• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3. Estudo empírico: Grande Porto vs Online – estudo de caso

3.2. Método

Para esta investigação pareceu-nos pertinente fazer um estudo de caso onde procuramos analisar o resultado destas mudanças no dia a dia dos jornalistas. Dentro da comunidade científica e em grande parte dos estudos sobre rotinas de produção, este tem sido um método de investigação amplamente empregue, tendo como principal foco o sujeito (os jornalistas) e o seu habitat (a redação).

De acordo com Yin (2009), “a common misconception is that the various research strategies should be arrayed hierarchically” (p. 6). O autor argumenta que fomos ensinados a acreditar numa visão hierárquica em que os estudos de caso eram apropriados para a fase exploratória de uma investigação, que para a fase descritiva seriam as pesquisas e em investigações explicativas o método a ser usado deveria ser o da experimentação. Visão esta que está incorreta, reitera Yin. “There may be exploratory case studies, descriptive case studies, or explanatory case studies”. O que diferencia as estratégias de investigação não é a sua hierarquia, mas sim três condições: “(a) the type of research question posed, (b)

45

the extent of control an investigator has over actual behavioral events, and (c) the degree of focus on contemporary as opposed to historical events” (Yin, 2009, p. 8).

Considerando estas três condições e tendo por base as questões quer pretendemos ver respondidas, acreditamos que uma pesquisa através do método de estudo de caso é a mais adequada uma vez que este se enquadra na definição de investigação empírica que procura, em profundidade, respostas para um fenómeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida real, especialmente quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são claramente evidentes (Yin, 2009, p. 18). Acreditamos, portanto, que o estudo de caso nos permite cobrir as condições contextuais que acreditamos ser pertinentes na análise do fenómeno aqui abordado.

3.2.1. Participantes

A amostra que participou neste estudo é constituída por 8 mulheres e 7 homens (N = 15), com idades compreendidas entre os 20 e os 50 anos. Não foi encontrada qualquer discrepância relevante ou de destaque no que toca ao número de indivíduos de um ou do outro sexo a participar no estudo, havendo, por isso, uma distribuição equilibrada de ambos os sexos nas secções observadas.

Figura 1. Média de idades da totalidade da amostra

N % 1 20>30 4 26.7 2 31>40 6 40.0 3 41>50 5 33.3 Total 15 100.0 3.2.2. Procedimento

De forma a responder a possíveis preocupações de validade interna relativamente aos resultados obtidos, optámos por utilizar um processo de triangulação. De acordo com os trabalhos de Denzin (1984), existem quatro tipos de triangulação – a triangulação de dados, do investigador, a teórica e a metodológica. Neste trabalho, foi utilizado apenas a triangulação metodológica. Esta refere-se à utilização de diferentes metodologias, sendo congruente com a abordagem combinada que se destaca neste projeto, dado que esta envolve o uso de uma abordagem de cariz quantitativo (análise estatística dos dados

46

obtidos com questionários) e uma de cariz qualitativo (tratamento dos dados recolhidos através da observação).

Com a primeira abordagem pretendeu-se recolher dados exatos sobre a amostra. Na segunda abordagem, o objetivo foi recolher descrições e interpretações a partir da perspetiva dos participantes. A escolha de uma triangulação metodológica prendeu-se com o facto de consideramos que a metodologia quantitativa não seria capaz de explicar o fenómeno de mudança que pretendemos identificar. Dentro das suas abordagens, utilizamos dois métodos de recolha de dados de forma a testar a veracidade das nossas hipóteses: 1) observação; 2) inquéritos por questionários.

Figura 2 – Métodos utilizados na recolha de dados.

Observação

Iniciemos com a descrição do primeiro momento deste estudo – o período de observação. De acordo com Caria (2003), “a etnografia permite ao investigador ver-se naquilo que já pensava conhecer” (p.5). E, nesse sentido, a etnografia tem vindo a revelar- se, ao longo dos anos, um método de estudo bastante utilizado para tentar encontrar respostas empíricas que expliquem, não só o porquê e o modo de funcionamento das rotinas dentro das redações como também para tentar dar sentido à literatura. Na área do ciberjornalismo, a prática do uso de observação etnográfica tem vindo a crescer (Domingo, 2006; Santos, 2011; Jerónimo, 2015). Não só para comprovar aquilo que se julga já saber, como afirma Caria (2003), mas também para desenvolver novas teorias baseadas no

47

empirismo que possam validar as características e papéis das rotinas de produção nas redações, quer nas tradicionais, quer nas digitais.

Cientes de que existem múltiplos fatores que podem influenciar o nosso objeto de estudo (fatores sociais, económicos, etc.), decidimos cingir-nos apenas à observação do dia a dia laboral dos jornalistas e das suas rotinas de produção utilizando um método da etnografia tradicional – a observação participante. O objetivo primordial do observador é descobrir significados, tentando descrever aspetos relevantes sobre uma determinada cultura/grupo. Como já referimos anteriormente, não há ninguém melhor do que os próprios membros do grupo para fazer um relato genuíno da sua cultura. Contudo, por estarem imersos na sua própria cultura, por vezes é difícil fazerem uma leitura distanciada dos acontecimentos (Jerónimo, 2015, p.126). Para este estudo adotamos o papel de observador como participante. Neste tipo de observação, o investigador “tem envolvimento mínimo no contexto social estudado. Existe algum tipo de conexão com o grupo ou contexto, mas o observador não é naturalmente ou normalmente parte do ambiente social. (…) O pesquisador identifica-se como tal, contudo apenas observa o andamento das rotinas laborais sem envolver-se diretamente nas mesmas…” (Marietto, 2014). Conseguimos penetrar na cultura dos jornalistas, sem que nela nos envolvêssemos e a partir daí, passamos a registar todos os acontecimentos pertinentes para o nosso estudo. Observar toda a redação ou todas as secções, ou mesmo realizar este estudo com mais do que um jornal nunca teria sido viável pelo fator tempo, por isso, escolhemos estas duas secções (Grande Porto e Online), por nos parecer que correspondiam melhor a todos objetivos que pretendíamos estudar, e o jornal pelo facto de nos ter sido permitida a presença de antemão.

A observação decorreu durante o mês de março de 2018, entre o dia 12 e o dia 22, na redação do JN, a nossa unidade de análise primordial, onde foi possível observar os jornalistas no seu ambiente de trabalho bem como as suas rotinas produtivas de construção noticiosa. Na primeira semana observamos a secção Online e na segunda a secção Grande Porto. Os elementos constituintes da amostra foram previamente informados sobre o estudo (cf. anexo 8) e deram o respetivo consentimento quer sobre a sua participação como sobre a minha presença enquanto observadora. Na redação optámos por ficar num local estratégico em que pudéssemos observar as rotinas de produção da amostra, às vezes mais distante, outras mais perto, mas sempre sem que nelas interferíssemos. Para esta análise foram tidos em conta os seguintes aspetos: rotinas de produção e dinâmicas de trabalho. No primeiro aspeto observamos os comportamentos dos jornalistas quanto aos processos

48

de apuração, recolha e transformação da informação. No segundo aspeto observamos a constituição das equipas de jornalistas bem como a sua dinâmica de trabalho.

Inquéritos por questionário

Questionário de resposta fechada

Neste momento da investigação, ainda durante o período de observação, recorremos à utilização de dois questionários de resposta fechada, dirigidos a todos os jornalistas da amostra. “Surveys are a very traditional way of conducting research. They are particularly useful (…) to describe reality” (Nigel, Fox & Hunn, 2009, p.5). A aplicação dos questionários permitiu-nos recolher os dados sociodemográficos da amostra, mas também dados sobre os conhecimentos, perspetivas e comportamentos dos jornalistas. De acordo com os sociólogos Rourdieu, Chamboredon e Passeron (1968), o questionário surge nas investigações como um dos instrumentos de pesquisa onde “as suas vantagens metodológicas, como, por exemplo, a aptidão para recolher dados homogéneos igualmente susceptíveis dum tratamento estatístico, não devem dissimular os limites epistemológicos” (cit. de Lima, (1972), p. 568). O objetivo foi associar os diferentes métodos e completar informação. Os questionários apresentam-se como alternativa às entrevistas, por permitirem recolher dados com maior rapidez e facilidade, obtendo respostas uniformes. O primeiro questionário (cf. anexo 9), é composto por sete questões de resposta fechada; o segundo (cf. anexo 10 e 11) é constituído por um conjunto de dez afirmações de escolha múltipla construídas com base numa escala de Likert, que apresenta cinco proposições (1 = discordo em absoluto, 5 = concordo em absoluto). O uso desta metodologia permitiu-nos fazer uma caracterização dos jornalistas, através de dados como o género, a idade, as habilitações literárias ou o tempo no exercício da profissão, que posteriormente cruzamos com os dados recolhidos através da observação.

Questionários de resposta aberta

Numa terceira fase, recorremos a um questionário enviado por email a todos os jornalistas da amostra6. Para esta fase da investigação, utilizamos questionários compostos por oito perguntas de resposta aberta já que, de acordo com Amaro, Póvoa, & Macedo

6 Disponível em URL:

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLScSagkb5942PHGZpjdNQZaltRbAjn9Wsk5aitaNGRz6jTyp2Q/ viewform?usp=sf_link

49

(2005), estes possibilitam respostas com uma maior profundidade, proporcionando, deste modo, ao inquirido uma maior liberdade de resposta uma vez que é ele próprio a redigi-las. Assim, conseguimos recolher as opiniões dos jornalistas respeitando a sua liberdade de expressão, sendo possível perceber as suas representações e crenças sobre o tema. Apesar de termos sido insistentes e de termos dado abertura às suas respostas, só conseguimos obter oito de quinze respostas. Esta foi também a alternativa a que recorremos para substituir as entrevistas, que não se realizaram por dois principais motivos: a falta de disponibilidade/vontade dos jornalistas que, na sua grande maioria, não atenderam ao meu pedido e a animosidade que mostraram à minha presença.

Documentos relacionados