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Capítulo VI – A metodologia da pesquisa

6.3 Os métodos de coleta de dados

De acordo ao que é coerente a um estudo de caso, recorremos a uma grande variedade de instrumentos para coletar os dados: observação contínua e participante, questionários, entrevistas semi-estruturadas, conversas informais e outros documentos, como anotações diversas, caderno de aluno, caderno com registros coletivos, diário da pesquisadora. Em decorrência da constante presença desta pesquisadora no local onde a pesquisa aconteceu, a observação ocupou um lugar privilegiado, tornando-se o principal método de coleta. Além do mais, vale ressaltar que a observação não influenciou e nem provocou nenhum tipo de mudança no ambiente pesquisado, fato que, certamente, é explicado pela sua atuação como “participante” desde antes da pesquisa. Como pesquisadora, o seu olhar passou a ser orientado pela busca de soluções para o problema desta pesquisa, o que lhe conferiu o status de “observadora participante” e não apenas o de “participante” ou o de “observadora”.

Segundo Lüdke e André (1986, p. 29), a observação caracteriza-se como “participante” quando “[...] a identidade do pesquisador e os objetivos do estudo são revelados ao grupo pesquisado desde o início”. Neste sentido, logo no início dos trabalhos, houve uma conversa franca com o coletivo, momento em que o foco da pesquisa e seus

propósitos foram expostos. Não houve nenhum tipo de objeção, ao contrário, os participantes predispuseram-se a colaborar e cooperar com o andamento dos trabalhos.

A observação exigiu o uso de alguns equipamentos estranhos à cultura escolar, como a filmadora e o gravador, o que, surpreendentemente, pareceu não interferir nas ações dos sujeitos. Se houve alguma interferência, foi tão sutil, a ponto de ter sido imperceptível aos olhos da observadora.

As observações realizadas durante as reuniões ou encontros de formação, bem como de qualquer outra situação, foram registradas no “Diário de Pesquisa” (DP), gravadas em áudio e, em alguns momentos, fotografadas e filmadas em vídeo. Além destas observações, constam neste diário as ocorrências diárias consideradas, pela pesquisadora, significativas para a pesquisa.

A entrevista foi outro instrumento muito importante na coleta de dados. Adotamos a entrevista “semi-estruturada” e a “não-estruturada”, sendo estas últimas identificadas como “conversas informais”. A nosso ver, as conversas informais garantem a fluidez nos depoimentos e a espontaneidade das observações, fornecendo, assim, informações muito valiosas.

Segundo Bauer & Gaskell (2002), a entrevista, na pesquisa qualitativa, pode fornecer descrições detalhadas de situações e sujeitos e informações “contextuais” valiosas na explicação de “achados específicos”, o que a torna vantajosa em relação a outras técnicas.

A entrevista, além de permitir a obtenção de informações sobre variados temas de forma imediata, revela o que, muitas vezes, não se consegue expressar em um questionário ou o que não ficou claro neste. Diferentemente do questionário, a entrevista garante as correções nas expressões, o tratamento de questões pessoais, e, sobretudo, o diálogo, ou seja, a comunicação direta entre o entrevistador e o entrevistado (Lüdke & André, 1986). Nesse sentido, a entrevista realizada na pesquisa qualitativa, “[...] não se reduz a uma troca de perguntas e respostas previamente preparadas, mas é concebida como uma produção de linguagem, portanto, dialógica” (FREITAS, 2002, p. 29).

Entretanto, a realização destes pressupostos depende, não apenas das habilidades e qualidades do entrevistador, como da existência prévia de uma boa relação entre o entrevistador e o entrevistando. Como é sabido, conduzir uma entrevista não é uma tarefa fácil, assim como não é cômoda a situação do entrevistando. No início, pode haver um clima

de constrangimento, que, para ser superado, nada melhor que o estabelecimento de relações de confiança e sinceridade entre ambos.

A fim de contrabalancear essa incômoda situação inicial, Bauer & Gaskell (2002), sugerem que o entrevistador busque formas de descontração, como por exemplo, iniciar com perguntas simples, ou com informações sobre o andamento da pesquisa, ou com algum comentário que estimule a conversação. Para que isto seja possível, o entrevistador deve se sentir preparado quanto ao que deseja com a entrevista. Segundo Lüdke & André (1986, p. 36), “[...] não há receitas infalíveis a serem seguidas, mas sim cuidados a serem observados e que, aliados à inventiva honesta e atenta do condutor, levarão a uma boa entrevista”.

Para Bauer & Gaskell (2002, p. 66), uma boa sugestão é a organização de um “tópico guia”. Mesmo a entrevista semi-estruturada necessita de um bom planejamento. “Por detrás de uma conversação aparentemente natural e quase casual encontrada na entrevista bem-sucedida, está um entrevistador muito bem preparado”. Esta preparação se deve à clareza de seus propósitos, bem como a um planejamento bem feito acerca do que se pretende enfocar.

Segundo os autores acima citados, o “tópico guia” é muito significativo na preparação da entrevista e merece atenção especial. Não se deve ir a campo sem um bom tópico guia, pois é ele que garante o bom aproveitamento do tempo, tanto do entrevistado quanto do entrevistador. Não se trata de um roteiro rígido, pois estamos nos referindo a uma entrevista do tipo semi-estruturada, mas sim de uma seqüência de tópicos que não podem deixar de ser abordados nas perguntas e intervenções do entrevistador. “É um referencial fácil e confortável para uma discussão, fornecendo uma progressão lógica e plausível através dos temas em foco” (ibid, p. 67).

Combina-se ao “tópico guia”, a imaginação e a criatividade do entrevistador para introduzir elementos importantes e até não abordar o que, de repente, percebe-se que não é mais interessante. Ou seja, o planejamento pode ser modificado em nome de um bom aproveitamento da entrevista. O próprio entrevistando pode introduzir elementos importantes, que podem levar a mudanças no conteúdo da entrevista. Dessa forma, concluímos, que os resultados obtidos na entrevista dependem, não só do empenho do entrevistador, mas do conteúdo e concepções oferecidas pelo entrevistado.

Não houve problemas na condução das entrevistas desenvolvidas na pesquisa em curso, embora esta pesquisadora, no papel de entrevistadora, não tenha se sentido

completamente preparada para tal exercício. Certamente, a preparação prévia do “tópico guia” e, sobretudo, a relação de confiança e sinceridade, que existe entre esta pesquisadora e os sujeitos, contribuíram significativamente.

Estabeleceu-se, ao longo da coleta de dados, uma relação franca com os sujeitos quanto ao uso das informações obtidas em todas as fontes de dados e quanto ao grau de importância destas informações no conteúdo da pesquisa. Como foi acordado com o grupo, todos os textos foram disponibilizados ao conhecimento dos interessados.

Outros instrumentos, como cadernos de alunos, anotações diversas, questionários e cadernos de registros coletivos, serviram de apoio e de complemento das informações obtidas nas observações.