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Método: o paradigma indiciário

O método utilizado na análise de nosso corpus é de natureza qualitativa. Uma vez que, nossa análise está ancorada na identificação das particularidades de uma determinada materialidade linguística. Também utilizamos pressupostos do paradigma indiciário – modelo epistemológico bastante usado em pesquisas qualitativas – que, de acordo com Ginzburg (1986, p. 151), surge no âmbito das ciências humanas no final do século XIX.

O paradigma indiciário pode ser explicado como um saber que investiga pistas, aparentemente irrelevantes, para descrever um objeto complexo. Estas aclarações não seriam possíveis sem a busca destes indícios. Desta forma, por meio de uma série de indicativos (marcas linguísticas), pretendemos (re)construir o esboço do ethos de tom

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Atendimento Educacional Especializado: Estado da Arte

liberalista de Vargas Llosa (GINZBURG, 1986).

Com a finalidade de melhor estruturar nossas análises, caracterizadas pela leitura das orientações propostas no documento que normatiza o Atendimento Educacional Especializado à luz do conceito de ensinante/aprendente, estabelecemos uma segmentação para nossa investigação, que obedece aos seguintes aspectos:

a) em um primeiro momento, apresentamos um breve resumo da lei que regulamenta o AEE;

b) em um segundo momento, definimos as principais características dos Atendimentos Educacionais Especializados;

c) em um terceiro momento, identificamos e descrevemos os elementos do sujeito de Psicopedagogia presente na regulamentação do AEE;

d) por último, de forma imbricada aos passos “b” e “c”, comentamos sobre relação entre o AEE e o sujeito da Psicopedagogia.

Discussões

A lei que institucionaliza o Atendimento Educacional Especializado é nomeada como “Diretrizes operacionais para o Atendimento Educacional Especializado da Educação Básica, modalidade Educação Especial”, foi publicada no ano de 2009 (BRASIL, 2009). Em síntese, o AEE pode ser entendido como forma de complementar a modalidade da Educação Básica regular de ensino, o público alvo destes atendimentos são os alunos deficientes incluídos nestes espaços escolares.

Sobre esta diretriz também podemos afirmar que o AEE é transversal a todas as etapas da Educação Básica; é disponibilizado de acordo com as necessidades de cada instituição e de acordo com a organização das atividades de cada escola. Em cada situação, dependendo das necessidades do aluno deficiente, são articulados recursos pedagógicos e de acessibilidade, com o objetivo de contemplar o ensino elementar.

Na sequência apresentamos quatro características do AEE, que entendemos fundamentais para o entendimento do documento a partir da ótica do sujeito autor, da Psicopedagogia:

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instituição;

2. devem ser integrados ao projeto político pedagógico da escola; 3. são entendidos como parte da Educação Especial;

4. a elaboração das características dos atendimentos é de competência dos professores que atuam nas salas de recursos multifuncionais.

A partir das características apresentadas anteriormente podemos concluir que estas têm relação com a Psicopedagogia. A primeira característica pode ser relacionada a questão do contexto em que se trabalha com o sujeito, pois se os atendimentos são elaborados de acordo com as necessidades de cada instituição, nestes deve estar presente além das questões práticas do atendimento, questões sociais. Já que, o aprendizado envolve aspectos de distintas naturezas.

Com relação à segunda característica podemos entender que os atendimentos não devem ser propostos sem uma relação com o projeto político pedagógico, e, portanto, as características mais específicas destes devem ter relação estreita com os princípios éticos e filosóficos de cada instituição. Caso isto não se concretize, talvez, o aluno deficiente tenha dificuldade no processo de inclusão, pois as práticas desenvolvidas no atendimento não estarão em consonância com a ideologia da instituição.

A terceira característica é fundamental para esclarecer a importância dos AEE no processo de inclusão de alunos deficientes. Porque, os atendimentos podem ser entendidos como uma forma de minimizar as dificuldades no processo de inclusão destes alunos, e, desta forma são uma das ferramentas da Educação Especial, a qual deixou de isolar este público em escolas especiais e passou a integrá-los nas classes regulares, o que consequentemente, em um primeiro momento, gera dúvidas por parte dos envolvidos neste processo.

A quarta e última característica apresentada em nossa leitura do documento, justamente, trata da autonomia que as instituições possuem na elaboração das ações possíveis nos AEE. Entendemos que esta determinação fomenta a questão do atendimento relacionada às necessidades do contexto dos alunos incluídos, o que podemos inferir que os atendimentos têm relação estreita com as questões particulares destes indivíduos, muito mais que uma forma de adaptar conteúdos programáticos no currículo escolar, os atendimentos devem ser

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focados nas particularidades de cada indivíduo, sempre visando torná-los sujeitos autores do pensamento.

CONCLUSÃO

A partir das características apresentadas e das discussões teóricas apresentadas anteriormente sobre sujeito autor do pensamento, podemos entender que a ideia de relacionar os Atendimentos Educacionais Especializados com o sujeito da Psicopedagogia é uma alternativa viável para possibilitar qualidade no processo de ensino/ aprendizagem de alunos incluídos. Porque, por meio de um trabalho psicopedagógico nos atendimentos é permito identificar questões que vão além do diagnóstico deficiente do aluno.

Também podemos concluir que por um viés psicopedagógico é possível emancipar o aluno atuando na relação entre escola e o contexto de vida do aluno. Ativar os conhecimentos prévios deste individua pode emancipá-lo em questões básicas da rotina diária dos indivíduos.

Por fim, ressaltamos que o viés Psicopedagógico proposto para leitura do AEE foi pensado como uma alternativa de tentar esclarecer o que pode ser realizado nos atendimentos. Acreditamos que o objetivo do AEE deve ser permeado pela ótica de emancipar o aluno, ou seja, deve possibilitar uma inclusão transversal, que não se limite apenas a questões burocráticas do espaço escolar. Pois, entendemos a função não apenas como forma de institucionalizar a qualidade do ensino, mas como uma ferramenta que proporcione qualidade de inclusão. Nesse sentido nos questionamos sobre o que é de fato a qualidade de ensino proposta no documento? Será que a diretriz proposta não se limita à adaptação do material didático? Em poucas palavras, nos perguntamos se o AEE viabiliza o que o documento propõe: qualidade de ensino para todos e qual qualidade é essa.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Resolução CNE/CEB N. 4/2009. Institui diretrizes Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação Especial. Brasília: MEC/CNE/CNB, 2009. FERNÁNDEZ, A. Os idiomas do aprendente – análise das modalidades ensinantes com famílias, escolar e meios de comunicação. Porto Alegre: Editora Artmed, 2001. GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. São Paulo: Cia das Letras, 1986.

A SIGNIFICAÇÃO