• Nenhum resultado encontrado

Gráfico 11 Serviços Prestados pelos Sindicatos de Trabalhadores.

Mapa 2 Sindicatos Filiados às Centrais Sindicais

Outra ordem de problemas que estão relacionados à relativa fragilidade das centrais sindicas, é o da baixa representatividade das entidades sindicais, principalmente se pensarmos em termos de legitimidade para as lutas sindicais, já que nem sempre a taxa de sindicalização expressa a efetiva representatividade dos sindicatos para implementarem ações reivindicativas, como vimos sendo muitas vezes a filiação mero instrumento para acesso dos trabalhadores ao assistencialismo sindical.

A corrente no interior da CUT que se tornou majoritária tem como origem principal os grandes sindicatos, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a APEOESP, enquanto que as correntes mais à esquerda originaram-se das oposições sindicais. Desde a origem, os presidentes da CUT saíram dos grandes sindicatos, principalmente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

Um marco importante na história da CUT ocorreu em 1988, no II CONCUT, em que a corrente majoritária logrou êxito na proposta de tornar obrigatória a filiação formal dos sindicatos, favorecendo as direções sindicais, tornando mais forte a institucionalização da central, isolando as correntes mais combativas concentradas nas oposições sindicais, que não puderam mais participar dos congressos, a não ser quando conquistassem as direções dos sindicatos oficiais.

A postura da direção da CUT no Congresso é coerente com os esforços envidados para estruturação da central, a partir da conquista dos aparelhos sindicais, agregados entidades sindicais para tornar mais expressiva a Central, no entanto, isso foi feito às custas de abandonar progressivamente as críticas mais contundentes contra a estrutura sindical oficial.

Nesta conjuntura, marcada pelos diversos planos econômicos de combate à inflação e de preparação da Constituição, a CUT vai sistematicamente posicionar-se contra o governo, não colaborando com as tentativas de pacto social formuladas no governo José Sarney, usando das greves gerais como instrumento de protesto e mobilização dos trabalhadores.

A Aliança Democrática, pacto partidário entre o PFL e o PMDB para estabelecer parâmetros seguros para a burguesia de transição da ditadura, levou ao aumento das diferenças de posicionamento entre a CGT e a CUT, tendo em vista que a Central Geral dos Trabalhadores empenhou apoio à Aliança Democrática. Apesar disso, Comin (1987) avalia que, até meados de 1987 a CGT apresentava uma tendência de aproximação com algumas políticas da CUT, que, no entanto foi sendo marginalizada com a ascensão do sindicalismo de resultados no interior da CGT, que culminará com a dissidência e formação da Força Sindical em 1991, adotando como uma das principais estratégias a diferenciação e o combate à CUT.

Se a postura da CUT quanto ao pacto social, concretizado na Aliança Democrática, é homogeneamente contrária, de caráter inclusive contestatório não legitimando perante os seus integrantes a transição conservadora da ditadura, a CGT apresentará ambivalência que a farão ora apoiar integralmente o pacto social, ora posicionam-se contrários, sobretudo em virtude da presença de segmentos importantes da esquerda partidária, como o Partido Comunista Brasileiro.

Durante a Assembléia Nacional Constituinte ocorrerá a afirmação de lideranças do “sindicalismo de resultados”, que mais à frente comporiam quadros importantes de partidos conservadores, como Luiz Antonio de Medeiros no Partido Popular e Antonio Rogério Magri, Ministro do Trabalho e da Previdência Social no governo Collor.

A constituinte marcará também a primeira participação institucional da CUT em nível nacional, e seu posicionamento favorável à convocação de uma Assembléia Constituinte exclusiva não se efetivou, e a partir de então fez campanha para que a Assembléia tivesse grande participação popular, porém sua atuação baseou-se no jogo parlamentar, e não através de mobilizações populares.

Nenhuma das duas centrais sindicais foram amplamente ouvidas pelos constituintes, e a pouca influência que obtiveram demonstrou a fragilidade com que as centrais sindicais se defrontavam no cenário político, porém as diferenças não se resumiram apenas àquelas que marcaram as formas de atuação das duas centrais, mas também posicionamentos mais claros quanto às relações de trabalho no Brasil e à própria legislação sindical.

De qualquer forma as centrais não conseguiram romper a tradição política brasileira, tentaram tanto através de negociações e pactuações quanto através de algumas mobilizações construir canais de diálogo com a vida parlamentar, demonstrando que a transição conservadora teve êxito no sentido de construir uma Constituição sem ter a participação efetiva dos representantes populares.

Para a CGT as estratégias adotadas e a falência do pacto social da Aliança Democrática provocaram seu esfacelamento, diante do comprometimento de sua legitimidade em decorrência do apoio a algumas medidas do governo Sarney, e a ascensão do sindicalismo de resultados provocou o rompimento dos laços de coesão, entrando em franco declínio e tendo sua participação relativa reduzida em comparação com outras centrais sindicais.

Com o declínio da CGT e ascensão do sindicalismo de resultados, esse passa a ocupar o papel de principal opositor à CUT, substituindo a antiga polarização entre o novo sindicalismo e o sindicalismo tradicional. Combinado ao crescimento do neoliberalismo, a partir da eleição de Collor em 1989, o sindicalismo de resultados terá as teses neoliberais como

inspiração e proporá negociações para um quadro de relações de trabalho favorável a expansão neoliberal, procurando ocupar o vazio ideológico do sindicalismo de direita e com isso restringir a expansão da CUT.

Outro efeito do declínio da CGT será a aproximação dos comunistas à CUT, sobretudo em virtude da crescente hegemonia de setores conservadores na CGT, além disso a conjuntura favorece alianças entre vários setores da esquerda, concretizadas, por exemplo, no segundo turno das eleições presidenciais.

Outro fator importante nesta aproximação tem a ver com a perda gradativa da radicalidade com que a CUT criticava a estrutura sindical oficial, acabando por aceitá-la e incorporando-a em sua estratégia organizacional. Com isso, as antigas divergências entre comunistas e cutistas sobre a estrutura sindical perdem sentido, já que a CUT não concretizou as transformações radicais que anunciava para a estrutura sindical.

A substituição da CGT pela Força Sindical como principal antagonista da CUT, traz embutida uma mudança significativa do nível de embate e do teor das disputas, já que a Força Sindical, diferentemente do antigo peleguismo, terá uma ação ativa em busca de expansão, e contando com os benefícios de estar próxima do empresariado e do Estado brasileiro sob hegemonia neoliberal, como presente na assertiva de Comin (1994, p. 382):

[...] a CUT passa a enfrentar nos anos 90 a competição de uma adversária com maior grau de coesão interna, com uma liderança claramente consolidada, com um projeto político definido e visceralmente antagônico ao seu e finalmente, aliada a poderosos agentes do sistema político, dos meios empresariais e de comunicações de massa. (COMIN, 1994, p. 382).

O surgimento da Força Sindical como antagonista principal da CUT e a conjuntura política e econômica que surge com a vitória de Collor de Melo, juntamente com a adoção de políticas econômicas neoliberais recessivas para os trabalhadores, trouxeram efeitos importantes para as tendências políticas no interior da CUT, isso porque saem fortalecidas neste processo as correntes que sempre apoiaram a negociação como estratégia de luta, privilegiando a institucionalização do movimento sindical como alternativa de fortalecimento do poder negociador dos sindicatos e das centrais sindicais.

Há, portanto uma inflexão na CUT que vinha sendo gestada desde meados da década de 1980, no sentido de dotar a Central de maior organização institucional em detrimento da confrontação direta como estratégia de luta.

Para Boito Jr. (1996a) a função que a Força Sindical assume no movimento sindical é o de construir a hegemonia neoliberal no interior do próprio movimento sindical, e

seus efeitos podem ser sentidos na disposição conciliadora na CUT, aceitando o defensivismo com alternativa inevitável e irreversível para os trabalhadores.

Além disso, como pontua Antunes (1993), a Força Sindical renova o campo sindical da direita, estimulando a preservação da ordem, colaborando com a difusão da necessidade de abertura comercial, de investimentos estrangeiros, enfim do conjunto de medidas que procuram adequar o Brasil ao padrão de acumulação flexível e mundializado.

Embora o neoliberalismo tenha caráter anti-sindical, por considerá-los nefastos para a constituição de um mercado de trabalho livre das pressões coletivas, deixando-o que se auto-ajuste, no Brasil o sindicalismo ancorado na estrutura sindical oficial será usado para difundir a ideologia neoliberal. Isso foi possível pelas características dos sindicatos, em que as direções sindicais dispõem de relativa autonomia quanto às demandas dos trabalhadores, fixando elas mesmas quais são os conteúdos e as estratégias de lutas, isso tanto pode servir para que as lideranças sindicais promovam avanços importantes na construção de alternativas anticapitalistas, como para a divulgação de ideologias antioperárias.

Então, o fato dessa estrutura sindical possibilitar relativa autonomia das direções sindicais, não pode ser tomada como elemento exclusivo da regressividade da ação sindical, isso porque se sua funcionalidade para o capital já se mostrou por diversas vezes, porém ela foi tanto usada para diluir as tensões do conflito capital x trabalho, quanto para avançar em conquistas sociais importantes, assim como na própria organização dos trabalhadores.

Obviamente que ela encerra em si limites intransponíveis para a luta operária, como por exemplo, a sobrevivência e renovação de lideranças sindicais descomprometidas com as lutas dos trabalhadores ou mesmo lideranças reformistas, sem uma clara compreensão do caráter classista que o lugar social dos sindicatos implicam, como no caso de muitos componentes da direção cutista.

Se essa estrutura pode ou não proporcionar avanços mais significativos para os trabalhadores, e principalmente para o movimento operário, é uma questão relevante, porém só pode ser parcialmente compreendida olhando-se exclusivamente para o movimento sindical.

Não há no país um partido político que se constitua como instrumento de aglutinação do movimento operário, e se relacione com os sindicatos, no sentido da construção da alternativa anticapitalista, de teor socialista e comunista, e esse é um aspecto fundamental para compreender como a estrutura sindical é um obstáculo importante para fazer avançar as forças anticapitalistas no interior do movimento sindical, porém não é a determinante fundamental dessa regressividade atual.

Tumolo (2002) identifica três períodos na trajetória da CUT: 1978/83-1988: sindicalismo combativo; 1989-1991: fase de transição; 1992 em diante: sindicalismo propositivo, demonstrando que a gênese anticapitalista foi paulatinamente sendo substituída pelo concertacionismo como parâmetro de ação, já a partir do III CONCUT com a hegemonização da perspectiva organizacional da CUT em detrimento da CUT-Movimento.

Se no período do sindicalismo combativo a estratégia de enfrentamento da CUT não obteve sucesso no sentido de reverter a tendência de deterioração dos salários e das condições de trabalho, ao menos consolidou setores importantes do sindicalismo em torno de uma certa unidade política e ideológica, com forte participação popular, direcionando tais ações para o interior dos aparelhos sindicais da estrutura oficial, paulatinamente conformou-se à estrutura sindical oficial.

Essa postura terá importantes implicações na conjuntura inaugurada pela derrota de Lula nas eleições presidenciais de 1989, fazendo os movimentos sociais de uma forma geral recuarem em suas estratégias de enfrentamento à crise social e econômica, marcada pela hiperinflação, principalmente pela reconstrução da unidade dos partidos burgueses, parcialmente abalada pelo impeachment de Collor, mas que se restabelecem rapidamente elegendo Fernando Henrique Cardoso em 1994, isso restringe o âmbito da ação sindical combativa.

O abandono das concepções socialistas por parte da Articulação Sindical, significará o redirecionamento da CUT para uma acomodação dentro da ordem do capital, e acomodação em termos inclusive da própria realidade sindical e trabalhista no Brasil, pois o culto à negociação como estratégia de enfrentamento das adversidades significa a eliminação da política de classes, cujos efeitos veremos adiante, se traduzem em intensificação da fragmentação identitária dos trabalhadores, rompendo com laços de solidariedade e impondo a conformação com a ordem social capitalista.

Com isso acredita-se que seja possível construir um capitalismo mais humanizado, de diminuir as desigualdades sociais. Esses referenciais são apresentados como uma possibilidade de construção da cidadania, confundindo-a com a capacidade de consumo e inclusão na esfera institucional do Estado, isso tudo, como o horizonte da utopia emancipadora.

A ofensiva neoliberal proporcionou uma reação destes setores do sindicalismo, que avançou rapidamente para o propositivismo como alternativa para influenciar em alguma medida as políticas governamentais, no entanto, os resultados de tal ação foram pífios para o movimento sindical, não obstaculizando a precarização generalizada do trabalho, com aumento da informalidade, que contribuiu para dissolver a base oficial de representação dos sindicatos.

Essa é uma reflexão importante, pois quando o PLANFOR é implantado a partir de 1996, tendo como uma de suas prerrogativas a participação dos sindicatos na formação profissional dos trabalhadores, a CUT já é hegemonizada pela perspectiva da cooperação e do concertacionismo, não havendo maiores resistências ao uso dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para promoção de cursos de qualificação profissional, encimados em fundamentos teóricos conservadores e ineficazes para explicarem o quadro de precarização do trabalho.

A proposta de pacto social foi reelaborada e apresentada novamente, agora pelo governo Collor, em 1990, e a CUT aceitou participar da costura deste entendimento social entre representantes do capital, representantes do trabalho e o Estado. Tal postura consolida-se no IV CONCUT, em que prevalece a estratégia de participação da CUT nos fóruns tripartites, principalmente nas câmaras setoriais.

As câmaras setoriais representam possibilidades novas de ação sindical, ampliando o leque de temas que podem ser discutidos pelos sindicatos, porém isso é realizado sob a noção da colaboração entre as três partes (capital, trabalho e Estado) exigindo dos representantes sindicais uma capacidade de desenvolvimento de propostas que contemplem os interesses das três partes envolvidas, e não simplesmente a defesa dos interesses dos trabalhadores.

É sob essa perspectiva que a CUT aceitará participar destes fóruns, buscando construir a conciliação entre essas partes, como se isso fosse possível, e tal postura deixará refém as posições mais combativas dentro da Central, sob o risco de serem acusadas de não colaborarem com o “Brasil” para a solução pacífica dos problemas nacionais.

O fiasco para os trabalhadores pode ser medido pela ampliação do desemprego e da precarização do trabalho, como vimos anteriormente, durante a década de 1990, mas podemos lembrar do abandono a que as câmaras setoriais foram submetidas, tanto no governo Collor, como no governo Itamar e FHC, quando não interessavam mais como instrumentos de controle dos trabalhadores, demonstrando a função que o Estado/capital atribui aos fóruns de negociação tripartites, de atuarem como pelegos dos conflitos e das tensões sociais, pois o estímulo para criação destes fóruns e da disposição negociadora por parte do capital ocorre nos períodos de crise e ampliação da tensão social, como forma de dirimir as manifestações e mobilizações dos trabalhadores.

A opção de parte das lideranças cutistas em participar das câmaras setoriais, privilegiando inclusive este instrumento em relação à outras formas de mobilização, está relacionada a busca de alternativas setorializadas para as demandas dos trabalhadores,

declinando o discurso e a prática da unidade de luta dos trabalhadores. De certa forma, as câmaras setoriais renovam a postura corporativa no sindicalismo, dando-lhe feição inovadora em termos das relações de trabalho, porém mistificando a força real que os trabalhadores têm nesses fóruns, pois os avanços que conquistam são sempre parciais, restringindo-se a setores específicos e determinadas regiões, acirrando as disputas entre os trabalhadores de diversos setores ou diferentes locais.

A estratégia de estipular comissões ou conselhos triparitários para controlar a demanda dos trabalhadores é estimulada em diferentes escalas territoriais, desde o Fórum Nacional do Trabalho, instituído no governo Lula, até os Conselhos Municipais de Emprego, que foram privilegiados tanto no PLANFOR, quanto no PNQ, na construção de políticas locais de qualificação profissional, cuja participação dos sindicatos pôde ser dimensionada com a pesquisa realizada pelo IBGE (Gráfico 15).

Gráfico 15 - Participação dos Sindicatos nos CMEs/CEEs

0% 20% 40% 60% 80% 100% Norte Nordeste Sudeste Sul Centro Oeste Brasil

Participam da Comissão Municipal e/ou Estadual de Emprego Não Participam da Comissão Municipal e/ou Estadual de Emprego

Fonte: IBGE, Sindicatos – Indicadores Sociais, 2001

A ascensão contínua do sindicalismo nos anos 1980 fez-se acompanhar da consolidação das centrais sindicais como representantes das reivindicações de importantes segmentos dos trabalhadores e fizeram-se presentes de alguma forma, no cenário político nacional, porém a estratégia que seguiram de incorporar os sindicatos organizados sob a estrutura sindical oficial, diminuíram as possibilidades de transformação significativa da

estrutura sindical, como podemos verificar na Reforma Sindical em debate, em que a principal novidade é a legalização das centrais sindicais como representantes dos trabalhadores nas negociações coletivas, institucionalizando a direção das centrais sindicais sobre a ação sindical, porém mantendo muitos princípios do sindicalismo oficial.

Os acordos do ABC durante a década de 1990, reunindo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e as comissões de Fábrica, com os empresários e representantes do Estado, gestaram um nova forma de desenvolvimento da política sindical, independente das avaliações positivas ou negativas para os trabalhadores, o fato é que essas experiências das câmaras setoriais influenciaram a maneira como muitas lideranças sindicais, principalmente na CUT, passaram a pensar as formas de negociação com as empresas.

Para os sindicatos que aderiram aos fóruns de negociação tripartite como modelo de ação sindical, o principal entrave com o capital passa a ser a ampliação da liberdade sindical no interior das unidades de trabalho, e para isso mobilizarão seus esforços, enfrentando a pouca disposição capitalista para aceitar a permanência de tais fóruns nos momentos que não lhe são convenientes, principalmente quando não atravessam crises periódicas.

No entanto para os sindicatos a aposta em tal estratégia significou a possibilidade de participarem na elaboração e alteração dos processos produtivos, propondo formas de organização do trabalho menos regressivas para os trabalhadores, sendo que os resultados desta estratégia para o movimento sindical podem ser sentidos nas mudanças das pautas de reivindicações, incluindo nelas itens sobre a reestruturação produtiva.

Porém se isso garantiu uma inovação importante para as relações de trabalho, embora restrita a alguns segmentos e regiões, no sindicalismo provocou uma ilusão de que os sindicatos poderiam evitar a precarização do emprego, porém o que assistimos durante a década de 1990, como vimos anteriormente, foi a intensificação das formas precárias de exploração do trabalho, mesmo nos setores ou regiões em que os sindicatos mais avançaram nas negociações coletivas sobre a adoção do toyotismo.

Para autores como Galvão (1999) as transformações no sindicalismo cutista ocorrem não só pelo propositivismo, exemplificado pelas câmaras setoriais, mas também pela progressiva perda de capacidade de mobilização de massa, trazendo como conseqüência o esvaziamento de propostas unitárias de luta, restringindo a ação sindical às campanhas setoriais.

...a combinação de uma crise econômica e político-ideológica com capacidades de pressão e condições de luta desiguais entre os setores de uma mesma categoria profissional fez com que as idéias de solidariedade e unidade de classe acabassem se perdendo, dando lugar a comportamentos cada vez mais diferenciados, fragmentados, corporativizados. (GALVÃO, 1999, p. 120).

A participação nas câmaras setoriais, especialmente no setor metalúrgico no ABC, proporcionou a divisão no interior da própria categoria profissional, provocando reajustes salariais diferenciados, de acordo com as negociações fechadas em cada segmento da categoria. Porém foram criadas várias câmaras setoriais (do complexo automotivo, de bens de capital, de eletrodomésticos, setor naval e de implementos agrícolas), que redimensionaram essas divisões intracategoriais em um novo patamar, que dificilmente permitirá sustentar o discurso da isonomia entre os segmentos.

As câmaras setoriais foram escolhidas pelos segmentos hegemônicos na CUT como a alternativa estratégica para enfrentamento das condições adversas da conjuntura da década de 1990, articulando capital-trabalho-Estado para solução de problemas específicos da economia brasileira, muitas vezes usando da retórica da competitividade para justificar medidas regressivas aos direitos trabalhistas, como as medidas de flexibilização da legislação trabalhista.

O pressuposto existente nas câmaras setoriais, de solução dos problemas de determinado setor, ou determinada região, leva os sindicatos a apresentarem propostas para equacionamento destes problemas, porém se o fazem pensando em termos gerais para resolver tais problemas, deixam de lado a perspectiva classista, e apostam na colaboração com o capital,