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Capítulo 3. Estudo empírico: Grande Porto vs Online – estudo de caso

3.4. Resultados

3.4.1. Observação participante

Para recolhermos os dados necessários, recorremos ao uso de uma grelha de observação (cf. anexo 12). Através desta grelha de elaboração própria, foi possível recolher dados tanto sobre as rotinas de produção e os seus processos, bem como as dinâmicas de trabalho. A primeira semana foi dedicada à observação da secção Online e, consequentemente, a segunda ao Grande Porto. Como descrever a observação em formato de diário de bordo iria tornar este relatório demasiado extenso, decidimos recorrer ao formato que utilizamos no campo – a grelha – e colocar a informação esquematizada.

Online

Nesta secção, onde a nossa presença não aprecia incomodar, a observação foi feita lentamente. Isto porque, nos primeiros três dias a equipa esteve reduzida a três/quatro jornalistas e os restantes encontravam-se ora de férias, ora de folga. Contudo, desde início, fomos percebendo as dinâmicas e os métodos de trabalho. No que às rotinas de produção diz respeito constatamos que:

1) Estas se iniciam com os processos de apuramento informação baseando esse primeiro procedimento na leitura de informação online disponibilizada pelos sites de jornais nacionais e internacionais bem como pelas agências. Além destas fontes de recolha de informação, os jornalistas recorrem também a informação que, por vezes, chega por email ou através de correspondentes. Estas duas últimas são menos utilizadas;

2) Nos processos de seleção de informação, os jornalistas do Online sentem-se dependentes daquilo que os outros meios estão a dar, bem como daquilo que está a

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acontecer no país e no mundo. Durante o seu trabalho, a vigilância dos outros meios de comunicação é constante. A prioridade é manter o jornal no mesmo nível de informação dos outros, portanto, a seleção de informação é feita de acordo com o que vai sendo dado na generalidade dos média;

3) os processos de transformação de informação são bastante reduzidos sendo que, como nos foi possível observar, grande parte dos jornalistas constituintes da equipa restringe-se ao copy paste de textos produzidos por outrem (agência principalmente). A pressão de estar em constante atualização e publicação, limita o tempo para produção e os textos ficam sujeitos apenas a pequenas alterações. Contudo, pudemos observar que esta é uma variante que está sujeita a cada um dos jornalistas, uma vez que tudo depende da “vontade e disposição”. Alguns dos jornalistas mostravam mais disposição para produzir textos próprios apresar do fator tempo, mostrando grande destreza e domínio do conceito multitasking.

Além disso, foi possível observar que, salvo algumas exceções, no que toca a notícias com temas mais complexos, os textos ficam ao cuidado de outros jornalistas que não os do Online. Ou seja, se for preciso lançar uma notícia cujo o tema é justiça (exemplo), então o conteúdo do texto será produzido por um jornalista afeto à secção da Justiça e só passará pelos jornalistas do Online quando for necessário colocar a notícia na plataforma, puxar para destaque, lançar alerta, entre outras tarefas.

No que às dinâmicas de trabalho/equipa diz respeito, pudemos observar que esta é bastante peculiar. A secção não trabalha toda no mesmo conjunto de secretárias. Ou seja, o editor e o editor-adjunto do Online encontram-se separados da restante equipa. Não por uma questão de hierarquia, mas pela necessidade estarem mais perto do círculo de ecrãs que fica por cima da mesa dos diretores do JN – esta proximidade facilita o contacto instantâneo com quem dita os comandos e permite, ao mesmo tempo, acompanhar ao segundo os telejornais dos canais nacionais e internacionais.

Observamos que a comunicação verbal entre a equipa é mínima. Talvez pela separação física, ou talvez pelo facto de terem uma colega a trabalhar em Lisboa, a comunicação era feita quer pelo Facebook, de jornalista para jornalista, ou pelo Skype, num chat onde todos se incluíam. Este era o espaço para distribuição de tarefas, sugestão de temas, discussão, entre outros.

A independência foi algo que nos surpreendeu. Isto é, os jornalistas têm bastante liberdade para sugerir temas, produzir e, inclusive publicar sem que seja necessária a

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supervisão do editor. A equipa parece ter grande noção daquilo que o site do jornal necessita de modo que todos trabalham em sintonia e com grande fluidez.

Grande Porto

Aqui a observação foi diferente. A equipa pareceu-nos menos recetiva à nossa presença, apesar do respetivo consentimento dado, pelo que nos mantivemos bastante mais afastados do que a observação do Online. Mesmo mais distantes, observamos que:

1) Os processos de apuramento de informação são mais fluídos e para desempenhar esta tarefa, os jornalistas recorrem a diversas fontes de informação. Não se limitam à informação disponibilizada nos meios digitais. Realizam diversos telefonemas para entrar em contacto com fontes de informação distintas. Uma grande presença nesta etapa das rotinas de produção é a volta telefónica que é feita mais ou menos quatro vezes ao dia e, salvo raras exceções, nunca é o mesmo jornalista a fazê-lo. 2) No que toca aos processos de seleção, os temas para o dia são sugeridos e

distribuídos pelo editor da secção, mas também discutidos por toda a secção, que também opina e sugere temas; os eventos programados em agenda são também grande parte dos processos de seleção, ainda que seja uma seleção menos natural, sendo que é quase como uma imposição cobrir eventos/ situações programadas. Esta pareceu-nos uma secção bastante organizada e calendarizada, excetuando os momentos em que na volta telefónica, um processo de recolha de informação, se apanha uma informação de última hora. Nesses momentos, que podem acontecer a qualquer altura do dia, o caos instala-se, uma vez que, ou se substituem peças, ou se desenham de novo as páginas da secção de forma a caber tudo.

3) Os processos de transformação de informação estão sujeitos a uma maior atenção. Os jornalistas dedicam-se ao trabalho de produção e ainda que tenham de escrever duas, no máximo três notícias, o ritmo é mais calmo. A informação é tratada com mais cuidado e a produção própria prima nas notícias desta seção. Registamos também que, nesta etapa, todos os dias, pelo menos um jornalista se queixava do espaço reduzido onde tinha de colocar os seus textos, um obstáculo à extensão da produção. Ao editor cabia rever os textos todos antes do fecho.

No que concerne à dinâmica de trabalho, esta era uma equipa grande, reunida à volta de um conjunto de secretárias que, apesar dos ecrãs, os obrigava a estar em contacto

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visual uns com os outros, não que este fosse necessário. O tempo aqui parecia não fazer moça e as largas pausas para conversa, normalmente a meio da tarde onde já tudo estava praticamente alinhavado, eram recorrentes. O ambiente que dominava a equipa era mais relaxado e todos falavam à sua vontade. Muitas vezes era possível ouvir alguém, quer de outras secções quer da própria, a pedir silêncio ou controlo no à-vontade.

3.4.2. Inquéritos por questionário

Aos dois questionários distribuídos durante o período de observação (cf. anexo 9 e 10/11), responderam os 15 jornalistas que constituíram a amostra.

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