da grade, no item Critérios de Avaliação. Outra solução, talvez mais simples que elaborar um texto, seria disponibilizar o link do texto Avaliar a escrita é ser interlocutor do texto (SCHLATTER e GARCEZ, 2014) e/ou do vídeo Bate papo virtual: avaliação de textos (MORI, 2016). Tendo em vista que esses textos foram escritos após a primeira publicação dos cadernos, justamente com o intuito de complementar o percurso formativo do professor que

trabalha com a Olimpíada, seria interessante que o caderno pudesse facilitar esse caminho formativo percorrido pelos educadores, ofertando os links no próprio Caderno.

Ademais, seria importante que, ao longo das sequências didáticas, houvesse orientações que indicassem o uso da grade: torná-la pública aos alunos antes da produção final a fim de que estes possam estar conscientes de como serão avaliados pela Olimpíada, caso sejam indicados ao concurso, e, assim, ajustar melhor seus textos; indicar como ferramenta que auxiliasse o docente a elaborar as intervenções orientadoras da reescrita; ou, ainda, sinalizar que o professor pudesse usá-la como parâmetro para as anotações da avaliação diagnóstica após a produção inicial.

Neste subcapítulo, ao analisar as grades de avaliação dos Cadernos Virtuais, ponderamos sobre quatro caminhos possíveis para o aprimoramento desse aspecto nos materiais. Primeiramente, é necessário rever o isolamento da grade no item Critérios de Avaliação, cabendo a inclusão de um texto explicativo, ou de links para textos que dissertem sobre o uso das grades. Também seria importante que o uso das grades fosse indicado ao longo das oficinas, salientando ao professor quando e como esse instrumento de avaliação pode ser melhor aproveitado na sequência didática proposta pela Olimpíada e, ainda, posteriormente ao trabalho feito com a Olimpíada, como uma ferramenta a ser incorporada ao cotidiano escolar.