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O Município de Poços de Caldas, pertencente ao Estado de Minas Gerais, foi historicamente construído pela economia do turismo. Na década de 1960, ela tornou-se fonte de renda primária do município. A produção industrial iniciou sua expansão ao território poços caldense em 1970, por motivo de exploração das grandes jazidas de bauxita - um recurso natural não renovável, cuja extração mais significativa ficou a cargo da empresa Alcoa.

Segundo as informações do Atlas do Desenvolvimento Humano (ADH, 2013), nos anos de 2010, 24% da população ativa de Poços de Caldas, encontrava-se empregada no ramo de extração, a citar: Ferrero do Brasil, Fertilizantes Mitsui, Frigonossa, Mineração Curimbaba, Phelps Dodge/General Cable, Tamoyo, Votorantin Metais, Cristais Ca’doro, Newbread e Piffer. Poços de Caldas, para além do turismo e da extração, é notória por ser a maior cidade do sul de Minas Gerais, o que faz com que sua política pública de saúde seja referência para os 64 municípios circunvizinhos.

Conforme a Norma Operacional Básica de 2005 Poços de Caldas classifica-se como de grande porte13:

Tabela 1 – Dados físicos e demográficos do município de Poços de Caldas – MG

Área IDMH de 2010 Faixa de IDMH de

2010 População Censo de 2010 545, 04 km 0,779 Alto – entre 0,700 e 0,799 152.435 habitantes Densidade

demográfica Ano de instalação Microrregião Mesorregião

279,79 hab./km 1888 Poços de Caldas Sul/ Sudoeste de

Minas Gerais

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano -2010

Diante dos dados apresentados no Atlas do Desenvolvimento Humano (2013), a renda per capita média de Poços de Caldas cresceu 64,29% nas últimas duas décadas, passando de R$ 580,65 em 1991, para R$ 867,68 em 2000. Ampliou-se para R$ 953,96, em 2010, com uma taxa média anual de crescimento de 49,43% no primeiro período e 9,94% no segundo. A extrema pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita inferior a R$ 70,00 em agosto de 2010) passou de 2,63% em 1991 para 1,10% em 2000. Reduziu-se para 0,32% no ano de 2010. O Índice de Gini14 passou de 0,52, em 1991, para 0,56 em 2000. Houve aqui também um

13 A NOB/SUAS 2005 estabeleceu os portes dos municípios da seguinte forma: Pequeno porte

– Até 20 mil habitantes; Pequeno porte II – De 20 a 50 mil habitantes; Médio porte – De 50 a 100 mil habitantes; Grande Porte – De 100 a 900 mil habitantes; Metrópole – Mais de 900 mil habitantes.

14 É um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre

os rendimentos dos mais pobres e os dos mais ricos que, numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar. (Atlas do

decréscimo para 0,50 no ano 2010. Com base na análise dos dados é possível concluir uma redução nos indicadores de desigualdades sociais.

A tabela seguinte é relevante para a caracterização da desigualdade, da pobreza e da renda dos cidadãos demandantes de seus serviços do Serviço Social no município avaliado:

Tabela 2 – Renda, pobreza e desigualdade em Poços de Caldas – MG

Ano 1991 2000 2010

Renda per capita em R$ 580,65 867,68 953,96

% de extremamente pobres 2,63 1,10 0,32

% de pobres 12,67 6,42 2,93

Índice de Gini 0,52 0,56 0,50

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano- 2010

Na tabela baixo, têm-se uma visão da distribuição de renda entre as camadas socioeconômicas, sendo por isso útil à presente reflexão:

Tabela 3 – Porcentagem da renda apropriada por estratos da população em Poços de Caldas – MG

Ano 1991 2000 2010

20% mais pobres 4,03 3,72 4,67

40% mais pobres 11,86 10,72 13,34

80% mais pobres 42,47 38,73 44,01

20% mais ricos 57,53 61,27 55,99

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano- 2010

A municipalidade avaliada no presente trabalho possui quatro unidades do CRAS. Esse número pode ser balizado como resultante dos esforços da gestão municipal em implementar o SUAS em consonância com seus princípios e diretrizes. O Censo SUAS 2011, na tentativa de capturar os reflexos do Sistema Único de Assistência Social no combate às desigualdades sociais, revelou que 95% dos municípios brasileiros possuem ao menos um CRAS em seus territórios. Esse resultado comprova a ampliação dessas unidades nas cidades do país, a expansão da universalização dos direitos sociais e a ampla divulgação dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais. O levantamento encontra-se sumarizado na tabela abaixo:

Tabela 4 – Dados do Censo SUAS 2011 sobre o CRAS

Atividades levantadas %

Realização de ações e atividades desenvolvidas no PAIF 97%*

Visitas Domiciliares 99%

Tabela 4 (cont.) – Dados do Censo SUAS 2011 sobre o CRAS

Recepções e Acolhidas 99%

Acompanhamento de famílias 98%

Encaminhamento de famílias ou de indivíduos para a rede de

serviços socioassistenciais 96%

Atendimento de Indivíduos 96%

Encaminhamento de famílias ou de indivíduos para outras

políticas públicas 96%

Orientação e/ou acompanhamento para inserção do

Benefício de Prestação Continuada (BCP) Entre 95% e 99%**

* Mais de 97% dos CRAS realizam, ao menos, 11 das 19 ações e atividades desenvolvidas no PAIF que foram analisadas pelo Censo SUAS 2010.

Fonte: MDS, 2011a.

Poços de Caldas possui, historicamente, um número considerável de núcleos familiares ricas. Essas famílias disseminaram uma cultura de benemerências para com os pobres. Os interesses políticos desses grupos determinaram a política de assistência por um extensivo período: não era incomum que as mulheres ricas do município fossem indicadas para o comando das instituições não governamentais.

Análises dos investimentos da Secretaria de Promoção Social para o ano de 2014 justificam a noção de que essas ações assistencialistas continuam a ser perpetuadas, uma vez que 17 convênios foram assinados com entidades socioassistenciais. Essas organizações socioassistenciais foram, comumente, chefiadas por mulheres vinculadas à classe política e empresarial do município. O primeiro damismo tem histórica determinação na política pública de assistência social, mesmo a despeito de a cidade não ter um fundo de solidariedade instituído e de a primeira dama não ter sido apontada para a Secretaria de Assistência Social.

A experiência da pesquisadora como assistente social, no período de 2007 a 2012, em particular, no CRAS/Oeste15, revela dados sobre o processo de implantação

15 O município possui quatro Centros de Referência de Assistência Social, denominados de

dos CRAS. Nesse primeiro momento, a gestora municipal era uma assistente social que primava pela implementação das normativas e diretrizes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Sua gestão foi marcada pelo esforço em materializar a instalação física adequada aos quatro CRAS e pela garantia das equipes mínimas, estipuladas pela NOB\RH 2006 do SUAS.

Os espaços físicos de três CRAS foram construídos no decorrer do ano de 2007, conforme o estabelecido pela Política Nacional de Assistência Social. No entanto, a instalação física do CRAS/Oeste não estava adequada às diretrizes da nova política nacional de assistência social: um problema não resolvido naquela gestão, pela dificuldade de encontrar um imóvel adequado na região. Aventou-se a implantação em uma das casas da prefeitura em concordância com os requisitos, cuja liberação só se efetivou no ano de 2012, na ocasião de outra gestão. Passaram-se cinco anos de trâmites burocráticos para que o CRAS/Oeste se adequasse a nova Política Nacional de Assistência Social.

No que concerne à garantia da equipe mínima, estabelecida pela NOB/RH SUAS-200616, ela não se concretizou. Houve, todavia, um expressivo esforço em

consolidá-la por parte da Secretaria Municipal de Promoção Social de Poços de Caldas na gestão de 2004 -2008, como indica a tabela seguinte:

Tabela 5 – Formação de equipes mínimas nos CRAS de Poços de Caldas (MG) entre os anos de 2004 e 2008 Profissionais Quantidade CRAS/ Centro Quantidade CRAS/ Leste Quantidade CRAS/ Oeste Quantidade CRAS/ Sul Assistente Social 2 2 2 2 Auxiliar Administrativo - 1 - 1

16 A NOB/RH-2006 estabelece como equipe mínima de um CRAS de grande porte, caso do equipamento

social de Poços de Caldas, os seguintes funcionários: 4 técnicos de nível superior, sendo 2 assistentes sociais, 1 psicólogo e 1 profissional que compõe o SUAS; 4 técnicos de nível médio.

Auxiliar de Limpeza 1 1 - 1

Estagiário 2 2 2 2

Psicólogo - 1 - 1

Fonte: Elaboração própria a partir de informações da Secretaria.

É relevante atentar-se para o fato de que os assistentes sociais, bem como os auxiliares de limpeza e administrativos são parte do quadro de funcionários com vínculo efetivo na Prefeitura de Poços de Caldas. A contratação dos psicólogos é diferente, pois foram admitidos por meio de contratos de trabalho temporários e renováveis por até dois anos.

A maior dificuldade enfrentada pela gestão poços caldense, entre os anos de 2004 e 2008, na consolidação das equipes mínimas dos CRAS, tratou-se da não autorização do governo municipal para a realização de concurso público. O vínculo efetivo dos trabalhadores do SUAS garante a continuidade dos serviços socioassistenciais, que, por sua vez, se encontrava devidamente prevista pela nova política de assistência social.

Dificuldades como essas são oriundas, essencialmente, das transformações contemporâneas no mundo do trabalho. Ao sistema capitalista convém a flexibilização dos contratos de trabalho, já que a acumulação é ampliada no advento de um novo modo de produção (ANTUNES, 2011). A flexibilização possui como característica central a terceirização e precarização nos vínculos trabalhistas. Diante disso, diminuem- se, bruscamente, os números empregos formais e aumentam-se, substancialmente, os postos de trabalhos informais, como ocorreu na forma com as quais as contratações de psicólogos ocorreram em Poços de Caldas. A flexibilização promove retrocessos aos avanços conquistados pelas lutas dos trabalhadores organizados por melhores condições de trabalho, com a Consolidação das Leis Trabalhistas.

Nas eleições municipais do ano de 2008, um novo prefeito foi eleito e por ele foi apontada uma nova gestora da assistência social poços caldense. Ela possuía graduação em Direito. No momento de sua nomeação, ela revelou que não tinha proximidade com a nova Política Nacional de Assistência Social, mas comprometeu-se

em familiarizar-se com as diretrizes. Deu-se, no transcorrer de sua gestão, especial atenção à participação popular. Observou-se também preocupações com a implantação do SUAS, algo que norteou sua conscientização acerca da importância dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) para a assistência social brasileira. A nova secretária optou por dar continuidade aos compromissos assumidos pela gestão anterior, no que dizia respeito à garantia da equipe mínima sugerida pela NOB/RH SUAS de 2006 para os quatro equipamentos sociais do município e à solução da problemática da estrutura física do CRAS/Oeste.

Apesar de não ter conseguido viabilizar o concurso público para a assistência social de Poços de Caldas, essa gestão instituiu as equipes mínimas em sua totalidade. Os psicólogos e os educadores sociais (profissionais de ensino médio) foram, no entanto, contratados de modo terceirizado, ou seja, por tempo determinado. Admitiram- se, também, alguns assistentes sociais por períodos temporários de trabalho. Em relação ao espaço físico inadequado do CRAS/Oeste, teve-se uma resolução no ano de 2012, quando finalmente o imóvel da prefeitura foi disponibilizado para a implantação desse equipamento social.

O cotidiano dos serviços socioeducativos dos CRAS em Poços de Caldas será retratado aqui de maneira sucinta e contextualizante. Como determinado pelas normativas do Ministério de Desenvolvimento de Social e Combate à fome (MDS), os CRAS de Poços de Caldas fica aberto ao público de segunda-feira à sexta-feira das 08:00hs às 17:00hs. Há sempre um profissional da Psicologia ou do Serviço Social em horário de funcionamento dos CRAS disponível para os atendimentos emergenciais. Nesse cenário, a rotina dos profissionais da Psicologia e do Serviço Social consiste, essencialmente, no acompanhamento familiar e nos serviços socioeducativos. Todas as atividades socioeducativas são desenvolvidas no espaço físico do próprio CRAS, a não ser quando os grupos são deslocados a outros lugares a fim de realizarem alguma ação esporádica, como, por exemplo, as gincanas culturais com os adolescentes que acontecem no parque municipal da cidade.

Os grupos que compõem os CRAS de Poços de Caldas são desenvolvidos com adolescentes, idosos e mulheres. Cada equipamento social é composto de três grupos de adolescentes, dois de mulheres e um de idosos, coordenado sempre por um

profissional da Psicologia ou do Serviço Social. Conta-se, ainda, com outro profissional de nível superior (assistente social ou psicólogo), um educador social e um estagiário. Os grupos são constituídos de no mínimo vinte e de no máximo quarenta participantes.

Cada grupo socioeducativo possui suas particularidades. O grupo dos adolescentes reúne-se quatro dias da semana. Enquanto idosos encontram-se uma vez por semana, as mulheres encontram-se também uma vez na semana. As temáticas também variam de acordo com as demandas de cada coletivo.

Os serviços socioeducativos para famílias são encontros periódicos organizados segundo planejamento prévio e metas a serem cumpridas, de modo a desenhar um percurso, com um conjunto de famílias agregadas em grupos, por meio de algum de seus membros que assume o papel de responsável. Esse serviço objetiva incentivar as famílias a discutir e refletir sobre as situações vivenciadas e interesses comuns que se referem à função protetiva das famílias, os direitos que as famílias e seus membros possuem, os meios de acessá-los e demais temáticas que possam fortalecer os vínculos familiares e comunitários. São exemplos de temáticas a serem abordadas: Direito à renda e direitos sociais. (MDS, 2013b, pp. 01-02).

No sentido de discutir ações que promovam a consolidação da direção coletiva nos serviços sociais e que se apresentem como um mecanismo de fortalecimento do protagonismo dos usuários na construção da assistência social brasileira far-se-á, no seguinte capítulo, um aprofundamento sobre o trabalho profissional do assistente social no Sistema Único de Assistência Social.

CAPÍTULO II - O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA PNAS: