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CAPÍTULO III – ASSISTÊNCIA SOCIAL E PARTICIPAÇÃO POPULAR:

3.2. O Lugar do Protagonismo dos Usuários nos Serviços Socioeducativos de Poços de

Como visto no capítulo I desse trabalho, Poços de Caldas é um município rico, sendo referência no âmbito da política pública de saúde para diversas cidades circunvizinhas. A cidade, todavia, apresenta desigualdades sociais, essencialmente devido à alta concentração de renda nas mãos de uma minoria de moradores. A assistência social poços caldense é marcada pelo primeiro damismo, por meio da forte presença de mulheres oriundas das famílias ricas do município, fato reforçador de práticas de tutela e assistencialismo no trabalho social desenvolvido com famílias e indivíduos realizados pelos serviços socioeducativos dos CRAS da cidade sul mineira.

Interessa-se, no presente tópico, identificar as perspectivas daqueles a quem são destinados tais serviços, os usuários. Afinal, desenvolver os seus discursos é o que há de mais relevante ao processo de implantação do SUAS.

Sobre a participação dos usuários dos CRAS de Poços de Caldas nos demais23 coletivos existentes no município onde moram, os dados denunciam a ausência massiva desses sujeitos em outros grupos do território e do município do qual fazem parte. Apenas um entrevistado participa de outro grupo na cidade, veja-se: “Participo do Recriança24 e tenho amigos que participam comigo lá”. (ADOLESCENTE 3). Os outros sete entrevistados responderam que não participam de nenhum espaço coletivo em Poços de Caldas, somente do “grupo do CRAS”.

A oferta de atividades lúdicas nos serviços socioeducativos desenvolvidos nos CRAS de Poços de Caldas aparece nas entrevistas como um avanço no que toca a permanência das pessoas nos grupos, principalmente para o público adolescente, veja-

23 A pergunta se dirigiu no sentido de saber se os usuários participam de qualquer outro grupo do

território ou da cidade, como exemplos, grupos de mães, grupos de contra turno escolar no caso dos adolescentes, grupos de mulheres, associação do bairro, pastoral, conselhos de direitos, conselhos comunitários, enfim, qualquer atividade coletiva.

se: “Ah, que tem bastante coisa, como arte, por exemplo, que a gente tá fazendo. Esqueço o nome, oficina de dança”. (ADOLESCENTE 2). O Adolescente 2 afirma, ainda, que: “achava meio chato aquele povo ficar encarando a gente. Aí eu comecei a conhecer tudo bonitinho, comecei a fazer teatro, a fazer dança, fui me enturmando com a galera”.

Outra questão positiva revelada por meio das falas dos entrevistados desta pesquisa concerne no esforço da equipe profissional dos SCFV da cidade de Poços de Caldas em concretizar uma das diretrizes desse serviço, qual seja a atividade intergeracional entre os grupos desenvolvidos nos CRAS, observe-se: “O grupo que eu mais conheço é o meu grupo, o dos adolescentes, mas já participamos do grupo dos idosos umas três vezes, nossa eles têm um pique, mais que a gente”. (ADOLESCENTE 1).

Apenas um entrevistado sinalizou que nos grupos em que se desenvolvem as atividades do PAIF do município sul mineiro, contém um caráter socioeducativo, em que, além de discutir sobre o CRAS, ainda ocorre o debate acerca das temáticas de interesse de cada segmento de coletivos da política de assistência social, reparem: “Tem também aquilo que a professora dá de educação? Socioeducativo, nele a gente conversa sobre o CRAS aqui mesmo, sobre bullyng, sexualidade, adolescência, tem bastante coisa”. (ADOLESCENTE 2)

A partir desse momento, por considerar que os dados serão demonstrados de maneira mais visível, optou-se aqui por apresenta-los, por intermédio de tabelas sínteses com as falas dos entrevistados:

Tabela 7 – Excertos de entrevistas sobre as reivindicações das demandas dos usuários do CRAS de Poços de Caldas – MG

Sujeito Relato

Adolescente 1

Não, eu nunca reivindiquei não! Eu escuto umas pessoas dizendo que os temas é chato, que querem jogar futebol, quer assistir filme, quer mudar um pouquinho, mas às vezes a gente muda, sabe. Daí os meninos vão pra quadra jogar futebol, assistimos filme. Só que eles não ficam

quietos, não tem como assistir o filme, fica difícil. Temos voz dentro do grupo. Nossa opinião conta bastante.

Tabela 7 (cont.) – Excertos de entrevistas sobre as reivindicações das demandas dos usuários do CRAS de Poços de Caldas – MG

Sujeito Relato

Adolescente 2 Não, nunca reivindicamos não, aqui nunca teve isso não!

Adolescente 3

De vez em quando os “professores” perguntam. Mas as atividades sempre são conversadas um dia antes, ai a gente discute sobre o que vai trabalhar no outro dia.

Adolescente 4

Acho que eles escutam a gente, o ano passado eles deram uma folha com questões assim perguntando sobre o CRAS, sobre o que que a gente achava, o que a gente mais gostava.

Mulher 1 Sim, eles sempre perguntam o que achamos do grupo, querem saber

nossa opinião

Mulher 2 Nunca se unimos pra pedir nada no grupo não.

Mulher 3

Não, nós não reuniu não. Agora que a moça fez a proposta pro grupo que nós falamos, né, mas só porque ela perguntou senão não ia ter reclamação nenhuma.

Mulher 4 Os “professores” perguntam se nós tá gostando e pede nossa sugestão.

Fonte: Entrevistas realizadas

A ausência da participação dos usuários tornou-se, também, evidente na análise do processo de reivindicações de suas demandas nos serviços socioeducativos dos CRAS de Poços de Caldas. Foi notória, todavia, a preocupação dos profissionais em dar voz aos usuários, uma vez que muitas falas revelam que eles se sentem sujeitos ativos nos grupos, acreditando que suas opiniões são implementadas nas atividades

diárias, mesmo que expressadas através de estímulo profissional. Os excertos relevantes encontram-se sumarizados na tabela acima.

Diante dessas falas, duas questões merecem destaque. O primeiro ponto trata- se da não inserção desses sujeitos em outros grupos da cidade, o que pode indicar a ausência da participação da população na rede socioassistencial municipal, o que influencia, certamente, no afastamento dos indivíduos nos espaços decisórios da comunidade, das políticas públicas e da sociedade. A segunda problemática diz respeito à falta de cultura dos usuários em protagonizarem processos reivindicatórios e de participação nos serviços socioeducativos, o que resulta num grande entrave para a absorção de suas demandas em tais espaços.

A carência de inserção da população em atividades coletivas pode gerar inúmeros debates e reflexões. No entanto, chama-se atenção aqui, para a reiteração da cultura da não participação dos cidadãos nas políticas sociais, o que contribui, substancialmente, à manutenção da visão subalterna daqueles que utilizam as políticas públicas do país. Os demandantes não estão preparados a protagonizarem a sua construção, um resquício de uma sociedade que conduziu suas políticas sociais de maneira autoritária. Essa ausência de participação dos sujeitos nas políticas públicas aponta, ainda, para outra preocupação: a insuficiência da rede socioassistencial na absorção da população. Ela foi comprovada pelo caso de que apenas um entrevistado participa de atividades da mesma, sem contar o CRAS, enquanto os sete demais entrevistados reportaram que não participam de nenhuma atividade coletiva além dos grupos do PAIF.

Uma questão crucial a esta pesquisa corresponde ao fato de que as falas dos usuários em relação ao atendimento de suas demandas nos serviços socioeducativos por intermédio de suas reivindicações, raramente acontecem, e quando ocorrem, é sempre através do estímulo dos profissionais inseridos nos grupos, que, na maioria das vezes, perguntam ou aplicam questionários a fim de dar voz às demandas dos sujeitos centrais desses espaços.

A partir das narrativas dos entrevistados, tornou-se claro que o atendimento das demandas dos usuários só ocorre porque os profissionais buscam por mecanismos que possam materializar essa participação, do contrário eles não criam espaços de

reivindicações por si próprios, como revelam as suas falas: "Não, nunca reivindicamos não, aqui nunca teve isso não”! (Adolescente 2); “Não, nós não reuniu não. Agora que a moça fez a proposta pro grupo que nós falamos, né, mas só porque ela perguntou senão não ia ter reclamação nenhuma”. (MULHER 3). É interessante perceber o tom do adolescente ao dizer que “nunca reivindicamos”. O sentido que ele aufere ao termo é o de algo muito ruim ou errado. Ele se orgulha em dizer que nunca “teve isso não”. Isso denota uma perceptível falta de cultura da participação social dos sujeitos da assistência social do país, razão para o fato de que quando são chamados a participarem encontram grandes dificuldades.

Deriva, então, da cultura do apartamento da participação popular impregnada, na sociedade brasileira, a premência de se forjar, a partir dos serviços socioeducativos desenvolvidos nos CRAS, espaços que contribuam para a efetivação cotidiana do protagonismo dos usuários de forma sistemática, não só nas políticas públicas, mas também da sociedade em sua totalidade. A participação dos usuários na elaboração dos temas trabalhados no cotidiano dos grupos pode sinalizar uma estratégia na busca da ruptura com a cultura do apartamento, para a passagem de atividades socioeducativas pautadas por metodologias críticas, capazes de forjar mecanismos de rompimento com ações que reforçam a subalternidade dos usuários da assistência social. Veja na tabela abaixo sobre o protagonismo dos usuários do SUAS de Poços de Caldas na construção das temáticas debatidas nos serviços socioassistenciais:

Tabela 8 – Excertos de entrevistas sobre a participação dos usuários do SUAS de Poços de Caldas nos temas trabalhados no cotidiano dos serviços socioassistenciais – MG

Sujeito Relato

Adolescente 2

Discutimos sobre música e trabalho. Ah, ajuda no nosso dia a dia sim. Não participamos da escolha dos temas não. [...] Ajuda nosso dia a dia. Por exemplo, negócio de trabalho, uma vez que tava a outra psicóloga ela ensinava tipo assim a dar entrevista pra como que fala quando você chegar num trabalho e não ficar muito nervoso. Relações sexuais, bulling.

Não escolhemos os temas não, mas damos opinião às vezes, eu sinto que eles importam e ouvem a gente.

Tabela 8 (cont.) – Excertos de entrevistas sobre a participação dos usuários do SUAS de Poços de Caldas nos temas trabalhados no cotidiano dos serviços socioassistenciais – MG

Sujeito Relato

Adolescente 1

Então, a gente trabalha sobre vários temas. Cada mês é um tema, a gente já trabalhou liberdade e libertinagem, sobre drogas, sobre sexualidade e aí cada mês a gente escolhe um tema pra discutir. Os “professores” que escolhem o tema, daí a gente fica o mês inteiro trabalhando aquele tema. Mas nossa opinião é muito importante sim, fazemos parte das decisões que o grupo toma e eles respeitam nós. [...] Os temas ajudam no dia a dia, principalmente sobre droga, sexualidade. Me ajuda porque tipo assim: Droga me ajudou em que, meu pai, meu irmão e meu tio, todos eles usam droga, né e tipo no começo eu já não queria isso pra mim, se eu vejo meu pai naquela situação, meu irmão preso, isso e aquilo por causa de droga, não quero isso pra mim! Não quero isso pra mim, quero que seja diferente tá eu tinha isso na minha cabeça, mas eu não sabia o que fazia a maconha, o efeito que causava na pessoa, isso tudo eu aprendi aqui, sabe tudo que foi falado me ajudou bastante pra ter vamos dizer assim uma consciência melhor do que eu tinha sobre droga. Porque tipo eu sabia que viciava, mas até então droga pra mim era maconha e crack, eu não sabia que bebida era, que álcool era, que tinha droga lícita e ilícita, não sabia de nada disso! E até então já me ofereceram várias vezes pra usar droga antes de entrar aqui no CRAS, já peguei na minha mão, tipo assim eu achava, nossa usar droga eu vou ficar na brisa, nossa tem um monte de gente usando, também vou usar, né. Vou ficar na brisa. Agora depois que eu entrei no CRAS mudei completamente meu pensamento, porque tipo assim não é por causa de um problema que você vai usar droga, se vai esquecer o problema por alguns minutos, depois ele vem, vai continuar ali. Nossa tenho um tanto

de amigo, gente até que já passou pelo CRAS, que sabe e continua usando droga hoje entendeu. E vamos dizer assim com o meu conhecimento, eu estou tentando ajudar.

Tabela 8 (cont.) – Excertos de entrevistas sobre a participação dos usuários do SUAS de Poços de Caldas nos temas trabalhados no cotidiano dos serviços socioassistenciais – MG

Sujeito Relato

Adolescente 1 (continuação)

E eu estou quase lá, rs. Enfim, eu não desisto não. [...]Não participamos do planejamento das atividades e nem muito dos temas, é sempre segredo.

Mulher 2

Ah discutimos, sobre educação financeira, ai... sobre direitos, reclamações, né, deveres, essas coisas. Ah, eu creio que ajuda sim, porque você aprende né a manter né, a amizade, as coisas os deveres em casa, como que você vai distribuir o pouco que você ganha e é assim.

Mulher 3

Ah, nós conversa sobre nossa comunidade, o que que está precisando, o que precisa arrumar, o que precisa vir prá cá. Aqui precisa vim um banco porque tá difícil, não tem como. O que tinha aqui fechou, agora a gente tem que descer na cidade pra pagar. Já passou da hora de ter um banco aqui. Absurdo!

Fonte: Entrevistas realizadas

Os usuários sinalizaram que algumas profissionais dirigem suas ações na tentativa de capturar as suas demandas por meio de questionários e\ou perguntando no próprio grupo durante as discussões, veja-se: “O ano passado eles deram uma folha com questões assim perguntando sobre o CRAS, sobre o que que a gente achava, o que a gente mais gostava”. (ADOLESCENTE 2) e “Os professores pergunta se nós tá gostando e pede nossa sugestão”. (MULHER 4). Atividades como estas certamente contribuem para darem vazão às solicitações dos sujeitos, porém são insuficientes na garantia de uma participação sistemática daqueles que são os destinatários dos serviços. Avritzer (2010) e Pastor (2010) informam que a participação social precisa ser

estimulada no cotidiano das ações. O trabalho profissional ganha, nesta conjuntura, destaque, pois pode reforçar a subalternização dos usuários ou pode incidir no caminho da emancipação e autonomia dos indivíduos, necessitando assim, de reflexão crítica.

A prática de levantar as opiniões dos demandantes da assistência social por meio de questionários e arguição oral dos participantes, utilizado pelos profissionais de Poços de Caldas, serve ao fim que se destina. Não tem garantido, no entanto, como demonstrado nas narrativas, que os sujeitos consigam reivindicar e participar de forma sistemática na elaboração das atividades do grupo, tampouco dos espaços de discussão política do território e ou do município, já que nenhum entrevistado possui participação em instâncias de decisões da política de assistência social. Nenhum deles integra qualquer espaço político da cidade.

Os temas debatidos nos serviços socioeducativos também podem servir de parâmetro para identificar a participação dos sujeitos de direitos nos grupos, uma vez que devem ser discutidos de forma coletiva, para que possam ser relevantes aos usuários envolvidos. Importa ressaltar que todas as diretrizes dos Serviços de Convivência e Fortalecimentos de Vínculos (SCFV) indicam que os temas discorridos, no trabalho social da política de assistência social, têm, obrigatoriamente, que se pautar na socialização de informações alinhadas aos direitos sociais, bem como na conscientização do direito que os sujeitos possuem de serem protagonistas na construção dessa política pública.

Três pontos merecem relevância diante das narrativas supracitadas, a saber: a falta de participação dos sujeitos nos temas25 trabalhados nos grupos, o efeito positivo do grupo na vida dos usuários e a quase inexistência de narrativas que expressem a concepção da noção de direitos.

Identifica-se que, na maioria das vezes, os participantes dos serviços socioeducativos não escolhem o tema tratado no cotidiano de trabalho dos grupos. Algumas falas mencionam que “às vezes” os profissionais solicitam suas opiniões acerca dos temas discutidos nas reuniões. A maioria das falas, no entanto, ratificam a ausência de participação dos usuários nos serviços socioeducativos dos quais fazem parte, duas falas são categóricas nessa direção: “Não participamos da escolha dos

25 Os temas citados pelos entrevistados foram: bullyng, liberdade e libertinagem, drogas, educação

temas não” (ADOLESCENTE 2) e “não participamos do planejamento das atividades e nem muito dos temas, é sempre segredo”. (ADOLESCENTE 1). Mesmo diante desta constatação, narrativas como as dos Adolescentes 1 e 2 revelam que eles se sentem sujeitos ativos na construção dos grupos, veja-se: “eu sinto que eles importam e ouvem a gente” (ADOLESCENTE 2) e “nossa opinião é muito importante sim, fazemos parte das decisões que o grupo toma e eles respeitam nós” (ADOLESCENTE 1). O relato mais expressivo foi, contudo, o da Adolescente 1, que relatou a importância das atividades do CRAS e o impacto positivo que elas tiveram em sua vida, repare-se:

Depois que eu entrei no CRAS mudei completamente meu pensamento, porque tipo assim não é por causa de um problema que você vai usar droga, se vai esquecer o problema por alguns minutos, depois ele vem, vai continuar ali.

(ADOLESCENTE 1).

Foram unânimes as respostas dos usuários sobre o impacto positivo dos temas discutidos no dia a dia dos grupos em suas vidas cotidianas. Fato interessante, já que os sujeitos inferiram que não protagonizam a escolha dos temas trabalhados nas reuniões.

É relevante a empatia que os participantes dos serviços socioeducativos do município de Poços de Caldas possuem com os grupos. Ficou claro que eles têm uma relação de pertencimento nesses espaços. Essa é, sem dúvidas, uma estratégia necessária, porém, os trabalhadores da assistência social não devem desconsiderar, como apontou Guerra (2007, p.166), as armadilhas da reatualização de novas formas, técnicas e instrumentos de atuação, “a preservação da funcionalidade” da manutenção do “conteúdo controlista e integrador” da população. A nova forma de controle da classe trabalhadora nessa conjuntura se encontra ancorada pelos interesses da “mundialização do capital” (CHESNAIS, 1996), que difunde a ideologia do “colaboracionismo e cooperação” entre as classes, instaurando-se o Estado Mínimo como expressão democrática.

Reafirma-se a necessidade de que a reflexão crítica esteja pautada em uma metodologia emancipatória capaz de consubstanciar ações que extrapolem o âmbito relacional dos grupos, com a finalidade de atingir-se o pensar político dos sujeitos na

direção coletiva, vislumbrando pontes entre eles e os espaços de decisões da sociedade em sua totalidade. Se faz proeminente construir estratégias onde todas as atividades desenvolvidas nos serviços socioassistenciais possam ir ao encontro de reflexões que suscitem sobre a importância vital do protagonismo dos usuários nos espaços políticos ao seu redor, nas políticas públicas e ainda promover a reflexão acerca da noção dos direitos sociais, não se restringindo, dessa forma, ao âmbito relacional dos grupos.

A ausência do debate sobre os direitos revelada por meio das falas dos usuários demonstra uma lacuna a ser trabalhada na gestão da assistência social. Dos oito entrevistados, apenas uma usuária se expressou uma necessidade, observe-se: “Ah, nós conversa sobre nossa comunidade, o que que tá precisando, o que precisa arrumar, o que precisa vir prá cá. Aqui precisa vim um banco porque tá difícil, não tem como” (MULHER 3). Não se pode dizer que a questão de direitos não apareceu, veja- se: “Ah discutimos, sobre educação financeira, ai... sobre direitos, reclamações, né, deveres, essas coisas, os deveres em casa, como que você vai distribuir o pouco que você ganha” (MULHER 2). No entanto, os termos “educação financeira”, “deveres em casa” e “distribuir o pouco que ganham” remetem a temas que, na maioria dos casos, visam à disciplina e à moralização dos trabalhadores, no sentido de adequar a sua força de trabalho aos interesses de reprodução do capital.

Existe uma imperativa diferença entre desenvolver um trabalho social com metodologias de intervenções direcionadas à emancipação e autonomia dos sujeitos e reproduzir ações que reforçam o ideário da subalternização dos trabalhadores. O relato da Mulher 3 revela uma preocupação quanto ao direcionamento desse grupo no sentido dos direitos. A necessidade de fortalecimento da comunidade faz-se presente, por intermédio da conscientização de que solicitações individuais podem ser expressões de demandas também coletivas.

A fala da Mulher 2 sobre direitos é patente de que perspectivas moralizantes e