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A PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL DO MUNICÍPIO DE POÇOS DE CALDAS - MINAS GERAIS MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

CHRISTIANE SHOIHI SATO

A PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL DO MUNICÍPIO DE POÇOS DE CALDAS -

MINAS GERAIS

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

SÃO PAULO

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

CHRISTIANE SHOIHI SATO

A PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL DO MUNICÍPIO DE POÇOS DE CALDAS -

MINAS GERAIS

MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como

exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE

em Serviço Social, sob a orientação da Professora

Doutora Rosangela Dias Oliveira da Paz.

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BANCA EXAMINADORA

______________________________________

______________________________________

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DEDICATÓRIA

À Vicente Shoihi Sato e Vânia Tadeu Pinho, meus amados pais. À Maria de Fátima Caldonazzo de Almeida, “boadrasta” e grande inspiradora.

À Vicente Shoihi Sato Júnior, Carolina Tadeu Bebiano de Oliveira, Lucas Tadeu Bebiano de Oliveira, Fernanda Caldonazzo de Almeida Sato e Ana Júlia Tadeu de Souza, meus irmãos e meus maiores amores.

A todos os amigos que me acompanharam no caminhar da construção deste trabalho, em especial, Mariana, Josi, Najila, Alba e Dani, meus sinceros agradecimentos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Vicente e Vânia, a quem devo muito por todos os ensinamentos que me repassaram.

À Fatinha, que me acompanhou durante grande parte da vida, tornando-se peça fundamental nas escolhas que decidi tomar, obrigada por tudo.

Aos meus cinco irmãos, por todos os aprendizados compartilhados, vocês são meus maiores amores.

Aos amigos e amigas, que fizeram parte desta trajetória comigo e me ajudaram na construção deste trabalho.

À orientadora deste trabalho, Rosangela Dias Oliveira da Paz, que com muita paciência, atenção e competência, contribuiu pessoal e profissionalmente para a elaboração desta dissertação.

À todos os professores e professoras do programa de pós-graduação da PUC-SP. Em especial, à professora Rachel Raichelis, por quem tenho um inexplicável sentimento de afeto e gratidão. E, também, à professora Abigail Torres pelas profícuas contribuições direcionadas a esse trabalho no exame de qualificação.

Aos sujeitos que participaram dessa pesquisa, pela disponibilidade em participar das entrevistas e possibilitar a troca de conhecimentos, momento único que me fez aprender muito.

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RESUMO

A investigação da presença da participação popular nos serviços socioassistenciais oferecidos pelos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e a contribuição do trabalho do assistente social nesse processo constituem o foco da presente pesquisa. Fundamentado na experiência profissional da pesquisadora nos CRAS de Poços de Caldas e em sua estreita relação com a temática em questão, o objetivo desse estudo é a apreensão do lugar da participação na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e da contribuição da atuação dos profissionais de Serviço Social no fortalecimento e no estimulo da participação da população na construção da política de assistência social, por meio dos serviços socioeducativos. Para tanto, além de pesquisa bibliográfica realizada sobre o objeto proposto, esse trabalho apoiou-se em metodologia qualitativa através do desenvolvimento de entrevistas individuais semi-estruturadas com assistentes sociais e usuários inseridos nos Centros de Referência de Assistência Social do município de Poços de Caldas. Como parte dos resultados da pesquisa, destacam-se: 1. a importância da gestão municipal da política de assistência, no sentido de garantir a materialização do direito da participação popular; 2. a necessidade de que o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) ofereça subsídios capazes de concretizar a participação da população enquanto serviços socioassistenciais; 3. - o esforço dos assistentes sociais inseridos em Poços de Caldas com a consolidação do protagonismo dos usuários; 4. a identificação de entraves para a efetivação de uma direção coletiva nos serviços socioeducativos dos equipamentos sociais da proteção social básica do município analisado.

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ABSTRACT

The investigation of the presence of popular participation in the socio-assistance services offered by the Reference Centers for Social Welfare (CRAS) and the contribution of the social worker practice to this process constitute the focus of the present research. Based on the professional experience of the researcher at Poços de Caldas’ CRAS and her close relation to the thematic in question, this study aimed to apprehend the place that the National Social Assistance Policy (PNAS) occupies and the contribution of Social Services professionals to strengthen and stimulate popular participation in the construction of the social assistance policy through socio-educative services. Therefore, in addition to the literary survey on the aimed object, the research was established on qualitative methodology by conducting semi-structured interviews with social workers and users who are placed on the Reference Centers for Social Welfare at the municipality of Poços de Caldas. As a part of the research results, it was figured: 1 - the importance of the municipal management for the social assistance policy when it comes to the guarantee of the right to popular participation; 2 - the necessity of subsides offered by the Unified System of Social Assistance (SUAS) that are capable of implementing the popular participation as an socio-educative service; 3 - the effort of the social workers placed at Poços de Caldas to consolidate the protagonism of its users; 4 - the identification of impediments to the realization of a collective direction to the social equipment of basic social protection in the socio-educative services at the analyzed municipality.

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LISTA DE SIGLAS

ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CFESS – Conselho Federal de Serviço Social

CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social

CRESS – Conselho Regional de Serviço Social

LOAS – Lei Orgânica da Assistência Social

NOB\SUAS – Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social

PAIF – Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família

PT – Partido dos Trabalhadores

PEP – Projeto Ético Político do Serviço Social

PNAS – Política Nacional de Assistência Social

SCFV – Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados Físicos e Demográficos do município de Poços de Caldas – MG.

Tabela 2 – Renda, Pobreza e Desigualdade em Poços de Caldas – MG.

Tabela 3 – Porcentagem da renda apropriada por extratos da população em Poços de Caldas – MG.

Tabela 4 – Dados do Censo SUAS 2010 sobre o CRAS.

Tabela 5 – Formação de equipes mínimas nos CRAS de Poços de Caldas – MG, entre os anos de 2004 e 2008.

Tabela 6 – Espaços possíveis de fortalecimento dos serviços.

Tabela 7 – Excertos de entrevistas sobre as reivindicações das demandas dos usuários dos CRAS de Poços de Caldas – MG.

Tabela 8 – Excertos de entrevistas sobre a participação dos usuários do SUAS de Poços de Caldas – MG nos temas trabalhados no cotidiano dos serviços socioeducativos.

Tabela 9 – Excertos de entrevistas sobre a compreensão dos sujeitos do PNAS e do CRAS.

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SUMÁRIO

CAPÍTULO I - POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, SERVIÇOS

SOCIOEDUCATIVOS E IMPLANTAÇÃO DOS CRAS EM POÇOS DE CALDAS MG

... 22

1.1. Da Política Nacional de Assistência Social ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos ... 22

1.2. Poços de Caldas – MG: o processo de implantação dos Centros de Referência de Assistência Social ... 39

CAPÍTULO II - O TRABALHO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA PNAS: CONTRIBUIÇÕES PARA O FORTALECIMENTO DA PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO ... 48

2.1. O Serviço Social na Divisão Sociotécnica do Trabalho ... 48

2.2. O Trabalho do Assistente Social na Política Nacional de Assistência Social ... 57

2.3. Os Serviços Socioeducativos e o Trabalho Social no SUAS ... 69

CAPÍTULO III – ASSISTÊNCIA SOCIAL E PARTICIPAÇÃO POPULAR: ... 83

3.1. A Participação Popular no Sistema Único de Assistência Social ... 83

3.2. O Lugar do Protagonismo dos Usuários nos Serviços Socioeducativos de Poços de Caldas ... 95

3.3. A Visão dos Usuários sobre os Espaços Participativos na Assistência Social ... 105

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 119

REFERÊNCIAS ... 126

APÊNDICE A... 134

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INTRODUÇÃO

A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva desabroche

MARX

O tema da participação popular na Política Nacional de Assistência Social (PNAS) e seu fortalecimento a partir dos serviços socioeducativos desenvolvidos nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) do município de Poços de Caldas, com substancial contribuição do trabalho profissional do assistente social inserido nessa área de atuação, contém um grau de complexidade que exige uma análise mais aprofundada dos seus significados. A participação popular, por não se apresentar inerente à cultura da população brasileira, necessita ser estimulada para que se expresse em sua concretude. Para tanto, acredita-se aqui que os serviços socioeducativos desenvolvidos no CRAS têm o potencial de serem viabilizadores e difusores da ideologia da cultura de direitos. Uma vez focados no alargamento da participação dos usuários nos espaços decisórios das políticas públicas e, ainda, das instâncias de decisões da totalidade da sociedade do qual fazem parte, estes serviços tornam-se ferramentas fundamentais à efetivação do exercício dos poderes econômicos, culturais, políticos e sociais por aqueles que são socialmente explorados.

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dividiram-se em Proteção Social Especial e Proteção Social Básica, sendo esta última o foco dessa pesquisa, uma vez que as entrevistas foram realizadas com os usuários e profissionais inseridos nos CRAS - o principal equipamento da atenção básica do país.

O município de Poços de Caldas, pertencente ao Estado de Minas Gerais, tornou-se relevante a este estudo por ser o local de trabalho da pesquisadora. Os CRAS poços caldenses passaram a ser um lócus privilegiado para as reflexões suscitadas sobre a participação popular nos serviços socioassistenciais e sua relação com o trabalho profissional dos assistentes sociais.

Em consonância com a Política Nacional de Assistência Social, Poços de Caldas trata-se de um município de grande porte1, possuindo quatro unidades dos CRAS. A economia da cidade está profundamente atrelada ao turismo e às indústrias de exploração de jazidas de bauxita, fontes de renda essenciais à receita municipal durante décadas. No âmbito da política pública de saúde, o município tornou-se referência para 64 municípios sul mineiros circunvizinhos.

Historicamente existe em Poços de Caldas um número substancial de famílias ricas, que influenciaram em demasia a construção da assistência social no município, disseminando a cultura da benemerência no trato com os pobres. Era comum que as mulheres ricas da cidade fossem indicadas para o comando das instituições não governamentais, característica marcante da assistência social poços caldense.

A participação popular, objeto central para este trabalho, expandiu-se na sociedade brasileira, a partir dos anos de 1980, em um contexto de luta em favor da democracia e da ampliação das políticas públicas. Todavia, como face da mesma moeda, serviu também como mecanismo de resolução das crises sociais ao possibilitar a participação dos cidadãos nos processos de elaboração e gestão das políticas sociais locais, sendo essa a reposta possível do Estado à crise do bem-estar.

Com a instauração da Constituição de 1988, um marco para a democracia brasileira, o tema em questão é assegurado em suas linhas, garantindo o reconhecimento da participação dos usuários e da condição dos demandantes da assistência social enquanto sujeito de direitos, tendo como principais instâncias os

1 A NOB/SUAS 2005 estabeleceu os portes dos municípios da seguinte forma: Pequeno porte

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Conselhos participativos e as Conferências. Este avanço foi um reflexo das lutas sociais da classe trabalhadora e dos movimentos sociais, surgindo um novo paradigma atrelado à universalização do acesso, à descentralização, à municipalização e a participação popular nas políticas públicas do país.

No âmbito da assistência social brasileira o grande desafio consistiu em se tornar política pública e de instituir um sistema de gestão democrático e participativo. Com a inclusão da assistência social no capítulo da Seguridade Social e a partir da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), o percurso de construção desta política tem afirmado uma concepção de direitos e de proteção social.

Nessa esteira, a aposta aqui apresentada condiz com a contribuição dos serviços socioeducativos no fortalecimento e consolidação da participação na PNAS, onde o trabalho profissional do assistente social possa dar luz e concretude a esse processo. Para tanto, buscou-se respostas às indagações: A PNAS e o SUAS tem concretizado o direito dos usuários à participação popular? Os serviços estão voltados à emancipação, no sentido da autonomia dos sujeitos, sendo desenvolvidos para este fim? Os assistentes sociais têm priorizado, em sua atuação profissional cotidiana, os espaços de discussões política com os usuários? Qual deveria ser o conteúdo do trabalho social com famílias e indivíduos, sem que o resultado seja a disciplinarização dos mesmos? Como implantar uma direção coletiva ao trabalho social com as famílias dos CRAS? O assistente social está, nesse contexto, fazendo uso de estratégias profissionais para firmar a importância da participação popular?

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nos instrumentaliza, mas não nos equipa para trabalhar, na plenitude que buscamos”. (MARTINELLI, 1999, p. 21). Além disso, a pesquisa qualitativa privilegia o contato do pesquisador com os sujeitos de pesquisa e suas expressões cotidianas, possibilitando a observação de sua dinâmica real a fim de extrair-se dela as determinações fundamentais que as constitui.

Com este intuito, as entrevistas semiestruturadas foram utilizadas como um meio de confirmação ou de refutação do seguinte pressuposto: a PNAS de 2004 e o trabalho do assistente social inserido no SUAS têm se direcionado no sentido da concretização da participação popular por meio dos serviços socioeducativos ofertados pelos CRAS. A escolha pelo tipo semiestruturado de entrevistas previamente elaboradas e direcionadas para o problema e a hipótese de pesquisa permitiu que houvesse brechas e flexibilidade, a fim de que o contato entre entrevistado e entrevistador primasse pelo espaço da troca de saberes, experiências e valores, como exige uma pesquisa qualitativa. Após o registro das entrevistas com o áudio, por meio de um gravador, realizou-se a transcrição das respostas dos profissionais e usuários, para, em seguida, desenvolver a análises dos dados coletados, sem perder de vista o referencial teórico escolhido para a realização deste trabalho.

O universo dos entrevistados perfaz um total de doze pessoas, sendo quatro assistentes sociais inseridos nos CRAS2 do município de Poços de Caldas e oito usuários3 do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), sendo quatro no grupo de adolescentes4 e as outras quatro no grupo de mulheres5, segmentos escolhidos por serem os grupos mais consolidados na política de assistência social

2 Realizou-se entrevistas com uma assistente social dos quatro Centros de Referência de

Assistência Social do município de Poços de Caldas.

3 Realizou-se entrevistas com um usuário adolescente e uma mulher de cada CRAS da cidade

poços caldense, perfazendo um total de oito entrevistados, dois de cada CRAS.

4 A consolidação do grupo de adolescentes na assistência social do município de Poços de

Caldas vai além de suas exigências legais, já que são assegurados pelas normas e diretrizes da Política Nacional de Assistência Social. Todavia, o trabalho com adolescentes na assistência social da cidade acontecia antes mesmo da regulamentação da nova política pública.

5 Assim como o segmento dos adolescentes, a assistência social poços caldense realiza o

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poços caldense. Das quatro profissionais assistentes sociais, todas eram do sexo feminino, com idade entre 31 anos e 37 anos. Elas trabalham nos CRAS de cinco a dez anos, têm vínculos empregatícios e são concursadas. Todas elas possuem pós-graduação, com temáticas voltadas à gestão das políticas públicas e são formadas entre os anos de 2004 a 2008.

Ressalta-se o fato de que as entrevistas concedidas não serão anexadas a essa dissertação, já que para as análises foram feitos os recortes necessários para o desenvolvimento desse trabalho. Sendo assim, apresentam-se, no corpo do presente texto, as falas viabilizadoras das análises e interpretações realizadas. Optou-se, também, resguardar a identidade dos entrevistados: denominamos as profissionais de Assistente Social 1, Assistente Social 2, Assistente Social 3 e Assistente Social 4 e os usuários foram referidos de Adolescente 1, Adolescente 2, Adolescente 3, Adolescente 4, Mulher 1, Mulher 2, Mulher 3 e Mulher 4.

A análise dos dados teve por base pesquisa bibliográfica e documental, além das reflexões sobre o conteúdo das disciplinas cursadas, os debates travados em eventos e demais atividades que acompanharam o desenvolvimento dessa pesquisa. Com os dados levantados em mãos, buscaram-se respostas para o nosso problema de pesquisa, um caminho difícil e complexo de correlação entre os dados da realidade e as várias produções teóricas que referendaram esse trabalho.

É importante afirmar que esse estudo fundamenta-se num perspectiva crítica. A teoria marxista é reveladora dos processos que engendram a exploração da sociedade burguesa. Ela desvela o antagonismo existente entre duas classes sociais, onde uma minoria de capitalistas se apropria da força de trabalho da maioria da população, em um processo incessante de aviltamento do trabalho dos trabalhadores. Essa teoria é capaz, ainda no século XXI, de revelar a essência dos novos processos sociais, que mudam de acordo com as necessidades da classe dominante em cada momento da história. Se obsoleta fosse, não causaria tanto temor e polêmica nos diferentes estágios de dominação do capital.

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presente das relações de produção. Na atualidade, o fenômeno da globalização fez com que os problemas sociais fossem subjetivados. A ideologia da classe dominante de que os entraves para o desenvolvimento social encontram-se nas famílias e indivíduos exacerbam a falsa noção de que com esforço e dedicação as pessoas conseguirão se desenvolverem plenamente.

Dessa maneira, torna-se evidente que a teoria marxista é atual, pois assenta seu método articulado com a realidade, desvendando o que está posto nas relações sociais. Boron (2006) sinaliza três aportes centrais do marxismo que explicam a sempre atualidade de seu método: a visão de totalidade, o historicismo e a relação entre teoria e práxis. A totalidade:

Não é a primazia dos motivos econômicos na explicação histórica o que constitui a diferença decisiva entre o marxismo e o pensamento burguês, e sim o ponto de vista da totalidade. A categoria de totalidade, a penetrante supremacia do todo sobre as partes, é a essência do método que Marx tomou de Hegel e brilhantemente o transformou nos alicerces de uma nova ciência.

(LÚKAS, 1971 apud BORON, 2006, p.47).

O princípio da totalidade emerge em contraposição ao pensamento burguês que sempre primou pela fragmentação e pela reificação das relações sociais. A sociedade burguesa compreende a cultura, a política e a economia de maneira fragmentada, como esferas separadas e diferentes da vida social.

Em contraposição, sustenta Lúkacs (1971 apud BORON, 2006, p.47) que:

A dialética afirma a unidade concreta do todo, o qual não significa, no entanto,

fazer tabula rasa com seus componentes o reduzir “seus vários elementos a

uma uniformidade indiferenciada, à identidade. Lúkacs está certo quando afirma que os determinantes sociais e os elementos em operação em qualquer formação social concreta são muitos, mas a independência e autonomia que aparentam ter é uma ilusão, posto que todos se encontram dialeticamente relacionados entre si.

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Marx sintetizou sua visão não determinista do processo histórico quando prognosticou que, em algum momento de seu devir, as sociedades capitalistas

deveriam enfrentar o dilema de ferro engendrado por elas mesmas: “socialismo ou bárbarie. Não há lugar em sua teoria para “fatalidades históricas” ou “necessidades inelutáveis” portadoras do socialismo com independência da

vontade e da eficiência das iniciativas dos homens e mulheres que constituem uma sociedade. (BORON, 2006, p.48-49).

O terceiro e último aporte tratado por Boron (2006) diz respeito à relação da teoria e práxis, no sentido da recuperação e da vitalidade da teoria marxista nas ciências sociais. O autor destaca que Marx, ao decifrar as obscuras relações do modo de produção capitalista, o fez justamente como possibilidade de superação dessa ordem, pois ele idealizava um sistema mais justo. E é exatamente essa junção da teoria marxista com os movimentos sociais e as forças políticas, o maior desafio posto na atualidade.

O presente trabalho não faria uso de métodos que negam a existência da divisão de classes presente na sociedade, por entender que, embora a contemporaneidade esteja perpassada por novos fenômenos, não houve transformação capaz de romper essa estrutura social. Não se concorda que o marxismo esteja superado, o que não significa descreditar as demais ideias e o necessário debate teórico para se galgar avanços nas produções científicas.

Diante do exposto, o caminho que se propõe para o desenvolvimento desta pesquisa assenta-se na teoria marxista e em seu método dialético, por entender-se que a construção do conhecimento acontece de modo processual e dialético. O sujeito-pesquisador parte de uma compreensão pré-existente para apreender analiticamente as lacunas que o estudo visa preencher, compreendendo as determinações de seu objeto de investigação sob o prisma de determinado aporte teórico-metodológico.

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Cabe insistir na perspectiva crítica de Marx em face da herança cultural de que

era legatário. Não se trata, como pode parecer a uma visão vulgar de “crítica”,

de se posicionar frente ao conhecimento existente para recusá-lo ou, na melhor

das hipóteses, distinguir nele o “bom” do “mau”. Em Marx, a crítica do

conhecimento acumulado consiste em trazer ao exame racional, tornando-os conscientes, os seus fundamentos, os seus condicionamentos e os seus limites

– ao mesmo tempo em que se faz a verificação dos conteúdos desse conhecimento a partir dos processos históricos reais (NETTO, 2009, p. 672).

Portanto, partindo da realidade concreta e emerso num processo de abstrações e de aproximações das determinações, das relações e da processualidade histórica acerca do objeto proposto, o pesquisador volta-se à realidade após desvendá-la em sua complexa totalidade.

O método aqui eleito supre a necessidade dessa investigação porque suas categorias essenciais não partem do pensamento do pesquisador, mas, sim, da realidade concreta para, então, serem reproduzidas no pensamento.

Marx (1978, p. 116) diz que:

[...] o concreto é concreto porque é síntese de múltiplas determinações, isto é, unidade do diverso. Por isso o concreto aparece no pensamento como o processo da síntese, como resultado, não como ponto de partida efetivo e, portanto, o ponto de partida também da intuição e da representação.

A utilização desse referencial teórico conteve, entretanto, algumas limitações, essencialmente, o pouco tempo6 para a realização dessa pesquisa. Essas restrições foram, em certa medida, supridas pelas valiosas orientações da Prof.ª. Dr.ª Rosangela Dias Oliveira da Paz, durante todo o período de construção deste trabalho, e pelas contribuições, não menos importantes, de Abigail Silvestre Torres e Rachel Raichelis Degenszajn, que participaram da banca de Exame de Qualificação, fazendo apontamentos fundamentais para a sua conclusão.

A realização dessa investigação ancorou-se na vontade de apreender o lugar da participação popular na realidade cotidiana de atuação dos assistentes sociais inseridos no SUAS do município de Poços de Caldas. A principal motivação para o desenvolvimento dessa pesquisa foram os vários questionamentos elaborados pela

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pesquisadora durante a sua experiência profissional vivenciada nos CRAS instalados em solo poços caldense. A inquietação mais pungente da pesquisadora assentou-se na enorme dificuldade em garantir se que a participação popular fosse tratada de forma sistemática e cotidiana nos serviços socioeducativos ofertados pelos Centros de Referência em questão. Um cenário que vai de encontro, em alguma medida, aos princípios éticos políticos do Serviço Social7 e à própria PNAS/2004 que assegura a participação da população como um direito social.

No que concerne à importância dessa dissertação no campo da produção teórica, acredita-se que esse estudo poderá contribuir para os debates acerca da atuação profissional e do complexo desafio de concretizar o fortalecimento e a consolidação da participação popular. Espera-se, assim, que esse ensaio contribua fundamentalmente para os assistentes sociais e os demais atores da assistência social brasileira, no sentido de propor reflexões críticas sobre a operacionalização do trabalho social com as famílias e com os indivíduos inseridos nos serviços socioeducativos dos CRAS na perspectiva do protagonismo popular.

O objetivo geral da pesquisa é investigar as expressões da participação popular por meio da apreensão que os trabalhadores assistentes sociais e os usuários da política pública de assistência social de Poços de Caldas possuem dos espaços participativos dessa política e de seu protagonismo na construção da mesma. Vislumbra-se, ainda, estudar os significados da participação popular e suas configurações na atualidade; identificar a presença ou não da participação da população no trabalho social realizado na assistência social poços caldense; situar a disputa em torno das políticas sociais brasileiras e os marcos legais que as regulamentam; e compreender a contribuição do trabalho profissional do assistente social inserido no SUAS no fortalecimento da participação dos usuários nos espaços de decisão das políticas públicas.

O texto que se apresenta foi estruturado da seguinte forma: o primeiro capítulo intitulado de “Política Nacional de Assistência Social, serviços socioeducativos e

7 Ferem os princípios profissionais dos assistentes sociais de se colocarem na defesa da

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implantação dos CRAS em Poços de Caldas”, contextualiza a política de assistência social brasileira, destacando os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e apresenta o processo de implantação dos Centros de Referência de Assistência Social do município de Poços de Caldas.

Buscou-se demonstrar, por meio das principais diretrizes, normativas, legislações e documentos, o compromisso da nova política de assistência social com a participação popular. Procurou-se, ainda, retratar a relevância que os SCFV possuem no momento de criação e de execução dos grupos onde serão desenvolvidas as ações socioeducativas do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF).

O segundo capítulo denominado de “O trabalho profissional do assistente social na PNAS: contribuições para o fortalecimento para a participação do usuário” desenvolve uma reflexão sobre o trabalho profissional do assistente social inserido no estatuto assalariado, com a principal finalidade de situar a profissão na divisão sociotécnica do trabalho, pois os reflexos dessa inserção produzem inúmeros desafios aos trabalhadores, como, as condições precárias e flexíveis de trabalho. Infere-se sobre o trabalho profissional do assistente social na Política Nacional de Assistência Social e nos serviços socioeducativos, tendo como intenção evidenciar o esforço dessa categoria em construir ferramentas e instrumentos que vão ao encontro dos princípios e das diretrizes do SUAS, em consonância com o seu Código de Ética. Buscou-se também a identificação das dificuldades encontradas nessa trajetória. Para tanto, desenvolveram-se as análises das entrevistas realizadas com as quatro assistentes sociais dos CRAS do município de Poços de Caldas.

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própria PNAS, ao Centro de Referência de Assistência Social, aos Conselhos e Conferências.

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CAPÍTULO I - POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, SERVIÇOS

SOCIOEDUCATIVOS E IMPLANTAÇÃO DOS CRAS EM POÇOS DE CALDAS – MG

1.1. Da Política Nacional de Assistência Social ao Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

A regulamentação de políticas sociais pautadas nos princípios democráticos e na perspectiva dos direitos sociais principiou-se na Constituição de 1988. A Assembleia Constituinte introduziu a política de assistência social como uma política pública de Seguridade Social ao lado da Saúde e Previdência. Outra proposição que se destacou foi a ampliação do público usuário da assistência social: no artigo 203 da Constituição Federal de 1988 determinou-se que: “a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de contribuição à seguridade social”. Somado a isso, regimentou-se a criação de orçamento próprio para tal política, fazendo com que esta se fundamentasse na descentralização político-administrativa, bem como na participação da população na formulação e controle de suas ações. Salienta-se que as mudanças citadas se tornaram realizáveis por conta de intensa mobilização popular que reivindicava o fim da ditadura militar.

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A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) foi subscrita em 2004, após ser deliberada pela IV Conferência Nacional de Assistência Social realizada em Brasília em 2003. Foi necessário, para tanto, um longo processo de debates e de lutas por parte de diversos segmentos da sociedade, onde a categoria dos assistentes sociais teve forte participação, junto é claro com os movimentos sociais, instituições e sociedade civil. A elaboração do PNAS condiz com uma clara tentativa de se redesenhar a política de assistência social no país, visando a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) em todo território brasileiro. Não fosse a articulação entre representantes do governo, sociedade civil e usuários da assistência social, a PNAS não teria sido concebida, tampouco aprovada.

A partir das mudanças ocorridas na PNAS/2004, uma nova linguagem de reconhecimento e efetivação passou a comandar e construir a identidade da assistência social em todo o país (SPOSATI, 2011). É relevante denotar outras ações governamentais que produziram mudanças no campo da política de assistência social. O marco político para tais iniciativas costuma ser estabelecido na entrada do Partido dos Trabalhadores (PT) no poder, em 2003. Entre as principais, sobressaem-se: (1) a aprovação da NOB/SUAS 2005, (2) a formulação da Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais em 2009, (3) a implantação dos Centros de Referência de Assistência Social – CRAS, e (4) a constituição dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social – CREAS.

Em meio a tantas novidades, considera-se oportuno registrar a mudança do público-alvo da nova política de assistência social do país. O público usuário da assistência social passa a ser constituído em consonância com a PNAS/2004 por:

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Na mesma direção, a NOB-SUAS determina que os usuários da assistência social são os cidadãos e os grupos em condição de vulnerabilidades e de riscos, sendo que, as vulnerabilidades são em grande parte causadas pelo lugar social que esses indivíduos ocupam. Essas pessoas e famílias se comunicam com instâncias do SUAS na “condição de beneficiários pois não estão constituídos em corpus políticos, dotados de representatividade.” (CAMPOS, 2009, p. 22). Os Centros de Referência de Assistência Social recebem diariamente um número expressivo de “pessoas pobres, sem rendimento regular, sem profissão que os credencie a disputar vagas na classe social que integram, além de enfrentarem as piores e mais frequentes circunstâncias de riscos sociais”. (Id., 2009, p. 22)

É importante salientar que o universo em que sobrevivem estes usuários é marcado pela pobreza, pela exclusão e pela subalternidade. Muitas vezes são alvos de velhos preconceitos, provenientes de uma sociedade que os desqualifica e que os rotula como inaptos e/ou marginais. Como consequência disso, inúmeros usuários parecem ter vergonha de precisar da assistência social. Muitos ainda a consideram como uma ajuda e não, como um direito.

Os avanços decorrentes da consolidação da LOAS podem ser expressos, essencialmente, pela responsabilização do Estado na oferta da assistência social a quem dela necessite, pelo aumento do gasto público com tal política e pela descentralização por intermédio de várias secretarias espalhadas pelo país. A despeito dessas melhorias, o desafio mais urgente colocado defronte à nova Política Nacional de Assistência Social diz respeito ao processo de implementação do SUAS, ao aperfeiçoamento da descentralização e intersetorialidade com as demais políticas, à sua gestão democrática, ao seu cofinanciamento, à qualificação dos quadros de seus profissionais, ao monitoramento e à avaliação das atividades e ao controle social.

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mais de uma década de lutas e de reivindicações das categorias profissionais, dos sujeitos coletivos e dos movimentos organizados da sociedade civil.

Entre as inovações, na área da assistência social brasileira, que a PNAS/2004 inaugurou, a citar a sua territorialização, o seu modo de organização, a sua forma de inserção na Seguridade Social, destaca-se aqui, pela centralidade que deriva para este trabalho, o campo dos serviços socioassistenciais. A definição dos direitos socioassistenciais foi produto de um debate nacional que precedeu a V Conferência Nacional de Assistência Social, na cidade de Brasília em 2005. Isto representou um substancial avanço para aqueles que apreendem a assistência social como um campo potencial para além da acomodação de conflitos, referenciando-a em um processo de disputa política pelo excedente econômico historicamente expropriado dos cidadãos. Esta conferência aprovou o decálogo dos direitos socioassistenciais que “devem ser patamares assegurados das mais diversas formas de explicitação da política de assistência social” (COUTO, 2007, p.23). Sobre esses novos princípios, compreende-se que:

A clarificação do que se propõe a defender o decálogo dos direitos socioassistenciais constitui-se em tarefa para toda a sociedade brasileira, pois na perspectiva da universalização da assistência social, os direitos devem ser pensados como direito de todos. Direitos que se inscrevem na proteção social não contributiva, produto de um pacto social que reconhece que as dificuldades da população para viver com dignidade e para enfrentamento da questão social, nas suas mais diversas expressões, devem encontrar acolhida no sistema de proteção social brasileiro, que a partir de 1988 foi consagrado como direito de cidadania e dever do Estado. (Ibid., p. 24).

O desafio que se impôs, a partir do decálogo, foi o de elaborar e, posteriormente, o de enriquecer, com o debate teórico-político, os rumos da reorganização e da prestação dos serviços socioassistenciais a serem prestados pelos Centros de Referência de Assistência Social, com maior sintonia com os pressupostos democráticos que a área social requer. Nesse sentido:

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desafio de formulação e implantação de inovadoras e transformadoras metodologias de trabalho socioassistencial, que possam subsidiar o atendimento das equipes multidisciplinares integrantes dos novos espaços governamentais do SUAS, notadamente os Centros de Referência da Assistência Social, distribuídos nos territórios socialmente mais demandantes de todas as cidades brasileiras. (PAIVA, 2006, pp.04-05).

Elucidados os objetivos e as propostas do decálogo dos direitos socioassistenciais, considera-se oportuna a sua apresentação, já que foram eles os principais direitos a serem afiançados pela nova Política Nacional de Assistência Social:

(1) Todos os direitos de proteção social de assistência social, consagrados em lei para todos; (2) Direito de equidade rural-urbana na proteção social não contributiva; (3) Direito de equidade social e de manifestação pública; (4) Direito à igualdade do cidadão e cidadã de acesso à rede socioassistencial;(5) Direito do usuário à acessibilidade, qualidade e continuidade; (6) Direito a ter garantida a convivência familiar, comunitária e social; (7) Direito à proteção social por meio da intersetorialidade das políticas públicas; (8) Direito à renda; (9) Direito ao cofinanciamento da proteção social não contributiva; (10) Direito ao controle social e defesa dos direitos socioassistenciais. (MDS, 2004a, pp. 01-02)

Ao se tratar de direitos sociais como baliza da relação pública entre o Estado e seus cidadãos, é imprescindível a compreensão de que, na arena histórica onde se desenvolveram as políticas públicas brasileiras, a presença da garantia do acesso aos serviços e aos benefícios socioassistenciais como condição de direitos é muito recente. Ao contrário da conjuntura contemporânea, contexto histórico em que as políticas sociais brasileiras se assentaram podem ser caracterizados como um longo período de intensa relação de subalternidade. Houve um momento em que o acesso aos serviços afirmou-se na contramão da cidadania, estabelecendo a necessidade de comprovação da condição de subcidadania para que fossem acessados (COUTO, 2007, 34).

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Apesar do reconhecimento de progressos advindos da Constituição de 1988 no que toca à assistência social, é mister o entendimento de que os serviços socioassistenciais são produtos de uma conjuntura histórica, estando imbuídos do conservadorismo que, conforme Couto (2010, p. 166), tem tido presença sistemática no sentido de impossibilitar a explicitação, no conjunto da sociedade, de uma nova hegemonia assentada na política de assistência social como garantidora destes direitos. Não são incomuns expressões como “famílias desestruturadas”, “mães preguiçosas”, “os usuários são acomodados”8, entre outras, tanto no trabalho social com famílias9 dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), quanto no discurso de novos profissionais que trabalham com o acompanhamento familiar.

Não se ignora nessa formulação, que o conservadorismo não se faz presente apenas na assistência social do país, pois sabe-se que o pensamento conservador permeia as relações de toda a sociedade. Tampouco se pretende inferir que exista somente essa dimensão como campo de intervenção dessa política pública. A finalidade de problematizar as ações conservadoras na assistência social reside, essencialmente, na necessidade de superá-las (TORRES, 2013). Faz-se necessário, para tanto, o reconhecimento de sua presença:

Uma ampliação da leitura sobre o cotidiano da política permite atestar que, por vezes, o discurso do direito está impregnado de concepções a ele contraditórias e que, ao indicar os caminhos para assegurá-lo, percebem-se muito mais estratégias reducionistas e redutoras dos acessos. A falta de conhecimento e capacitação podem explicar parte dessas dificuldades. Todavia, o desconhecimento dos compromissos éticos-políticos dessa política, bem como a baixa adesão a eles, são provavelmente razões motivadoras de práticas conservadoras e desqualificadoras dos cidadãos usuários. (SPOSATI, 2013 apud TORRES, 2013, p.130).

Outro debate oportuno a este trabalho encontra-se na centralidade da temática família, que ganha destaque a partir da PNAS/2004, por ser considerada uma proposta inovadora. Em consonância com Paiva (2006), a latência deste tema tem, todavia, sufocado a questão da pobreza em sua dimensão estrutural. As atividades direcionadas

8 Salienta-se que autora do presente trabalho presenciou o uso destas expressões por colegas de

trabalho, no período em que trabalhou no CRAS de Poços de Caldas (MG), de 2007 até 2012.

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ao seu combate acabam, dessa maneira, desembocando em ações pulverizadas que não atacam a raiz do problema. Além de retirar as políticas sociais do viés coletivo no enfrentamento da questão social, remete-as a condutas de ajustamento de comportamentos individuais.

Acredita-se que uma estratégia promissora ao combate às ações reforçadoras da adequação comportamental dos sujeitos e das famílias assenta-se no compromisso profissional do assistente social com a emancipação e autonomia dos usuários. Ao inserirem-se nos serviços socioeducativos dos CRAS, esses profissionais devem, pois, estar ancorados em sua ética profissional e ainda na ética da PNAS e buscar, ainda, a ruptura com trabalhos profissionais que reforcem a lógica moralizadora e disciplinadora historicamente impregnada nas atividades desenvolvidas na assistência social brasileira.

Nas falas das assistentes sociais entrevistadas para a elaboração desta pesquisa, surgiu uma problemática importante no que concerne a centralidade familiar na política de assistência social. As profissionais relataram a existência de uma supervalorização no trabalho com famílias, diretriz proposta por esta política, em detrimento do fortalecimento da comunidade, que é deixado à deriva, pois poucas são as ações nessa direção. O reconhecimento da participação popular10 - considerando-a como um eixo central da política de assistência social, no sentido de ampliar o acesso da população aos poderes culturais, econômicos, sociais e políticos da sociedade, bem como a socialização do excedente produzido por meio dos direitos sociais, não pode se furtar do combate ao conservadorismo e da luta pelo estabelecimento de ações que fortaleçam direções coletivas.

Nesse caminho, este trabalho aponta os Centros de Referência de Assistência Social como um mecanismo capaz de desenvolver ações passíveis de ir além do atendimento das demandas individuais, sendo ainda comprometido em assegurar atividades que ultrapassem as práticas conservadoras enraizadas historicamente na

10 Considera-se oportuno registrar que a ideia de participação consubstanciada pela PNAS/2004 carrega

estreita relação com a de protagonismo, ou seja, de usuário ativo, sujeito de direitos, sendo capaz de “[...]

participar na definição de prioridades, normatização de critérios e acompanhamento das ações e não apenas se submeter a doação o que seria o mesmo que dizer de uma perspectiva passiva”. (BIONDI,

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construção dessa política pública. Esta aposta no CRAS se apoia no fato dele carregar, em sua concepção, um componente de ruptura com o modo conservador e benemerente de visualizar a assistência social no país.

Este equipamento social possui a função de gestão territorial da rede de assistência social básica, promovendo a organização e a articulação das unidades a ele referenciadas. Este Centro de Referência é, em outras palavras, uma porta de entrada dos usuários para os direitos socioassistenciais. Entende-se que:

O Centro de Referência de Assistência Social é uma unidade pública estatal descentralizada prevista pela PNAS, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada ao atendimento socioassistencial de famílias. O CRAS é o principal equipamento de desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica. Desempenha papel central no território onde se localiza ao construir a principal estrutura física do local, cujo espaço físico deve ser compatível com o trabalho social com famílias que vivem no seu território de abrangência e conta com uma equipe profissional de referência. (MDS, 2004b, p.19).

O principal serviço ofertado pelo CRAS é o Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família (PAIF). Seu objetivo consiste em fornecer trabalho de caráter continuado, centralizando no fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, e prevendo, também, o acesso das famílias referenciadas aos diversos direitos sociais. Com o objetivo de dar diretrizes para os trabalhos desenvolvidos no PAIF em novembro de 2009, foi lançada a Tipificação dos serviços socioassistenciais. Este documento tipifica os serviços de acordo com os seus níveis de complexidade, Proteção Social Básica e Proteção Especial de Média e Alta complexidade. Os serviços que compõem a proteção social básica são: “Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF; Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos e Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para pessoas com Deficiência e Idosas”. (MDS, 2009, p.03).

A este trabalho interessa, em particular, os serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, porque nele está assentado o público demandante dos serviços socioeducativos11 do PAIF. Estes são pensados e divididos nos segmentos atendidos pela PNAS/2004, tais como: idoso, deficiente físico, adolescentes e

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mulheres. A partir desses recortes, criam-se grupos para os quais se desenvolvem ações socioeducativas.

O trabalho socioeducativo pode viabilizar uma rica interação entre profissionais e usuários dos serviços socioassistenciais, haja vista que dos debates emergem demandas individuais que gradualmente se transformam em demandas coletivas. Ao passo que o grupo caminha, no sentido de ir desvelando os desafios e possibilidades do cotidiano da população referenciada, torna-se possível efetivar ações capazes de contribuir com o fortalecimento da participação popular e da cultura de direitos.

O Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) é ofertado na Proteção Social Básica e tem como principal finalidade complementar o trabalho social com famílias na prevenção da ocorrência de situações de vulnerabilidade e risco social. Este serviço funda-se em grupos, organizados a partir de percursos, de modo a garantir aquisições progressivas aos seus usuários, de acordo com o seu ciclo de vida. Essas ações deverão acontecer por meio:

Da criação de espaços de reflexão sobre o papel das famílias na proteção de seus membros; Do estímulo e orientação dos usuários na construção e reconstrução de suas histórias e vivências individuais e coletivas, na família e no território; Da organização por percursos, conforme as especificidades dos ciclos de vida; Das trocas culturais e de vivências; Do incentivo a participação comunitária, a apropriação dos espaços públicos e o protagonismo no território.

(MDS, 2013c, p.03).

A concepção deste serviço tem como premissa que os ciclos de vida familiar possuem estreita ligação com os ciclos de vida de desenvolvimento das pessoas que as compõem. Seu foco é a oferta de atividades de convivência e socialização, de modo a fortalecer vínculos e prevenir situações de vulnerabilidade e risco social.

Com a aprovação da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, o SCFV foi organizado por faixa etária com o objetivo de prevenir possíveis situações de risco inerentes a cada ciclo de vida. O SCFV está organizado nas seguintes faixas etárias: Crianças até 6 anos; Crianças e Adolescentes de 6 a 15 anos; Adolescentes e Jovens de 15 a 17 anos, Idosos e Mulheres.

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reordenamento dos SCFV. Buscava-se atingir a unificação das regras para a oferta qualificada dos serviços, através da uniformização da lógica do cofinanciamento federal e da possibilidade de planejamento da oferta dos serviços em consonância com a demanda local.

O reordenamento dos SCFV trouxe duas grandes inovações: o cofinanciamento dos serviços e a atribuição de liberdade aos gestores e profissionais na criação dos grupos no PAIF. A novidade do cofinanciamento conferiu autonomia aos municípios no uso do dinheiro para esses serviços. É mister salientar que, antes do reordenamento, as verbas oriundas aos SCFV deveriam ser gastas apenas com os idosos, adolescentes entre 15 a 17 anos e crianças e jovens advindos de trabalho infantil. Com o reordenamento dos serviços, o financiamento passou a ser destinado ao SCFV e não mais a segmentos pré-definidos. Assim, o recurso pôde ser usado por qualquer demanda de convivência e fortalecimento de vínculos que se apresentasse. Se os gestores julgarem necessário a criação de um grupo de mulheres no CRAS, por exemplo, o recurso poderá ser alocado para esse fim. No cenário da segunda inovação, a da liberdade que os gestores e profissionais passaram a ter na criação de grupos no PAIF, o reordenamento dos serviços tornou-se mais flexível: os profissionais poderão realizar um breve diagnóstico das demandas dos usuários dos serviços para o desenvolvimento de coletivos articulados com as necessidades reais da população.

A pesquisa sobre a assistência social brasileira, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2014, extensiva dos anos de 2009 até 2013, revela que, em 2013, havia 11.797 Centros de Convivência e Fortalecimento de Vínculos distribuídos em 3.065 municípios. Isto representa mais da metade do total de cidades do país, algo que configura um contraste considerável com o ano de 2009, quando estes centros haviam sido reportados por menos de um terço dos municípios.

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imprescindível, como define Paiva (2006), que se faça da participação popular seu eixo central.

O Serviço Social tem uma presença histórica na política de assistência social, mas é importante afirmar que não se confunde com a política. A contribuição da profissão tem relevância nos sentido de alinhá-la aos interesses dos trabalhadores. Concordando com Raichelis (2009), cabe aos assistentes sociais inseridos nos serviços socioeducativos dos SCFV:

Muito mais do que apenas a realização de rotinas institucionais, cumprimento de tarefas burocráticas ou a simples reiteração do instituído. Envolve o assistente social como intelectual capaz de realizar a apreensão crítica da realidade e do trabalho no contexto dos interesses sociais e da correlação de forças políticas que o tencionam; a construção de estratégias coletivas e de alianças políticas que possam reforçar direitos nas diferentes áreas de atuação (Saúde, Previdência, Assistência Social, Judiciário, organizações empresariais, ONGs, etc.) na perspectiva de ampliar o protagonismo das classes subalternas na esfera pública. (RAICHELIS, 2009, p. 428).

A proteção social básica, conforme estabelecido na LOAS e na PNAS, possui caráter preventivo, sendo seu escopo central o de antecipar e prevenir as situações de risco. Para tanto, cabe, essencialmente, aos profissionais e aos gestores, o conhecimento prévio do território, das famílias, das demandas sociais, do fortalecimento dos vínculos comunitários, dentre outros. Entende-se que: “além de provisões materiais a assistência social deve oferecer meios para o desenvolvimento ou (re)construção da cidadania e da autonomia, ou seja, necessidades que vão além da reprodução material da vida.” (MDS, 2013a, p39). É preciso atentar-se para o fato de que:

Ao operar na proteção aos riscos e vulnerabilidades, a assistência social adquiriu maior visibilidade pela oferta de provisões materiais e, sobretudo, por se ocupar de respostas emergenciais diante de contingências sociais, o que precisa ser revertido quando o que está em questão na proteção social básica é a sua dimensão de antecipação que previna possíveis ocorrências. (Id., 2013a, p.39).

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Municipais, além do Benefício de Prestação Continuada (BPC) - devem estar em concomitância com a prestação dos serviços socioassistenciais de qualidade, capazes de lidar e combater as graves dimensões e expressões da questão social.

Consolidou-se, a partir da PNAS de 2004, a urgência de desenvolvimento de serviços socioassistenciais realizados no âmbito da Proteção Social Básica de Assistência Social. Trata-se de uma demanda premente por serviços capazes de contribuir para a efetivação de projetos coletivos, processos participativos e, prioritariamente, a conquista do protagonismo e da autonomia de cada um dos membros das famílias do território (MDS, 2012b). Depreende-se dessa lógica o imperativo de que as experiências dos sujeitos precisam ser respeitadas e que, no entanto, as respostas encontradas devem ser dirigidas à busca de apoios e suportes públicos e não, ao próprio indivíduo, voltadas tanto para as razões de sua situação, quanto para todos os recursos oportunizados para modificá-la.

Ao se ofertar os serviços socioassistenciais, eles devem estar pautados nos princípios norteadores do trabalho social, que são o fortalecimento das potencialidades e das capacidades dos cidadãos e o empoderamento e a protagonismo social dos sujeitos. Ressalta-se que auferir protagonismo e mecanismos de empoderamento ao público atendido não é o mesmo que acreditar que o indivíduo deva, sem aporte algum, buscar soluções para seus problemas: o Estado não deve ser desonerado de suas responsabilidades. As árduas conquistas da forte organização e mobilização popular, cujos desdobramentos se veem na Constituição de 1988, fundaram-se justamente na necessidade de maior engajamento, intervenção e comprometimento do Estado.

Outro elemento fundamental da PNAS é a perspectiva territorial. Configura-se como um fator integrante para consolidação da assistência social enquanto política pública, de direito, por considerar a dinâmica socioterritorial presente nos diferentes municípios brasileiros.

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mentalmente pelos homens e mulheres ou representados por intermédio de seu imaginário. Na esteira da definição de território, Milton Santos (2000) concebe que o uso do território pelos sujeitos e a relação entre indivíduo e população aparecem de forma clara e contundente, vez que o território se constrói a partir de sua relação com as pessoas que o utilizam. A existência da indivisibilidade entre sujeitos e os espaços habitados por estes seria demonstrada por “uma particularidade extremamente fecunda quando se observa a intensa dinâmica das populações nos territórios”. (KOGA e RAMOS, 2004, p. 56). A matriz relacional entre território e políticas públicas representa uma nova dimensão que pode gerar novas diretrizes de gestão.

A vital relação entre o homem e o espaço em que ele vive reforça a noção de que os sujeitos devem apoderar-se e fazer uso do lugar onde moram. Isso supõe a participação dos indivíduos na construção da totalidade das relações sociais existentes nos locais que residem. E para tanto, aponta-se neste trabalho, os serviços socioeducativos ofertados no PAIF como uma instância capaz de estimular e fortalecer o protagonismo dos usuários da assistência social não só nas políticas públicas, mas também na sociedade em que fazem parte, incluindo aí, certamente os espaços de decisões do território em que vivem.

É salutar a apreensão de que a perspectiva territorial é designada para o espaço intermediário entre o privado (a casa) e o público. Desenvolve-se nesse lugar uma “sociabilidade básica”, mais ampla que as fundadas nas relações familiares, porém mais densa mais significativa e mais estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade do capital. (KOGA e RAMOS, 2004 apud MAGNANI, 1998, p.116). A saber:

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A Política Nacional de Assistência Social de 2004 assentou, em suas linhas, a territorialização como uma de suas diretrizes. Considerando a alta densidade populacional do Brasil e, ao mesmo tempo, seu grau de “heterogeneidade e desigualdade socioterritorial” presente entre os seus municípios, tal designação faz-se urgente e necessária. O princípio da “homogeneidade por segmentos na definição de prioridades de serviços, programas e projetos torna-se insuficiente frente às demandas de uma realidade marcada pela desigualdade social”. (MDS, 2004a, p. 41). Há uma clara solicitação para que se agregue a dinâmica demográfica - associada à dinâmica socioterritorial em curso - ao conhecimento da realidade.

Identificar as potencialidades e as fragilidades dos territórios possibilita aos agentes das políticas sociais intervirem com maior eficiência e qualidade na melhoria da vida dos cidadãos. O combate ao processo de exclusão social em curso só será viabilizado, segundo Koga (2003), pela disputa relacional da política pública entre a sociedade civil e seu governo. Pensar a política social, a partir do território, exige, ainda, um exercício de revisão do contexto histórico, do cotidiano e do universo cultural da população que nele vive. Para a “perspectiva de totalidade, de integração entre os setores para uma efetiva ação pública” é necessária a “vontade política de fazer valer a diversidade e a inter-relação das políticas locais”. (KOGA, 2003, p. 25).

Grosso modo, o uso da territorialização na assistência social centraliza-se na garantia de uma melhor qualidade de vida para a população, ampliando os recortes setoriais em que, tradicionalmente, se fragmentavam as políticas públicas brasileiras. “Ao invés de metas setoriais a partir de demandas ou necessidades genéricas” (MDS, 2004a, p. 42), trata-se de identificar os problemas concretos, as potencialidades e as soluções por meio de recortes territoriais que identifiquem conjuntos populacionais em situações similares. Posterior a isso, devem ocorrer intervenções das políticas públicas no sentido de promover impactos positivos na vida dos cidadãos de direitos.

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podendo ser maximizados à quantia de quarenta partícipes. Desenvolvem-se, geralmente, em agrupamentos de mulheres, adolescentes, idosos e deficientes, na presença dos profissionais responsáveis da assistência social e/ou da psicologia, dos educadores sociais e dos estagiários. Importa considerar que cada socioeducativo possui suas particularidades. As temáticas variam de acordo com as demandas de cada coletivo:

Os serviços socioeducativos para famílias são encontros periódicos organizados segundo planejamento prévio e metas a serem cumpridas, de modo a desenhar um percurso, com um conjunto de famílias agregadas em grupos, por meio de algum de seus membros que assume o papel de responsável. Esse serviço objetiva incentivar as famílias a discutir e refletir sobre as situações vivenciadas e interesses comuns que se referem à função protetiva das famílias, os direitos que as famílias e seus membros possuem, os meios de acessá-los e demais temáticas que possam fortalecer os vínculos familiares e comunitários. São exemplos de temáticas a serem abordadas: Direito à renda e direitos sociais. (MDS, 2013b, pp. 01-02).

Por outro lado, do ponto de vista do Serviço Social o trabalho com grupos diz respeito a uma prática inerente à cultura profissional, cuja presença no cotidiano dos assistentes sociais remonta a década de 1960 (MOREIRA,2013). Mesmo posterior a todas as transformações pelas quais essa categoria vivenciou, essencialmente com o Movimento de Reconceituação12, o trabalho com grupos continuou sendo um instrumento relevante ao repertório técnico-operativo desses profissionais. Além disso, trabalhar em grupo trata-se de uma opção político-profissional com capacidade de suscitar em seus participantes a reflexão crítica (MOREIRA, 2013). É por esta razão que sua pertinência permanece no século XXI: sua expressa capacidade de facilitar as “reflexões, o diálogo sobre assuntos complexos e controvertidos e a melhor compreensão e aproveitamento da vivência social do outro.” (TORRES, 1997 apud MOREIRA, 2013, p.26).

12

“Na sua gênese imediata, a Reconceituação foi comandada por uma questão elementar: qual a

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Faz-se preciso considerar que o Serviço Social brasileiro ainda não sistematizou, o seu trabalho com grupos, não aprimorando, portanto, os métodos próprios para uma intervenção devida. Mesmo sem o aprimoramento adequado, tal instrumento pode, contudo, servir de arcabouço sobre o qual os assistentes sociais, dotados de pensar crítico, desenvolvam metodologias não convencionais, lúdicas e criativas, ancoradas nas demandas dos usuários. O trabalho em grupo, por estabelecer uma ligação entre indivíduo e o coletivo, pode contribuir muito para a superação da condição de subalternidade a que essa população foi historicamente subjugada.

Do ponto de vista da assistência social, torna-se imprescindível e urgente a incorporação das demandas dos usuários da assistência social como parte fundante da dinâmica dos serviços socioassistenciais ofertados nos CRAS. O caminho a ser trilhado, a partir de então, direciona-se à busca pelo fortalecimento da gestão democrática destes serviços e à politização constante das questões que dão forma às relações entre usuário e instituição e entre indivíduo e sociedade, tendo por intermédio o estímulo e consolidação da participação popular nos serviços socioeducativos.

É necessário ao profissional de Serviço Social que este se coloque enquanto sujeito partícipe desse processo e que se posicione na defesa da classe socialmente explorada. A potencialidade de transformação do trabalho com grupos deve ser utilizada com rigor teórico e reflexão crítica. A fim de se investigar esta estratégia de ação, considerando seus pressupostos e execuções, à luz do exercício do Serviço Social, precisa-se considerar que:

[...] (1) qualquer indivíduo que se disponha a contribuir com uma visão social crítica junto a outros sujeitos precisa ter uma leitura de mundo sensivelmente ampliada; (2) tanto os usuários dos serviços sociais que são atendidos pelos assistentes sociais quanto estes próprios profissionais pertencem à mesma classe social e, portanto, estão subjugados, de uma maneira geral, aos mesmos imperativos impostos pelas elites dominantes e dirigentes. Em suma: se apropriar com clareza da complexa lógica organizacional capitalista é, de todos os ângulos, imprescindível, uma vez que não é possível protestar ou lutar a fundo contra algo que pouco se conhece e se entende. (MOREIRA, 2013, p. 17).

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exercício de sua profissão, essa mesma apreensão acerca das políticas públicas é impreterível aos usuários que delas necessitam. Este entendimento é fundamental para que eles consigam lutar por direitos e protestar por sua participação nos espaços decisórios dessas mesmas políticas. O Serviço Social possui repertório teórico-metodológico que pode fortalecer e incentivar o protagonismo que a população demanda da assistência social, por meio de estratégias comprometidas com a autonomia e emancipação dos cidadãos. A qualidade dos serviços prestados em grupo está articulada às “exigências de o assistente social ter ciência de outros componentes que integram a intervenção profissional, como o perfil dos usuários, as demandas que estes trazem e território no qual a instituição localiza-se” (MOREIRA, 2013, p.77), pois a partir disso, criam-se as possibilidades de direcionar a ação profissional no caminho de inserir os indivíduos atendidos para outros espaços de participação sociopolítica, assim como na própria rede de serviços.

Entende-se, então, como urgente, o comprometimento dos trabalhadores do SUAS com a socialização dos direitos socioassistenciais, bem como com a divulgação dos objetivos e princípios da PNAS/2004 e, principalmente, do CRAS, da função e importância dos Conselhos e Conferências, do direito dos usuários de serem protagonistas na construção das políticas públicas, dentre outros. Salienta-se que tais informações devem ser repassadas pelos profissionais de uma maneira passível de entendimento pelos usuários, a fim de que os sujeitos consigam apropriá-las e usá-las enquanto ferramenta possível de romper com a lógica de subalternidade que lhes foi imposta no processo de construção das políticas sociais do país.

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A proposição fulcral desta dissertação encontra-se alicerçada na articulação das novas requisições de autonomia dos usuários e no fortalecimento dos direitos sociais, exigidos na elaboração do trabalho socioeducativo dos CRAS, a partir da PNAS/2004; e no perfil profissional do Serviço Social, estando este plenamente comprometido com os interesses e demandas dos trabalhadores. A partir desse fundamento, esta dissertação aufere centralidade ao trabalho profissional do assistente social e à sua contribuição para o fortalecimento, para o estímulo e para a consolidação da participação popular dos usuários por meio dos serviços socioeducativos ofertados pelos CRAS. Reitera-se que materialização desses serviços ocorre no desenvolvimento do trabalho social realizado com as famílias e com os indivíduos inseridos no PAIF, onde as metodologias utilizadas para a realização das atividades se pautem na reflexão crítica, a fim de possibilitar mecanismos capazes de suscitar a participação dos sujeitos na construção das políticas públicas e de estimular a sua conscientização da necessidade de seu protagonismo nos espaços decisórios de toda a sociedade.

1.2. Poços de Caldas – MG: o processo de implantação dos Centros de Referência de Assistência Social

O Município de Poços de Caldas, pertencente ao Estado de Minas Gerais, foi historicamente construído pela economia do turismo. Na década de 1960, ela tornou-se fonte de renda primária do município. A produção industrial iniciou sua expansão ao território poços caldense em 1970, por motivo de exploração das grandes jazidas de bauxita - um recurso natural não renovável, cuja extração mais significativa ficou a cargo da empresa Alcoa.

Imagem

Tabela 1  –  Dados físicos e demográficos do município de Poços de Caldas  – MG
Tabela 3  –  Porcentagem da renda apropriada por estratos da população em  Poços de Caldas  –  MG
Tabela 4 (cont.)  –  Dados do Censo SUAS 2011 sobre o CRAS
Tabela  5  –   Formação  de  equipes  mínimas  nos  CRAS  de  Poços  de  Caldas  (MG) entre os anos de 2004 e 2008  Profissionais  Quantidade CRAS/  Centro  Quantidade CRAS/  Leste  Quantidade CRAS/ Oeste  Quantidade CRAS/ Sul  Assistente Social  2  2  2
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