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Gráfico 11 Serviços Prestados pelos Sindicatos de Trabalhadores.

Mapa 1 Média de Associados por Sindicato.

Por estar vinculado exclusivamente ao setor formal do mercado de trabalho, por depender do reconhecimento oficial para sua existência, sendo que este reconhecimento permite a sustentação financeira do sindicato, por buscar legitimidade mínima junto aos trabalhadores através do trabalho assistencial, os sindicatos, sob a estrutura sindical corporativa, têm apresentado uma expansão que não revela o caráter mobilizatório dos trabalhadores, mas sim uma expansão burocrática que acompanha os fatores acima descritos, assim como os estímulos provenientes das centrais sindicais de divisões nas bases representadas por sindicatos de centrais sindicais rivais, o que contribui para desvincular ainda mais a expansão dos sindicatos às lutas dos trabalhadores.

Boito Jr. (1991), reitera que a tendência do sindicato de Estado é de recrutar mais associados nas regiões menos desenvolvidas, com pouca tradição em termos de lutas sindicais, e, sobretudo junto aos trabalhadores menos reivindicativos, esta é uma tendência estrutural do modelo sindical vigente e não apenas decorrência de fatores conjunturais. Essa tendência acaba reforçando o caráter politicamente conciliatório do sindicalismo de Estado, pois amplia a adesão dos trabalhadores aos sindicatos numa perspectiva pragmática, ou seja, os trabalhadores associam-se aos sindicatos pelos convênios comerciais, assistência médica, clube recreativo, ficando a mobilização e as lutas reivindicatórias em segundo plano.

A própria expansão territorial dos sindicatos está relacionada às características do sindicalismo de Estado, havendo forte sindicalização nas pequenas e médias cidades do interior, porém com pouca mobilização destes sindicatos.

2.3 –As Centrais Sindicais no Cenário Sindical Brasileiro

As centrais sindicais que se constituíram, desde a década de 1980, como principais interlocutores do movimento sindical brasileiro, enquanto instituições nacionais de articulação dos sindicatos, pela dimensão e caráter que assumiram, são de consolidação relativamente recentes, embora em épocas pretéritas algumas tentativas de construção de centrais sindicais operárias foram efetivas, nenhuma destas experiências tiveram continuidade e ou se fazem presentes nas centrais sindicais atuais.

O cenário sindical atual é em grande parte resultado direto das mobilizações que marcaram o surgimento do novo sindicalismo no final da década de 1970, já em 1981, no calor das manifestações e ainda durante a ditadura militar foi realizado o I CONCLAT, definindo bandeiras de luta conjunta entre os sindicatos participantes, tais como a luta pela

redemocratização, pela liberdade e autonomia sindical, pela reforma agrária, constituindo-se um marco importante na história do sindicalismo brasileiro, pois a partir deste encontro foram se delineando rapidamente as posturas políticas e ideológicas presentes no movimento sindical.

Uma das decisões tomadas durante o encontro foi a realização de uma II CONCLAT, que definiria a criação de uma central única dos trabalhadores, porém divergências entre os representantes sindicais se acirraram depois do I CONCLAT levaram à prorrogação deste II CONCLAT, que viria a ser realizado em 1983, em duas localidades diferentes, marcando a divisão entre os sindicalistas.

Segundo Comin (1994), as divergências que levaram à divisão em dois CONCLATs, e consequentemente, duas centrais sindicais, foram por três motivações básicas: o caráter da estrutura sindical desejada pelo movimento sindical, o que implicava em transformações mais ou menos profundas da estrutura sindical existente, a disputa pelos militantes de partidos políticos em torno da hegemonia sobre a nova central (notadamente o PCB, o PT e o PMDB), e quanto à participação dos militantes como delegados no congresso, cuja participação implicava na possibilidade de muitas oposições sindicais participarem do congresso, o que os setores ligados ao sindicalismo oficial não aceitavam, pois significava flexibilizar o poder que haviam adquirido através da estrutura sindical.

Em São Bernardo do Campo, no ano de 1983, foi realizado o II CONCLAT que resultou na criação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), cuja composição mais homogênea permitiu avançar muito durante a década de 1980, incorporando tanto os sindicatos oficiais, através das vitórias que as oposições sindicais obtiveram no período, como pela criação de novos sindicatos, porém dentro dos parâmetros da estrutura sindical oficial.

Três grupos sociais destacaram-se na formação da CUT, o grupo formado pelos chamados sindicalistas autênticos, que foram lideranças sindicais, que a despeito de comporem o sindicalismo oficial em muitas direções existentes, não se abstiveram de apoiar as mobilizações e as reivindicações dos trabalhadores, incluem-se neste grupo também os trabalhadores que se organizaram nas oposições sindicais.

Um segundo grupo que participou da criação da CUT e que compõe expressivo segmento de militantes no interior da Central, está ligado à ala progressista da Igreja Católica, principalmente os membros mais ativos das Comunidades Eclesiais de Base, da Pastoral Operária, influenciados, sobretudo pela Teologia da Libertação.

Os militantes da esquerda, em amplo leque de nuances teóricas e ideológicas, estiveram presentes desde o início na criação da central e compõem o terceiro grupo importante presente na CUT.

Apesar das diferentes origens destes grupos sociais, partilhavam um conjunto importante de elementos, sobretudo, conforme afirma Comin (1994), a rejeição do capitalismo como modelo de organização social, porém recusando também o comunismo como matriz teórica e modelo de socialismo, o que fez com que os partidos comunistas tivessem pouca influência nos caminhos definidos pela Central, só incorporando-se posteriormente através do Partido Comunista do Brasil, com a Corrente Sindical Classista.

Outro elemento comum, segundo o mesmo autor, é a avaliação comum de que a estrutura sindical corporativa era perniciosa para os interesses dos trabalhadores, e procuraram desenvolver algumas estratégias que rompessem com alguns elementos impostos por esta estrutura, porém sendo aos poucos abandonada a radicalidade com que pleiteavam implodir essa estrutura.

Por fim, esses grupos apresentavam como estratégia privilegiada de organização dos trabalhadores, a mobilização pela base da ação sindical, o que produziu em muitos sindicatos um vínculo muito forte entre as direções e os trabalhadores na base e a instituição de muitas formas de representação nos locais de trabalho, não previstas pela estrutura sindical corporativa.

No mesmo ano de 1983, outro grupo bastante heterogêneo organizou outra CONCLAT, na cidade de Praia Grande, que pelas características do grupo, com muitos segmentos vinculados às práticas do sindicalismo oficial e pela própria diversidade de posicionamentos ideológicos, a central criada – CGT – foi no decorrer da década de 1980 se esfacelando, em grande parte decorrente da incompatibilidade de projetos e práticas tão díspares quanto as correntes agrupadas em torno de Joaquinzão (liderança sindical pelega do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo), ou os militantes do Partido Comunista Brasileiro e do Partido Comunista do Brasil.

Apesar da criação e expansão das centrais sindicais a partir do início da década de 1980, elas apresentarão algumas fragilidades quanto à legitimação, principalmente relacionadas à representação dos trabalhadores e à capacidade de comando dos sindicatos filiados às centrais (COMIN 1994).

Um dos problemas que atingiram as centrais é da relação que elas estabelecem com os sindicatos filiados, pois construídas à margem da estrutura sindical oficial, porém tendo nesta estrutura a base de sua existência, as centrais terão ao mesmo tempo em que enfrentar o fato de ser uma excrescência na atual estrutura e depender dos sindicatos para fornecimento das bases materiais e políticas.

Esse aspecto da existência das centrais confere aos sindicatos grande autonomia em relação às centrais sindicais, já que não precisam das centrais para existirem, o que pretende-se inverter com a Reforma Sindical em andamento, atrelando os sindicatos a alguma central sindical, como forma de ampliar a hegemonia das centrais no cenário político- sindical.

Essa relativa dependência das centrais às entidades sindicais, explica em parte, o esforço despendido pelas centrais para a atração de sindicatos sob suas bandeiras, conquistando via oposições sindicais ou por outras motivações as direções dos sindicatos existentes.

A conformação deste padrão de organização das centrais sindicais, “dependentes” em relação aos sindicatos da estrutura sindical oficial, deixou as centrais sem o comando necessário para implementar ações enquanto representantes orgânicas dos sindicatos, do que decorrem as dificuldades para implementação das orientações gerais que surgem a partir de debates nas direções das centrais, ou mesmo dos debates em Congressos e Plenárias.

Novamente neste caso, como reitera (COMIN, 1994), a maior homogeneidade interna da CUT favoreceu a sustentação de um discurso e uma prática mais combativa, mesmo com as dificuldades comuns colocadas pelo padrão de organização das centrais sindicais.

O crescimento das centrais sindicais, medido pela expansão de sindicatos filiados a elas pode ser visualizado no Gráfico 13, no qual se verifica a evolução dos sindicatos filiados à CUT, que passam de 1.668 para 2.834, significando crescimento de 70%, ou da Força Sindical, com crescimento de 185%, alcançando 839 entidades sindicais filiadas. Conforme o IBGE (2001), o total de sindicatos filiados às centrais sindicais alcançou um crescimento de 90% entre 1992 e 2001.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 CUT FS Conf.GT Cent.GT USI SDS CAT

Gráfico 13 - Sindicatos Filiados às Centrais Sindicais

1992 2001

Fonte: IBGE, Sindicatos – Indicadores Sociais, 2001

O crescimento das centrais sindicais se dá medido tanto pela expansão de entidades filiadas, como pelo aumento da influência sobre o cenário político nacional, alcançando nos diversos fóruns tripartites criados na década de 90 maior legitimidade como interlocutoras dos trabalhadores, do que as entidades da estrutura vertical oficial.

No PLANFOR a hegemonia das centrais sindicais é percebida não só pela concentração de recursos das Parcerias Nacionais, entre todas as entidades sindicais, demonstrando que as entidades da estrutura vertical oficial não se constituíram como interlocutoras da participação dos sindicatos no PLANFOR.

Nas entrevistas que realizamos pudemos perceber que a participação dos sindicatos no PLANFOR ocorreu pautada pela intervenção das centrais sindicais, mas também no caso dos SEEB de Marília e de Sorocaba, os cursos foram realizados a partir da intermediação da Federação dos Bancários de Mato Grosso do Sul e São Paulo, entidade da estrutura vertical oficial que não é filiada a nenhuma central sindical. No caso dos sindicatos de metalúrgicos que participaram do PLANFOR notamos que a presença das centrais é mais efetivo, sendo que dos quatorze sindicatos que participaram do PLANFOR, oito participaram através dos programas de qualificação das centrais sindicais, como demonstrado na Tabela 07.

Tabela 7 – Sindicatos de Metalúrgicos.

Intermediação das Centrais Sindicais na Participação dos Sindicatos Entrevistados.

PLANFOR: 1995-2002.

Participação via central sindical Participação direta

Lins FS São Carlos CBTE

Mogi das Cruzes FS Itatiba CBTE

Jaboticabal FS Botucatu FS

Ferraz de Vasconcelos FS Piracicaba FS

Pederneiras FS Mogi Guaçu FS

Bauru CUT Monte Alto CUT

Taubaté CUT Itú CUT Fonte: Pesquisa de campo, 2004

As diferenças ideológicas das centrais sindicais expressam não só os diferentes posicionamentos em relação aos temas da conjuntura nacional e internacional, mas também no próprio caráter do sindicalismo, com centrais como a CUT procurando garantir o mínimo de debate interno, aliando a influência das comunidades eclesiais de base com os setores da esquerda partidária, que se manifestam nos diversos Congressos Nacionais e Estaduais e Plenárias realizadas periodicamente, embora isso não signifique afirmar que não haja a centralização de poderes no grupo hegemônico da Articulação Sindical, que desde a década de 1980 é majoritária na direção central e preconiza os rumos da CUT.

As ênfases diferenciadas sobre o caráter do sindicalismo refletem diretamente na legitimidade que os sindicatos filiados às diferentes centrais sindicais obtêm com os trabalhadores. Assim, através do Gráfico 14 podemos observar que a média de trabalhadores associados aos sindicatos é maior quando esses sindicatos estão filiados à alguma central sindical, sendo mais elevada a média nos sindicatos filiados à CUT, demonstrando que essa Central tem obtido resultados mais expressivos na filiação de sindicatos maiores, com maiores representatividade diante dos trabalhadores.

0 500 1000 1500 2000 2500 3000 Não-filiados CAT CGT Média geral FS SDS Filiados CUT Outra

Gráfico 14 - Média de Associados por Sindicato, Segundo a Filiação à Central Sindical

Fonte: IBGE, Sindicatos – Indicadores Sociais, 2001.

Outro aspecto que podemos delinear com os dados obtidos pelos IBGE é a distribuição territorial dos sindicatos filiados às centrais sindicas, evidenciando a expansão significativa da CUT em todas as Unidades da Federação e a concentração da Força Sindical no estado de São Paulo, em que responde por aproximadamente metade dos sindicatos que são filiados à alguma Central sindical, conforme Mapa 2.

60° W 75° W

Fonte: IBGE, Sindicatos-Indicadores Sociais, 2001

30° S 15° S 0°

2001

45° W Legenda 720 360 72 CGT FS SDS CAT CUT