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O método “UFSC” consiste na montagem de leiras estáticas de aeração passiva (Figura 4), aperfeiçoado no projeto desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina para o tratamento dos restos de alimentos provenientes do restaurante do campus. Emprega algumas práticas específicas, descritas por Miller & Inácio (2009):

i) Formato das leiras: construídas de forma que as paredes, compostas por resíduos de grama, palha ou capim, formem um ângulo de 90º em relação ao solo;

ii) Revolvimento das leiras: não há necessidade de revolvimento. O material é depositado de forma contínua, formando camadas. Ao final do período de alimentação, para preparar para o período de maturação é realizado revolvimento para homogeneização;

iii) Estruturante: utiliza-se material de alta relação C/N e baixa densidade, como resíduos de poda de árvore trituradas em proporção nunca inferior a 3 partes de resíduos de alimentos para 1 parte de resíduos de poda;

iv) Alimentação da leira: a técnica permite alimentações contínuas de resíduos, de acordo com a necessidade operacional. As alimentações podem variar até três vezes por semana, de acordo com o volume depositado. As alimentações serão sempre compostas de resíduo de alimento mais o material estruturante;

v) Mistura de camadas: após cada alimentação, faz-se necessário realizar a mistura do material inserido com o material em decomposição, de forma a permitir o contato dos microorganismos existentes na leira com o material recém depositado;

vi) Cobertura da leira: para que os restos de alimentos não fiquem expostos, a leira é coberta com resíduos de grama, palha ou capim.

Figura 4. Arquitetura da leira de compostagem de aeração passiva

Para Büttenbender (2004) a técnica descrita na Figura 4 apresenta baixo custo de implantação e operação, mão de obra reduzida, permite controlar os impactos resultantes do processo e as altas temperaturas internas da leira, que chegam até 78ºC, garantem a ausência de patógenos no produto final que será gerado.

Dentre as vantagens observadas nos pátios de compostagem com aeração passiva, estão o histórico de atender a geração de resíduos urbanos com eficiência e qualidade ambiental que passa pelo controle da geração de vetores, minimização da produção de percolado, emissão de odores controlada e produto final de qualidade (Miller & Inácio, 2009).

Figura 5. Fases da compostagem e comportamento da temperatura

Fonte: CEPAGRO (2015)

As altas temperaturas, observadas na Figura 5, são atingidas pela da ação dos microorganismos, que na fase de bioestabilização ou ativa, em que a população microbiológica se forma majoritariamente por organismos termofílicos. Nesta etapa a maioria dos ingredientes do substrato são consumidos e ocorre a degradação da celulose e lignina. É na fase termofílica em que há o processo de sanitização, com a eliminação de organismos patogênicos (Herbets, Coelho, Miletti, & Mendonça, 2005).

Os fungos mesofílicos, que se desenvolvem em temperaturas entre 15º a 45ºC predominam na fase inicial do processo de compostagem (Fase 1), retornando na fase final de maturação (Fases 3 e 4), quando as temperaturas voltam a cair e os mesofílicos contribuem para o processo de humificação (Fernandes, 1999).

A geração de chorume ou percolado no processo tem seu potencial poluidor manifestado principalmente em decorrência de sua DBO (carga orgânica). O método apresenta a vantagem de permitir a recirculação controlada e sistemática do material durante a fase termofílica. Desta forma não será necessário a coleta dos efluentes produzidos (Miller & Inácio, 2009).

A rede de Hotel SESC de Florianópolis, na unidade Cacupé, adota o sistema “UFSC” para o tratamento dos restos de alimentos gerados nos restaurantes das unidades, reciclando aproximadamente 300kg de resíduos/dia. O projeto comunitário “Revolução dos Baldinhos”, desenvolvido na Comunidade Chico Mendes em Florianópolis também adota o sistema de leiras estáticas na coleta dos resíduos domiciliares, com a participação de cerca de 400 pessoas e processando 8 toneladas/mês de resíduos orgânicos (Zambom & Luna, 2016).

Na moradia estudantil e no campus da Universidade de Campinas – UNICAMP, Mahmoud, Dutra, Habib, e Fagundes (2007) estruturaram um sistema de coleta de orgânicos e montaram pátios experimentais de compostagem utilizando o método “UFSC”, com a coleta em um período de 8 meses de 2037 kg de matéria orgânica e os resultados apontaram um modelo ecologicamente elaborado e economicamente viável na escala trabalhada.

Dentro do Parque estadual do Rio Vermelho - PAERVE, entre 2013 e 2015, o CEPAGRO compostou 27 toneladas de resíduos provenientes do camping do PAERVE em uma área de 3ha administrada pelo grupo da UFSC. O composto produzido é utilizado na restauração de áreas degradadas do parque (Trivella et al., 2016).

Zanette (2016) analisou a experiência de compostagem com o método UFSC no campus 2 da USP de São Carlos, em que o projeto trata ao ano aproximadamente 13.500 kg de resíduos. Como desafio encontrado para o funcionamento da compostagem, estava o fornecimento da palha de braquiária coletada do entorno do pátio de compostagem, devido a sazonalidade de produção durante o ano, o que promove a necessidade de se buscar o material a distâncias maiores.

No pátio de compostagem de São Carlos, problemas na segregação na origem dos resíduos, no restaurante universitário também foram relatados. Os resultados obtidos com o projeto demonstram que, com pouca prática e baixo nível de recursos é possível realizar o tratamento de resíduos orgânicos. O projeto também provoca discussão quanto ao consumo e destinação dos resíduos, promovendo difusão de conhecimentos a sociedade (Zanette, 2016).

O pátio de compostagem da Lapa, na cidade de São Paulo é maior pátio de compostagem em operação a utilizar o método UFSC. Funciona desde agosto de 2015 com capacidade de receber até 10 toneladas/dia de resíduos de feiras livres e poda de árvores trituradas. Diante das características únicas do pátio de compostagem do Projeto Feiras e Jardins Sustentáveis, faz-se

necessário observar características no manejo do método UFSC de compostagem para esta massa de resíduos, e correlacionar com experiências anteriores em menor escala, construindo uma base técnica para replicações.