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O processo de construção de possibilidades comunicativas

Bersch (2008) aponta um aumento significativo no uso de tecnologias em nosso dia-a-dia para tornar as coisas mais fáceis para pessoas com ou sem deficiências. A TA deve ser entendida como equipamentos, serviços, estratégias e práticas que precisam ser planejadas e aplicadas para progresso e aumento de uma habilidade funcional.

A comunicação alternativa destina-se então a pessoas sem fala ou em defasagem entre sua necessidade comunicativa e sua habilidade

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de falar. A CA tem o objetivo de ampliar ainda mais o repertório comunicativo que envolve habilidades de expressão e compreensão. São organizados e construídos auxílios externos, como cartões de comunicação, pranchas de comunicação, pranchas alfabéticas com letras e palavras ou vocalizadores. O próprio computador, por meio de software específico, pode tornar-se uma ferramenta poderosa de voz e comunicação. Os recursos de comunicação de cada pessoa são construídos de forma totalmente personalizada e levam em consideração várias características que atendem às necessidades desse usuário.

Agir

Representar a Ideia:

Partindo do princípio de que alguns critérios na confecção da prancha já estão definidos, como é o caso da fotografia e do material base de apoio, a ideia é criar o design da prancha de comunicação, definir que dimensões esse recurso irá ter, no que se refere à forma, espessura, tamanho, textura e cor.

O recurso destinado às especificidades do sujeito da pesquisa contemplou três categorias: ação do sujeito, locais frequentados e familiares. Na dimensão de três elementos, o instrumento tem uma base extensa que contemple essas partes. A ideia é que se tenha uma pasta que ofereça essa disposição.

Foi destinada uma tarde juntamente com o Guilherme, para encontrar no comércio de Santa Maria/RS, uma pasta que ofertasse as características acima referendadas.

Os estabelecimentos da cidade não fornecem esse tipo de material. A pasta cardápio era a mais semelhante, mas ainda não apresentava todas as características necessárias e a base não era suficientemente resistente. Dessa forma, a pasta idealizada não existia no comércio, a não ser sob encomenda às grandes distribuidoras das livrarias.

Se por essa alternativa não se obteve sucesso, a solução foi encontrar outra: procurar uma gráfica que concordasse em concretizar o material. Desta forma, foi apresentada a ideia desenhada para quatro estabelecimentos gráficos, e apenas um deles concordou em materializar a pasta da prancha.

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A referida prancha de comunicação é composta por três partes do material PVC no tamanho 35 cm de altura e 26 cm de largura, cabendo, neste espaço, uma folha A4. O PVC é um material plástico liso, duro e resistente, usado para confeccionar placas. As três partes que compõe a prancha são separadas por uma mola, o que oferece à prancha o movimento para que se consiga dobrá-la e constituir até três possibilidades temáticas.

As variáveis do tamanho do recurso podem facilitar ou dificultar o manuseio, crianças com dificuldade motora nos membros superiores, devido o aumento do tônus, gastam um maior tempo para execução de movimentos de alcance que exigem precisão (BRACCIALLI, 2013, p.335).

No dia em que a prancha foi confeccionada, Guilherme esteve presente para escolher a cor do material. Com a base materializada, o próximo passo foi construir uma alternativa para fixar as folhas comunicativas na prancha. A opção encontrada foi colar com fita dupla face três pastas individuais transparentes, construindo uma possibilidade de fixar as folhas como também trocá-las conforme necessidades futuras (Figura2).

A prancha da forma como foi elaborada oferece a possibilidade de trocar as folhas comunicativas por outras, com temas mais específicos, como por exemplo, da: 1) sua vida diária, tais como: brinquedos e comida; 2) sua vida escolar, tais como: materiais didáticos e espaços da escola; 3) sua vida social, tais como: profissionais que trabalham com o sujeito. Pode-se ainda acrescentar assuntos mais recentes como, por exemplo, datas comemorativas. Enfim, conforme a necessidade comunicativa é possível mudar as folhas representativas para adequar-se ao assunto do diálogo.

O recurso ficou pronto em quatro dias, com a base construída, o objeto ficou leve e fácil de transportar. Porém, é um instrumento largo e precisa ser usado sobre uma mesa ou algo semelhante.

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Figura 2: Base da prancha de comunicação, mostrando as três partes separadas por uma mola e a possível flexibilização que o recurso permite

Fonte: Próprios autores

A escolha por três partes é devido à condição motora apresentada pelo sujeito, considerando que ele não tem uma habilidade de movimentos coordenados, a proposta é que em cada uma das partes seja apresentada uma temática com até nove fotos em cada, garantindo uma distância entre as fotos de modo a facilitar a indicação do aluno.

Existe uma relação entre o tamanho do objeto a ser alcançado e a precisão necessária para a execução do movimento, ou seja, o alcance é mais preciso e mais rápido quando o objeto a ser tocado ou alcançado é maior (BRACCIALLI, 2013, p.336).

O tamanho e a distância facilitam o uso da prancha de comunicação, considerando as características motoras de Guilherme. A disposição escolhida dá uma maior precisão ao ato de apontar e indicar a fotografia desejada.

Descrever

Construir o objeto para experimentação

A primeira etapa de confecção do recurso, que é a base de armação, está pronta. A segunda etapa é referente à montagem das folhas da prancha, com as fotografias. Nesse momento Guilherme teve total participação nos registros.

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Os locais que o sujeito frequentava especialmente sua residência foram acompanhados durante semanas. No dia de tirar os retratos dos familiares, a primeira pessoa a ser fotografada foi o próprio aluno. Foi explicado para o menino que iríamos tirar foto de todas as pessoas que participavam da sua vida.

Considerando o universo de pessoas que convivem e participam das atividades de Guilherme, é importante que elas estejam presentes na prancha de comunicação. Guilherme foi escolhendo uma por uma das pessoas para fotografar. Nessa sessão de fotos, escolhi uma parede de cor branca para que pudesse ter um fundo neutro nas fotografias. O menino pegava os familiares pela mão e levava-os até o lugar destinado. A ordem em que o sujeito posicionou seus familiares foi uma escolha particular e de afinidade dele.

As fotografias dos locais que o sujeito frequenta foram tiradas na presença do aluno. Foi registrado a escola, o consultório fonoaudiológico, a casa do pai e a casa da avó. Para fotografar o aluno olhava na lente da câmera para enquadrar o local que estava sendo registrado e fazia o barulho do flash indicando a necessidade de se apertar o botão e efetivar a foto.

Guilherme é um grande apreciador de fotografias. Nas fotos que se referem às ações realizadas por ele, registramos momentos espontâneos, mas ao perceber a câmera digital o sujeito fazia poses para ser fotografado.

Após ter todas as fotos em mãos, as mesmas foram organizadas por temáticas. Foi solicitado que Guilherme reconhecesse aquilo que se referia à imagem. Os familiares, ele diz através de sílaba tônica do nome de cada um, e conseguia reconhecer todas as pessoas. Nas outras temáticas era perguntado e ele tocava na imagem correspondente.

Para colocar em ordens esses registros, Guilherme foi apontando qual a primeira imagem ele gostaria de colocar; a disponibilização que está na prancha de comunicação foi realizada pelo sujeito. Foram montadas e organizadas as três partes com as fotos, e abaixo de cada foto, tem o nome da pessoa, e o nome do local. Embora o aluno ainda não reconheça as letras do alfabeto, é mais um item de identificação que o aluno pode ter.

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