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Lutero como um líder de massas burguês: Horkheimer e a Reforma Protestante como exemplo da formação da subjetividade moderna

Em “Egoísmo e movimento de libertação”, Horkheimer quer mostrar que Lutero não é apenas o teólogo crítico à prática da Igreja da venda de indulgências e que, a partir disso, repensa a doutrina cristã e os fundamentos da salvação da alma. Mais do que isso, sua pretensão é a de ressaltar o papel que Lutero teve como líder de um movimento de massas. E, sobretudo, um líder que tem características de um líder burguês. Seu impacto na sociedade alemã na primeira metade do século XVI não se limitou, de maneira, a monastérios e a universidades que frequentou e em que discursou. Corrobora com o argumento de Horkheimer, o fato de que a presença de Lutero por si só era capaz de atrair grandes massas e os seus escritos — e não me refiro somente à sua tradução da Bíblia para o alemão — eram impressos e vendidos em quantidades ainda não vistas até então, fato que a literatura luterana gosta de salientar como os primeiros best-sellers224. Isto é, não apenas do seu carisma e da

sua capacidade de reunir pessoas, mas Lutero se beneficia também da novidade tecnológica da imprensa que havia sido inventada por Gutenberg apenas algumas décadas antes. Isso sem mencionar o impacto que a Reforma teve no xadrez político à época, mobilizando guerras religiosas entre os príncipes germânicos que lideravam estados do Sacro-império, mas também entre as potências da época, que chegaram a extrapolar os limites da Europa.

O que leva a Reforma a seu sucesso, portanto, eis o argumento de Horkheimer, não é apenas a doutrina religiosa. A religião tem evidentemente um papel fundamental em todo este processo, mas ela é apenas uma parte dele. Isto é, a religião cumpre de fato um papel importante na formação de subjetividades, como Weber próprio mostrou, mas há de se considerar o uso possível que essa subjetividade disponibiliza. Assim, ao ressaltar este outro aspecto da Reforma e dos reformadores, Horkheimer se coloca como crítico de Weber; mas, por outro lado ele

224 Mas não apenas a literatura luterana. Edwards Jr., por exemplo, em livro sobre o tema, abre o livro com a avaliação de que “the Reformation see the first large-scale ‘media campaign’” (Mark U. Edwards Jr., Printing, Propaganda and Martin Luther (Berkeley, Los Angeles e Londres: University of California Press, 1994), 1.) Importa notar aqui que o alcance de sua grande audiência tem fatores econômicos, tanto no quesito do uso massivo das impressoras, uma inovação tecnológica importante, quanto na avaliação do material publicado, que eram “issued in a handy format that was cheap to produce, inexpensive to buy, and easily passed from reader to reader” (Edwards Jr., 163.)

reconhece, tal como Weber, que a teologia de Lutero não tem uma relação explícita com interesses de classe. Isto é, o sentido de sua doutrina ou de sua interpretação do Beruf como o chamamento divino para uma atividade mundana que visa o aumento da glória de Deus tende, em teoria, muito mais para um tradicionalismo do que para uma “modernização” das condutas de vida dos protestantes. Não se trata de dizer simplesmente que Lutero e os reformadores teriam elaborado uma doutrina religiosa feita sob medida para os príncipes alemães, que queriam independência de Roma e do Sacro-império germânico, ou para a burguesia urbana em ascensão nas primeiras cidades alemãs. Nisso há um ponto de convergência entre Horkheimer e Weber: para Weber, o ponto é que a salvação pela fé se manifesta como um estímulo psicológico para uma conduta de vida sistemática no trabalho, que encontra uma afinidade com o funcionamento do sistema econômico; já para Horkheimer, no mesmo sentido, “a grande conquista espiritual dos reformadores está na articulação da ideia de que a salvação humana não depende da atuação sacramental de uma casta sacerdotal, mas da atitude da alma do indivíduo”225. Ambos ressaltam, assim, o efeito do

protestantismo na subjetividade, mais no seu efeito social que possui afinidade com o capitalismo o do que em seu conteúdo tradicionalista.

Horkheimer argumenta que é a afinidade entre o comportamento das lideranças reformadoras e o processo econômico de ascensão da burguesia que leva a Reforma à seu sucesso. Mas, antes de apresentar mais detidamente o argumento de Horkheimer, é preciso fazer uma ressalva para que sejamos justos com Weber. Afinal, a origem da doutrina protestante e o sucesso da Reforma não é o objeto de pesquisa central de Weber: sua reflexão gira em torno do “espírito” do capitalismo, da origem de uma disposição subjetiva que tem consonância com o desenvolvimento econômico, mostrando que o “espírito” da economia capitalista não necessariamente tem origem no funcionamento do mercado e que há um componente religioso que contribui para dar contornos éticos historicamente inéditos para a atividade econômica individual. Em suma, dos dois elementos que dão título à obra A ética protestante e o “espírito” do capitalismo, o foco especial de Weber está no segundo: o estudo a respeito da doutrina protestante tem como objetivo explicar uma das origens da disposição para o trabalho e para o lucro contido no tipo-ideal do “espírito” do

capitalismo, que, como mostrará o conjunto da sua sociologia da religião, contribui para explicar a especificidade do racionalismo ocidental moderno. Não se trata de um estudo da religião em si mesma, mas apenas na medida em que ela ajuda a explicar fenômenos sociais relevantes da modernidade ocidental226.

É neste ponto, porém, que Horkheimer irá notar alguns pontos que a argumentação de Weber não cobre. A análise weberiana fundamentada em tipos ideais obscurece pontos históricos importantes que levaram ao sucesso do protestantismo. Basta lembrar, por exemplo, que a Igreja medieval não era um bloco único e que já no interior dela já haviam seitas que praticavam modos de vida e exegeses bíblicas que não necessariamente eram consonantes com Roma227; ou que

já existiram mesmo antes de Lutero iniciativas reprimidas de reformar a fé católica228.

Ou, ainda, que Roma não exercia somente influência religiosa e espiritual sobre a Europa, mas também atuava como uma espécie de estado independente. O ponto de Horkheimer é: sucesso dos reformadores se deve ao fato de que eles se portaram como líderes de massas da burguesia, seu comportamento era indiretamente consonante com o de uma classe econômica em ascensão contra a autoridade tradicional instituída. Não que os reformadores mesmos tenham sido burgueses ou que eles tenham militado abertamente pela burguesia, mas eles conseguiram compreender os anseios populares por mudanças e canalizar esta energia contra as autoridades estabelecidas e em favor de uma classe social ascendente. Enfim, para Horkheimer, o cerne do sucesso da Reforma não gira em torno de uma querela ético- religiosa em torno das indulgências e da salvação da alma, mas de um processo social, econômico e político mais amplo.

226 É, por exemplo, como Pierucci gosta de ressaltar na “Introdução” de Pierucci, O desencantamento

do mundo. A citação que faz a Weber tem o intuito de destacar que a sociologia da religião weberiana

tem um intenção maior do que o estudo da própria religião: “Antes de mais nada, uma busca como esta em Sociologia da Religião deve e quer ser ao mesmo tempo uma contribuição à tipologia e sociologia do próprio racionalismo”

227 Há muita bibliografia sobre Lutero, desde as mais acadêmicas até as mais religiosas, de maneira que o conjunto de textos consultados aqui certamente não foi abrangente o suficiente para compreender o tema em sua complexidade. As principais referências aqui foram Eric Leland Saak,

Luther and the Reformation of the Later Middle Ages (Cambridge: Cambridge University Press, 2017);

McKim, The Cambridge Companion to Martin Luther; Febvre, Martinho Lutero, um destino.

228 Ver o capítulo 2 de Quentin Skinner, The foundations of modern political thought, vol. 2: The age of Reformation (Cambridge: Cambridge University Press, 1978).

Mas pode parecer estranho equiparar figuras como Lutero e Calvino a líderes burgueses. Afinal, como o próprio Weber havia mostrado, o sentido da pregação dos reformadores tinha um forte cunho tradicionalista. A proposta inicial dos reformadores era o de retomar a tradição: para eles, a fé católica era branda demais e permitia que setores da conduta de vida escapassem à religiosidade; e contra isso os reformadores, de maneira geral, reivindicavam que mais espaços da vida cotidiana deveriam ser devotados não a interesses e paixões terrenas, mas exclusivamente ao aumento da glória de Deus. Em suma: a vida deste mundo deve se dedicar integralmente ao outro mundo. Seria, então, um comportamento mais religioso e tradicional do que moderno e burguês. Para Horkheimer, entretanto, não há dúvidas: os reformadores estão mais próximos dos grandes líderes das massas na época burguesa, como os revolucionários franceses, por exemplo, do que os setores tradicionalistas contrarrevolucionários, por assim dizer. É o que passagens como a seguinte testemunham:

Apesar das diferenças na posição social entre Lutero e Calvino como reflexo das circunstâncias na Alemanha e em Genebra, e apesar de suas personalidades contrastantes como reflexo de sua origem e de seu pano de fundo educacional, seu comportamento e seu caráter mostram impressionantes similaridades em virtude de sua função como líderes das massas na época burguesa.229

“Líderes de massas na época burguesa”: trata-se de uma caracterização dos reformadores bastante distinta daquela feita em A ética protestante e o “espírito” do capitalismo. Mas o argumento de Horkheimer trata essas figuras como portadoras de uma função no processo social do estabelecimento da modernidade, a função de liderar setores populares contra uma autoridade estabelecida. Na segunda seção de “Egoísmo e movimento de libertação”, Horkheimer descreve as características dos movimentos de libertação da época burguesa. Ali, quatro processos revolucionários, bem como seus líderes, são destacados: os movimentos religiosos de Savonarola e da Reforma e movimentos de natureza política político de Cola di Rienzo e da Revolução Francesa. Creio que compreender algumas características gerais da leitura

de Horkheimer a respeito dos movimentos de libertação burgueses ajuda a entender como os reformadores podem se incluir nessa categoria.

Segundo a leitura de Horkheimer, o que estes movimentos têm em comum, em primeiro lugar, é o fato de que são movimentos “revolucionários”. Isto é, não são movimentos restauradores, que pretenderiam reestabelecer a tradição contra as primeiras mudanças trazidas pela modernidade. Se a Reforma, como dissemos era tradicionalista em seus valores, por outro lado a forma social que ela assume é revolucionária: afinal, ser “restaurador” em termos sociais depois da irrupção da Reforma, seria a própria Contrarreforma ou uma volta ao Catolicismo medieval. Enfim, o que Horkheimer propõe é que para observar o caráter regressivo das lideranças burguesas, não se trata de observar os processos históricos em que o objetivo político é a restauração de uma ordem anterior, nem as teorias políticas e movimentos mais reacionários, mas sim os processos revolucionários bem avaliados pelos intelectuais burgueses.

O tipo de mecanismos históricos que reproduzem mais tipicamente o caráter burguês são os movimentos que são avaliados, pelo menos pelos historiadores mais progressistas da burguesia, como positivo, isto é, como coincidentes com os objetivos de sua classe.230

O objetivo central do texto é entender “como a disposição peculiar de grupos importantes da burguesia estiveram em contradição com a sua própria moralidade”231,

e, para tal, os momentos revolucionários a essa relação contraditória entre a moralidade e a atitude do indivíduo burguês “é aparente de maneira mais clara nas revoluções do que nas contrarrevoluções”232. As épocas instáveis de rebelião e de

revoluções, tem-se a vantagem de observar de maneira clara. Em períodos estáveis, ao contrário, “a perversidade e a crueldade são geralmente escondidas das classes que não a experienciam pessoalmente”233. Portanto, há aqui mais uma vantagem em

230 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 22; “Egoism and Freedom Movements”, 59. 231 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 23; “Egoism and Freedom Movements”, 60. 232 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 22; “Egoism and Freedom Movements”, 59. 233 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 23; “Egoism and Freedom Movements”, 60.

investigar os movimentos revolucionários: eles permitem uma abertura de perspectiva que os períodos de “normalidade” obscurecem234.

Horkheimer ressalta que há uma “estrutura típica”235 dos movimentos de

libertação burgueses: eles possuem simultaneamente características antiautoritárias e autoritárias. De um lado, o elemento antiautoritário se justifica no motivo para a rebelião das massas: há um sentimento organizado que se volta contra uma determinada autoridade estabelecida — seja ela política, econômica, cultural ou religiosa. Este elemento subjetivo é capaz de ser o núcleo em torno do qual as classes não-dominantes se revoltam contra os dominantes. Para Horkheimer, o fundamento mais básico da revolta está ligado à situação material: de maneira geral, ele escreve que a “situação miserável da população empobrecida”236 propicia condições para a

emergência de não apenas um desejo cada vez mais imediato de revolta e de mudança das condições existentes, mas também de “um desejo utópico por igualdade e justiça”237. Não à toa, escreveu Horkheimer em A origem da filosofia burguesa da

história, as utopias de More e de Campanella surgem por volta desta época: para Horkheimer, o pensamento utópico do Renascimento é uma espécie de reação católica e tradicionalista, mas que tem ao menos o mérito de identificar o cerne do problema das sociedades modernas: a propriedade privada238. Horkheimer avalia que

há uma importante contribuição no diagnóstico dos utopistas, portanto, embora sua fundamentação típica do idealismo burguês comprometesse qualquer projeto. Seja como for, há um desejo de destituição das autoridades estabelecidas por parte das massas, uma vez que elas aparecem como representantes do sofrimento material.

Por outro lado, são também movimentos autoritários em sua estrutura. Para observar este ponto, é preciso observar que há uma grande heterogeneidade de interesses da classe não-dominante: ela corresponde a um conjunto bastante diverso de classes sociais e econômicas, de maneira que não é um conflito que se resume a 234 Há de se notar aqui que este olhar para a história possui uma interessante semelhança com o método psicanalítico, ao menos tal como Freud enuncia nos “Três ensaios”: trata-se, afinal, de uma tentativa de compreender o fenômeno “não-normal” para obter uma nova luz para compreender o “normal”.

235 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 24; “Egoism and Freedom Movements”, 61. 236 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 22; “Egoism and Freedom Movements”, 59. 237 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 25; “Egoism and Freedom Movements”, 61. 238 Horkheimer, “Beginnings of the Bourgeois Philosophy of History”, 364.

pobres contra ricos ou de nobres contra burgueses. Há, por exemplo, setores nobres que se alinham com os burgueses mais prósperos, ou parte da burguesia que defendem o status quo da nobreza, bem como setores das classes mais baixas favoráveis ao poder da nobreza e da Igreja. Seja como for, havia uma grande parte da população que não fazia parte da corte e nem das Igrejas e no interior dela há uma grande variedade de classes econômicas: desde os proprietários prósperos, os pequenos proprietários, os profissionais liberais, até os camponeses, trabalhadores urbanos e os miseráveis. Quando avalia as causas das revoltas, Horkheimer alude claramente à diferença entre as classes: “a situação miserável da população foi a sua causa [das revoltas], e a burguesia urbana assuma um papel de liderança”239. Mais

adiante, aborda as diferenças de interesses entre a burguesia urbana e o proletariado urbano junto ao campesinato:

Os interesses da burguesia no que diz respeito ao sistema de propriedade não concorda com o interesse das massas; apesar da progressividade do sistema que a burguesia estava tentando estabelecer, desde o início ela implica um fosso entre os proprietários e a maioria da sociedade, que cresceu cada vez mais240

Neste contexto, o que caracteriza uma liderança burguesa é a função que ela ocupa e, por consequência, qual é a extensão da libertação que a liderança reivindica: trata- se de se colocar favoravelmente à unificação dos estados nacionais, a centralização da administração estatal, a produção e circulação das mercadorias e a um sentido individualista de liberdade. Agenda favorável à burguesia urbana contra a alta nobreza, mas que não resulta necessariamente em vantagens materiais para as classes mais baixas.

Os movimentos liderados pela burguesia possuem características em comum no que toca à relação com as massas, portanto. De um lado, o líder burguês compreende a subjetividade das massas no que toca a deposição de uma autoridade estabelecida, e nisso sua atuação tem um traço progressista, antiautoritário; de outro, ele exerce sua liderança e sua articulação de maneira a canalizar a energia das massas não para realizar um objetivo em comum, mas um objetivo que diz respeito

239 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 25; “Egoism and Freedom Movements”, 61. 240 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 25; “Egoism and Freedom Movements”, 61.

somente à burguesia urbana. Assim, penso que dá para caracterizar a leitura de Horkheimer a respeito da liderança burguesa como “manipuladora”: isto é, o líder é capaz de compreender o contexto histórico e os interesses das massas, de realizar parcialmente esses interesses, e de usar toda a energia e mobilização das massas contra uma autoridade instituída. Não se trata, assim, de uma liderança libertadora no sentido amplo, mas apenas no sentido da classe burguesa. Em outras palavras, não é um movimento que se coloca contra “a” autoridade, mas contra “uma” autoridade; não se coloca contra a dominação em geral, mas contra um tipo específico de dominação. É o que se vê em passagens como a seguinte:

Apesar do esforço do líder em incitar o povo para se rebelar contra as condições existentes, ele nunca pretendeu destruir a disposição das massas para a dependência psíquica ou sua fé cega para a autoridade. A propaganda do líder não combina a crítica contra a autoridade que possa ser derrubada por qualquer tendência contra a racionalidade irrestrita241.

Só é possível compreender como o líder incita as massas se observarmos como Horkheimer compreende as massas em si. A citação acima já nos dá pistas que revelam a sua avaliação: possuem uma disposição para a dependência psíquica — ou uma fé cega para a autoridade, que neste contexto significa o mesmo. E tudo indica que para Horkheimer as massas são, de fato, esse conjunto de pessoas pouco instruídas, dependentes e manipuláveis: uma liderança interessada em uma verdadeira emancipação e que não se liga a valores burgueses teria o papel de tirar as massas da situação de dependência psíquica característico. Mas esta caracterização das massas tem uma justificativa material:

por conta de sua situação miserável e sua falta de integração em um processo de trabalho racional [as massas] evidenciam um estado psicológico subdesenvolvido que era ao mesmo tempo tanto autoritário quanto rebelde, e dificilmente carrega um traço de uma consciência de classe independente242.

241 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 33; “Egoism and Freedom Movements”, 67. 242 Horkheimer, “Egoismus und Freiheitsbewegung”, 32–33; “Egoism and Freedom Movements”, 67.

Isto é, para Horkheimer a situação material tem papel importante para a dependência psíquica das massas. Trata-se, portanto, de um aspecto que pertence à lógica das massas e da época, maior do que as disposições individuais, ou da legalidade própria, como descrevemos no capítulo anterior. Mas, de qualquer forma, eis o ponto de Horkheimer: comparado à descrição de Freud em relação às massas, Horkheimer não afirma apenas que Freud está errado, mas ao contrário, sua descrição da relação da dependência psíquica é considerada em seu diagnóstico da década de 1930. Freud, no entanto, não ofereceria uma explicação do porquê isso acontece e não daria nenhuma indicação forte de que circunstâncias históricas aumentam ou diminuem a dependência psíquica — tratar-se-ia, afinal, de uma questão psíquica e não social. Já em “Egoísmo e movimento de libertação” Horkheimer pretende usar o diagnóstico freudiano, mas explica-lo em termos históricos da ascensão da burguesia. As massas, afinal, seriam um fenômeno moderno.

Quando caracteriza as massas em termos de dependência psíquica ou de estado psicológico cronologicamente subdesenvolvido, Horkheimer evoca nominalmente Erich Fromm. Não por acaso: afinal, era em estreita colaboração com ele que Horkheimer integra a psicanálise no IfS243. Quanto a este assunto em

particular, isto é, sobre a dependência psíquica das massas e sua origem na situação material, Fromm dedica uma seção de sua contribuição teórica para os Estudos sobre Autoridade e Família, para mostrar diferenças na relação com a autoridade entre a formação camponesa e proletária e a formação dos filhos da burguesia. Partindo de