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O período iniciado com a abertura comercial no Brasil marca a escalada dos índices de desemprego, conforme podemos verificar por meio da taxa de desemprego medida pelo IBGE, que sai de um patamar de 3,35 % no ano de 1989, até atingir 6,23 % em 2001, demonstrado no Gráfico 2.

Fonte: IBGE. www.ibge.gov.br. Acesso em 15/05/2004.

Observação: em amarelo a série nova da Pesquisa Mensal de Emprego, que alterou a metodologia utilizada pelo IBGE para medição do desemprego, incorporando além do desemprego aberto o desemprego oculto.

Além da ampliação generalizada do desemprego aberto – ou seja, decorrente da procura efetiva por emprego da população desocupada – ocorre um intenso crescimento de desemprego oculto14, tanto pelas subocupações que tantos trabalhadores precisam se “conformar”, quanto pela desistência da procura por emprego, medidos pelas taxas de desemprego oculto por empregos precários e pelo desalento.

Isto é, o desemprego embora seja um índice importante para aferir a condição do mercado de trabalho, em termos da incapacidade de atendimento à demanda dos

14 O desemprego oculto é composto pelo desemprego oculto pelo trabalho precário, em que estão incluídas as pessoas que

procuraram emprego mesmo estando ocupados em atividades inconstantes, e pelo desemprego oculto por desalento, em que as pessoas apesar de não estarem procurando emprego gostariam de exercer alguma atividade no mercado de trabalho.

trabalhadores por postos de emprego, ele implica em um leque mais amplo de situações do trabalhador, que em comparação com situações mais ou menos seguras do emprego assalariado formal, encontram-se precarizado.

De uso corrente na literatura especializada, a precarização é usada como indicativo da deterioração das relações de trabalho, tendo como parâmetro as relações formais de assalariamento, que asseguram a inclusão do trabalhador na rede mínima de seguridade social instituída pela CLT na década de 1930 e ampliada desde então pela pressão dos movimentos organizados dos trabalhadores, por exemplo, com as tímidas conquistas da Constituição de 198815.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios 2001, realizada pelo IBGE, revelam o grau de precariedade das relações de trabalho no Brasil, com os empregados sem carteira assinada alcançando 21,9% da População Economicamente Ativa (Tabela 03), porém mais do que restrito ao universo dos trabalhadores sem carteira assinada a precarização atinge todos os trabalhadores, pois como veremos o contingente crescente de desempregados e subempregados exercem papel importante na regulação do preço da força de trabalho.

Tabela 03

Distribuição da População Economicamente Ativa, por Condição da Ocupação. Condição da Ocupação Ocupados (%)

Empregados com carteira assinada 23.714.901 28,5 Funcionários Públicos 4.869.990 5,8

Empregadores 3.183.746 3,8

Setor estruturado 31.768.637 38,1 Empregados sem carteira assinada 18.229.514 21,9

Autônomos 16.832.995 20,3

Não remunerados 5.584.228 6,7

Trabalhadores no setor de subsistência 3.030.068 3,6 Setor não-estruturado 43.676.805 52,5 Desempregados 7.785.067 9,4 População Economicamente Ativa 83.242.239 100

Fonte: IBGE, PNAD 2001. www.ibge.gov.br, acesso em 15/02/2003 * Excluído os Sem Declaração.

15 A Constituição de 1988 ampliou alguns direitos trabalhistas e estipulou novos: Limitação da jornada semanal a 44 horas,

criação do seguro-desemprego, ampliação da licença-maternidade para 120 dias e criação da licença-paternidade, proíbe a ingerência do Estado nos sindicatos, assegura a liberdade de organização sindical para os funcionários públicos e estipula a multa de 40% sobre o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para as demissões sem justa causa.

Esse é o contexto em que o governo brasileiro instituirá o PLANFOR, como resposta aos crescentes índices de deterioração do emprego, apontando a baixa qualificação profissional como principal problema da pouca “empregabilidade” do trabalhador, isso porque as mudanças no mundo do trabalho, gestadas pela reestruturação produtiva nos países desenvolvidos desde a década de 1960, foram internalizadas de forma seletiva no país, mas de qualquer forma foram utilizadas como justificativa para a necessidade de maior qualificação da mão de obra.

O que ocorreu durante a década de 1990 foi a internalização do toyotismo como parâmetro de organização do trabalho, concomitante à desestruturação das empresas pela concorrência internacional. Isso provocou um aumento generalizado do desemprego, que mesmo em períodos de recuperação econômica não teve seus índices reduzidos aos patamares anteriores à abertura comercial.

Isso se explica pelo fato de que a recessão econômica favorece a adoção da reestruturação produtiva pelas empresas, já que a capacidade de aplicar medidas refratárias aos trabalhadores é facilitada pelo contexto de diminuição dos postos de trabalho, tendo à sua disposição a possibilidade de implantar as medidas poupadoras de mão de obra, negociando, algumas vezes, apenas o ritmo da adoção da reestruturação produtiva. Desta forma, no quadro macroeconômico o aumento da atividade produtiva não significa necessariamente que a criação de empregos será realizada, pois isso pode ocorrer pelo aumento do trabalho informal, ou outras formas de trabalho precário.

A emergência de novas tecnologias na produção e a financeirização da economia desestabilizaram os padrões de concorrência intercapitalista, promovendo a flexibilidade como termo chave para a atuação das empresas, exigindo que as relações de trabalho acompanhassem essa flexibilidade sob pena de perda da concorrência capitalista.

No campo das negociações coletivas, as empresas buscaram flexibilizar o uso do trabalho através: I) da recomposição de seu poder na determinação de suas classificações (estruturas) de ocupações; II)da adoção de formas de gestão e de uso do tempo de trabalho mais flexíveis e modulares; e III) da mudança das regras e normas de determinação dos salários com uma crescente individualização do processo (DEDECCA, 1996, p. 59).

A reorganização produtiva passa a estar mais centrada na introdução de novos métodos organizacionais do que na incorporação de novas tecnologias, reduzindo os riscos do processo de racionalização produtiva.

Deste modo, o desemprego que acompanha a reestruturação produtiva é caracterizado pela redução do emprego estável nas grandes empresas, o que só é realizado

mantendo ou até mesmo ampliando os empregos precários, relativizando o aumento da produtividade que a reestruturação produtiva proporciona, pois parte dos empregos perdidos na empresa-mãe é redimensionado para as empresas terceirizadas, sob condições mais precárias de emprego.

O desemprego no Brasil também apresenta algumas características relativas ao perfil etário do desemprego, atingindo mais duramente o jovem trabalhador, na busca pelo primeiro emprego, conforme demonstra o Gráfico 03.

Gráfico 03 - Taxa de Desemprego, por Faixa Etária Região Metropolitana de São Paulo

0 10 20 30 40 50 60 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

10 a 14 anos 15 a 17 anos 18 a 24 anos

25 a 39 anos 40 anos e mais

Fonte: PED - Fundação SEADE/DIEESE. www.seade.sp.gov.br, acesso em 15/03/2004.

Isso revela a incapacidade da economia brasileira em gerar postos de trabalho que atendam à demanda de emprego pelos trabalhadores que ingressam no mercado de trabalho pela primeira vez, o que implica em situações socialmente explosivas, com a falta de perspectiva para os jovens, de verem atendidos seus desejos de consumo e de auto- afirmação, o que é um componente fundamental para compreender as altas taxas de criminalidade entre eles.

Também o desemprego e a precarização afetam desigualmente homens e mulheres, com estas sendo obrigadas a participarem do mercado de trabalho, para contribuir na sustentação do lar e tendo que se inserir em relações de trabalho proporcionalmente mais

precárias que os homens, adequando a jornada de trabalho à jornada de trabalho doméstico, e se submetendo tanto à opressão masculina, quanto à opressão capitalista16.

As variações na composição do desemprego durante a última década estão, portanto, relacionadas às mudanças substanciais da economia brasileira, com internalização da concorrência capitalista transnacionalizada num quadro de desigualdades sociais mantidas pelo modelo de “modernização”, como forma de garantir a acumulação do capital em território brasileiro.

Para Meneleu Neto (1996), as teses que relacionam diretamente o desemprego como resultado “natural” da introdução de tecnologias poupadoras de mão-de- obra estão baseadas num determinismo tecnológico em que amparado na lógica do mercado, o desemprego poderia ser tecnicamente explicado como decorrência da mera aplicação de fatores produtivos, forjando um consenso em torno de idéias reducionistas sobre a tecnologia e a exploração do trabalho. A conseqüência destas idéias, segundo o autor, seria a sugestão da inevitabilidade do fim do operariado fabril, com todas as implicações para a luta de classes.

Invertendo essa lógica, o autor postula o papel que a reposição do exército industrial de reserva tem sobre a redução da força da classe trabalhadora, ou seja, a própria crise capitalista, resultado de suas contradições intrínsecas, jogou os trabalhadores na defensiva ao aumentar o desemprego e a precarização do trabalho, repondo as margens de lucro para os capitalistas.

Desta forma, a adoção do toyotismo e da reestruturação produtiva pelas empresas não foi pelo desenvolvimento natural das forças produtivas, mas decorrente da correlação de forças negativas para os trabalhadores organizados, que o fizeram “aceitar” a introdução de métodos organizacionais e de tecnologias na produção, com evidentes prejuízos para sua remuneração e condições de trabalho.

Essa análise faz sentido quando compreendemos as restrições à acumulação capitalista, que ocorreram no pós-guerra, com a emergência do keynesianismo e a consolidação do compromisso fordista nos países desenvolvidos. No paradigma fordista o ritmo da acumulação capitalista perde relativa autonomia, passando a depender de pactos externos à lógica própria do capital, numa demonstração das conquistas obtidas pelo operariado e que se adequaram à necessidade de expansão da demanda para a produção massificada fordista.

16 O trabalho de Carvalhal, T. B. (2004) demonstra as dificuldades das mulheres trabalhadoras em se inserirem no mercado

de trabalho, pois a despeito de contribuírem no sustento financeiro do lar as mulheres mantêm seus atributos domésticos, quando a isso se soma a militância política das mulheres nos sindicatos passam a exercer uma jornada tripla de trabalho, fatores que contribuem para explicar as dificuldades de participação das mulheres no movimento sindical.

A crise do paradigma fordista recolocou o Exército Industrial de Reserva como variável de ajuste baseado no mercado, pois o declínio da capacidade de regulação do fordismo permitiu que a coordenação política sob o crivo do neoliberalismo operasse a desmontagem do emprego pleno, e com isso a estrutura social do sindicalismo europeu e norte-americano, favorecendo ainda mais a ofensiva do capital sobre as conquistas trabalhistas obtidas no pós-guerra.

Portanto o exército industrial de reserva, que no capitalismo clássico analisado por Marx era resultado das flutuações autônomas da acumulação de capital, passou a ser reposto como ‘externalidade’ pelas políticas neoliberais (MENELEU NETO, 1996, p. 87).

Ou seja, a regulação política sobre o mercado de trabalho, antes baseada no fordismo é reposta a partir dos pressupostos neoliberais do mercado como indutor da regulação, sendo que essa substituição é deliberadamente uma forma de atingir o movimento operário e sindical, principalmente nos países em que a seguridade social é mais efetiva.

No Brasil, tal assertiva é correta sob o crivo da perspectiva do capitalista, já que a seguridade social é uma realidade distante para a parcela majoritária dos trabalhadores, tendo em vista que o crescimento econômico das décadas de 1940 a 1970 não logrou maior equalização na distribuição de renda, e mesmo com um custo salarial baixíssimo, os trabalhadores e seus movimentos organizados foram alvo da desestruturação e desregulamentação promovidas pela ofensiva neoliberal.

De uma forma geral o toyotismo e as políticas neoliberais, tendo o desemprego e a precarização do emprego como componentes de pressão contra os trabalhadores, permitirão às empresas uma maior facilidade para escolher a mão de obra que melhor se adeqüe às suas exigências. Isso porque há o acirramento da concorrência entre os trabalhadores, que podemos verificar nas mais variadas escalas, desde os trabalhadores individuais até o trabalhador e suas representações coletivas identificadas com territorialidades nacionais.

Em países em que a seguridade social efetivou-se como garantia de renda mínima para os trabalhadores, com a institucionalização de uma rede de proteção social, o esforço do capital é para a destruição desta rede, usando como estratégia de pressão a ampliação do exército industrial de reserva, oriundo tanto do mercado de trabalho interno, quanto pela ampliação da escala de intervenção das empresas, realocando-as pelo planeta em busca de melhores condições, que inclui uma força de trabalho qualificada e com restrita organização sindical.

A mobilidade alcançada pelo capital nas três últimas décadas irrompe com os regramentos jurídicos em países periféricos, chantageando-os das mais diferentes formas para aceitarem a condição de fornecedores de mão de obra e recursos naturais baratos para as grandes corporações transnacionais.

Por isso, o desemprego não é uma variável tecnicamente neutra, que não possa ser inferida pelos determinantes da luta de classes, pois, a adoção seletiva dos paradigmas técnicos e organizacionais do toyotismo atinge desigualmente os setores econômicos e lugares, construindo a territorialidade do capital, que tem no deslocamento escalar e temporal, trunfos que utiliza para exercer seu domínio sobre a totalidade social.

É assim que podemos compreender os esforços empreendidos pelo capital, para adaptar os sujeitos e lugares à exploração do padrão flexível de acumulação, abrangendo um conjunto amplo de medidas, como a desregulamentação do mercado de trabalho, a territorialização de benfeitorias custeadas pelo Estado para facilitar a instalação e operação destas empresas (portos, estradas, etc.) e a preparação da mão de obra para essa exploração através da formação e qualificação profissional.

Isso aparece claramente nas justificativas para implementação do PLANFOR, em que a qualificação profissional é considerada um elemento estratégico para a competitividade das empresas brasileiras, adequando-as às normas exigidas pelos mercados internacionais17, como expressa esse trecho de documento do Ministério do Trabalho e Emprego.

Esse processo tem implicações que envolvem toda a cadeia produtiva – do projeto ao pós-venda, passando pela produção, inspeção e armazenagem dos produtos, abarcando também dimensões consideradas estratégicas para a qualidade, como educação básica e profissional, segurança e saúde no trabalho e meio ambiente. (BRASIL. MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. 1999a, p. 10).

A dinâmica territorial que o capital enseja traz justamente a possibilidade de utilização da mobilidade planetária como estratégia de domínio, pois através desta mobilidade e tendo em vista a destruição de vias alternativas de sociabilidade, o capital pode empreender sua chantagem sobre os países e regiões, aproveitando-se do caráter fragmentário dos locais, base da representação política dos trabalhadores, tanto em nível nacional, quanto em níveis sub-nacionais, como no caso brasileiro, que tem no município a unidade territorial da representação sindical.

17 Se levarmos em conta que parte expressiva do comércio internacional é de trocas intra-firmas podemos considerar que as exigências

que se fazem em termos de trocas comerciais de países precisam ser considerados no quadro da transnacionalização do capital, para mais detalhes ver Chesnais (1996).

No Brasil, embora tenham sido feitos muitos esforços para a consolidação de institucionalidades e infra-estrutura física adequada aos padrões exigidos, esbarrou-se em obstáculos enraizados no modelo histórico de desenvolvimento e nas próprias contradições do desenvolvimento capitalista, já que, por exemplo, exige-se maior escolaridade para os trabalhadores, porém não há indicações de que tal mão de obra escolarizada possa ser explorada como tal, da mesma forma que essa maior escolaridade potencializa a própria contradição do capital, exposta na ampliação de movimentos reivindicatórios e contestatórios, extra-sindicais, muitas vezes tendo em suas fileiras baterias entusiasmadas de jovens estudantes.

Esses limites e contradições da territorialização da acumulação flexível no Brasil não impediram que, ao longo da década de 1990, alguns paradigmas da reestruturação produtiva fossem seletivamente incorporados pelas empresas, em grande parte decorrente da pressão sobre os trabalhadores com a crise do desemprego do início da década de 1990, que provocou a utilização destes paradigmas como trunfo contra as reivindicações dos trabalhadores.

Meneleu Neto (1996), afirma que o aumento do desemprego no Brasil teve papel fundamental como estratégia do capital para recompor e adequar a estrutura produtiva ao padrão de concorrência internacional. Embora tal aumento tenha ocorrido tanto pelo acréscimo do desemprego aberto como pelo incremento do desemprego total.

Foi sobretudo através da ampliação do trabalho precário que tornou possível a reposição do estoque de mão de obra, como variável de ajuste fundamental para a internalização do toyotismo e do neoliberalismo, demonstrando cabalmente a funcionalidade do trabalho precário para a manutenção de um Exército Industrial de Reserva pronto para substituir trabalhadores que venham a se tornar obsoletos para a acumulação capitalista.

Este é um ponto importante, pois essa massa de desocupados ou subocupados precisa acompanhar, e por vezes ultrapassar, o nível de preparo da mão de obra ativa, e isso é uma função que veladamente se assume para o PLANFOR e o PNQ, pois trata- se de qualificar e re-qualificar mão de obra que já esteja desempregada ou que esteja em risco de perder o emprego, mantendo com isso um Exército Industrial de Reserva pronto para assumir a condição de titular a qualquer momento.

Com isso, configura-se um quadro de polarização entre um núcleo pequeno de trabalhadores com emprego estável e relativamente bem remunerado e uma grande massa de empregos instáveis e mal remunerados, porém funcionais no sentido de manterem sob constante pressão o núcleo estável de trabalhadores e facilitarem a acumulação capitalista,

fornecendo força de trabalho barata e sem compromissos através da rede de empresas terceirizadas.

Tem-se com isso um redimensionamento do sentido da exclusão social, pois à condição de não estar empregado alia-se à condição de emprego precário, mal remunerado, instável, longe da rede de proteção social mínima instituída no Brasil com a CLT.

[...] ao trocar empregos industriais e de serviços formalizados por empregos não- formalizados, permitirá a consolidação de uma nova forma de exclusão social, tornando ainda mais graves e profundas as desigualdades sociais no Brasil (BALTAR, DEDECCA E HENRIQUE, 1996, p. 106).

Há, portanto, maior heterogeneidade nas relações de trabalho implementadas pelo crescimento dos empregos precários, transformando a composição do desemprego, tornando-o mais complexo, com perda relativa da importância do desemprego aberto como medidor absoluto da condição do trabalho, pois ganha maior dimensão as formas precárias de inserção no emprego, camuflando os índices de desemprego, basta observar que na Região Metropolitana de São Paulo, o desemprego oculto que representava em 1989, 25,2% da taxa de desemprego total passa em 2003 a representar 35,6%, conforme expressa o Gráfico 4.

Fonte: FUNDAÇÃO SEADE e DIEESE, www.seade.sp.gov.br e www.dieese.org.br. Acesso em 20/05/2004.

A flexibilidade do mercado de trabalho foi imposta como meta a ser alcançada, provendo as empresas de instrumentos estratégicos para concorrerem no mercado capitalista mundializado, aumentando sua lucratividade, e ampliando a atratividade do país aos investidores estrangeiros, como forma de amenizar o balanço de pagamentos.

O resultado destas estratégias tem sido uma reordenação da produção intra- fábrica, e também em escalas mais amplas, com a reordenação territorial da produção no Brasil, rompendo com o padrão anterior do período do desenvolvimentismo, entre a década de 1950 e 1970.

Tem-se, portanto, observado no país uma reorganização produtiva que provoca um progressivo ajuste da estrutura industrial, no sentido de torná-la cada vez mais desarticulada e fragmentada internamente. Esse movimento tem afetado progressivamente não apenas as relações existentes inter e intra-setores econômicos, como também as relações regionais que o processo de desenvolvimento passado, mesmo que precariamente, havia constituído e que permitiram a formação de um mercado nacional (BALTAR, DEDECCA E HENRIQUE, 1996, p. 106).

Para isso foi importante a consolidação de um bloco no poder que pudesse levar à frente o desmantelamento do padrão institucional anterior, o que ocorreu somente com

Gráfico 4 - Taxa de Desemprego Aberto e Oculto Região Metropolitana de São Paulo

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 198 5 198 6 198 7 198 8 198 9 199 0 199 1 199 2 199 3 199 4 199 5 199 6 199 7 199 8 199 9 200 0 200 1 200 2 200 3

o Plano Real em 1994, ainda na presidência de Itamar Franco, e com a eleição de Fernando Henrique Cardoso no mesmo ano. A articulação do PSDB com o PFL, e mais à frente com o PMDB proporcionou relativa estabilidade governamental, o que proporcionou condições de intensificar as reformas que o capital mundializado preconizava como essencial para manutenção do fluxo de recursos para o país.

Some-se a isso a priorização da luta institucional dos partidos de oposição, notadamente o Partido dos Trabalhadores, e dos setores mais combativos do sindicalismo, como ficou claro na Reforma da previdência de FHC com a atuação da direção da CUT.

O governo FHC logrou construir uma nova institucionalização política que permitiu sua sustentação durante os dois mandatos presidenciais. Para isso construiu um consenso entre os setores conservadores de que a gestão governamental precisava estar fundamentada em determinados parâmetros fiscais e jurídicos, definidos em última instância pelos credores internacionais da dívida brasileira. Isso restringiu a democracia burguesa a uma